O saque “por baixo”
Desprezado pelos novos professores e treinadores, teve sua época áurea no Brasil até a metade dos anos 50. A partir dos Jogos Pan-americanos de 1955 os atletas brasileiros que lá estiveram trouxeram a novidade do saque “tênis” que se alastrou imediatamente, afastando o “por baixo”. Entre nós, seu principal divulgador foi o Bené, com quem me iniciei em 1958. Rapidamente aprendi sua técnica e, mais importante, seu valor tático. Em 1962, durante a fase de treinamentos com vistas ao Mundial de Moscou, empreguei-o com sucesso retumbante nos treinos coletivos. Ninguém sacava “por baixo”, somente eu, embora dominasse também a técnica do “tênis”. Penso que criei estratégias específicas para cada caso. Os gestos “construídos” quase sempre requerem uma adaptação estrutural. Assim é este tipo de saque. As dificuldades mais comuns se referem à adaptação ao novo movimento – uma posição de base que o favoreça, as noções de distância e altura e a um direcionamento da trajetória da bola. Podemos denominá-los de “pontos-chave” do movimento. Como fazer com que a aluna consiga sucesso no gesto o mais rápido possível?
Solução
a) Principiantes que ainda não dominam uma técnica rudimentar, isto é, não observam a colocação à frente da perna contrária ao braço que executa o golpe na bola. Isto traduz-se em duas outras consequências: no direcionamento da trajetória da bola e no golpe na bola. Não havendo o necessário equilíbrio do corpo, não haverá técnica, isto é, sobram desperdícios. O fator decisivo está na posição da “perna contrária” (esquerda para os destros). A professora poderá levar suas alunas a colocarem uma das pernas à frente e, por meio de “ensaios e erros”, levá-las a esta descoberta. Permitir-lhes colocar um pé sobre uma linha de referência e “descobrir” qual a melhor forma. Nas suas “cabecinhas” (das alunas) algo lhes dirá que para obter mais sucesso é melhor daquela forma. A satisfação de haver conseguido e os elogios reforçam a memorização dos gestos exitosos, além da observação que uma fará da outra. Verifique também se os exercícios de “passe de peito” utilizados no basquete podem favorecer a observação do emprego do movimento das pernas no “conforto” da execução. Neste tipo de passe há deslocamentos do peso do corpo de uma perna para a outra e, por isso, devem estar uma à frente da outra. Fazê-las descobrir posições cômodas de equilíbrio similares (“transferência”). Se for o caso, leve-as a descobrir como se chuta em futebol.
b) Para aprenderem a direcionar a bola, será conveniente que sejam estimuladas a atingir alvos colocados em diferentes posições (laterais) e, as alunas, numa posição fixa em relação a eles. O mesmo princípio se aplicará no caso das alturas: alvos diferenciados perpendicularmente. Além disso, ensinar-lhes a regra do saque: ele pode ser executado de “qualquer lugar do fundo da quadra”. Seria oportuno que soubessem usá-la em seu benefício e da própria equipe. Alunas mais experientes já utilizam esse recurso.
c) Já que os movimentos são construídos, fazê-las experimentar uma série deles, pois só assim poderão eleger o seu preferido. Cabe à professora estimular esta sadia competição e descoberta, onde todos devem participar como se fora um grande torneio, pois as primeiras colocadas tendem a serem copiadas. E, em se tratando de uma competição – exibição -TODAS, sem exceção, devem participar especialmente as mais hábeis, uma vez que dominam a técnica correta. Este é um recurso que a professora deverá empregar sempre para qualquer gesto, considerando que as crianças aprendem também por imitação.
d) O movimento dos braços – empunhadura da bola e golpe com uma das mãos – é aprendido mais rapidamente sem maiores dificuldades. Observa-se, entretanto, que é mais cômodo e preciso golpear a bola com a mão ligeiramente fechada, com rotação do punho (em pronação).
e) O movimento global – considerar o saque para o iniciante como um primeiro obstáculo a superar no vôlei. E que tal aprendê-lo de uma forma global, isto é, como um movimento único? Se assim considerarmos, recomenda-se iniciá-lo de maneira que a aluna possa realizar um pequeno “giro” do tronco sobre a sua base (pés): ela se situaria, inicialmente, paralela à rede e realizaria um movimento conjunto de braços e tronco lançados, começando da direita para a esquerda (destros), girando até a direção desejada da quadra até o golpe na bola, que poderá ser “preso” (sem soltá-la da outra mão). Este giro substituiria, num primeiro momento, a ação rápida do braço que toca a bola, que muitos acham, erroneamente, tratar-se de um movimento de força.
Exercícios. 1) “Jogo de saques”- competição entre equipes; uma realiza os saques e, a outra só recepciona. Pontuação e revezamentos a critério da professora. 2) “Saques no alvo” – direcionar os saques para alvos colocados em diferentes posições e alturas; aproveitar os já existentes.
Utilização tática. As novatas talvez não tenham a exata compreensão do que seja colocar um saque numa determinada jogadora ou local da quadra. Com o desenvolvimento do saque com salto e cortada (“viagem”) muito difundido entre os atletas de alto nível, o ensino do saque por baixo restringiu-se à iniciação propriamente dita. Hoje, ninguém se atreveria a executá-lo, pois se trata de algo ultrapassado. Nas equipes principiantes federadas generalizou-se o uso do saque tênis, cujo movimento se assemelha ao serviço do esporte que lhe dá nome. Neste pequeno capítulo vamos nos referir à importância do saque e o que representa para uma equipe, não importa de que forma seja realizado. Procurarei destacar os aspectos táticos e sua representação no desenvolvimento e, muitas vezes, no resultado de um jogo, especialmente entre principiantes.
1. Lançar a bola para o outro campo de jogo no momento do saque, observada a respectiva regra, é suficiente para reiniciar o jogo e todos se divertirem. Entretanto, quando se inicia a “competição, as atletas começam a descobrir alguns detalhes que levam ao despertar tático inerente à qualquer disputa: percebem que alguns lances realizados sobre determinadas atletas acarretam erros com mais facilidade e, em consequência, acumulam pontos para a sua própria equipe. E este momento tem início a partir da primeira manifestação de ataque do jogo: o saque. Quando as crianças começam a dominar a sua técnica de execução, começam a dirigi-los sobre alvos pré-determinados, que pode ser uma determinada jogadora ou uma zona especial da quadra que dificulte a sua recepção ou mesmo o passe para o levantamento.
2. “A toda ação corresponde uma reação igual e contrária”, é uma lei física. Aqui no nosso caso também pode ser aplicada. Toda vez que treinamos uma forma de sacar estamos, ao mesmo tempo, nos exercitando na forma de defendê-lo ou passá-lo à levantadora nas melhores condições. Se uma atleta coloca o saque em jogo simplesmente cumprindo a regra, não importa de que forma, a outra equipe tem um antídoto para ele, isto é, já foi segura e exaustivamente treinada a sua recepção. TODAS, com raríssimas exceções, sacam da mesma forma. Então, quando treinam os saques, com certeza treinam também a recepção. Como todas sacam da mesma forma, todas deveriam recepcionar sem maiores dificuldades. Acontece que as treinadoras, elas mesmas, se encarregam de especializar as passadoras, tal como acontece no alto nível. A esse respeito recordo de treinos de seleção brasileira feminina (talvez no início dos anos 90) antecedendo jogos amistosos contra a equipe cubana, reconhecida mundialmente pela força de ataque e de seus saques. Em nenhum instante houve exercícios de recepção com a utilização de tais saques, muito pelo contrário, as ações limitavam-se a colocar a bola em jogo sobre as atletas que não possuiam esta técnica. Dias depois, assisti pela televisão um verdadeiro desastre, como não poderia deixar de ser. Creio que faltou combinar com as adversárias como deveriam sacar.
3. O saque deve criar uma dificuldade para quem o recepciona – após a fase inicial de somente colocar a bola em jogo, deve-se aprender a dirigir o saque para qualquer direção da quadra e obter segurança nesse procedimento. É uma opção tática que a equipe deverá dispor sempre com excelentes resultados. Em cenas de jogos na TV já puderam observar como o Bernardinho orientava as atletas da seleção brasileira quanto à colocação dos saques na quadra adversária. Utilizava um diagrama, dividido e numerado para as seis posições regulamentares de rodízio, indicando para a sacadora a posição ou a jogadora adversária para onde deveria ser dirigida a bola. Quando existe uma jogadora que sabemos não possuir uma boa recepção de saque, inevitavelmente a equipe adversária deve explorar esta situação. Isto acarreta pontos diretos, dificuldades e até mesmo, incapacidade de ataques.
————————
4 3 2
5 6 1
———————–
4. O saque deve provocar um problema para a equipe adversária – além das situações vistas acima, podemos também usá-lo com objetivos táticos que minimizem ou neutralizem as situações de ataque de uma equipe. É o caso, p.ex., de saques curtos, próximos à rede, ou na saída da rede (posição 2, ataque-direito). Em outro momento, até mesmo um saque alto, no fundo da quadra, com queda da bola junto à linha de fundo, dirigido para a posição (1) (defesa-direita) tem o seu valor pelos transtornos que provoca na equipe, uma vez que, geralmente, não estão treinadas, isto é, não têm soluções imediatas para tais situações (passes longos). Notem que no vôlei de praia, estes dois exemplos têm muita valia, particularmente na categoria feminina, até pelo desgaste físico que provoca ao longo da partida.
Conceito. A adversária pode até pegar e passar bem o saque, entretanto, seu desgaste físico (especialmente na praia) para a tarefa é inegável e cumulativo, o que a prejudica em todas as futuras ações, quaisquer que sejam elas. É bem provável que sua intervenção imediata de ataque seja a parte mais prejudicada, produzindo erros sucessivos. “Não está treinada para esta situação”. E o que houve para isso? Simplesmente, com um inofensivo saque por baixo colocamos a bola aonde queremos, com bastante precisão; como as atletas não treinam recepção destes saques – ninguém os executa em treinamento – certamente não saberão recepcioná-los adequadamente em jogo. Até por que as equipes estão arrumadas taticamente para recepções de saques que já conhecem. Dessa forma, compete à aluna esperta aprimorar-se nos saques e, entre eles, o por baixo, que pode lhe dar muitas alegrias na sua vida esportiva por muito tempo. As providências táticas são similares às do ataque sem cortada.


Nice post. I was checking constantly this blog and I am just impressed! Very useful information particularly the past part I care for such information much. I found myself seeking this certain info for the very long time. Thanks and better of luck.
CurtirCurtir