Voleibol de Praia em Niterói (I)

Rede do Canto do Rio, com Calado, Alfredinho, Mangolão, Newdon, Ferreira, Gonçalves, Calixto, Kiko, em dia de festa.

As Redes (ou campos de jogo)

Rede do Canto do Rio

Grupo de entusiastas, na sua maioria atletas de basquete do Clube Canto do Rio que, aos domingos, recreava-se na praia, em frente à Praça Getúlio Vargas, entre as ruas Miguel de Frias e Álvares de Azevedo, em frente ao cinema Icaraí. Ao lado, vemo-los todos animados uma semana antes do carnaval de 1949 com o famoso Banho à Fantasia. Em sua maioria, atletas de basquete do clube.

Rede Paz e Harmonia

Ao lado da Rede do Canto do Rio, e em frente ao Cinema Icaraí, a Rede Paz e Harmonia, fundada pelo Aníbal possivelmente no final da década de 50, atraía a rapaziada de outros bairros, como Fonseca e Barreto. Ali atuavam e divertiam-se muitos atletas que jogavam somente em clubes de Niterói. Cremos que em torno de 1966, seu Mira, que também participava da rede, resolveu fundar a própria rede, sendo acompanhado por vários adeptos.

Na foto acima, vemos o animado grupo de atletas frequentadores da rede no início da década de 60. Em pé, da esquerda para a direita, Jayme, Sérgio, Homero, Toninho, Mário, Jader, Ricardo, Hudson e Deroca. Agachados, Mário (Banana), Aldrovando, Silésio, Aníbal,…(?), Silênio e, de chapéu, Luís.

Rede do Mira. Miroslav Blakic, ou Mira, um iugoslavo baixinho, forte e troncudo, especialista em mecanismos, consertos e vendas de relógios. Foi responsável pelo grande relógio colocado por muito tempo na Praça Araribóia, no Centro de Niterói. Seu pequeno escritório localizava-se na Rua da Conceição, no edifício Gold Star.  Originariamente, a maior parte dos componentes da Rede são oriundos da Rede do Aníbal, em frente ao Cinema Icaraí. Mais adiante, talvez em 1966, com a desistência do líder de manter a Rede, Mira, um dos que ali atuava, fundou a sua própria Rede, agora próximo à Rua Presidente Backer. Com ele vieram muitos dos adeptos, tais como Jayme, os irmãos Nelson e Neir, Toledo, Oswaldo, Nilo, Sam, Ronaldo Braga e muitos outros. Mantiveram-se durante algum tempo até que, com o crescimento do número de adeptos, Ronaldo Brafa passou a armar sua Rede também aos domingos (só o fazia sábados à tarde). Assim, ganharam todos, pois criaram condições de mais pessoas se divertirem jogando voleibol na praia. Na década de 60, um grupo de aficionados reuniu-se em torno do seu Mira. Em pé, da esquerda para a direita: Baby, Vicente,…(?), Hebert, Jayme, Ronaldo Braga, Renato,… (?), Sam e Paulo (da Ótica Fluminense). Agachados: Oswaldo,…(?), seu Mira, Silvares, Helinho e Edinho.

Voleibol em Nichteroy

Equipe do Icaraí Praia Clube (IPC). Em pé, da esquerda para a direita, Milton Braga, Vital Imbassahy e Aguinaldo Mendonça; agachados, Nelsinho, Otávio Botafogo e Klauss. A equipe venceu o 2º Torneio Aberto da ACM, no Rio, em 1939. Ao fundo, a Rede do IPC na praia. Acervo Aguinaldo Mendonça.  

 

 

Vôlei na Praia de Icaraí (I)

Esporte e Lazer. O esporte tinha duas vitrines em Nictheroy: a primeira, os clubes, berço para o seu desenvolvimento; em segundo, a Praia de Icaraí, onde até nossos tempos transformou-se num quintal recreativo. O vôlei era praticado essencialmente por laser e dispensada a arbitragem: os próprios jogadores se policiavam e assinalavam suas próprias faltas. Embora houvesse discussões quanto ao placar, a escolha dos times, os lances dúbios, tudo era encarado da forma mais amistosa possível, sendo raríssimos os casos de desavenças graves. Aliás, a regra era devidamente modificada para que se permitisse um jogo fluido e alegre, com ralis longos: “valia tudo, exceto tocar na rede e xingar a mãe!”

As Redes. Fora do ambiente escolar praticava-se o futebol e o voleibol nas praias. Este começava a exercer sua influência sobre os jovens. Quanto às crianças, estas observavam atentas as partidas e somente nos intervalos lhes era permitido praticarem alguns rudimentos. Durante longos anos a prática do vôlei na praia fez a diferença entre cariocas, niteroienses e seus maiores rivais, paulistas e mineiros. Dizia-se que eram “ratos de praia”, uma referência à malandragem dos praticantes.

Ratos de Praia. No Rio, alguns privilegiados, com horários de trabalho flexíveis ou simplesmente que não trabalhavam, jogavam duplas diariamente muitas vezes com apostas em dinheiro. Eram chamados Ratos de Praia. Também em Nictheroy praticava-se o voleibol na praia, especialmente aos domingos, o que contribuía, não só para um bom preparo físico – jogar na areia fofa é muito estafante – como acrescentava excelente desenvolvimento tático, uma vez que “valia tudo” nas partidas. Para colocar a bola no chão da quadra adversária era preciso, além de tudo, imaginação e criatividade. Esta prática favoreceu e fez diferença durante muitos anos nos confrontos contra paulistas ou mineiros. Em suma, eram quatro treinos por semana – acrescentou-se o sábado a partir do início da década de 60 –, sendo que o preparo físico era dado pela prática na areia. Formava-se uma geração bastante competente que, em disputas na década seguinte contra atletas de seleção do Rio competiam de igual para igual, muitas vezes até em vantagem. Foi o período dos torneios de praia do Jornal dos Sports nas areias de Copacabana.

Em meados da década de 50 e durante muito tempo, o voleibol atraía muitos adeptos aos domingos para a praia de Icaraí. Eram muitas as redes e algumas sobressaíam em valores técnicos de seus participantes sem tirar o brilho das longas e animadas partidas. Os grupos eram formados segundo suas próprias simpatias e a finalidade era o lazer após uma semana de trabalho. Como até hoje, existiam os “donos da Rede”, aqueles abnegados que armavam, desarmavam e administravam a atividade. Os rapazes que começavam a se destacar no voleibol de praia – sempre jogado seis contra seis – eram invariavelmente convidados a participar de equipes de clubes, um fato que perdurou por gerações. Esses campeonatos tiveram início em 1938 congregando diversas Redes, onde atuavam vários ases do esporte.

Redes de Vôlei de Praia

Prática escolar

A partir da década de 40 o Colégio Santo Inácio, no Rio – somente para meninos – deu início timidamente à prática da Educação Física. Um sargento do Exército, com  curso de Monitor da EsEFEx, dava uma aula por mês de ginástica, quase sempre de calistenia, para assegurar o cumprimento da lei. Os alunos somente utilizavam o calção quando dessa única aula. As práticas nos demais dias de futebol, basquete, vôlei e ping-pong estavam restritas aos momentos vagos, sem necessidade do uniforme de ginástica. Fora do ambiente escolar os jovens praticavam o futebol e o voleibol, ambos  nas praias da Zona Sul.  Na foto, a equipe de voleibol do Colégio Andrews na década de 40, destacando-se Gil Carneiro, último à direita.

As Redes de vôlei no Rio

O voleibol começava a exercer sua influência sobre os jovens, especialmente as moças. Dizia-se que voleibol era para “mulherzinha”. Quanto aos meninos e rapazes, quando não estavam em suas peladas de futebol, não resistiam ao fascínio de arriscar alguns movimentos com a bola na rede. Os menores, filhos de praticantes, observavam atentas as partidas e somente nos intervalos dos jogos lhes era permitido “brincar de jogar” com a bola. Era o início de seu despertar para o esporte, pois era sistemático. Durante longos anos a prática do vôlei na praia fez a diferença entre cariocas e seus maiores rivais, paulistas e mineiros. Dizia-se que eram “ratos de praia”, uma referência à malandragem dos praticantes. Como até hoje, existiam os “donos da Rede”, aqueles abnegados que armavam, desarmavam e administravam a atividade. Em Ipanema, na rede do Ipanema Praia Clube, quem mandava era Rinaldo Toselly. Outros famosos, mais tarde, foram o Frazão, no Posto 6 e, posteriormente, a Tia Leha, em Copacabana. Depois que o Seu Thomás morreu, a rede do Posto 6 foi mantida durante anos pelo Frazão, de quem a Tia Leah herdou a rede. Os rapazes que começavam a se destacar no voleibol de praia – sempre jogado seis contra seis – eram invariavelmente convidados a participar de equipes de clubes, um fato que perdurou por gerações. Esses campeonatos tiveram início em 1945-46, destacando-se diversas Redes, onde atuavam vários ases do esporte, como Paulo Azeredo, José Gil, Corrente, Chrisóstomo, Bicudo, Ferraz (Ipanema Beach Clube); Alberto Damázio de Sá (Betinho) e Pirica (Urca P. C.) e Filipone, da Rede Belfort. Todos integrantes da equipe principal do Fluminense F. C., diversas vezes campeão carioca.

Ratos de Praia. No Rio, alguns privilegiados, com horários de trabalho flexíveis ou simplesmente que não trabalhavam (vagabundos), jogavam duplas diariamente muitas vezes com apostas em dinheiro. Eram chamados Ratos de Praia. Metaforicamente, tinham bastante intimidade com o local em que viviam, isto é, em que atuavam. Carlos Candeias nos dá um depoimento bastante elucidativo daqueles bons momentos na coluna do Fernandão, do Jornal do Brasil Online (14.2.2004):

“Fui rato de praia de 1959 até 1967. Jogava na rede de seu Thomás, quase em frente à Joaquim Nabuco, no Posto Seis, frequentada pela Tia Leah, que depois da morte de seu Thomás criou a sua própria rede, armada mais pra perto da Francisco de Sá. Os frequentadores habituais daquela rede eram simplesmente, além da garotada como eu, jogadores do porte de Átila, Arlindo, Parker, Arnaldo, Dudu, Zé Maria, Lúcio Figueiredo, Vitinho, Feitosa, Bomba, Nuzman, Isnaldo, Cabinha (o rei das quadras e duplas), Naga, Careca, John O´Shea, Jorginho Bettencourt e muitos outros. Era um verdadeiro point desse esporte. Os treinadores compareciam em peso: Heckel, Célio Cordeiro, Sami Mehlinsky (para mim o grande treinador do nosso voleibol), Paulo Matta etc. Quase sempre tínhamos a visita do pessoal de Niterói, como Quaresma, Roberto Canhoto (Pimentel) e Borboleta. Nas férias apareciam Belfort, Fabinho e Urbano Brochado, de Minas. Isso sem falar em figuras folclóricas como Evereste, Jojô Piloto e outros. Daquela rede se poderia montar um time imbatível em termos de Brasil”.

Vôlei na Praia de Icaraí

Como disse anteriormente. a primeira Rede data de 1937; era a do IPC. O esporte tinha duas vitrines em Nictheroy: a primeira, o próprio clube, berço para o seu desenvolvimento; a segunda, a praia de Icaraí, onde até nossos tempos foi transformada em imenso quintal recreativo. Embora houvesse discussões quanto ao placar, a escolha dos times, os lances dúbios, tudo era encarado da forma mais amistosa possível, sendo raríssimos os casos de desavenças graves. O vôlei era praticado essencialmente por laser e dispensada a arbitragem: os próprios jogadores se policiavam e assinalavam suas próprias faltas. Aliás, a regra era devidamente modificada para que se permitisse um jogo fluido e alegre, com ralis longos: “valia tudo, exceto tocar na rede e xingar a mãe!” O voleibol praticado na praia em Nictheroy restringia-se aos domingos, o que contribuía, não só para um bom preparo físico – jogar na areia fofa é muito estafante – como acrescentava excelente desenvolvimento tático, uma vez que “valia tudo” nas partidas. Para colocar a bola no chão da quadra adversária era preciso, além de tudo, imaginação e criatividade. Esta prática favoreceu e fez diferença durante muitos anos nos confrontos contra paulistas ou mineiros. Em suma, eram quatro treinos por semana – acrescentou-se o sábado a partir do início da década de 60 –, sendo que o preparo físico era dado pela prática na areia. Formava-se uma geração bastante competente que, em disputas contra os melhores atletas do Rio competiam de igual para igual, muitas vezes até em vantagem. Foi o período dos torneios de praia do Jornal dos Sports nas areias de Copacabana. Como os melhores atuavam em times cariocas, principalmente Botafogo, Fluminense, Tijuca e América, não havia bairrismo ou qualquer tipo de rivalidade, muito pelo contrário. Neste período surgiu então a expressão carinhosa “Nitctheroy, celeiro de craques”.