
Quanto Vale um Título?
A história dos homens se repete inexoravelmente. Relembro aos leitores frase do ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique ainda durante o seu governo: “A ordem do dia é o nacionalismo barato”. Mas afinal, deve pensar o presidente, o que um povo tão caipira pode almejar de melhor do que o pão e o circo? Nas expressões de hoje (foto), só faltou fazer a bola girar na ponta do nariz.
Treinos, Jogos, Calendário… A saúde dos atletas, alguém se importa?

Quem corre é a bola. Não é preciso dizer sobre o calendário futebolístico nacional, ditado também pelo internacional (FIFA), especialmente no ano em que se dá a competição máxima, o Campeonato Mundial. A cada rodada do campeonato os departamentos médicos dos clubes não dão vazão ao número de jogadores com lesões principalmente musculares. As causas parecem convergir para o excesso de jogos – normalmente dois a cada semana – e a obsessão extremada na preparação física ocasionada pela nova forma de jogar: “a correria”. Um dos melhores craques que o Brasil já teve, o saudoso Valdir Pereira – Mestre Didi – diria ainda hoje: “Mas por que tanta pressa? Por que tanta correria? Quem corre é a bola!” Lembro-me de uma de suas entrevistas a um jornalista logo após a desclassificação da equipe brasileira em 1954, na Copa da Suíça. Perguntado por que jogava tão parado, pouco se movimentando no meio de campo, disse: “Que culpa tenho eu se recebo a bola na minha intermediária, lanço-a ao Humberto (atacante) deixando-o à frente do goleiro adversário e ele chuta para fora”?
Bola voadora. No voleibol existem poucas diferenças. A Federação Internacional divulga antecipadamente o calendário das competições do ano vindouro e as Federações nacionais que estão aptas a participar – mérito ou convite – ajustam-se peremptoriamente. Entretanto, ocorre no voleibol uma intensidade talvez bem mais significativa que consiste em atividades internacionais bastante intensas todos os anos, agravadas de dois em dois anos com os Mundiais e as Olimpíadas, ambas as competições defasadas em dois anos. Como agravante, a Fivb incluiu a Liga Mundial, sob o pretexto de manter as melhores seleções em atividade. Para ela um prelúdio ao mundial ou à olimpíada, para mim, um torneio caça-níquel milionário. E para manter o alto nível, regulamenta que as seleções participantes tenham pelo menos nove (9) atletas que tenham integrado a última competição internacional sob os seus auspícios.
Um Grande Negócio. Quando se trata de competição mundial o dinheiro em jogo justifica qualquer sacrifício. E, sabedora disso, a Fivb instituiu prêmios para os vários destaques das suas competições além do prêmio maior aos que sobem ao pódio. É um esquema profissional em que todos ganham e, certamente, os atletas são os que ficam com a menor parcela. Mas alguns poucos são glorificados, elevados à categoria de heróis, têm suas fotos enrolados na bandeira nacional divulgada pelo mundo inteiro etc. Querem mais? Em contrapartida, tornem a admirar a foto estampada acima e observem os três dirigentes/presidentes. Da esquerda para a direita, o presidente da CBV, o do meio, da República do Brasil e, finalmente, o último, o presidente do Banco do Brasil, patrocinador oficial das seleções brasileiras de voleibol. Só faltou o desfile em carro aberto do Corpo de Bombeiros e a decretação de ponto facultativo. Todavia, como estamos às vésperas de uma eleição e tal como fez o país na época da ditadura em 1970, faz muito bem ao povo que os nossos atletas se consagrem internacionalmente. E melhor ainda aos candidatos do próprio governo: “O que um povo tão caipira pode almejar de melhor do que o pão e o circo”?
Calendários. O extenso campeonato brasileiro de futebol tem como agravante vários aspectos que não entraremos em consideração nesse espaço. Apenas saliento o aspecto do grande número de jogos, sucessivas viagens, inclusive duas vezes na semana, as competições internacionais entre clubes – Copa Libertadores, Sul-Americana – e jogos amistosos ou campeonatos oficiais entre seleções, como Copa América, Sul-Americano, Pan-Americano. Especialmente para os eleitos é impossível achar um tempinho para recuperação ou treinamento com qualidade. A necessidade de fazer dinheiro ou caixa fala mais alto, inclusive por conta de contratos milionários com patrocinadores. Enquanto isso, o calendário de competições no voleibol é incomensuravelmente menos agressivo, pois, em termos nacionais, só prevê os jogos da Liga Nacional no fim de ano – novembro a março – e, mesmo assim, para um seleto número de equipes. O “problema” maior no Brasil ainda é o Banco do Brasil/CBV/Clube, o verdadeiro puxador de audiência. Por isso dizemos, “com dinheiro é mole”! Gostaria que essa verba fosse aplicada na Educação de crianças, o nosso verdadeiro futuro e não uma simples coleção de medalhas que logo estarão empoeiradas pelo tempo. Lembram-se de que o brasileiro não tem memória?
(continua…)

