Por Roberto Affonso Pimentel, em 11-06-2012.
Muitas podem ser as causas e, por isto, difícil o diagnóstico. Para enveredar nesse terreno (ou qualquer outro), devemos nos valer inicialmente da história. No caso do Japão, até o início da década de 60 jogavam com 9 participantes de cada lado. Participaram no Brasil dos campeonatos mundiais em 60, tendo a equipe feminina surpreendido a todos conquistando o vice-campeonato. Quatro anos depois, em sua própria capital, foram campeãs olímpicas. A equipe masculina, embora já apresentasse bastante evolução, somente se consagraria em 1972, nos Jogos Olímpicos de Munique. E, ao que foi propalado ao mundo, pela ação de Yasutaka Matsudaira, que revolucionou os métodos de treinamento e estratégias utilizadas por suas equipes. Após um grande recesso, vi no ano passado a equipe feminina japonesa atuando no Mundial que me deixou feliz, pois considerei a melhor de todas, em relação ao preparo técnico e tático. Quanto ao treinamento na Formação – crianças e jovens – creio já ter falado rapidamente sobre isto quando relatei sobre a metodologia apresentada pelo técnico Toyoda no simpósio mundial de minivoleibol em 1975, na Suécia: adaptaram treino de adultos para as crianças! Quanto mais são ministrados por quem não tem competência para tal (no Canadá, costa Leste também é assim nas escolas), pior para todos. Para melhor conhecer e realizar a escolha pedagógica leia o meu diálogo com o Mestre João Crisóstomo em www.procrie.com.br/teoriavs.pratica/. É bem possível que o biótipo prejudique e tenha que ser compensada de alguma forma a complexão atlética dos indivíduos, como foi feita durante os 8 anos de preparo engendrados por Matsudaira (tenho o filme 20 min. que produziu). Outro aspecto seria de fundo cultural, pois naquela época a mulher era bastante submissa e sujeitava-se a qualquer sacrifício para atenuar essa situação. Não sei hoje como estão. Na Itália, no período áureo de investimentos no voleibol, não conseguiam alavancar o setor feminino, pois se concentravam em buscar somente atletas altas, perdendo o foco do que seja uma Formação inteligente. Eram imediatistas e muitas vezes orientados por técnicos estrangeiros, sendo um deles brasileiro, que pouco ou nada conhecia da cultura do país. Gostei muito da sua colocação, pois é o foco de meu projeto entregue à CBV em fev./2012, e que estou submetendo à apreciação para que critiquem em: http://prezi.com/9nhuhq5t7coh/procrie/
Por Edison Yamazaki, em 12-06-2012.
Todo trabalho esportivo de base no Japão é feito nas escolas. Aqui não existem clubes como no Brasil onde a garotada (aqueles que podem pagar) recebem orientações e brincam em várias modalidades. Em Sâo Paulo cheguei a assistir treinos no E. C. Pinheiros, Paulistano, Monte Líbano, Sírio, Alphaville, Indiano, Alto de Pinheiros, Paineiras do Morumbi, Banespa, C. R. Tietê, Espéria, Tênis Clube Paulista, C. A. Ipiranga, Hebraica, Clube Castelo, entre outros. Aos professores de Educação Física japoneses cabem as aulas curriculares. A escola é em período integral (mais ou menos até às 15 horas), depois seguem-se as aulas de esportes que o próprio aluno escolhe. O professor que tiver conhecimento básico de algum esporte é que será o treinador da turma, mesmo que esse conhecimento seja rudimentar e o professor seja de matemática ou história. Aí começam os treinos, que muitas vezes não possuem nem pé, nem cabeça. No fundo é apenas uma maneira de fazer o aluno permanecer na escola aproveitando o seu tempo de maneira útil. Logicamente que dentro de milhares de crianças algumas se destacam e é em torno desses alunos que o esporte da escola flutua. Acredito que a cultura tem grande influência na formação esportiva. O Japão prioriza o esforço e o coletivo. Aqui é necessário que todos corram juntos e o resultado está sempre em segundo plano. Por isso, os treinos comandados pelos leigos são intensos e pouco técnicos. Assim, um aluno de natação, fica nadando um tempão sem nenhuma correção gravando todos os movimentos errados que executa. Nesses casos também, não temos professores de Educação Física para ensiná-los. Nos outros esportes a situação é similar. Sei um pouco da história do vôlei japonês. Assisti a alguns vídeos também. Treinos comandados a ferro e fogo com as atletas chorando, submissas a tudo. Apesar das medalhas, os japoneses de um modo geral, evitam falar sobre esse período. Hoje em dia as coisas estão melhores, mas não tanto. Ainda existem vários focos desse pensamento, onde o esforço, a dedicação, o treino duro, intenso e longo é valorizado. Todos os anos morrem crianças por causa do excesso de treinos, mas tudo é abafado pelas autoridades. Eu já presenciei uma jogadora de basquete colegial sendo castigada pelo seu treinador, tendo que correr ao redor da quadra mancando com uma proteção no joelho. A dor parecia tanta que ela às vezes caía chorando. O treinador se aproximava, dava alguns tapas e murros para que ela levantasse e continuasse a correr. Isso tudo na frente de toda a equipe. Isso aconteceu em 2006 na cidade de Nara, quando trabalhei na equipe profissional de basquete feminino da poderosa Toyota Boshoku. Fiquei tão revoltado que intervi no problema questionando o treinador. Continuarei acompanhando as suas pesquisas e trabalhos no Procrie.
Por Roberto Affonso Pimentel,em 12-06-2012, às 07h05.
Grato por sua paciência em acompanhar-me. Como lhe disse, também no Canadá (costa leste) o ensino na escola é feito por professores de diversas matérias. Meu filho passou uma temporada ministrando aulas de Física próximo a Toronto e sempre nos relatou suas peripécias. Não foi tão mal porque foi escoteiro, inclusive chefe, e é muito criativo e tem o pai como um bom professor (de voleibol). Naquele mesmo período de glória do voleibol japonês feminino, suas seleções peregrinaram pelo mundo exibindo-se e encantando a todos. Todavia, seu treinador parecia que estava em casa, pois durante os treinos entre jogos não se constrangiam em esbofetear as moças mesmo na presença de outros. Donde se conclui o que dissemos a respeito do valor da história e cultura de um povo. Além disso, parecem não ter aprendido (ou não querem) valorizar o que a Psicologia Pedagógica tem de melhor. Parecem se arraigar ao passado mais remoto de seus ancestrais. Todavia, olhando para a juventude atual, acho pouco provável que uma moça se decida por ser atleta de ponta em voleibol, a não ser que vislumbre ganhos financeiros consideráveis, como está disseminado atualmente pelo mundo.
Por Edison Yamazaki, em 12-06-2012.
O voleibol por aqui é uma febre. Tem times e torneios em todos os lugares. Muito parecido com o futsal no Brasil. Até o nível ginasial, as crianças não são tão reprimidas, e até brincam de jogar. Algumas até gostam. O problema é quando se está no colégio. Naquela idade entre 15 e 17 anos. O leigo treinador, talvez para impor respeito ou para esconder o que não possui, se torna mal educado, agressivo. Se não houver um controle externo (país e família), as coisas podem terminar em agressão física, porque verbalmente eles são agredidos diariamente. Sei que é uma questão cultural ficar ouvindo calado, submisso aos mais velhos. Mas acho que as coisas não precisam ser assim. Já as crianças menores são tratadas com mais respeito, até sorriem e brincam nas quadras. Como escrevi anteriormente, não existe um professor para ensinar esportes, então os treinos ficam a cargo de algum pai ou mãe que um dia foi jogador(a) do esporte em questão. O respeito ao ser humano, sendo atleta, jogador ou não, está melhorando paulatinamente, mas ainda existe um longo caminho à percorrer. Mudar a cultura do esforço pelo esforço não é uma tarefa fácil, nem rápida, mas com os resultados ruins colhidos pelas equipes adultas, principalmente em nível mundial, tudo pode caminhar mais rapidamente. Em tempo… Meus filhos são jogadores de vôlei em suas respectivas escolas. O maior treina todos os dias e o menor duas vezes por semana porque além do vôlei, joga tênis e pratica natação.
21.1.2013 – (…) Este é um belo blogue.
18.1.2013 – (Adelaide)…Olá, Tomei conhecimento do seu blog através do Google e descobri que ele é realmente informativo. Sou grata se você continuar assim no futuro. Muita gente será beneficiada com a sua escrita. Cheers!
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