Vôlei de Praia, Origem (I)

1. Estrelas do Cooperação Esporte Club nas areias da Praia de Copacabana (22.12.1951), quando participavam de torneio. Entre elas, da esquerda para a direita, Marion (3ª), Osvaldira (5ª), seguida de Yrani e Marly. 2. Time misto da Rede Urca num dos torneios de Vôlei de Praia em Copacabana. Da esquerda para a direita, José Gil, Oswaldira, Coqueiro, Terezinha, Evereste, Wilma e Betinho.

Breve história

Aproximadamente 40 anos depois de inventado por Morgan na Costa Leste dos EUA, a modalidade ganhou sua versão de praia, na Califórnia, Costa Oeste. Jogava-se, então, seis contra seis. Posteriormente, ganhou a versão do dois contra dois. Surgida nas areias americanas como diversão de soldados na década de 30, a paixão praiana transformou-se em febre nos anos 90 e contagiou nada menos do que 40 países do mundo, onde o esporte é praticado atualmente. Por vários anos o vôlei de praia era praticado só por soldados americanos. A partir da década de 50 surgiram os circuitos de competições em cinco praias californianas. O primeiro torneio profissional aconteceu numa delas, em 1976.

Nos EUA, Charlie Saikley, conhecido como “o poderoso chefão” do vôlei de praia, foi quem popularizou o esporte com o lançamento de seu primeiro grande torneio, o Manhattan Beach Open; ele morreu aos 69 anos. Professor durante 40 anos, Saikley também coordenava uma série de programas recreativos na cidade de Manhattan Beach, próximo a Los Angeles Foi cofundador do Manhattan Beach Open, em 1960, na época uma competição amadora, e comandou o evento por muitos anos. O torneio tornou-se profissional nos anos 80. Para o atual coordenador, Leonard Armato, ele moldou aquele torneio, que se tornou famoso tanto para os jogadores como para os fãs. Antes de Saikley, o vôlei era um esporte majoritariamente de quadra, constituindo-se o vôlei de praia uma simples forma amadora no sul da Califórnia. Charlie ajudou a tornar um esporte pequeno em algo que alcançou padrão internacional. O vôlei de praia viria a se tornar esporte olímpico em 1996 e hoje em dia é um dos melhores esportes dos Jogos Olímpicos.

Voleibol nas praias do Rio de Janeiro

Durante décadas o vôlei de praia foi visto apenas como uma distração de final de semana, praticado por milhares de pessoas em toda a orla marítima, principalmente no Rio de Janeiro e em Niterói. O Jornal dos Sports foi um dos maiores incentivadores dessa prática, tendo realizado diversos campeonatos de sextetos, masculino, feminino e misto, durante pouco mais de duas décadas em Copacabana. Como até hoje, existiam os “donos da Rede”, aqueles abnegados que armavam, desarmavam e administravam a atividade. Em Ipanema, na rede do Ipanema Praia Clube, quem mandava era Rinaldo Toselly. Outros famosos foram Seu Thomás,  Frazão e, posteriormente, a Tia Leha, no Posto 6, Copacabana. Os rapazes que começavam a se destacar no voleibol de praia – sempre jogado seis contra seis – eram invariavelmente convidados a participar de equipes de clubes, um fato que perdurou por gerações. Esses campeonatos tiveram início em 1945-46, destacando-se diversas Redes, onde atuavam vários ases do esporte, como Paulo Azeredo, José Gil, Corrente, Chrisóstomo, Bicudo, Ferraz (Ipanema Beach Clube); Alberto Danúzio de Sá (Betinho) e Pirica (Urca P. C.) e Filipone, da Rede Belfort. Todos integrantes da equipe principal do Fluminense.

Posto 6

Depois que o Seu Thomás morreu, a rede do Posto 6 (final da praia) foi mantida durante anos pelo Frazão, de quem a Tia Leah herdou e deu continuidade. Carlos Candeias nos dá um depoimento bastante elucidativo daqueles bons momentos na coluna do Fernandão, Jornal do Brasil Online (14.2.2004):

Ratos de praia [1]

“Fui rato de praia de 1959 até 1967. Jogava na rede de seu Thomás, quase em frente à Joaquim Nabuco, no Posto Seis, frequentada pela Tia Leah, que depois da morte de seu Thomás criou a sua própria rede, armada mais pra perto da Francisco de Sá. Os frequentadores habituais daquela rede eram simplesmente, além da garotada como eu, jogadores do porte de Átila, Arlindo, Parker, Arnaldo, Dudu, Zé Maria, Lúcio Figueiredo, Vitinho, Feitosa, Bomba, Nuzman, Isnaldo, Cabinha (o rei das quadras e duplas), Naga, Careca, John O´Shea, Jorginho Bettencourt e muitos outros. Era um verdadeiro point desse esporte. Os treinadores compareciam em peso: Heckel, Célio Cordeiro, Sami Mehlinsky (para mim o grande treinador do nosso voleibol), Paulo Matta etc. Quase sempre tínhamos a visita do pessoal de Niterói, como Quaresma, Roberto Canhoto (Pimentel) e Borboleta. Nas férias apareciam Belfort, Fabinho e Urbano Brochado, de Minas. Isso sem falar em figuras folclóricas como Evereste, Jojô Piloto e outros. Daquela rede se poderia montar um time imbatível em termos de Brasil”.


[1] Como eram denominados os frequentadores assíduos (dias de semana, 2ª a 2ª) das redes de voleibol na praia.

5 comentários em “Vôlei de Praia, Origem (I)

  1. Roberto, comecei a jogar volei na chegada da”manchete”. No juvenil da AABB no Rio quando no time principal só haviam monstros:Feitosa, Vitor Barcelos, Nuzman, Dudu, etc…
    Meu velho morava na Bolivar e tínhamos um timaço: Feitosa, Vitor e João Cláudio (da primeira divisão) e eu (AABB) Delano e Alvinho (Fluminense) juvenis.Não sei se vc tem alguma referência, foto, arquivo, desse tempo. deve ter sido em 1965,66, por aí. Se vc puder me dar uma dica de como achar alguma coisa sobre esse tempo, por favor me avise.
    Obrigado.

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    1. Por pouco, mas felizmente não, quase fiz parte daquela equipe da AABB que conquistou os campeonatos cariocas de 1963 e 64. Na Bolívar o Isaac Peixoto liderava as equipes de voleibol de praia que disputavam os torneios do Jornal dos Sports durante os verões cariocas e o recesso do campeonato da cidade. Quase sempre as finais eram entre a Bolívar e o IPC, de Niterói, mas com o reforço do Jorginho e Quaresma que atuavam no Botafogo e eu, que por força da lei de transferência fiquei vários anos “em estágio”. A lei só mudou em 1963 possivelmente com muito empenho da AABB para construir suas equipes masculinas e femininas do dia para a noite e o sonho terminou em 1965. Sugiro que você vasculhe este Procrie na Categoria Voleibol de Praia e verá algumas fotos e comentários de época. Diga-me sua opinião mais à frente. Estes escritos e muitas fotos fazem parte do 1º volume (596 pág.) sobre a História do Voleibol, especialmente dedicado ao voleibol carioca, que está saindo por agora da editora. Nota: são aproximadamente 3 mil nomes e é bem possível que o seu lá esteja. Só preciso saber o nome inteiro. Aguardo seu retorno.

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    1. Olá Ricardo, quantas saudades boas são traduzidas em poucas linhas da História de nossos familiares. Este foi um dos grandes motivos pelos quais dispus-me a resgatar a memória daqueles que contribuíram para a História do Voleibol no Brasil. Nesse livro (pág.422) consta o nome Paulo de Oliveira quando cito uma relação de professores e técnicos (71) que buscavam trabalhar em equipes cariocas. Foi publicada na Nota Oficial da Federação Metropolitana de nº 82, de 7.7.1960.
      Na pág.371, Mário Dunlop cita Paulo de Oliveira (Careca) – ex-atleta da 1ª Divisão -, como técnico da equipe juvenil do Fluminense no ano de 1962.
      Seu pai seria um deles? O nome dele completo é o citado?

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