O Tempo e suas Lições

Vissoto (6) e Rodrigão em bloqueio duplo. Foto: Fivb/Divulgação.

Lições do Mundial: Divertimento ou Competição? 

Celso Paiva, que cobriu os jogos desse mundial para o site Terra (out./2010)  conversou com o jogador Leandro Vissotto e mostrou a parte de sua história como atleta de voleibol no início de carreira. Tenho certeza que é um exemplo bem comum e onde todos poderão tirar boas lições, especialmente os “papais não torcedores”. Para o treinador ou dirigente pouco se lhe dá, pois seu interesse está voltado para GANHAR, não importa o preço a pagar. Algo como “os fins justificam os meios”, onde “o importante NÃO é competir” ou, “temos que tirar as criancinhas da rua”. Finalmente, autênticos educadores: “Só o esporte educa”.

Leandro Vissotto. O camisa número 6 da seleção brasileira se destaca pela altura pouco habitual para um jogador que atua como oposto. Com 2,12m, ele é o atleta mais alto da equipe e tem larga experiência internacional, já que atuou na Itália nas equipes do Latina, Taranto e Trentino. Mas não foi sempre nesta posição que Vissotto jogou durante sua carreira. “Quando eu iniciei do mirim para o infantil, o meu treinador me colocou de meio de rede por conta da altura. Mas nunca gostei dessa posição porque é meio como um zagueiro no futebol, porque você corre, protege e quando toma o ponto a culpa sempre é sua.

Vissotto admite que a pressão que ficou em cima da seleção depois do jogo contra a Bulgária, no qual a equipe poupou alguns titulares e saiu vaiada, fez diferença na moral da equipe durante o duelo com os checos. “Não tinha um jogador ontem que não pensasse no assunto. A gente fica com aquela vontade na partida de superar a pressão habitual de momentos como esse”, concluiu o jogador.

Fiz um resumo dos detalhes que me interessaram debater e que certamente podem contribuir na nobre missão de um EDUCADOR:

– “Meu treinador me colocou de meio de rede (…) Mas nunca gostei dessa posição (…) Então eu comecei a errar tudo de propósito até ele perceber”. 2º – “Se interessou pelo vôlei graças a um empurrãozinho de suas irmãs (…) Nunca acompanhei muito e fui meio forçado porque elas faziam eu ir”.  – “Na carreira, o mais sofrido foram as diversas lesões (…) As contusões principalmente no início da carreira”.  – (…) “Teve problemas com a língua (na Itália) (…) Era complicado ir em um restaurante ou no supermercado para conseguir se comunicar”.  – (…) Falta de comprometimento de algumas equipes do país europeu (…) Os times não pagavam em dia, era bem complicado”.

Vissotto e a bola 8; e tatuagens no corpo de outros atletas. Foto: Terra.

No Mundial da Itália.   – Vissotto (ao lado) disse que todos os jogadores têm um momento crítico.  2º – Sofrendo com a irregularidade durante os jogos admitiu que a frustração que viveu durante a vitória suada contra a República Checa foi grande. Cometendo vários erros, o jogador acabou substituído por Theo no terceiro set e pouco voltou para a partida no restante.  No banco, o semblante era de muita frustração pelas coisas erradas. – Em um dos retornos, durante entrada no quarto set para fazer a inversão (no qual se troca a posição do oposto e do levantador), ainda se irritou por não ter a permissão do árbitro para entrar no jogo, por ter demorado muito. No momento de raiva, sobrou para a plaquinha com o número da camisa do levantador Bruninho, que foi quebrada.   – ” Todo atleta tem aqueles dias que entra e as coisas não vão do jeito que ele espera, faz parte”, disse. A gente está aqui para apagar essas coisas (maus desempenhos). Não tenho que pensar muito, cada partida é diferente”. – “Admite que a pressão que ficou em cima da seleção depois do jogo contra a Bulgária, no qual a equipe poupou alguns titulares e saiu vaiada, fez diferença na moral da equipe durante o duelo com os checos. “Não tinha um jogador ontem que não pensasse no assunto. A gente fica com aquela vontade na partida de superar a pressão habitual de momentos como esse”. Assim, se no próprio país os problemas extra-quadra interferem, imaginem um atleta atuar no exterior. É muito provável que terá uma carga extra por conta não só da aceitação na própria equipe – lembrando que disputa a vaga com nativos e outros estrangeiros – como acentuou, e ainda da cultura do país, pois não só de voleibol vive o homem. Na sua imensa maioria, esses jovens estão despreparados intelectualmente até por força de sua escolha profissional. Adotaram o esporte como fonte de recursos para sua sobrevivência. Com isso, abandonam prematuramente os estudos e família. Mesmo no Brasil, vemo-los a atuar ora numa equipe em algum estado e, a seguir, em outro, distante de tudo e de todos. São profissionais nômades, ciganos, sem raízes. E, no caso dos figurantes em seleções brasileiras, o tempo consagrado aos treinos e competições consome meses a fio. Será que vale a pena? Conhece algum que, no exterior, ou mesmo em seu país, procure aperfeiçoar-se nos estudos ou aculturar-se?

Se clicarem na foto do jogador, verão ao fundo fotos de tatuagens de outros atletas brasileiros. Perguntei a um jovem professor de natação da minha neta sobre a motivação para suas tatuagens. Disse-me: “Quando ainda rapaz era modismo; a seguir tornei-me quase dependente delas, é difícil não querer mais”. Fico a pensar o que leva uma pessoa deixar manipular o seu corpo de tal forma! Talvez tenham “inventado” um significado para elas que lhes serve de apoio e segurança em momentos aflitivos. Vejam as superstições e crendices de atletas de futebol e como passam, de geração em geração para os seus seguidores: benzer-se a todo instante, entrar com o pé direito no campo etc.

Lembro-me da crise que surgiu na seleção brasileira em 1988, antes das Olimpíadas de Seul, na Coreia. O técnico principal era o coreano Sohn, que fora tricampeão brasileiro pelo Minas Tênis Clube. Em uma excursão para uma série de jogos amistosos nos Estados Unidos, houve um estremecimento na delegação, que culminou com o afastamento do técnico e alguns jogadores. Diz-se até que um dos motivos teria sido a imposição do treinador para que os jogadores fizessem uso da leitura de livros à sua escolha nos momentos de folga. Quarenta dias antes dos Jogos Olímpicos a CBV destituiu o técnico Sohn e reconduziu para o seu lugar Bebeto de Freitas. Os problemas que o coreano não conseguiu resolver se agravaram com o pedido de dispensa de nove atletas, que só retornaram com Bebeto.

História de vida. Creio que em 1991-92 fui convidado a participar de uma reunião entre pais de atletas e o respectivo treinador num clube tradicional de minha cidade. Eram todos juvenis e disputavam o campeonato carioca de voleibol. Inclusive, o clube viria a ser campeão no ano seguinte. Certamente queriam aproveitar minha experiência para indicar-lhes o caminho a tomar em relação aos problemas que pontuavam vez por outra. Comentaram, discutiram e muito mais tarde indagaram-me a respeito. Disse-lhes: “No que me concerne, todos tiveram a oportunidade de expor seu ponto de vista, assim, cabe a vocês agora decidirem o que fazer”. E retrucaram: “Mas e você, qual a sua opinião”? Resumidamente, mostrei-lhes que os interesses de um clube federado que participa de competições regularmente são quase sempre ditados por um dos seus dirigentes e o treinador da equipe. Os interesses dos pais não devem se sobrepor aos da equipe, que representa o clube. Assim, penso que devem apoiar os gestores sem impor-lhes qualquer interesse particular, como a escalação do filho ao considerá-lo melhor do que um outro.” Claro que nem sempre é assim, e sei muito bem do que falo, especialmente quando se trata de seleção de um país. Como dizia um velho amigo já falecido, “quanto maior o clube, maiores os problemas”.

4 comentários em “O Tempo e suas Lições

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