Voleibol, Brasil e Portugal (II)

Como evoluir com novas ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo? Vocês mesmos, não esperem as ações institucionais, ou apresentem a elas um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das Federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas as crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo.

Blogues. Atualmente, uma das melhores ferramentas de ensino universitário. O mérito de um blogue é que ele vai além das generalidades, dando ideias práticas e exemplos concretos, mas sem fornecer receitas ou um método pronto para usar. Alguns exemplos são fornecidos para algum balizamento inicial para os menos experientes no desporto. Os leitores poderão discutir como um professor pode e deve experimentar em sua própria classe criando várias situações e avaliando suas intervenções em vista das reações de seus alunos. A partir disso, entende-se muito bem o que vem a ser o caráter essencialmente “construtivista”, e o consequente ganho em autonomia para educar. Lembro que não estamos falando tão somente do ensino do voleibol, mas de múltiplas atividades na infância. Aqui tratamos de Metodologia e Pedagogia a empregar e a ser discutida. Fica então a sugestão para uma amplitude de troca de conhecimentos e informações: construam o seu próprio blogue e comuniquem-se entre si, pois dessa forma TODOS poderão expor suas ideias e experiências. O ganho é geral. Se preferirem, utilizem inicialmente o sovolei ou o procrie.

Subsídios pedagógicos para a estruturação das atividades:  1) Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.  2) Desenvolvendo a autonomia: as crianças estarão aprendendo a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.  3) As crianças são curiosas; levá-las a comentar e questionarem é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.  4) O professor deve considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação de um indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apoie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino.

Voleibol, Brasil e Portugal (I)

 

Contributo

Tenho procurado identificar-me com o perfil das pessoas que me encontram neste blogue e no sítio português www.sovolei.com  através da explanação de algumas experiências. Anteriormente, também num sítio brasileiro desenvolvi diálogos com sucesso com professores brasileiros. Alegro-me por estar sendo útil e percebo pelas visitas de várias partes do mundo – EUA, Portugal (Lisboa, Porto, Açores, Viseu, Cabo, Fátima) França, Peru, Venezuela e Austrália –, além é claro, de diversas cidades brasileiras. Continuarei tentando falar-lhes e juntos, caminharmos nessa tarefa espetacular de aprender a ensinar. Percebam que tento traduzir mais intimamente o ocorrido comigo. Nesta tarefa que se me afigurava difícil, encontrei todas as facilidades de compreensão nas leituras sobre Psicologia Pedagógica, cujos livros permanecem na minha cabeceira. Os estudos de mestres consagrados me levaram a entender e a explicitar tudo aquilo que descortinava na prática. E, muito mais, abriu-se-me um mundo novo de ideias criativas. De alguma forma isto o ajuda ou se constitui num contributo para você?

Importância do blogue. Atualmente, em função das minhas atividades, ando interessado em estabelecer relações entre a natureza de textos pedagógicos e aprendizagem. Daí minha motivação em ampliar um diálogo permanente com os interessados e cooptar novas ideias e experiências, das quais todos se locupletarão. Percebo que o estilo que se imprima ao blogue tem a ver com a busca conjunta de um domínio dos assuntos. Alie-se a isto a própria natureza da mídia – escrita ágil, com poucas palavras, que informa enquanto analisa e faz crítica. É uma escrita que tem o ritmo incessante dos acontecimentos e compatível com a dinâmica da vida atual. No meu caso, isso me ajuda a ficar informado, atualizado e aprender.

Ponto de partida ou ponto de chegada? Pretendo conversar também com professores e treinadores portugueses a respeito da Formação e desempenho (tática e técnica individual) de novos adeptos. E, o mais importante, como alcançar o alto nível ou chegar muito próximo das decisões a tomar. Como advogamos a mesma causa – “tudo começa lá atrás” – parece que a nossa educação esportiva mostra que o país – o Brasil pode servir de exemplo – aprendeu a gastar, mas não aprendeu  a ensinar e, assim, continua confundindo o ponto de partida com o ponto de chegada. A seu favor muitos argumentam que temos o melhor voleibol do mundo, o mais premiado etc. Contudo, imagino o que poderia ser se tivéssemos mais instrução pedagógica e clareza de propósitos em favor da população, como advoga a própria entidade em seu programa Viva Vôlei (fui o mentor técnico), o equivalente ao Gira-Volei em Portugal. Acrescente-se o descalabro do ensino universitário, tanto em Formação, como em Pedagogia. Como dizemos, “Deus é brasileiro”! Durante os comentários que pretendo realizar os leitores poderão entender melhor essas colocações. Acompanhem-me tanto aqui como no procrie. Em caso de dúvida, não se acanhem e façam suas colocações. A discussão do tema nos levará ao “bom caminho” e a novas ideias que, a critério de vocês, serão aplicáveis em seu país.

Formação de treinadores. Advém um outro ponto interessante. Trata-se da homogeneização dos treinamentos em nível mundial manipulado pela toda poderosa FIVB e seus “colaboradores”. Os treinadores preconizam as mesmas coisas – é global – e se há formas diferenciadas de treinamento, pouco diferem na sua estrutura. Assim, onde ou o que faz a diferença? Alguns “chutes” já foram dados a respeito, inclusive por Carlos A. Nuzman, quando ainda presidente da CBV: “Depende da safra de jogadores”. Outros, “O detalhe é que faz a diferença”. E mais: “Precisamos de atletas altos, baixinho não tem vez”; “Precisamos treinar mais vezes, jogar mais”, e por aí vai… Parece-me uma repetição exaustiva do óbvio e o pior é quando um técnico campeoníssimo afirma que o “negócio é treinar e treinar, repetir até a exaustão”. Imagino que algum dia começarão a “olhar para trás e ver com olhos de ver”.

Agora a Federação Internacional intervém nos países membros com propostas de ensino “adaptadas” dos adultos a serem aplicadas às crianças. Se um grupo de professores criativos começar a trabalhar formas de aprendizado que libertem o indivíduo para a sua própria espontaneidade (e não adestramento), tenho plena convicção de que poderemos realizar exercícios de forma inteligente e higienicamente saudáveis, com oferta de QUALIDADE. Certamente contemplarão o aprimoramento de cada indivíduo deixando de encará-los como uma peça da engrenagem em que o operador da máquina torna-se o único responsável. Estaremos tratando de “gente, de pessoas”, e não de números. Proponho o lançamento de um “novo olhar”, não selecionemos (exclusão) atletas, mas, ao contrário, vamos INCLUIR todos em nossas ações. Isto pressupõe propostas de lazer, cooperação, e não de competições.

Voleibol feminino em Portugal. Há dois anos, participei de um Congresso Internacional Desportivo no Brasil. Inscrevi-me particularmente para ouvir a palestra de ilustre professora portuguesa a respeito da prática em seu país. Lamento dizer que saí decepcionado: 40 minutos foram dispensados às apresentações e à exposição de um vídeo turístico sobre Portugal. Nos dizeres dela, “Não poderia proferir uma palestra sem dar a conhecer a minha terra”. Quando interpelada para dizer-me sobre o desporto feminino, foi evasiva. Afirmou que tudo estava muito bem, com excelente participação das mulheres. É evidente que não acreditei, posto que acompanhara o Congresso Nacional Desportivo Nacional português, com importantes pronunciamentos que reclamavam de providências de todas as instâncias governamentais e Federações. Qual o interesse de esconder a verdade? Apego ao cargo? Total desconhecimento do assunto? Insegurança e falta de criatividade? Ou, ainda, “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”? Em outro momento voltarei a falar sobre o assunto na busca conjunta de soluções.

Vejo pelo desabafo do Luís Melo publicado no Zona 7 sob o título “Feminino, um problema de mentalidades”, que tem razão. Impressiona-me é o conformismo para reagir a esse estado de coisas. Todos sabem o que ocorre, mas ninguém experimenta dar o primeiro passo para a busca de soluções. Só a crítica é muito pouco. Aguardar providências do governo está comprovado que não sairão do marasmo a que estão relegados; e esperar que as instituições que comandam o desporto (COP, FPV etc.) é “morrer na praia”. Já tiveram mostras de que nada disso vai modificar o panorama. Vejam as propostas e conclusões do Congresso sobre as Lei de Bases: nada foi adotado e continua a mesma desde 2004. Parece ser natural em Portugal (e no Brasil).

Vimos no Tempo Técnico, “A nova legislação para a Formação de Treinadores”, apresentada pelos dirigentes do IDP, referente a um Programa Nacional. Pretende ter uma “incidência muito grande (…) e provocar grandes alterações no nível dos Cursos de Formação”. Alguém nutre alguma esperança que desta vez vai ser efetivamente implantada, ou será fruto de mais burocracia? E as suas universidades que formam os professores, mestres e doutores? Ou, de repente, alguma luz iluminou os governantes para o fato óbvio: voltar-se e cuidar de forma científica das novas gerações, deixando de lado o empirismo e as receitas técnicas da FIVB, ou até mesmo universitárias, que até hoje não surtiram qualquer resultado positivo. “Sabe-se muito, fala-se demais, e diz-se pouco”. Transpor os ensinamentos colhidos na teoria para a prática, vai aí muita água. As prateleiras, e agora a Internet, estão repletas de pesquisas de coisa alguma que não surtem o menor resultado Há que se realizar uma grande guinada, navegar por mares nunca dantes navegados, marco da história dos portugueses.