Exemplo a Ser Seguido

Atletas japonesas comemoram a terceira colocação nas Olimpíadas. Foto: Fivb/Divulgação.

 Como muitos sabem, sou um dos colaboradores há algum tempo do sítio português sovolei, algo de que me enche de orgulho. E através dele estou em permanente estado de despertar no que tange a medidas metodológicas e pedagógicas a serem empregadas pelos treinadores no sentido de um salto para o futuro. É certo que têm muitos problemas atualmente – economia, político, administrativo, cultural -, mas quem não os tem ou já teve, em menor ou maior escala e conseguiram sobrepor-se. O Brasil foi um deles.

Frequento também a comunidade de Educação Física Virtual – CEV– a maior do País, em que se discutem assuntos pertinentes à área. Recentemente, uma postagem do Professor Edison Yamazaki, um brasileiro que reside no Japão, despertou-me a atenção, inclusive voltada para os treinadores portugueses, tanto de futebol, quanto de voleibol. Vejam e ilustrem-se com alguns depoimentos interessantes para discussões futuras. 

O Ser Humano Acima do Atleta (por Edison Yamazaki, em 10.9.2012) 

Estive num seminário na Universidade de Esportes de Osaka onde participaram um representante da Federação Japonesa de Futebol, o treinador de Futsal da seleção japonesa e o auxiliar técnico da seleção feminina, campeãs mundiais e prata em Londres, um profissional do corpo técnico do Barcelona e eu. O tema principal era: “como utilizar o futebol para inserir os jovens japoneses no cenário global”. Cada um falou um pouquinho para um público bastante heterogêneo formado por treinadores masculinos e femininos de clubes e escolinhas, dirigentes esportivos, professores que não tinham nada com esportes, curiosos e muitas crianças. Vejam bem, crianças!

O que mais marcou foi o depoimento do Sr. Satoru Mochizuki, assistente técnico na seleção feminina e professor da Universidade de Esportes de Shiga. Indagado sobre esquemas e métodos de treinos, ele disse que na seleção, muito mais do que isso, era levado em considerado o fator humano. Primeiro eles selecionaram as meninas pelo seu caráter, otimismo, perseverança etc., e em seguida pela qualidade técnica. Disse que existiam atletas tecnicamente melhores, mas que não se encaixariam na proposta da Comissão Técnica. Disse ainda que os treinos são bem parecidos em todo o mundo, ressalvando particularidades culturais, mas as pessoas são muito diferentes e, se reunirem um grupo com “pessoas de boa índole, altruístas, dedicadas e perseverantes” a probabilidade de sucesso é muito maior do que um monte de craques egoístas e desinteressados. Em suma: “Convocamos primeiro o homem e somente depois o atleta”. Os aspectos físicos, técnicos e demais qualidades vêm a seguir. Seguindo essa mesma linha de pensamento é que foi convocada a seleção sub-20 que ficou em terceiro lugar na Copa do Mundo que terminou na semana passada. Será que ele está certo? Será que a nossa seleção principal não está falhando nesse aspecto?

Atletas japonesas vibram com a vitória sobre o Brasil nas Olimpíadas. Foto: AP.

Roberto Pimentel, em 10.9.2012. – Olá Edison, como mudaram os japoneses neste novo século. E para melhor!

Temos no Procrie dois artigos que tratam do assunto com intensidade e depoimentos de algumas personalidades validando os novos conceitos e metodologias do treinamento. Concordam que é mais importante aprofundar-se nos estudos da Psicologia Pedagógica do que simplesmente um cursinho de alguns dias com ex-jogadores. Destaco as postagens “Alegria no Futebol e no Voleibol”? e “Ensinar Vôlei e Futebol, que Diferença”? Neles há depoimentos de Guardiola e José Mourinho, dois dos melhores treinadores da atualidade. Quando se referem à Formação de atletas, dão ênfase em como devem ser consideradas as condições psicológicas para o desenvolvimento do indivíduo.

Vejam, p.ex. o breve relato do Mourinho: “(…) a teoria do treinamento desportivo positivista não se alinhava a minha forma de pensar. Foi aí que o Prof. Manuel Sérgio me ensinou que para ser aquilo que eu queria ser, teria de ser um especialista na área das ciências humanas. Foi assim que aprendi que um treinador de futebol que só perceba de futebol, de futebol nada sabe. Se sou um treinador singular é porque não me esqueço das lições sobre emancipação e libertação. É preciso ser livre para fazer o novo… até no futebol”. (Motrisofia – Homenagem a Manuel Sérgio, de José Mourinho).

E ainda, de Daniel Coyle, em o “Código do Talento”: (…) Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve levar em conta um misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. É um sentimento que nos leva a perguntar: “De onde veio aquilo“? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam tão talentosos? E encerro meu diálogo com o Professor Edison: “Parabéns pelo relato do seminário e parabéns aos treinadores japoneses, especialmente de futebol e de voleibol, cuja equipe feminina está voltando a se destacar no cenário mundial”.