Sítio Português Entrevista a …

Beto e Luís em Londres Sovolei e Livros
Beto Pimentel, filho do autor, recebe a “camisola” das mãos do mentor do sítio português sovolei, Luís Melo. Londres, 2013.
Procrie Internacional
Há algum tempo somos colaboradores técnicos interessados na difusão e desenvolvimento do voleibol em Portugal. Para tanto, aceitamos o convite do único sítio lusitano exclusivamente voltado ao voleibol – o sovolei – na pessoa de seu incentivador Luís Melo, atualmente radicado em Londres. Em dezembro de 2010 concedemos-lhe a seguinte entrevista, lembrando ao leitor que o texto está escrito em português de Portugal.
Sovolei entrevista a … Roberto Pimentel
Tal como em Portugal há o Gira-Volei, no Brasil existe o VivaVôlei. Ambos são programas de iniciação ao voleibol e têm como objectivo educar e socializar crianças e jovens através da modalidade.
No Brasil, desde a sua fundação, o VivaVôlei já recebeu cerca de 200 mil crianças. Existem centros do VivaVôlei em 9 dos 27 estados do Brasil. Este é um projecto que nasce da ideia do nosso colaborador Roberto Pimentel, mentor técnico da difusão do Mini Voleibol no Brasil desde 1974. Recentemente, também Bernardinho Rezende (reconhecido técnico da Selecção Brasileira Masculina) se juntou uma vez mais com um novo projecto de franquias, pois em 1995 já o fizera aquando de sua estadia no Rexona, na cidade de Curitiba (PR).
Todo o trabalho de Roberto Pimentel pode ser consultado no seu site, o Procrie, ao qual muitos internautas portugueses têm aderido. Nesse site, o experiente Roberto esmera-se na difusão também em solo português, desta criativa e alegre metodologia de ensino. Em apenas 9 meses, Roberto teve mais de 23 mil visitas aos seus quase 300 artigos. Os visitantes são provenientes de 190 cidades brasileiras, além de conquistar leitores nos 5 continentes. Desde Portugal, passando pelo Nepal, e indo até à Austrália. Neste momento o Professor Roberto Pimentel não possui vínculo com nenhuma entidade para a realização de seu trabalho. É um homem altruísta, com visão e metas bem definidas. Fomos entrevistá-lo para perceber melhor o seu projecto.
– Roberto, como e porquê nasce o Projecto de um Centro de Referência em Iniciação Esportiva, o PROCRIE?
– “Ninguém é profeta na sua própria terra”. É muito difícil ser ouvido, ter interlocutores. Além disso, no Brasil a universidade é um recinto muito fechado, alheio a inovações e novas descobertas, onde cada um defende o seu próprio território. Há muito percebi que o ensino universitário não consegue formar professores aptos a se desenvolverem e se mantém estagnado. Fui desafiado por emérito professor que “não conseguiria ensinar voleibol à distância”. Aceitei o desafio, dizendo-lhe: “Vou ensinar até a professorinha que reside nos confins da selva amazônica”. Estou muito próximo, pois cheguei às cidades de Tefé, Rio Branco e Porto Velho, na Amazônia ocidental. Um blog é uma ferramenta que os “doutores” ainda não se aperceberam de seu valor incomensurável para os novos acadêmicos. Além disso, é voz corrente no Brasil que professor de Educação Física não se interessa por leitura, como poderia, então, auxiliá-los nas suas tarefas do dia-a-dia? Imaginei que relatando a pouco e pouco tudo o que leio e já pratiquei, possa transpor o imenso abismo entre a teoria e a prática. Ao tempo em que acrescento com criatividade algumas ferramentas que facilitam o ensino, indico os embasamentos de grandes mestres da Psicologia Pedagógica. O foco é formar indivíduos que “pensem” e não meros copiadores de receitas técnicas. Esta a grande diferença do Procrie. A me respaldar, o facto de ter escrito a História do Voleibol no Brasil, séc. XX (2 vol., 1200 pág.), adjectivada como “enciclopédica e memorialista”. Creio que para construir o presente temos que sonhar com o futuro e tirar lições do passado.
– O Procrie já tem um sucesso assinalável dentro e fora do Brasil. Como explicar a intensa busca dos leitores por tanto conteúdo?
– Pretendo não ser académico, isto é, escrever temas dissertativos seguindo modelos universitários ou curriculares. A minha concepção é trazer o mínimo de teoria, especialmente da área pedagógica, e transformá-la na enunciação de minhas práticas. Percebo que “educar é também contar histórias“. Lembro o que escreveu o Luís Melo (1.9.2010) a meu respeito: “Sinto que era capaz de ficar consigo uma noite inteira apenas a ouvi-lo contar essas histórias. Experiências pelas quais passou e que sabe transmitir colocando nelas sempre uma carga de pedagogia. Como se todas e cada uma das histórias tivesse sempre uma lição a retirar. Acredito também que, pela sua experiência, percurso e vontade, seria uma excelente escolha para potenciar os técnicos e professores de hoje em dia. Tenho a certeza de que com seu discurso e ideias conseguiria ensinar a ensinar. Algo que hoje em dia é fundamental“.
– O Roberto prioritiza o desporto ou o indivíduo?
– Um outro lado é como encaro o desporto na vida de um indivíduo. Sempre pratiquei desporto desde pequenino. Eram os mais variados, mas sempre com sentimento lúdico: o desporto pelo desporto. Só fui descobrir a competição quando comecei a actuar em clubes do Rio de Janeiro e, especialmente, ao nível de selecção brasileira. Abdiquei em favor dos meus propósitos. Cedo enveredei como técnico de equipes masculinas e femininas, e se perguntarem a qualquer um dos atletas sobre minha conduta e trato, tenho certeza de que não houve decepções. São todos meus amigos. Houve um caso, por exemplo, em que aconselhei um atleta que me remunerava a abandonar o vólei de praia e, inclusive, deixasse a farda – tratava-se de um tenente da Aeronáutica – e fosse buscar o seu lugar na vida. Acatou e até hoje me agradece. Atualmente, joga em equipe máster. O Luís Melo mais uma vez (28.7.210) interpretou corretamente este pensamento ao dizer: “Acho que o que de melhor tem o Roberto é a clarividência de pensamento em relação a assuntos que se tornam importantes não só na vida desportiva, mas na vida pessoal da criança/jovem. O Roberto faz uma coisa que muito poucos fazem que é “pensar” o desporto, em particular o voleibol, nomeadamente as formas de ensino às crianças/jovens”. Em outros momentos, consegui remover de duas estudantes universitárias o preconceito que tinham de voleibol, certamente causada nas aulas de educação física escolar, uma lástima e uma afronta.
– Como seria este “pensar”?
– Você tocou no ponto crucial, pois pensar o quê e como ensinar a criança para que se desenvolva como indivíduo. Este foi um dos motivos pelo qual me desliguei da CBV que, ao optar pela criação de uma franquia, fez uma opção mercantilista, de lucratividade, isto é, mais um dos seus negócios. Com isto, o discurso tornou-se demagogo como o de muitos: tirar as crianças das ruas, socializar crianças, cuidar para que não usem drogas (vejam os objetivos no início desta entrevista). Quanto às estatísticas do desempenho do programa, é mera falácia. São dados mascarados, sendo que a parte metodológica e educacional deixa a desejar e fica a critério dos franqueados. E aí reside grave erro, pois o ensino universitário nesta área e mesmo os cursos da entidade deixam muito a desejar e frustram muitos jovens, talvez por isto a acolhida sensacional ao Procrie. De resto, a web democratizou o ensino, posso interiorizar o conhecimento, levando informações preciosas a todos numa linguagem coloquial. Creio que Brasil e Portugal cometem os mesmos erros neste sentido: a centralização do poder entrava a visão de novos horizontes. Estão a repetir as mesmas coisas que aprenderam com nossos avós. Veja o caso do Bernardo Rezende, nosso técnico consagrado no mundo inteiro, que enveredou por minhas concepções e instituiu seus cursos de mini voleibol á revelia da CBV. Ainda assim o mundo inteiro sofre de criatividade nesta área do conhecimento, apegados que estão aos seus afazeres e a manutenção de seus empregos. Analisar, ponderar, criticar, contestar e, finalmente, apresentar soluções e realizar, é para poucos.
– O que pretende o Roberto com o Procrie?
– Entre as Visões do Procrie incluo desenvolver o Empreendedorismo e a Meritocracia. Ofereço condições para uma melhor qualificação para os jovens universitários prestes a conquistar uma vaga no mercado de trabalho. O ensino que proponho agrega igualmente elementos teóricos e práticos, prevê a participação de empreendedores nos locais de trabalho e está calcado em bases sólidas. Essas acções aliadas ao apoio de uma rede de parcerias criam condições para multiplicarmos o número de empreendedores qualificados. Entretanto, para consolidar e alavancarmos Centros/Núcleos de Referência com permanente acompanhamento técnico e divulgação, só me falta providenciar a presença física – não basta virtual – para a realização dos Cursos Presenciais de Formação de Professores. E nesta área, dizem técnicos de renome no Brasil, é onde reside minha maior actuação e diferença: as aulas práticas. Não foi por acaso que desenvolvi projectos com aulas regulares para 300-400 crianças, sendo um deles simultaneamente em quatro cidades (praias) para 1.200 crianças.
 ———————————————-
Bilhete de Identidade
Roberto Affonso Pimentel
71 anos (3.11.1939)
Nacionalidade brasileira
Professor de Educação Física (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1967)
Pós-graduado em Técnica de Voleibol (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1968)
Ex-atleta de voleibol de alto nível
Técnico de voleibol, especialista em Iniciação e Formação
Técnico de voleibol de praia
Pioneiro do Mini Voleibol no Brasil (produz metodologia diferenciada desde 1974)
Inúmeros cursos para CBV e Secretaria de Esportes da Presidência do Brasil
Aulas, cursos e palestras em universidades brasileiras

———————————————-

2 comentários em “Sítio Português Entrevista a …

  1. I just couldn’t go away your website before suggesting that I actually loved the usual info an individual provide on your guests? Is gonna be back often to investigate cross-check new posts

    Curtir

Deixe um comentário