Como Treinar?

Despertar o interesse nos jovens pela prática saudável do desporto. Você gostaria de estar dentro de quadra? Foto: Fivb/Divulgação.

Com base no livro de Daniel Coyle, “O código do talento “.

Peço a ajuda de Daniel Coyle para fazer-me entender em alguns outros textos que já postei e estarei ainda incluindo na série sobre Como Treinar. E a você, internauta, perdôe-me pelo meu narcisismo, uma vez que não poderia apresentar a teoria do treinamento profundo de maneira prática sem citar-me, pois realmente fui treinado por mim mesmo e já em idade dita avançada para o voleibol – 18 anos – praticamente um auto-didata. ou como veremos logo a seguir, um aprendizado de autorregulação. A seguir, resumo matéria que selecionei da obra citada. Mais adiante, darei o meu testemunho sobre minha prática e, enquanto isto, espero levar o leitor a meditar sobre o treinamento na Formação para qualquer desporto.

Por que ir mais devagar dá tão certo?

O modelo teórico da mielina fornece duas explicações. A primeira, é que proceder devagar nos permite atentar mais aos erros, aumentando o grau de precisão a cada disparo – e, em se tratando da produção de mielina, a precisão é tudo. Como dizia o técnico de futebol americano Tom Martinez, “não importa com que rapidez você faz a coisa, o que vale é quão devagar você consegue fazê-la sem errar”. A segunda explicação é que proceder lentamente ajuda o indivíduo a desenvolver algo ainda mais importante: uma percepção prática da arquitetura interna de determinada habilidade – a forma e o ritmo dos circuitos interligados para realizá-la.  

Por quase todo o séc. XX especialistas acreditavam que a aprendizagem fosse governada por fatores fixos como o Q. I. e os estágios de desenvolvimento. Barry Zimmerman, professor de psicologia na City University de Nova York, desenvolveu estudos pelo tipo de aprendizagem que acontece quando as pessoas observam, julgam e planejam a própria atuação, ou seja, quando ensinam e supervisionam a si mesmas. Chamou-a de AUTORREGULAÇÃO.

Em 2001, realizou uma experiência que mais parecia um truque de mágicos de rua do que uma iniciativa de caráter científico. Ele e uma auxiliar também professora universitária, fizeram a seguinte pergunta: “É possível julgar a habilidade apenas pelo modo como as pessoas descrevem sua forma de treinar”? A habilidade escolhida para a experiência foi o saque no voleibol. Reuniram um grupo que incluía jogadores excepcionais, jogadores de times e novatos, aos quais perguntaram como faziam para sacar: seu objetivo, seu planejamento, suas escolhas estratégicas, sua autoavaliação, sua adaptação etc. – num total de 12 critérios de apreciação. Com base nas respostas concluíram quais seriam os respectivos níveis de habilidade. Em seguida, pediram aos jogadores que sacassem para testar a validade de suas conclusões. Só pelas respostas dos jogadores foi possível deduzir 90% da variação no grau de habilidade. A experiência mostrou que os jogadores excepcionais treinam de maneira diferente e bem mais estratégica: quando falham, não atribuem esse fracasso à falta de sorte, nem culpam a si mesmo; têm uma estratégia que podem corrigir. 

Tenho certeza que algumas dessas palavras devem ter mexido com a cabeça de muitos professores e treinadores. Destaquem-nas e vamos juntos  firmar um procedimento a respeito, venham discutir como melhorar suas aulas e treinamentos com os jovens. Voltarei ao assunto…

4 comentários em “Como Treinar?

  1. Como é habito aprecio bastante os textos aqui apresentados.

    Nos meus treinos opto pelo metodo da descoberta guiada porque no meu entender ajuda a que os atletas independentemente do seu nivel depressa compreendam que “quando falham, não atribuem esse fracasso à falta de sorte, nem culpam a si mesmo; têm uma estratégia que podem corrigir”. E incito à alteração imediata da estratégia obrigando o outro também a alterar o seu comportamento. Muitas vezes a barreira que encontro é na atitude imediata de cada pessoa que treino, muitas delas necessitam de um incentivo exterior (treinador por exemplo) para alterarem o sua postura de modo a procurarem o sucesso de outra forma.

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    1. Obrigado, Antonio, este incentivo além de massagear o ego, revela um traço de sua personalidade bastante agradável e simpático. Imagino que deve ser muito apreciado pelos seus atletas.
      Ensino da técnica – Tive uma experiência no vôlei de praia (e mesmo no indoor) em que levava os atletas (seis) a se auto-treinar, isto é, a se autorregular. E, detalhe, com muita pouca fala. Este método leva o atleta a refletir todas as nuances dos movimentos a que é chamado a realizar e, muito mais, pois quando domina estes pensamentos, está qualificado para a fase de criação. Todavia, não são todos que conseguem, possivelmente pela pouca qualidade de movimentos que deixou de aprender na sua infância (veja Teoria vs.Prática). Mas o treinador pode compensar essa ausência, substituindo por algum período de tempo os treinamentos verdadeiros com bola por outros em que o atleta possa buscar exprimir e adquirir movimentos (habilidades) que não possuía. Isto é válido em qualquer área do ensino: Peter James Crouch, jogador de futebol inglês com 2m, passou a exercitar-se numa academia de dansa para aprimorar seus movimentos com os pés. Se os atletas entenderem esse comportamento, o progresso é imediato, e um colabora com o outro. Segundo Vygotsky, a interferência do treinador nesta fase é possivelmente a mais delicada e necessários muitos anos de experiência. Quando intervir e como intervir, eis o segredo do bom treinador, ainda mais que cada um dos atletas merece conselhos diferenciados.

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    1. Os responsáveis pelo site português do Volei Clube de Setúbal (VCS) têm a nossa permissão para publicarem partes ou artigos em seu site oficial. E, cortesmente, nos informam. Isto nos favorece a todos, uma vez que um dos seus responsáveis técnicos (ver abaixo, Antonio Malveiro) também participa com seus comentários. Estou agradecido e envaidecido pelo carinho.

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