Treinamento de Canhoto – II

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Como Treinar um Canhoto? (How to train a left-handed?)                

 Em 15.9.2010 recebi um pedido de socorro pelo Comentário do blog que reflete a preocupação de um atleta quanto ao treinamento de um canhoto numa equipe de voleibol. Foi consignado no texto Treinamento de Canhoto – I, cujo título foi reformulado para termos uma sequência lógica no trato com o assunto.        

Essa preocupação justificada também no que concerne ao seu treinador e companheiros, especialmente o levantador, como coloca no texto. Todavia, antes de me aprofundar nas considerações desportivas, dei uma passada pelo Dicionário Houaiss da língua portuguesa, 1ª edição, 2001, para rever e tentar analisar superficialmente porque se considera (ou desconsidera?) um indivíduo canhoto e o que pensa a sociedade a esse respeito. Possivelmente poderemos entender o que pensam os destros. Olhem de novo para um canhoto, especialmente se ele estiver escrevendo: está ou é torto?              

Canhoto ou sinistro = aquele que usa preferencialmente a mão esquerda; indivíduo cuja mão mais hábil é a esquerda; canho, canhoteiro, esquerdo, sinistro. Os canhotos são muitas vezes discriminados até hoje, haja vista que em séculos passados, possivelmente no séc. XIII, tinham a alcunha de diabo. Embora não seja a minha área, mas na Bíblia as referências positivas estão sempre voltadas para a direita: “Está sentado à direita de Deus”; segundo a tradição cristã, lugar ocupado pelo filho de Deus após a sua ressurreição. Homônimo: canhota, esquerda.                  

Aproveito também o tema para divulgar o excelente serviço que um casal presta aos que utilizam a mão esquerda em suas realizações motoras. Creio que todo estabelecimento de ensino no Brasil deveria tomar conhecimento e não “forçar” as crianças a utilizarem a outra mão, como ainda acontece.             

Reproduzo o primeiro diálogo que mantivemos:              

– “Bom dia mestre. Nos idos de 97 estivemos juntos em Niterói durante bons meses de treinamento. Naquela época, devido a uma abrupta interrupção dos treinamentos que tive que fazer para atender longa viagem a trabalho, não pude prosseguir no aprendizado do vôlei de praia (beach volley, minha paixão). E que aprendizado! Assim, naquela época, não exploramos os aspectos da dinâmica do movimento do ataque (cortada). Bom, hoje mais velho, convidado a integrar a equipe de um grande time do Rio de Janeiro, sinto falta de treinamento específico para canhotos e, em especial, do movimento de ataque. Falo agora de vôlei de quadra (indoor). Devido à melhora significativa da minha performance neste último ano que integro a equipe, novas demandas do técnico e levantadores vem surgindo (para mim) além do já tradicional ataque pela saída de rede (meia bola), a saber: 1) ataque da linha dos 3m pela saída (bola alta); 2) ataque de meio de rede (bola de tempo); 3) ataque com bola chutada na saída. Tenho boa impulsão, 1,90m de altura e boa visão de quadra, mas essas últimas bolas que me pediram para atacar porque acreditam ser possível, eu confesso que fico meio perdido. O que percebi: 1) Não consigo me posicionar para atacar bola de tempo (cabeça) junto ao levantador (voltado para entrada de rede), apesar de bater excelente bola de tempo (atrás); 2) Não consigo atacar a bola chutada na saída por achá-la por vezes baixa ou rápida demais; 3) ataques atrás da linha dos 3m é aonde me saio melhor com 50% de acertos.         

Perguntas: 1) Que orientação pode ser dada a um canhoto para posicionamento em quadra, visando melhor deslocamento no ataque das diversas bolas lançadas que citei? 2) Que orientação posso passar ao levantador para lançamento dessas bolas diferentes para mim?                

– “Olá meu bom amigo Floriano, vejo que não me esqueceu e de nossas façanhas quando treinávamos em Icaraí, minha praia. Você sempre foi muito inteligente, aplicado e profundamente interessado em aprender. Certamente é assim em sua vida, tenho certeza, pois seus dizeres refletem essa ansiedade em aprimorar-se no que faz. Parabéns, não me decepcionou. Estarei sempre perto de você para auxiliá-lo com todo o prazer. Peço um pouco de paciência já que terei muita coisa a transmitir-lhe e a todos que se encaixem nesse perfil – treinadores ou atletas. Espero que ‘tenham tempo’ para ler… e aplicar. Contudo, quero e preciso que me dêem retorno com suas observações, uma vez que elas estarão balizando-me nesse mister. E me enriquecendo! Aguardem-me”.        

***       

O primeiro detalhe significativo dessa verdadeira busca reflete a impressão que coloquei no início do texto: o canhoto é diferente, torto? Ele dificulta ou atrapalha na esquematização da equipe?    

Como fazer? Ele deverá se adaptar ao sistema como se fora destro? Ou, ao contrário, devem-se buscar soluções para o seu melhor aproveitamento? Que soluções são essas? Ou finalmente, é melhor não complicar, deixem tudo como está, pois não temos tempo para treinar!        

Vejam outras histórias em Treinamento de um Canhoto – I, publicado em 20.2.2010.   

 (continua)       

 

6 comentários em “Treinamento de Canhoto – II

  1. Caro mestre,
    Uso uma frase que muito significa para mim – ‘penso, logo existo’ – de René Descartes. Ele utilizou o método de duvidar, inicialmente, de suas sensações como forma de conhecer o mundo, pois as sensações enganam sempre, duvidou posteriormente da realidade externa e da realidade do seu corpo etc. Entendo que o diferencial de ataque com outro braço deve ser levado em conta. Sobretudo com tantas inovações deste esporte, sempre quero poder treinar diferente; ser diferente não por uma questão de ego ou exibicionismo, e sim para poder contribuir com a equipe só que de maneira mais inteligente ou diferente. Ser diferente nesse esporte significa aumentar as chances de pontuar, poder confundir o adversário (defesa/bloqueio) etc. Sei que há um mar de possibilidades como as que os destros usam hoje. Por que não aproveitar essas diferenças para se desenvolver algo inovador? Inovador para que eu possa sempre estar no estado da arte (?) na questão posicionamento/ataque. Fazer igual e ser mais um está fora de cogitação para mim. Isto vai contra tudo que sempre lutei na vida:
    diferenciar para superar; diferenciar para inovar; diferenciar para surpreender. Portanto, sei que existo e quero fazer a diferença!
    Até, Floriano.

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    1. Meu caro amigo Floriano,
      Graças às suas palavras iniciais fui buscar auxílio nos escritos sobre Descartes. Mas não pude deixar de lembrar de Sócrates, pois me imagino um maiêutico. Mas se você é um cartesiano, isto é, professa um ceticismo metodológico, leve também em consideração outros dizeres daquele filósofo, que vão muito além da frase consignada. E cuide para não se tornar um solipsista, o que seria desastroso para todos nós, seus amigos. Sobre os ensinamentos de ambos vou produzir um resumo de minhas pesquisas sobre o tema – Filósofos e Métodos – que os demais seguidores do Procrie poderão se ilustrar sobre sua conduta e escolha da metodologia a aplicar no dia a dia. Tenho certeza que terão subsídios em caso de dificuldade, mesmo que nos desportos, pois faz parte do cotidiano.
      Com toda certeza foi muito oportuna sua citação, pois reputo que para o verdadeiro educador é sumamente importante ter consciência do que está fazendo e produzindo, pois lida com mentes em formação, seres pensantes.
      Quanto ao dizeres sobre o aproveitamento tático creio que se precipitou um pouco uma vez que pedi paciência para a produção dos meus textos, que estarão sendo publicados a pouco e pouco. Mas devido à sua necessidade premente, providenciarei para que esteja “no ar” o mais cedo possível. Grato por sua interveniência e continue assim. Comment est Paris?

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