Jogos Luso-Brasileiros

 
Viagem Trans-Atlântica
  
Deu no site português www.sovolei.com: “Mais rápida e menos conturbada que a histórica e pioneira travessia do Atlântico Sul realizada por Gago Coutinho e Sacadura Cabral em 1922 a bordo do Lusitânia e do Santa Cruz, propomos hoje repetir a mesma rota para visitar o nosso já bem conhecido e interventivo Roberto Pimentel e o seu “Projecto de Centro de Referência em Iniciação Desportiva”  . Esta é uma visita de carácter pedagógico dirigida a quem desenvolve a árdua tarefa de incentivar e proporcionar aos mais jovens, a prática desportiva em geral e o voleibol em particular”.
 
Festa da Fogueira – “Queima das Fitas”
Em visita a cidade do Porto, em 9 de maio de 2007, contemplei os momentos vibrantes da Festa da Fogueira (Queima das Fitas). Jovens universitários comemoravam a recente formatura em desfile (Cortejo) pelo centro da cidade durante todo o dia com direito a carros alegóricos.  Ocorreu-me a seguinte ideia: Seria possível reencetarmos com a Pátria Mãe e países lusófonos os Jogos Desportivos? (Ver comentários)
Para aqueles que nunca ouviram falar dessa iniciativa de vida curta dos anos 1960 deixo consignado o registro a seguir.
 
 
Jogos Luso-Brasileiros

Os Jogos Desportivos Luso-Brasileiros revestiam-se de características especiais e foram considerados como organização única do gênero no mundo do desporto. Ao serem criados, estavam previstos para serem realizados de três em três anos, em sedes alternadas, começando o ciclo em Portugal, como homenagem à Mãe Pátria em suas comemorações henriquinas. O período previsto foi o de 7 a 14 de agosto de 1960. Os II Jogos foram realizados no Brasil, sendo que a delegação portuguesa ficou hospedada nas instalações da Escola Naval, no Rio de Janeiro. Os Jogos eram programados pelos entendimentos entre a Confederação Brasileira de Desportos (extinta posteriormente) e as autoridades portuguesas. E, característica singular, não havia prêmios coletivos ou individuais, permitindo-se a distribuição de medalhas comemorativas a todos os participantes. Também era recomendado que fossem realizados de preferência em várias cidades, dando maior amplitude no país da sua realização. Consideremos alguns dados estatísticos reveladores da importância que os portugueses emprestavam ao empreendimento em sua terceira edição, em julho de 1966: 15 dias de competições desportivas completadas com manifestações de caráter cultural, social e humano; 13 cidades e vilas da Metrópole e oito nas províncias ultramarinas de Angola e Moçambique, que acolheram as delegações desportivas, permitindo às respectivas populações presenciarem as provas constituídas por 13 desportos, dois festivais que corresponderam à abertura e encerramento dos Jogos, respectivamente em Lisboa e Luanda; 13 competições internacionais entre Portugal e Brasil e 45 competições, das quais 21 na Metrópole e 24 no Ultramar; 162 desportistas integrados na delegação brasileira, entre dirigentes, técnicos e atletas; 500 desportistas constituíram todo o conjunto integrado; 148 atletas (masculino e feminino) da delegação brasileira formaram a maior concentração jamais registrada numa única instalação – INEF – com a circunstância de que esses atletas assim instalados, separadamente por sexos, dispunham de recintos desportivos adequados às várias modalidades para poder treinar. Além das competições oficiais, eram permitidas também competições ou exibições de caráter amistoso entre as equipes visitantes e entidades ou associações locais. O Brasil se fez representar nesse evento nos seguintes esportes: atletismo, basquete, ciclismo, ginástica, handebol, hipismo, hóquei, natação, remo, tênis de mesa, tiro, vela e voleibol. Os Jogos de 1972 estavam previstos para Portugal no período de 23 de julho a 7 de agosto (NO da FMV, nº 128, de 27.10.1971).

Seleção permanente de novos. Em 1963, em sua coluna do jornal Correio da Manhã, Arlindo Lopes Corrêa comentou: “A CBV emitiu a lista de convocações para a seleção nacional de voleibol que jogaria contra os portugueses nos Jogos Luso-Brasileiros, sendo chamados: Urbano, Décio, Fábio e Silvério, de Minas; Josias, de São Paulo; João Cláudio, Roque, Italiano, Feitosa e Vitor, da Guanabara. Como se observa, não pode haver nenhuma restrição aos convocados, todos eles jogadores de real valor e méritos indiscutíveis. Todavia, alguns outros atletas, ausentes da lista, foram prejudicados. Mesmo considerando que não há tempo para um treinamento mais longo e que, portanto, a base da seleção deve ser o sexteto que venceu os Jogos Pan-Americanos, é inexplicável a ausência de, por exemplo, Quaresma, além do esquecimento dos nomes de Pedro e Newdon, estes mais eficientes no certame de São Paulo, e Quaresma, ausente do Pan, é inegavelmente o melhor voleibolista do país. O único fato concreto é, realmente, o caráter discriminatório dos selecionados da CBV, que ainda não compreendem a importância da sua missão esportiva, deixando-se levar por fatores meramente pessoais e ignorando as exigências do voleibol brasileiro, necessitado de administrações responsáveis, que lhes permitam o progresso pleno e harmonioso em prazo curto. Os juvenis que venceram o Campeonato Nacional de Juvenis, defendendo a Guanabara, jogarão contra Portugal nos Luso-Brasileiros. Paulo Matta continuará como técnico nessa experiência da FMV que, bem sucedida, consolidará a sua pretendida seleção permanente de novos”.

A última versão dos Jogos Luso-Brasileiros foi realizada no mês de julho/1966 em Angola, Moçambique e Portugal. Como se sabe, não há ganhadores nesses jogos. A delegação brasileira de voleibol se fez representar com: Célio Cordeiro Filho (técnico) e os jogadores Carlos Arthur Nuzman (7), Marco Antônio Volpi, João Carlos da Costa Quaresma (Mário Guy de Farias Mariz 2), Paulo Sevciuc, (4), Roque Midlej Maron (1), Mário Stiebler Dunlop (12), José Maria Schwartz da Costa (5), Victor Mário Barcelos Borges (10), Carlos Eduardo Albano Feitosa (11), Pedro Barbosa de Andrade (3), Ary da Silva Graça Filho (9) e Antônio Carlos Moreno (8). A foto não inclui Quaresma, que não fez parte da delegação presente ao VI Campeonato Mundial. Foi substituído por Mário Guy.

Após vinte dias de ter regressado da Europa, a equipe brasileira fez as malas e embarcou para a Tchecoslováquia a fim de participar do VI Campeonato Mundial. Por este motivo, alguns rumores respingaram na imprensa do Rio de Janeiro: “Segundo afirmou o Presidente da Confederação, Roberto Moreira Calçada, foram gastos CR$ 36 milhões para mandar a delegação à Tchecoslováquia. Isso 20 dias após a equipe haver regressado da Europa, onde participou dos Jogos Luso-Brasileiros. O mais indicado era a permanência da seleção naquele continente, realizando amistosos (em troca de estada) e se aclimatando. O Sr. Roberto Calçada, entretanto, explicou que custariam US$ 20, por pessoa, diariamente, a manutenção da equipe na Europa, durante 20 dias. Ora, como seguiram para os Jogos 12 atletas, um técnico e um dirigente, o gasto diário seria de US$ 280 (US$ 5,600, em 20 dias) – muito mais em conta do que despender CR$ 38 milhões com o novo envio da delegação”.

7 comentários em “Jogos Luso-Brasileiros

  1. Caro Roberto.

    É com muito prazer que o temos como colaborador do Sovolei (o único site sobre voleibol em Portugal). A sua experiência e sabedoria são muito enriquecedores para todos aqueles que são interessados nesta modalidade.

    De facto a “Festa da Fogueira” de que fala ter assistido no Porto, chama-se na realidade “Queima das Fitas”. É uma semana, quase no final do ano académico, em que os estudantes universitários festejam os seus cursos. Eu próprio estudei no Porto e também participei em vários destes desfiles. Esse desfile com carros alegóricos chama-se “Cortejo” e junta todos os estudantes de todas as universidades da cidade.

    Quanto aos Jogos Luso-Brasileiros, penso que eles foram substituídos pelos “Jogos da Lusofonia” (www.jogosdalusofonia.info) em que também participa o Brasil. Dê uma olhada no site…

    Um abraço.

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  2. Prezado Luís,
    Agradeço a gentileza de seus comentários que enriquecem este blogue. Estarei providenciando as devidas correções. No que se refere aos Jogos da Lusofonia, creio que infelizmente o Brasil não participa com sua força máxima, tendo pouco ou quase nenhuma divulgação interna. Dessa forma, penso que não se constitui em motivação de aprendizado ou desenvolvimento, mas tão somente em “políticas de boa vizinhança”.

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  3. É isso mesmo caro Roberto. Infelizmente os Jogos da Lusofonia de que falei são mesmo só um instrumento político para disfarçar ou tentar mascarar as boas relações entre os países de língua portuguesa.

    É certo que o Brasil não se faz representar pelos seus melhores atletas. O que demonstra a veracidade do que digo quanto ao significado desta competição.

    Infelizmente os políticos que temos pouco se interessam pelo desporto. Daí este artigo naquele mesmo blogue que me indicou. Leia em: http://colectividadedesportiva.blogspot.com/2010/05/desporto-em-tempos-de-crise-de-mourinho.html

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  4. A indicação do blogue caiu como uma luva para mim, pois seus escritos permitem dimensionar sem mascaramento o que acontece no desporto português. Serei leitor fiel.
    Percebo porque os agentes desportivos são reticentes e retraídos à possibilidade de contatos que possam deixá-los “desguarnecidos” em suas tarefas. Imagino que uma das causas está no ensino universitário, que os (des)prepara para a vida profissional. De qualquer forma, continuarei a tentar contato com todos. Grato uma vez mais.

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