Informação e Estatística
Meu primeiro contato com as chamadas “Estatísticas” do voleibol ocorreu às vésperas do XII Campeonato Mundial masculino realizado no Brasil, em 1990. As “chaves” se desenvolveram em várias cidades – Curitiba, Brasília e Rio de Janeiro – culminando com os jogos finais no Maracanãzinho. A FIVB enviou o seu mais destacado técnico especialista (talvez o criador) do sistema Horst Baacke, um alemão da ex-Alemanha Oriental. Efetuou cursos nas três cidades assessorado pelo presidente do Conselho de Treinadores da CBV, o Comandante Célio Cordeiro Filho. Participei do curso no Rio como ouvinte, uma vez que não me interessava atuar na especialidade durante os jogos. Foi muito interessante, apesar de alguns problemas na tradução com a intérprete, sem qualquer intimidade com o jargão do voleibol. Não me recordo quantos dias, mas creio que não passou de uma semana. Foi utilizado o ginásio principal da Escola de Educação Física do Exército, desde aquela época a quadra principal da CBV. Coincidentemente, num daqueles dias recebemos a visita da seleção principal da Itália que realizou treino amistoso com uma seleção brasileira de novos, concentrada naquela unidade militar.
O curso desenrolou-se na parte da tarde com algumas aulas teóricas e as práticas, sempre no ginásio, com a utilização de equipes infanto juvenis de clubes cariocas, especialmente do Fluminense. Contudo, não tenho certeza, mas tenho a vaga impressão que o técnico alemão atribuía 5 valores – de zero a 4 – para representar cada intervenção de uma atleta. Assim, em caso de erro absoluto (nota zero); algum resultado, mas ainda bastante deficiente (nota 1); relativo sucesso, mas com defeito (nota 2); quase perfeito, mas podendo melhorar (nota 3); e finalmente, nota 4 para a atuação perfeita. Ora, era tarefa impossível de ser assimilado rapidamente por olhos estranhos ao vôlei, representado pelo contingente de estagiários universitários, ávidos somente pelo diploma de participação para enriquecimento de currículo. E quando havia ralys extensos as dificuldades se multiplicavam. Enfim, quem cria alguma coisa sabe também como manipular.
Felizmente, pelo que veremos a seguir, as notas – agora denominadas NÍVEIS – foram reduzidas a somente três. O bom senso parece ter prevalecido, muito embora o sistema não consiga (a meu ver) prevenir ou apontar detalhes importantes que escapam ao observador com menos vivência. Números são números, nada mais. Sempre se disse no Brasil que as estatísticas servem àqueles que as produzem, especialmente quando não devidamente interpretadas. Lembro-me de minha primeira aula na Faculdade e a história contada pelo professor: “Jovem acadêmico realizou um levantamento estatístico na cidade do interior, tendo constado ao final do trabalho que 50% dos médicos morriam”. Indagado como chegou tão rápido à conclusão, disse: “Na cidade só encontrou dois médicos e um deles morrera.” Podemos apreciar a seguir o que a Fivb decidiu duas décadas depois. Sirvo-me da tradução de Luís Melo, do site português Sovolei, onde tenho a primazia de assinar artigos técnicos.
Sistemas de Informação no Voleibol (SIV). As tecnologias tiveram um avanço imenso nas últimas décadas, e nunca mais o mundo saberá funcionar sem, por exemplo, os Sistemas de Informação (SI). Esses sistemas estão presentes nas nossas vidas, mesmo se por vezes não nos damos conta por eles. Servem para recolher, processar, transmitir e divulgar dados que representam informação relevante para o utilizador. No voleibol também se utilizam os SI. O VIS (Volleyball Information Systems) é um software da FIVB que foi inicialmente produzido para fins estatísticos nos jogos de voleibol. Está preparado para recolher dados de todas as ações de jogo e também do nível das mesmas. A FIVB considerou que existem 6 ações de jogo… Serviço, Recepção, Passe (leia-se Levantamento), Ataque, Bloqueio e Defesa. Estas podem ter 3 níveis: Excelente, Normal e Erro.
Três das ações de jogo são consideradas como competências para pontuar (serviço, ataque e bloqueio), e as outras três competências para evitar o ponto (recepção, levantamento, defesa). Para que uma ação pontuadora seja excelente, ela deve terminar a jogada e conquistar o ponto. Uma ação normal permitirá que a jogada continue. Para ações que evitam o ponto, será excelente aquela recepção que permita ao levantador ter todas as opções de ataque disponíveis. Quanto ao levantamento, este será excelente se apenas existir um jogador no bloqueio. Esta informação será importante para, por exemplo, nomear os melhores atletas em jogos ou competições. Existem 7 rankings diferentes:
1. Maior pontuador… atleta que marca mais pontos, por ações de ataque, bloqueio ou serviço; 2. Melhor ataque… calculado pelo nº de pontos, menos o nº de faltas, dividido pelo total de tentativas; 3. Melhor bloqueio… atleta com melhor média de bloqueios, com ponto, por parcial; 4. Melhor serviço… atleta com melhor média de aces por parcial; 5. Melhor defesa… atleta com melhor média de defesas por parcial; 6. Melhor distribuição… atleta com melhor média de passes perfeitos por parcial; 7. Melhor recepção… calculado pelo nº de recepções perfeitas, menos o nº de faltas, dividida pelo total de tentativas. Atualmente o VIS já consiste numa base de dados e um conjunto de portais web. Através de um simples interface (aplicação ou browser web) o utilizador pode criar competições, introduzir informação sobre clubes, equipes, atletas, árbitros ou ginásios. Também já é possível adicionar fotografias para todos estes itens. A última versão do VIS contém também calendários, comunicados de imprensa e transferências. Todas as transferências de jogadores serão feitas eletronicamente através do VIS, acabando com os certificados de transferência em papel. Uma explicação de como tudo se processará pode ser vista em vídeo.
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Repetição ou Qualidade nos Treinos?
Dois ou três anos depois que me iniciei no voleibol, solicitava quase sempre a um ou mais amigos que me acompanhavam – ou solicitava de um conhecido na arquibancada – que anotasse os meus ERROS. Felizmente não eram muitos, apesar de participar da maioria dos lances do jogo. Lembro que estou falando da década de 60. E cada vez passaram a ser menores, a ponto de dispensarem lápis e papel. Como consegui tal façanha? Treinando com QUALIDADE, isto é, exigia-me demasiadamente nos treinos em qualquer lance de que participasse e sempre buscando a bola. O nível de exigência chegava a extremos, inclusive nos jogos na praia, pelos quais fui convocado para a seleção brasileira. Que tal os treinadores e jogadores (individualmente) adotarem esse comportamento? Em outra oportunidade falarei sobre nível de exigência nos treinamentos e tentarei estabelecer uma relação com as “estatísticas” comentadas nessa postagem. Se algum dos leitores tiver conhecimento de causa ou mesmo outra ideia, seria uma boa oportunidade de nos comunicarmos e nos locupletarmos todos.
Conduta do jogador. Chamo a atenção para um outro detalhe embutido na afirmação acima: (…) “sempre buscando a bola”. Veremos isto no desenvolvimento do tema Defesa em Voleibol, ou a qualquer momento caso se manifestem. Até breve.

