Como se Adquire Habilidade? (Parte I)

O que faz um paraquedas na aula de voleibol?

Treinamento Profundo (de Qualidade)

“Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve logo de saída levar em conta um fenômeno que conheci como Efeito Caramba”. A denominação se refere ao misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. Assim se expressa Daniel Coyle no capítulo 4 do livro O código do talento, em que discorre sobre as regras do treinamento profundo. Nas viagens feitas às fábricas de talento, Coyle testemunhou uma série de saltos significativos no nível de habilidade dos alunos. Como se percorresse uma série de dioramas, ia encontrando espécies cada vez mais evoluídas: os pré-adolescentes (que eram muito bons), os adolescentes de 15 a 17 anos e, por fim, os adolescentes acima dessa faixa, verdadeiros ases. Ele conheceu isto com o nome Efeito Caramba. A rapidez com que progrediam era assombrosa: cada grupo era incrivelmente mais forte, mais veloz e mais talentoso que o anterior, o que não o impedia de exclamar: “Caramba”! Coyle observou que existe um padrão, uma regularidade na percepção do próprio talento por seu detentor que a torna característica do processo de aquisição de habilidade.

Daí vem uma importante questão: qual a natureza desse processo capaz de gerar duas realidades tão díspares? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam talentosos, embora não tenham consciência disso, ignorando a verdadeira dimensão desse talento?

Notas:

  1. Fábrica de talentos eram locais – salas, galpões – desprovidos de qualquer conforto maior em que verdadeiros mestres realizavam suas aulas para alunos comuns, mas que devido à metodologia empregada, conseguiam desenvolver-se surpreendentemente naquilo que praticavam. 
  2.  Por talento definamos em sentido estrito: “a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”. (D. Coyle)

Busca de nova metodologia. Mas enquanto isto, façamos breve pausa naquele relato para chamar a atenção do leitor para um artigo postado aqui em 27/nov./2009, sob o título Teoria vs. Prática, em que converso com João Crisóstomo sobre sua tese intitulada Volei vs. Volei. Naquele momento, concluímos sobre a importância de uma infância sadia repleta de movimentos e peripécias. Nada que seja demasiadamente formal, em que os indivíduos possam exercer o seu direito de simplesmente brincar. As crianças são os próprios construtores de sua matemática. Uma variação também já foi registrada em um colégio de Niterói onde os alunos dispõem de vários minicampos no pátio para se recrearem com o voleibol da maneira que escolherem: professor não entra! Assim, fez-se em mim o que muitos anos mais tarde este estudo viria a demonstrar com bastante autoridade. Sempre procurei examinar o porquê de minha relativa competência, que instintivamente me levava a considerar os episódios múltiplos das memórias corporais que adquiri na infância. Agora tenho certeza que aquela intuição era o prenúncio da verdade. Por isso, advogo que ninguém aprende adequadamente um movimento, p.ex. da cortada, se sequer sabe arremessar um objeto. Então, passei a preconizar que as crianças aprendam brincando e que essas brincadeiras levem-nas a lançar, saltar e transpor obstáculos organizar-se em torno de um paraquedas, chutar bolas, esquivar-se de arremessos, agachar-se e progredir, rolar etc., tudo isso antes do jogo. Deixo-as brincar de jogar voleibol sem exigências táticas ou técnicas. No fim, acabam aprendendo a jogar sozinhas e com muita alegria. É como aprender a andar de bicicleta, quando se dão conta, já saem pedalando.

(continua…)

Um comentário em “Como se Adquire Habilidade? (Parte I)

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