Evolução Tática no Voleibol (I)

Intercâmbio esportivo: a equipe da SOGIPA recebe a seleção argentina para jogos amistosos em Porto Alegre (início dos anos 50). Marina Celistre é a 4ª em pé (de branco).  Viria radicar-se no Flamengo, no Rio, e fazer parte da seleção brasileira.

 

 

Evolução tática a partir do Sul-Americano de 51 

Graças às observações de Sílvio Raso a respeito do II Campeonato Mundial,  Adolfo Guilherme, em Belo Horizonte, e Paulo Azeredo, no Rio de Janeiro, contribuíram para um desenvolvimento tático no que seria a primeira fase de um aprendizado graças ao intercâmbio e observação com os principais centros de voleibol. Os campeonatos sul-americanos de 1951 – masculino e feminino – parecem ter caracterizado o início de uma nova fase do voleibol no Brasil. A partir desse momento, parece haver um despertar – embora pequeno – de uma fase de especulação e de argumentação entre os entendidos que atuavam nos clubes brasileiros. Muitos passaram a argumentar ou a especular com os mesmos fatos que combatiam. Em alguns momentos a doutrinação passava a ser cômica e especulava-se das mais variadas formas.

Uma nova etapa esboçou-se, com a hipótese e experimentação. Alguns fatos já se tornavam aceitáveis, restando agora experimentá-los e retirar deles as conclusões plausíveis. Um trabalho foi apresentado por Lincoln Raso, interessado em dar sua contribuição ao voleibol científico, possuindo o mérito de levantar problemas e suscitar discussões, contribuindo para uma melhoria do voleibol nacional.

As observações realizadas durante o Campeonato Sul-Americano de 1951, destacam o saque, que teve influência decisiva:  “(…) Cerca de 60% dos pontos foram conseguidos através desse fundamento, considerando que somente dois atletas brasileiros executavam-nos com força. No jogo contra o Uruguai constituiu-se numa tática quando da entrada do mineiro Cecywaldo (Tite) para terminar o jogo no saque, batendo a bola acima dos ombros (tipo tênis)”.

V Campeonato Brasileiro, Porto Alegre (1952)

Nesta quinta edição, os mineiros foram campeões e as moças do DF (cariocas) confirmaram sua hegemonia alcançando o bicampeonato.

Suas observações se estendem às competições de âmbito nacional em que reafirma a importância do saque no resultado de uma partida. Conclui que, naquele período, o jogador brasileiro, salvo raríssimas exceções, carecia de um melhor toque de bola. Nas suas palavras, “não sabem bater corretamente na bola”.  Neste início de década, já se percebia uma reação contra as arbitragens que puniam incessantemente as bolas mal tocadas na recepção dos saques. Constatou-se que jogadores que se julgavam astros consagrados não tinham capacidade para dominar a bola, especialmente contra saques de trajetória alta – não mais do que 8m – denominados paraquedas. Não eram batidos com violência, mas a simples força da gravidade já lhes impunha dificuldades. E nos relata com estatísticas sobre o Campeonato Brasileiro de Porto Alegre (RS) em 52: (…) “No jogo com o Distrito Federal, a equipe de Minas Gerais consignou 8, e depois mais 9 pontos, respectivamente, na primeira e segunda partidas, totalizando 17 nos 30 pontos feitos: 56, 6%”. Concluiu que os adversários da equipe mineira defenderam somente 30,8% dos saques executados, constituindo-se num percentual muito baixo. Isto confirma que o voleibol nacional está a exigir uma mudança radical na forma de treinamento da recepção (toque de bola). Vaticinava que um possível confronto com o voleibol europeu nos traria sérios dissabores, uma vez que presenciou uma melhor qualidade de seus jogadores nesse fundamento, inclusive em equipes consideradas mais fracas. A respeito desse assunto, veremos mais adiante que o técnico brasileiro (Sami), quando do Mundial de Paris em 1956, optaria por selecionar atletas que tivessem agilidade e excelência na recepção, isto é, no toque de bola, em detrimento de jogadores altos e consagrados.

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