Professor ou Treinador?

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Leia mais… “Metodologia para treinamento”, e maravilhosas ideias sobre Ensino a Crianças.

Aulas do Fluminense F. C., três vivências inesquecíveis!

VoleiBeneCanto do Rio

No final da década de 70, “convidei-me” para realizar algumas aulas para o Bené, no Fluminense, no ginásio de baixo, como era conhecido o local em que realizava os treinamentos de mirins e infantis. Fronteiriço, uma outra quadra servia aos treinos de basquete. Ao lado, e um pouco mais acima, o antigo ginásio, onde foram realizados os primeiros Jogos Sul-Americanos, em 1951, treinavam os infanto juvenis.

Levo sempre o material pertinente: 4 mini redes, 50 bolas de tênis, bolas (bexigas) plásticas coloridas etc. Inicialmente o grupo estava composto de 16 crianças que me foram apresentadas e, a seguir, demos início à aula: naquele espaço, somente eu e os jovens atletas.  Com o desenvolvimento dos trabalhos, aconteceu algo inédito no clube: inúmeras pessoas se aperceberam de que havia algo diferente naquele local e, curiosos, acorreram para se inteirarem. O treinamento do ginásio principal também foi interrompido por instantes para que todos se certificassem do que ocorria lá embaixo e Bené percorria as instalações próximas para conclamar as pessoas a verem o que ocorria. Não cabia em si de contentamento. De minha parte, muito discretamente e sem muito esforço, simplesmente propunha aos meninos tarefas que se sucediam com intervalos mínimos. Apenas sugeri-lhes que deveriam fazer a algazarra que quisessem. Foi uma grande bagunça, isto é, gritaria e muito divertimento durante todas as demais sessões.

Quando propus jogos nas miniquadras, um outro fato chamou-me a atenção: alguns atletas do ginásio principal– infanto juvenis – desceram e se me apresentaram solicitando participar dos jogos de duplas, no que foram imediatamente atendidos. E até me desafiaram para a competição. Penso ter dado o meu recado e “vendido meu peixe”!

Um espetáculo imperdível!

Depois, Bené visitou minhas atividades - 300 alunos - em Copacabana, a reboque da seleção brasileira feminina, e equipe técnica. Bernardo encomendou-me material para o Rexona.Como mencionado, estava convencido de que o Bené precisava de pequena ajuda para ampliar o seu leque metodológico e, consequentemente, seus resultados. Felizmente, não o decepcionei, pois nunca vi Bené tão feliz na vida. E não só ele, uma vez que houve paralisação de outros treinamentos para que todos pudessem constatar o que estava ocorrendo. O treinador do basquete, Professor René, que interrompera sua aula, aproximou-se para comentar:       “Só podia ser você”!

Depois, Bené visitou minhas atividades – 300 alunos – em Copacabana, a reboque da seleção  brasileira feminina, e equipe técnica. Bernardo encomendou-me material para o Rexona.    Inclusive, em 1988, na praia de Icaraí – Niterói – com o primeiro festival de Minivôlei que engendrei com a Prefeitura, com direito à edição de reportagem editada em rede nacional pela antiga TV Educação. Ele foi um dos entrevistados, bem como Fernandão, também formado pelo Bené, bem como o Bernardo. E tantos outros, como Badá e Bernard: os quatro, medalhistas olímpicos da denominada “geração de prata”. 

Os pequenos atletas logo esqueceram o estranho que ali se infiltrara e deixaram-se contagiar de alegria extravasada em sonoros ruídos e gritos. A plasticidade, variedade de material e a sequência correta de exercícios, compuseram um espetáculo que em dado momento tendia para teatral e, em outro, circense, tamanha a espontaneidade que aflorava naquelas faces infantis. Duvido que passados tantos anos, não se recordem daquelas aulas; nem eu, nem nenhum dos espectadores. E assim se repetiam comentários infantis… “Quer ser nosso treinador”? Em todas as ocasiões que estive apresentando o “meu circo” itinerante pelo país. Como fizera Matsudaira após o título olímpico em 1972.  

E mais: com a continuidade, Bené não se conteve e percorria rapidamente outras dependências do clube – o ginásio principal, o bar da piscina – a congregar outros indivíduos para que viessem presenciar o verdadeiro espetáculo de uma aula para crianças. O Fluminense parou por instantes e os juvenis, que treinavam a parte, vieram se juntar à criançada e, também eles queriam participar daquela saudável brincadeira. Foi difícil terminar a aula naquele dia… Ufa!

Alguém me perguntou quantas crianças estavam ali reunidas. Não me recordo, pois às primeiras 16, juntaram-se outras, mais velhas. Mas como já realizei aula para 64 indivíduos – 9 a 22 anos de idade – num mesmo instante, não encontrei a mais mínima dificuldade.

Lições 

Tenho estado consciente de que as discussões sobre as necessidades e problemas das crianças em diversos estágios de desenvolvimento e aprendizagem comportam implicações cuja realização é difícil, senão impossível, dado o estado atual do conhecimento e as circunstâncias que prevalecem em nossas escolas.

Por outro lado, quando sabemos algo sobre essas coisas (e ainda há muito a ser descoberto), a colocação dessas experiências favoráveis a serviço de grandes grupos de crianças é uma tarefa que posso dizer de cadeira, formidável. Assim, desenvolver a capacidade de observar e interagir com uma criança a fim de descobrir o que ela sabe, pode fazer e compreender é algo que exige tempo, conhecimento e habilidade consideráveis. E imagino que se algum dia for efetivamente professor de um grande grupo estarei apto para reconhecer o potencial de desenvolvimento de cada um de meus alunos. Esta certeza advém da metodologia que recomendo.

Ajuda, quem precisa?

Quando indagava ao Bené para que fizesse uma análise individualizada dos pequenos atletas, dizia-me: “Aquele ali é um espetáculo! O outro, lá, ainda tem muito que aprender, mas vai chegar lá”! Percebia que só destacava os mais eficientes (precisavam de pouca ajuda para se desenvolver). Então, instigava-o: “E aquele lá, que erra a todo instante”? Respondia-me sem pestanejar: “Ele é muito burro, mas a gente dá inteligência para ele”!

Construtivismo

Entre tantas contribuições, destaca-se a capacidade de as crianças enquanto aprendizes e arquitetas da própria compreensão. No decorrer do processo educativo, observam-se fenômenos como a capacidade infantil de autocorreção e autoinstrução, que dão credibilidade à concepção das crianças como agentes do próprio desenvolvimento.

Outro caso de sucesso

Instalamos 13 campos de minivôlei: Recreio Alegre.  Professor NÃO entra! No Colégio Salesianos de Niterói (RJ) foi dada esta prerrogativa aos alunos nos momentos vagos e de recreio. Engendrei a colocação de 13 mini campos de voleibol à sua disposição e eles mesmos organizam as atividades, as regras, direito a jogar, escalonamento de turmas e, inclusive, as próprias competições. Professor NÃO participa!

Um aluno dessa escola, que ali despertou para o voleibol, sagrou-se alguns anos depois campeão mundial infanto juvenil. Trata-se do Leonardo, o Léo, depois um dos treinadores auxiliar do Bernardinho.  Atualmente (mar/2024), treinador no Japão.

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4 comentários em “Professor ou Treinador?

  1. São ações e atitudes como essas que fazem realmente a diferença, é a partir dessas práticas que estimulamos a autonomia, autoestima e o desenvolvimento dos educandos, que em sua grande parte são conduzidos à prática, esse exemplo além de ser construtivista é estimulante na questão da organização, responsabilidade e trabalho em equipe valores que precisam ser valorizados principalmente hoje em dia, em um mundo que se mostra tão individualista.

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  2. Um cuidado especial é manter-me com “os pés no chão”, isto é, seguir adiante com humildade e perseverança. A Missão e Visão que estabeleci nos primeiros ensaios permanecem e, agora, se ampliam para os Cursos Presenciais. Esses cuidados se traduzem também nas mensagens que recebo, pois há coisas muito saudáveis e outras não. Uma delas chamou-me a atenção, recebida há pouco de uma pessoa chamada Robert Fayol, em que diz: “Your blog is the best of universe”. Mesmo sem saber o idioma, é fácil entender o que afirma. Contudo, tenho um respeito profundo diante do fato e peço perdão ao missivista. É possível, já que recebo muitas mensagens descartáveis de diversos teores, que esteja comentendo uma injustiça. Além disso, temo que a vaidade me assalte e domine, o que seria um desastre para minha linha de ação e propósitos de vida. Assim, se honesta, agradeço e prometo melhorar minha conduta para melhor servir a todos. Obrigado.

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