Estamos próximo de atingir nossa meta de 1 mil artigos para deleite dos internautas interessados em Metodologias de Ensino – Escolar e Desportiva. O que não desmerece qualquer ensino de habilidade humana.
Praia de Icaraí, Niterói-RJ. Aulas regulares para 400 crianças.
Faço este preâmbulo para situá-los no tempo e nas considerações técnicas que pretendo discorrer com colocações e teorias a respeito. Nesta nossa conversa tratarei de relatos com passagens e histórias com campensíssimos também do Vôlei de Praia. Perceberão que diversas contingências influenciavam a forma de treinar, causando danos irreparáveis na formação de novos atletas e, pior, a precariedade e as improvisações realizadas nos períodos de treinamento das seleções a indicar falsos caminhos aos treinadores brasileiros. E, também, ao ensino universitário, cujo currículo imagino seja o mesmo ainda hoje para a formação de professores. Verão também as razões pelas quais muitos treinadores de alto nível em vários desportos dizem que o erro está na “base”, quando se referem a atletas com deficiência em alguns fundamentos. E, em seguida, se exprimem: “Não tenho tempo para treiná-los”! Esquecem-se que eles mesmos, ao formarem jogadores nos respectivos clubes procedem de forma semelhante e repetitiva.Continue lendo “Como Treinar Defesa em Voleibol?”
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Representar e ilustrar o passado, as ações do homem são tarefas tanto de historiador como do romancista. (Henry James)
Poderíamos dizer que o bom treinador deve ter “um olho no jogo e outro no treino”. Para facilitar os nossos leitores e produzir um encadeamento sobre o tema DEFESA republico o artigo Lições do Mundial da Itália e peço que o considerem o primeiro da série. Com certeza a ele se deve a sequência dos demais postados recentemente. Vejam alguns destaques que justificam a necessidade de os treinadores, a partir da Formação, se esmerarem ou talvez até aprenderem como realizar treinamentos consistentes de DEFESA. Até então, repetem o velho chavão desde a década de 60: “o defesa-centro (VI) recua e os alas (II e V) avançam.”!
Percebam algumas considerações extraídas de jogos que embasam tal necessidade:
Na última Olimpíada, o Brasil teve dificuldades insuperáveis para anular os ataques de saída de rede (II) do gigante russo Dmitriy Muserskiy, principal responsável pelo triunfo ao fazer 31 pontos, quatro a mais do que o brasileiro Wallace. Depois de estar perdendo por 2×0, o técnico russo alterou a posição do jogador que, de meio de rede (III) passou a oposto (como Wallace), executando praticamente todos os ataques em II.
Na partida entre RJX e Vivo/Minas, dia 23 p.p., pela Superliga masculina, ganha pelos cariocas por 3 sets a 2, observou-se que as equipes a partir do 4º set passaram a construir seus ataques quase que exclusivamente dirigidos aos seus opostos (em II). Pelo lado do RJX, com o estreante Da Silva e, pela equipe minatenista, com Filip, o maior pontuador do jogo com 26 pontos. O fato deveria despertar a atenção dos treinadores para a necessidade de treinamento de bloqueios na saída de rede, além da competência para defesa. Como aconselhavam desde priscas eras nossos pioneiros do voleibol: dá pra quem está rodando!
E não foi por acaso que Jorge (Jorginho) Bettencourt, técnico do Botafogo na segunda metade dos anos 1960, insistia com seus pupilos nos ataques de saída de rede (II) com bolas altas, enquanto seus principais adversários se esmeravam em copiar as recentes inovações japonesas de jogo fintado. O Botafogo foi campeão carioca durante 11 anos ininterruptos.
Dá pra quem vira!
Por falar em priscas eras, quando ainda atuava na década de 60, disse certa vez no intervalo de uma partida para o levantador da equipe: “Todos queremos ganhar o jogo, certo? Então, não se preocupe em distribuir bolas para todos os companheiros; dá pra quem está rodando! E acrescentei: “Se eu não rodar, aí sim, pode levantar para outro.”
Era uma expressão muito utilizada cujo significado era aquele que vira (quem roda), isto é, consegue fazer pontos sucessivos; que não erra nos ataques. Recordando que a Regra previa as vantagens e não pontos por rali: uma equipe só fazia pontos após conseguir a vantagem do saque e, nesse instante, procedia a um rodízio (vira, roda) de posições na formação de seus atletas.
Lições do Mundial da Itália – I (publicado em 6/out./2010)
Quem viu a partida entre o Brasil e a atual República Checa ontem (dia 5) pelo Mundial que está sendo disputado na Itália, contemplou a excelente atuação do atleta canhoto HUDECEK. Após terem perdido o 1º set, seu treinador colocou-o em quadra e isto fez a diferença: ganharam o segundo e terceiro sets. Inclusive, realizou a maioria dos ataques na entrada da rede (posição IV), ignorando bloqueios gigantes, como o de Leandro Vissoto, de 2,12m. Considere-se que o atacante checo mede 1,95m. Ao que parece, só foi travado pela utilização do saque (tático) do atleta brasileiro Theo, assim mesmo no tie-break. Pena que outros nacionais não tenham aprendido ainda a sacar, pois o líbero adversário foi contemplado com diversas benesses. É possível que “não tenham tempo” para treinar este fundamento… E, certamente, “como bloquear um canhoto”. Recordo-me que o único treinador que teve preocupações defensivas contra a possível presença de um canhoto numa equipe adversária foi o Professor Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando de sua estada à frente da seleção brasileira no final da década de 60 e início dos anos 1970. Indagou-me se poderia participar dos treinos para que os atletas apurassem o bloqueio contra um canhoto. Acedi ao convite, mas nunca mais voltou a falar sobre o assunto. Não pude ajudar, foi uma pena!
Quem tem medo? Aprendi há algum tempo um sábio ensinamento: “As pessoas têm medo daquilo que desconhecem”. É o caso das crianças, dos indígenas e povos de cultura primitiva que a história nos conta que se amedrontavam com simples trovões e, por isso, davam-lhes o caráter até de divindade. Assim é até nossos dias, pois aquilo que não sabemos fazer ou realizar deixamos de lado e evitamos entrar no mérito para um possível aperfeiçoamento.
No voleibol nunca será diferente, ainda mais quando os ditos preparadores, formadores, treinadores e técnicos – não esquecer os entendidos – só pensam naquilo, isto é, na vitória a qualquer preço. Essa metodologia tão em voga atualmente está voltada preponderantemente para o ganho imediato, não importa a quem sacrificar. Os atletas deixaram há muito a sua condição de indivíduos, com pensamento próprio, e foram transformados em peças que a qualquer momento podem ser substituídas sem a mais mínima cerimônia. Por que, então, perder tempo em treinar um jovem que não sabe ainda recepcionar ou defender, se ele é muito mais útil hoje à equipe no ataque e no bloqueio? Muitos acreditam também que um bom bloqueio é suficiente para que a equipe tenha uma boa defesa. Então, é muito mais fácil treinar o bloqueio e não perder tempo em fazer com que atletas de 2m ou mais sejam razoáveis defensores.
Importância da Formação. Esses mesmos indivíduos já foram condenados lá atrás, quando se iniciaram no esporte, pois tenho certeza que nunca foram exigidos em outros fundamentos. E não seria agora, pois testemunho há vários anos exemplos com equipes infantis e juvenis. O que se vê em matéria de treinos de defesa é pura brincadeira que talvez devesse ser realizado na areia da praia, com muito mais proveito. E estou falando da época de maior crescimento do voleibol nacional, a partir da década de 80, com a insana profissionalização a que chamo “corrida do ouro”, típica dos antigos filmes do faroeste americano, com cavalos, carroças e diligências, massacrando quem lhes impedisse o objetivo. Para chegar ao fim almejado e conquistar seu quinhão não importam os meios.
No caso da partida a que me refiro atrevo-me a ir um pouco mais além, chamando a atenção também para o aspecto do posicionamento e péssima técnica no fundamento defesa para os dois atletas que estão regularmente nas posições I e II, invariavelmente o levantador e o seu oposto. Foram muitos ataques direcionados para esta lateral da quadra e não me lembro de qualquer recuperação. Por ali se situam Bruno, Vissoto e, depois Theo. Quando a TV repete os lances de vários ângulos, permite observar a posição dos atletas exatamente atrás do bloqueio, o que denota o cuidado especial de não receber o impacto direto, ou levar medalha como dizemos no Brasil. Além disso, os pés paralelos, a posição alta e a não exigência em treinos de defesa, fazem-nos alvos preferidos dos ataques contrários. Enquanto isto, do outro lado, o líbero se destaca, pois não tem medo e sabe defender. E para permanecer na equipe terá que se esmerar nesse fundamento até as últimas consequências, o que o torna um especialista. Sabedor disto, o que fazem os atacantes contrários? Não é necessário ser um estrategista para responder. Pelo que já vi de treinos de seleções brasileiras, tudo continua no mesmo lugar, e se nos chegam as vitórias, certamente que vamos todos nos ufanar de sermos brasileiros. E a história continua repetindo os mesmos fatos. Não foi por acaso que postei a foto acima para ilustrar o que estamos afirmando. Não se trata de jogo dos sete erros, mas dá para destacar alguma imperfeição, afinal, ninguém é perfeito.
Detalhes fazem a diferença. Não precisamos nos reportar ao alto nível de qualquer desporto, mas em qualquer tipo de competição em que os oponentes têm formação similar, certamente que a vitória tenderá para os que melhor cuidarem dos detalhes. Em outras palavras, ganha quem erra menos, frase que ouvi em 1963 do nosso saudoso Zoulo Rabello. No alto nível não é diferente, já que todas as equipes e jogadores se conhecem, há múltiplas informações oriundas dos sistemas de espionagem, filmes, CDs. Contribuindo para tal, até o regulamento das inúmeras competições bancadas pela Federação Internacional prevê a participação de um determinado número de atletas (eram 9) que estiveram nas últimas competições patrocinadas por ela.
Percebe-se também o equilíbrio entre 5-6 seleções mundiais que, dependendo de fatores extra quadra, algum acidente, uma contusão, ou mesmo, a safra abundante de excelentes atletas num determinado período, constituem-se em vetores dos resultados. Mas estejam certos de que nunca se deu importância aos treinadores das equipes em Formação, muito menos à sua qualificação. Os cursos preconizados pela Fivb para suas filiadas estão estandartizados e repetidos pelo mundo e sua abordagem continua efêmera. Quantas vezes ouviremos treinadores de seleções (refiro-me a qualquer deporto coletivo) no Brasil dizerem que não se tem treinamento na BASE, que é insuficiente, mal efetuado e, quando um atleta alcança o nível mais alto, “não há tempo para corrigi-lo”. E, ainda, que os aspirantes a treinadores devem “ser do ramo”, em clássica retórica depreciativa. O que acham que deve ser feito? Ou seria melhor ter bastante fé e repetir mais uma vez a plenos pulmões: “DEUS É BRASILEIRO”!
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Em prosseguimento ao tema DEFESA, faço uma ressalva aos leitores para destacar a importância de um planejamento em suas atividades. Dessa forma, relembro os textos postados neste Procrie sob o título Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem (3 art., nov./2009) sobre nossa atuação no Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro, projeto que antecedeu o Criança Esperança, alardeado pela TV Globo. Trata-se de uma proposta didática a ser empreendida para várias circunstâncias, especialmente em se tratando de indivíduos sem qualquer ou pouca atividade física dirigida. Assim, naquela oportunidade buscamos desenvolver preliminarmente:
A conquista do ritmo do grupo
Desenvolvimento da auto-estima
Valor dos pequenos jogos e brincadeiras
Capacidades de pensamento, aprendizagem, memória, linguagem, atenção, concentração
A prontidão para a aprendizagem
A pertinência de conteúdos
Os métodos de descoberta na aprendizagem
Fatores para ajustar a capacidade de aprender com disciplina e orientação própria, e de pensar racionalmente de modo continuado
Até chegarmos a um ponto desejável, observam-se detalhes que podem ser desenvolvidos de forma imperceptível e imprescindíveis para um bom rendimento do indivíduo (ou futuro atleta) – sua colocação dentro de quadra, a intuição no que se refere à antecipação. Isto é, sua construção mental como base de sua atuação tática futura, que de alguma forma podemos simplificar como aprender a pensar. (Leia mais em Aprender a Ensinar)
Inicialmente, é natural focar no aprendizado individual em detrimento do coletivo, justificada pela aquisição de uma técnica que permita ao treinador em futuro próximo aprimorar os aspectos coletivos da equipe, isto é, a tática a empregar em função dos adversários, ou mesmo no desenrolar de uma partida. Contudo, nossa preocupação reside no fato de os profissionais encarregados de propor as tarefas não estarem suficientemente instruídos quanto aos temas psicopedagógicos, mas voltados essencialmente para a consecução desse ou daquele exercício. (Reportem-se ao artigo Teoria vs. Prática). Assim, deixam de exigir a busca da perfeição nos gestos, isto é, no apuramento de uma técnica individual, sem a qual tudo permanecerá como dantes. Este a nosso ver o principal erro que se propaga geração após geração, independentemente se estamos na Formação ou mesmo no Alto Nível. Em suma, não convém que o indivíduo seja adestrado – repetir e repetir – mas levá-lo a compreender o que lhe é exigido (a tarefa), e a avaliar o seu progresso – ensino contingente. Caso necessite de ajuda, a acuidade, o conhecimento e a experiência do treinador contribuirão na difícil arte de ensinar. Isto é bem diverso do que simplesmente enunciar o exercício e aguardar o momento de realizar o próximo em um exaustivo processo muitas vezes melancólico. Mas será que os instruendos estão se esforçando para aprimorar a técnica de execução, ou simplesmente repetindo as mesmas coisas? Neste caso, simplesmente estarão reforçando o erro, o que consideramos um contra treino. Assim, que lhes sejam impostos problemas diários e que aprendam a buscar as soluções mais adequadas.
Cobrindo a rede
Nunca é demais lembrar que é sempre de bom alvitre colocar uma pitada de graça, alegria e surpresa nos treinos. Isto torna o ambiente propício à concentração e ao desempenho, deixando de ser repetitivo e enfadonho, do tipo que inspira pensamentos nos atletas como “aposto que já sei o que vem mais adiante!” Vamos juntos, então, dar a partida na intenção de criar alguns problemas para os instruendos de forma original e criativa – crianças ou adultos – e mais do que isto, avaliar uma a uma as soluções e comentários que geram como um todo. Poderíamos sem medo de errar, dizer que vamos Aprender Brincando; quer coisa melhor para despertar e manter o interesse dos indivíduos? Além disso, em uma disputa saudável, incentivar e destacar os comentários mais pertinentes após cada sessão de treinamento. Na montagem da foto pode-se perceber o grau de dificuldade e as implicações provenientes de ter parte da visão obstruída numa partida de voleibol.
– Que tal se cobrirmos a rede com um pano opaco e deixar que crianças inventem seus primeiros jogos e exercícios com a novidade?
– E se, em dado instante, interrompêssemos um treinamento de uma seleção adulta – feminina ou masculina – e introduzíssemos os mesmos jogos criados pelas crianças?
O que acham que aconteceria em seguida em ambos os casos? Se você tem uma resposta é um bom sinal, independentemente se ela se ajusta a qualquer dos dois casos. O que importa, então, é que começamos a raciocinar juntos na mesma direção, isto é, buscamos novos estímulos que favoreçam um bom aprendizado. Quer participar dessa brincadeira?
Criatividade, originalidade e compartilhamento
Todos estão convidados a embarcar nessa viagem maravilhosa de livre pensar e descobrir até onde nos levam nossas descobertas!
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Vimos em “Treinamento: Defesa vs. Ataque” como podemos aproximar um treino das condições reais de jogo, tornando-o bastante motivante. Como alcançar tal estágio? Aparentemente, parece fácil, diriam, basta não errar. Todavia, muitas nuances se incorporam àqueles momentos, o que empresta certo grau de imponderabilidade aos lances. Aliás, altamente recomendável para a aquisição de atitudes de defesa, pois quanto mais variedade nos tipos de ataque, mas ricas são as experiências para aqueles que estão a treinar defesa.
Vôlei antigo vs. vôlei moderno
Em minhas experiências de jogador nunca vi treinamentos de defesa, ou algo que assim se pudesse denominar. Esta condição ou o atleta já a possuía ou, então, se constituiria um pequeno fardo para a equipe. Talvez realizar uma cobertura de bloqueio e olhe lá. Diziam todos os treinadores – e era verdade – não havia tempo para treinar tal fundamento, uma vez que até a década de 70 os clubes só treinavam duas (raramente três) vezes na semana, mesmo assim, somente por duas horas. Na década seguinte, nos anos 1980, veio para ficar o profissionalismo e, com ele, novos métodos, especialmente físicos, e os treinamentos diários. E a “força” passa a ser a tônica dos treinos, com cravadas impressionantes nos bate-bola ou aquecimentos. Eram de fato portentosas as cortadas, mas tinham um problema ainda não resolvido atualmente: deviam combinar com os bloqueadores para que estes facilitassem a ultrapassagem das bolas, pois os adversários teimavam em impedir o seu arremesso. Dessa forma, dois fundamentos passam a ter máxime importância no chamado voleibol moderno: o saque e o bloqueio. Compreenderam os treinadores/doutrinadores que um saque para ser eficiente deveria, pelo menos, dificultar o passe ao levantador, o que “quebraria” as jogadas de ataque adversário e, consequentemente, contribuiria para bloqueios eficientes das “bolas marcadas” ou de segurança.
Um depoimento – Em 1966, conversando com Adolfo Guilherme, treinador do Minas Tênis Clube, dizia-me ele após uma partida entre sua equipe e a do C. R. Icaraí, na qual atuava e era treinador: “Roberto, não sei o que vocês fazem em matéria de treinamento de defesa, mas o fato é que ontem tivemos dificuldades em colocar as bolas no chão, apesar de nosso ataque ser reconhecidamente fortíssimo.” Respondi-lhe de imediato: “Com certeza dever ser a praia, onde nos divertimos e nos aprimoramos sem qualquer compromisso”. Sorrimos e mais não dissemos.
O Circo de Matsudaira
Entre os Mundiais de Voleibol de 1960 (Rio) e os Jogos Olímpicos de Munique (1972) o voleibol japonês experimentou um desenvolvimento impressionante, sendo aplaudido no mundo inteiro e influenciado formas de treinamento nunca vistas no Ocidente. Destacaram-se, inicialmente, no feminino, conquistando o vice-campeonato em 60 e, a seguir, nos Jogos Olímpicos de 1964, tornaram-se as primeiras campeãs olímpicas da modalidade. O masculino viria a ser campeão olímpico somente em 1972. Foram marcantes em ambas as equipes, a concepção criada para derrotar principalmente as grandes equipes européias do bloco socialista que dominavam as competições internacionais. No plano estratégico engendrado por seu articulador Matsudaira, foi dada importância a um saque novo que dificultasse as recepções (já por manchete). Eram os chamados saques flutuantes; jogadas rápidas de ataque exaustivamente treinadas (fintas) que confundissem os altos bloqueadores; e uma tremenda condição física e mental para defender com impressionante índice de sucesso. A Federação japonesa produziu um filme de 20 min, que resume todo o trabalho de 8 anos. Matsudaira exibiu-o no Rio de Janeiro em 1975 quando da realização do curso que proferiu nas instalações da EsEFEx. Nuzman estava recém empossado na CBV e, anos mais tarde, autorizou-me a exibir a película, além de telecinar para fita cassete e DVD. Foram feitas somente duas cópias.
Líbero, melhor defensor?
E assim foi durante muito tempo, até que a Fivb foi aconselhada a incluir uma criatura que não tivesse medo de levar boladas ou, melhor dizendo, que fosse preparado para defender. Criaram o que passou a se chamar o LÍBERO. Quase sempre um “baixinho” que se destaca entre tantos gigantes que pouco ou nada sabem a respeito do que seja defender em voleibol. Mas por que um indivíduo relativamente mais baixo que os demais jogadores cria por força de treinamento condições ótimas de desempenho e outro, não tão diferente, não o consegue (é mais provável), ou jamais se interessou por fazê-lo? Creio que a resposta está configurada no que dissemos acima sobre os novos métodos de treinamento – “força” – na década de 80. Interessante notar que na década anterior, em que alguns atletas brasileiros se dispuseram a atuar no voleibol profissional dos EUA, as equipes eram de cinco atletas, sendo uma mulher e as posições eram fixas, não havendo os rodízios entre os jogadores. E o detalhe que considerei mais importante: “A valorização que os americanos emprestavam às ações de defesa. muito aplaudidas -. em detrimento de um quase descaso pelas cortadas violentas”. Isto é, um bom defensor era considerado o melhor jogador da equipe.
Por que um baixinho levaria vantagem nos movimentos de defesa? Coloca-se em destaque a necessidade de o atleta aprender a se deslocar rapidamente, a antecipar-se para aumentar suas chances de defesa, e apto para ações de contra-ataques. Em suma, examinar a concepção do criador do jogo voleibol desde 1895 e formatar condições novas de treinamento. Quer me parecer que “conhecendo a história podemos recriá-la a nosso favor”. Ou não? Creio que vale a pena tentar, pois teremos chances de mudar o que se está deixando de fazer. Afinal, não repetem em alto e bom som que no alto nível os detalhes fazem a diferença?
Ensinar é Contar Histórias?
Bem, não lhes parece que, as histórias consistentes, inclusive confiáveis, embalam-nos por enredos eletrizantes, capazes de nos envolver e arrebatar, como se estivéssemos assistindo um filme em que nos sentirmos autênticos personagens executantes?
Nesse conceito, compus dois livros: no primeiro – Villa Pereira Carneiro, 1920 a 1950 -, em que propus-me dar a conhecer o bairro em que nasci e habitei por 33 anos, e construí relatos baseados em suas breves histórias do dia-a-dia de crianças e jovens, suas peripécias, joguinhos e convívios sociais. O segundo – História do Voleibol no Brasil, 1920 a 2000 -, em 2 vols., 1.047 págs., adjetivado como inédito, memorialista, enciclopédio e referência em Sociologia do Esporte.
Observem que, modernamente, de fato livros que tratam de ciências e sua divulgação nas práticas, os autores se exprimem exercendo sua natural intuição como os povos antigos pré-Gutemberg, a contar “histórias”, de refletem a veracidade dos fatos e suas vivências, ou as observadas oriundos de algum grupo social.
Em sendo assim, mantenho-me fiel às minhas intuições e aprendendo cada vez mais a partir de minhas crônicas oriundas, inicialmente de vivências de um jovem autorregulado aos 15 anos de idade, e depois como escriba, um tanto ou quanto, diferenciado e liberto das amarras das composições acadêmicas. Enfim…, “é como se estivéssemos conversando”!
O que mais sinto falta, é dos “compartilhamentos”, quando realmente há clima para críticas, sem nenhum sentido em reprimir instintos. Quanto mais opiniões diversas – generalistas – confrontam-se que convergem para novos avanços e ideias. Afinal, somos neofiílicos!
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Ocorreu que o vídeo pode nos induzir a pensar livremente, desacondicionado da intenção primeira do(s) autor(es). Sendo assim, criemos nossos próprios pensamentos e hipóteses com a finalidade de obtermos subsídios pedagógicos nos treinamentos que levam jovens a comportamentos e atitudes impecáveis. Assim, em nosso livre pensar percorramos por instantes caminhos profundos e interessantes.
Equipes em treinamento
Durante algum período em que enfatizamos o treinamento de defesa e movimentação da equipe (ritmo) em nossa passagem no Rio de Janeiro pelo Clube de Regatas Icaraí (fem., 1964), Tijuca T. C. (fem. e masc., 1969-1971) e América F. C. (masc., 1981), utilizamos recurso similar no intuito de mantermos o nível de atenção (e estresse) para as providências táticas cabíveis em situações reais de jogo. Considere-se ainda que para manter o paralelismo entre situação real de uma partida e a de um treino não é tarefa fácil, o que leva o atleta a relaxar em momentos não aconselháveis em determinadas circunstâncias. Uma das maneiras cujos caminhos começamos a percorrer em nossas experiências pedagógicas foi exatamente a de criar ralis longos, em que preponderantemente era imprescindível “não errar os ataques ou deixar a bola cair.” Esta é, p.ex., a mais expressiva falha do voleibol moderno e que o deixa pouco atraente, repetitivo de forma banal, especialmente entre equipes masculinas, pois os treinadores não sabem como treinar defesa, ou imaginam que se treinarem fortes saques e bloqueios inexpugnáveis, para que treinar defesa? Tanto especializaram os indivíduos que se tornaram meras “peças de reposição”.
Dessa forma, e para facilitar inicialmente a absorção do “novo tipo de jogo”, abstraímos os tipos de ataques violentos e as fintas. Creio que se observarem mais uma vez o vídeo, verão que raros foram os ataques de “saída de rede” (posição II), também uma forma de atenuar o desgaste físico da equipe que momentaneamente está a se defender. Com um “olhar e ver”, descortinarão ainda que os ataques jamais tentaram iludir bloqueadoras e tão pouco defensoras, todos realizados de maneira estandardizada, de fácil previsão quanto à trajetória da bola, sua força e, assim, de fácil previsão do local de impacto.
O treinamento é altamente motivante e, até perigoso, dado que os indivíduos envolvidos se deixam levar pelo aspecto preponderantemente emocional – querer fazer o melhor sempre – e para tanto, estão dispostos espontaneamente a se auto vigiarem e a se multiplicarem na ajuda a possíveis falhas dos companheiros – as coberturas. O treinador conhecedor de seus objetivos saberá dosar a intensidade, instando seus atletas a buscarem o máximo de empenho. Outra desafiá-los a cumprirem ralis cada vez mais longos.
Responda à pergunta: Quantas vezes você viu algum atleta brasileiro realizar um peixinho (e tocar a bola) durante uma partida? Não vale o Serginho. Será que o fundamento é treinado para situações em que o Brasil é vencedor? (Como treinar defesa?)
Em “Valorizando defesas em detrimento de ataques” vê-se como o treinador pode levar seus atletas a esse nível de compreensão e atitudes.
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Bernardinho ironizou discussão com Serginho. Foto: Fivb/Divulgação.
Seleção acusa sérvios e dispara contra “união europeia” (deu no Terra)
“A Sérvia fez o que veio para fazer. Ela não se preocupava com o campeonato, mas sim com a quantidade de times europeus que se classificarão. Em campanha ruim na Copa do Mundo, a Sérvia teve uma de suas melhores atuações na partida contra a Seleção. Pesou o fato de seus principais jogadores terem sido poupados nas duas últimas partidas, contra Rússia e Itália, vencidas facilmente pelos adversários. A Sérvia colocou a equipe reserva em outras partidas (contra Rússia e Itália), e o objetivo deles era ganhar do Brasil. Com Rússia, Polônia e Itália classificadas para a Olimpíada, a Sérvia teria caminho facilitado na disputa do pré-olímpico europeu a ser realizado em maio de 2012. A vitória sobre o Brasil contribui ainda mais para que o continente domine a zona de classificação aos Jogos Olímpicos”.
Ora, vejam só, na recente Liga Mundial o Brasil atuou com uma equipe reserva contra a Bulgária para evitar o confronto com a dona da casa, a Itália. A sensação que alguns nos passam é que “só o brasileiro é malandro”.
Foto: Fivb/Divulgação.
Lições
Sempre disse que se eu vir uma equipe jogando 3-4 vezes, sou capaz de conhecer parte de seus componentes (personalidade e técnica) e a forma como ela é treinada. Até os chamados bate-bola e aquecimento antes das partidas, ainda como jogador, ficava a observar os prováveis titulares e, especialmente, o seu levantador. É evidente que era muito pouco tempo, ainda mais que me cabia também aquecer, mas refletia já a minha preocupação em conhecer cada adversário para estudar-lhe as reações e, assim, antecipar-se a elas na medida do possível em jogo. Por isto, sempre disse aos meus atletas: “bate-bola é treino, o que fizer ali, estará fazendo no jogo”.
Como não tenho outra foto, vejam esta que selecionei em que o atacante sérvio realiza seu ataque desde a posição IV. Diante do bloqueio triplo brasileiro em que direção deveria atacar a bola? Se fosse ele faria na direção do bloqueador mais baixo (levantador, junto à antena), considerando ainda que na posição I (defesa direito) deve estar o mais fraco defensor adversário, isto é, o “oposto”, no caso, Vissoto, com seus 2,13m. Provavelmente, escondido atrás do bloqueio para não levar medalha. Percebam que o sérvio deixa passar a bola (atrasa o golpe) para exatamente bater em direção ao bloqueador mais baixo e, com certeza, no fundo da quadra. Alguém por ali para defender? Quem, o defesa centro? Ele teria o discernimento para se antecipar, se percebesse a intenção (atraso e direção do corpo) do atacante? Saberia ele tocar na bola após salto e com uma das mãos dirigi-la ao centro da quadra?
Treinamento de defesa. (…) “Fizemos poucas defesas, o que não gerou contra ataque…” Tive duas breves oportunidades de assistir a treinos da seleção brasileira. Uma vez na Escola de Educação Física do Exército e outra em Saquarema. Foi muito pouco, mas nestes pequenos instantes, deu para observar detalhes que, ampliados, refletem a forma de treinar imposta pela equipe técnica. Além disso, mesmo nas vitórias, percebe-se que à exceção de um ou outro, talvez o líbero, os demais se comportam de forma inteiramente alheia à aquisição de qualquer melhora em sua técnica individual (se é que a possuem). Como quase sempre é falado que “não há tempo para treinar”, convive-se com o que se tem e tenta se aprimorar o que já sabem: bater forte na bola ao atacar, e treinar bloqueio. Ocorre que muitas vezes se esquecem de combinar com o adversário o que vão fazer para que ele não os atrapalhe. E, aí, o fato está consumado.
Vimos na Liga Mundial no ano passado, um atacante não me lembro se tcheco ou alemão, na posição II, declinar do ataque forte sob bloqueio duplo brasileiro, para lançar com uma das mãos a bola na paralela, no fundo de quadra, encobrindo inclusive o líbero que estava dando cobertura ao bloqueio (por V). O defesa centro brasileiro – Dante – em pé com seus 2m de altura sobre a linha de fundo simplesmente “olhou” a bola que placidamente tocou o solo a poucos metros dele. E, se não me engano, ainda esboçou um sorriso, muito peculiar, como se pensasse: “o jogo está fácil, não vale a pena me esforçar”. Agora, nesta partida com a Sérvia, um outro repete a mesma cena, inerte, sem ação, ante uma bola que toca o solo a poucos metros. Como podem ganhar de alguém? Somente com saques violentos que quebrem o passe adversário. E a receita parece válida para a equipe feminina e, infelizmente para o Brasil inteiro, pois os súditos seguem a cartilha dos reis. Quem sabe defender, exceto o líbero, ou realizar saques táticos neste país? Vou mais além: “Quem sabe treinar defesa, sem o pressuposto do bloqueio triplo”? Em relação ao saque tático, afora as cacetadas muito bem despejadas sobre os adversários, considerem-se os muitos erros de saque, os passes na mão realizados pelos adversários, além daqueles em que nossos jogadores procuram o líbero (?) adversário para sacar neles! Deve ser brincadeira! Também num dos jogos da Liga, o técnico Bernardinho teve que tomar providência drástica quanto a este fato: no 4º set fez com que toda a equipe sacasse tipo tênis, sem saltar, o que equivale a dizer, “parem de errar saque e vamos pegar os ataques no bloqueio”, tamanha a quantidade de erros que não permitiram a continuidade do jogo brasileiro.
É incrível que jogadores de tamanha experiência, exímios profissionais, não compreendam e tenham consciência do que ocorre numa partida. Depois se queixam: “Não sabemos o que houve… Fizemos poucas defesas, o que não gerou contra-ataque… Não soubemos bloquear… Erramos 32 vezes”. Não lhes parece comentário de time principiante?
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Atletas americanas esmeram-se na defesa em lance do Mundial de 2010. Foto: Fivb/Divulgação.
Reforço e Reprodução das Reações: “Treinar, treinar e treinar… de que vale”?
Há algum tempo venho batendo nesta tecla. Vejam porque a simples reprodução de reações similares não leva a um desenvolvimento eficaz. Para responder temos que buscar na psicologia pedagógica os conceitos referentes à ATENÇÃO e ao HÁBITO. Ambos estão em relações antagônicas: onde se erradia o hábito, desaparece a atenção.
Valor pedagógico. Esses dois processos indicam que não se pode desistir de um à custa do outro; cabe buscar meios de conciliá-los. Para tal convém ter uma verdadeira interpretação psicológica entre atenção e hábito. A atenção está vinculada à intensificação da sua natureza ativa e, efetivamente, interrompe o seu trabalho tão logo o comportamento se torna habitual. O hábito liberta integralmente e descarrega o trabalho da nossa atenção e, desse modo, suscita uma espécie de exceção relativa da lei da inibição conjugada das reações externas em nossa atitude básica. Em outras palavras, você reage sem pensar. Salvo as reações automáticas e habituais, toda atitude inibe o fluxo das reações externas. Pode-se, p.ex., conversar com o máximo de atenção e continuar caminhando pela rua.
Conclusão. O sentido psicológico mais importante desse confisco à lei da inibição fica mais evidente se levarmos em conta o quanto o nosso comportamento sai ganhando em diversidade e amplitude se, paralelamente à nossa atitude central e principal, nos surge uma série de atitudes paralelas e particulares em face das ações habituais. Podemos dizer que o treinamento são estímulos aplicados sobre um (ou grupo) de indivíduos com a finalidade de reforçar ou reproduzir determinados tipos de reações. Contudo, a simples reprodução de reações similares não conduz a um desenvolvimento eficaz. A concepção de alcançar objetivos maiores é a chave do crescimento do indivíduo, caso contrário, condena-se à estagnação. Vejam p.ex. os movimentos dos atletas de voleibol quando se exercitam antes de uma partida ou mesmo em treinos, no chamado aquecimento com bolas. Durante sua vida de atletas todos estarão condenados às mesmas execuções de movimentos e reações, isto é, uma habitualidade massacrante que nada acrescenta. Como os gestos e atitudes são sempre as mesmas, caracteriza-se uma estagnação no processo de desenvolvimento das técnicas de defesa. Sempre disse que “bate-bola é treinamento” e, dessa forma, fica impossível que qualquer treinador tenha esperança de que algum dia este jogador estará desenvolto na arte de defender. Infelizmente, não temos técnicos com tamanha acuidade e protagonizam os mesmos espetáculos por anos a fim. Treinam, treinam e treinam, e repetem sempre os mesmos erros. Como dizem, os detalhes fazem a diferença. Assim, a partir dos treinos, o apuramento da técnica individual torna-se vital para o desenvolvimento do atleta. E o treinador sabe disso? Se sabe, por que não exige ou convence o atleta? Quando mudarão? Estarão sempre a dizer: “Não tenho tempo”!
Treinamento de Defesa. Pelo que vimos sobre o antagonismo entre hábito e atenção, há que buscar meios de conciliá-los. Como todos sabem durante uma partida de voleibol a atenção dos atletas deve estar sempre no máximo. Então, por mais paradoxal que possa parecer, nenhum ato de atenção deixa de ser enfraquecido pelos estímulos externos. Ao contrário, sai reforçado e enriquecido à custa deles. Seria o caso de os treinadores levarem os jogadores a ter máxima atenção nos movimentos de defesa levando-os a mentalizar as possibilidades de cada atacante em função das bolas que recebem para ataque e das suas responsabilidades táticas, independentemente da perfeição dos gestos técnicos. Para saber mais como realizar treinamento de defesa acompanhem-me nas próximas postagens.
Questionamentos para debate:
1 – Veja a foto acima. Você encontraria técnica melhor para aquele lance?
2 – O treinamento de defesa deve ser exclusivo para o Líbero e o Levantador?
3 – Você conseguiria fazer o Vissoto (2,12m) treinar e ser um bom defensor?
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A jogadora Piccinini defende com os joelhos no chão no jogo contra o Japão. Foto: Fivb/Divulgação.
Formação
Observando a foto ao lado o que teria a dizer o treinador italiano?
Faço este preâmbulo para situá-los no tempo e nas considerações técnicas que pretendo discorrer com colocações e teorias a respeito. Nesta nossa conversa tratarei de relatos com passagens e histórias com campeoníssimos também do Vôlei de Praia. Perceberão que diversas contingências influenciavam a forma de treinar, causando danos irreparáveis na formação de novos atletas e, pior, a precariedade e as improvisações realizadas nos períodos de treinamento das seleções a indicar falsos caminhos aos treinadores brasileiros. E, também, ao ensino universitário, cujo currículo imagino seja o mesmo ainda hoje para a formação de professores. Verão também as razões pelas quais muitos treinadores de alto nível em vários desportos dizem que o erro está na “base”, quando se referem a atletas com deficiência em alguns fundamentos. E, em seguida, se exprimem: “Não tenho tempo para treiná-los”! Esquecem-se que eles mesmos, ao formarem jogadores nos respectivos clubes procedem de forma semelhante e repetitiva.
Peço perdão aos leitores por imiscuir-me nesses momentos em que estarei historiando fatos que vivenciei. São as minhas impressões e, portanto, impregnadas de um subjetivismo a que nenhum narrador escapa. Minha ideia é exemplificar com olhar crítico e não enaltecer-me. Além disso, sirvo-me do depoimento de um dos melhores e mais experiente jogadores da época – João Carlos da Costa Quaresma. Iniciei-me no voleibol em clube a partir de 18 anos, em 1958. Participei e presenciei treinos nos mais diversos níveis, inclusive de seleções brasileiras e confesso que nunca vi e tão pouco soube como os técnicos treinam seus atletas para serem bons defensores. Aliás, como há tempos não assisto a qualquer treino, pergunto ao leitor: Conhece algum?
Representação do Líbero (do italiano, livre)
Fabi, líbero da seleção brasileira, faz defesa; substituição de jogadores da função agora é livre. Foto: FIVB/Divulgação Fonte: Terra, 11.10.2010.
A Fivb buscava dar um equilíbrio entre defesa e ataque principalmente nos jogos masculinos. A figura de um jogador especializado em defesa dá principalmente ao voleibol masculino uma condição melhor, já que o ataque é preponderante em função do vigor físico da categoria e prepondera sobre a defesa. Surge, então, o líbero para tentar dar um equilíbrio nessa relação entre ataque e defesa.
No Brasil do início da década de 80 era o jogador que não recepcionava o saque e se apresentava para o “ataque de fundo”. Posteriormente, passou-se a designar líbero o atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos (ralis) e tornar o jogo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando a linha de três metros ou esteja sobre a área por ela delimitada, deverá executar somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede. Uma série de experiências foram realizadas pela Fivb com este “sétimo” jogador, sendo a primeira delas em 1995. No ano seguinte foi introduzido, ainda experimentalmente. no Grand Prix feminino, logo após a Olimpíada de Atlanta. Em 1997 foi testado o jogo com o líbero; sua aprovação e inclusão nas Regras deu-se somente em 1999-2000, quando foi incluída na Regra do Líbero.
Neste mês ( 9.12.2010) a Federação Internacional anunciou uma mudança nas Regras. A partir de 1º de janeiro de 2011, os treinadores poderão substituir o líbero quantas vezes quiserem durante todo o confronto. Atualmente, a alteração pode ocorrer apenas uma vez, isto é, se o líbero titular for substituído pelo reserva, não pode voltar à quadra. A mudança na regra foi votada durante um congresso da entidade em setembro e aprovada com unanimidade. Segundo a entidade, a mudança aconteceu porque a Regra limitava o uso do segundo líbero, já que os times optavam por relacionar apenas um líbero e 11 jogadores de ataque para as partidas. Recentemente, as equipes poderão disponibilizar dois (2) jogadores como líberos.
Grandes e Pequenos
Pelo que percebo, se o jogador não for o baixinho – o líbero -, não vale a pena perder tempo com este fundamento; acredita-se que a melhor defesa está no bloqueio e sendo assim, por que fazer os grandes sofrerem? Até porque certamente nunca foram adestrados nesse sentido. O vôlei de praia é um exemplo formidável: um atleta maior será sempre o bloqueador e, o outro, mais baixo, defensor; não há como evitar. Assim, tanto nos sextetos quanto nas duplas, os respectivos treinadores tendem a desprezar este fundamento e se atêm aos esquemas e sistemas de defesa, às coberturas e atribuem a maior responsabilidade ao líbero, que está ali só para isto. E o líbero, como deve ser treinado? Creio que muitos treinadores não percebem que, em determinados níveis, épocas ou circunstâncias, ou melhor, quando há o embate entre equipes do mesmo nível, os detalhes fazem a diferença. E essas diferenças podem se acentuar em pouco tempo, distanciando tecnicamente uma equipe da outra. Então, para resolver (ou não) o problema adiam e ficam a aguardar que alguém o faça e os ensine.
Histórias “selecionadas”. Em 1960, na preparação do Mundial realizado em Niterói e Rio de Janeiro, participei como “ouvinte” – um intrometido – de vários treinos da equipe brasileira, pois os ensaios eram todos no ginásio do Caio Martins, em Niterói, onde resido até hoje.
Jogadores brasileiros no ginásio do Caio Martins, Niterói, em 1960.
As delegações de todos os países participantes das chaves finais estavam hospedadas na cidade, exceto o time masculino da Rússia, que preferiu um hotel de Copacabana, no Rio. Assim, os treinos das equipes masculinas e femininas se distribuíam pelos poucos ginásios existentes: SEDA (Marinha), Icaraí Praia Clube (IPC), Faculdade de Direito, 3ª RI (Exército) e o próprio Caio Martins. Assim, era fácil estar presente em muitos deles e contemplar um mundo novo para os meus olhos, ávidos pelas novidades técnicas e feitos dos melhores do mundo. Vi no IPC a equipe russa feminina com a sua belíssima atleta Ludmila e a super campeã Aleksandra Tchoudina, 5 medalhas olímpicas no atletismo até 1956, foi campeã mundial de voleibol em Paris e também no Brasil. Bati bola com os americanos comandados pelo extraordinário Gene Selznick e estive a admirar o levantador romeno de 1,92m, que me despertou para uma providência tática que tomaria logo depois, pois além de ser a minha altura, descortinei possibilidades múltiplas para a equipe que tivesse um levantador alto, também atacante e, melhor, que atacasse com o braço esquerdo; era o meu caso, embora não fosse canhoto. Por último, providenciei uma equipe do clube IPC, em que eu mesmo atuei, para jogarmos contra o selecionado brasileiro.
Autodidatismo
Terminado este Mundial, consegui uma bola de vôlei que fora usada pelos romenos num dos seus treinos no IPC. Como cortavam muito forte, uma delas foi achada por acaso em local de difícil acesso. Pois somente com esta bola realizei meu treinamento completo no ginásio do clube: foram 3 meses, com exercícios solitários de duas horas, três vezes na semana. Os ensaios, eu mesmo os criava e recriava, aumentando sempre o nível de exigência. O clímax ocorreu quando lesionei o ombro esquerdo e, não podendo atacar com ele, dispus-me a aprender a fazê-lo com o braço direito. E consegui. Ao final, já refeito da lesão, era o único no país a atacar com ambos os braços. Mas não só, recepcionava, atacava nas três posições da rede, bloqueava, efetuava levantamentos, defendia e sacava com maestria. Em resumo, era completo como jogador, tendo a altura de 1,92m, um dos mais altos na década de 60. Joguei por terra duas assertivas daqueles tempos: “Quem não aprende a jogar cedo, depois dos 18 anos não aprende mais”. E a outra: “Todo sujeito alto é mole”.
Em 1962, nos preparativos para o Mundial realizado em Moscou, participei da primeira fase dos treinamentos na Escola Naval, Rio de Janeiro. Consistia em exercícios físicos pela manhã, ensaios de fundamentos à tarde, compreendidos aqui principalmente exercícios de toque, saque e ataques. Lembrando que até então não se conhecia a manchete no Brasil e a recepção era privilégio de poucos, isto é, realizada de toque e em nível de exigência máximo por parte da arbitragem. À noite realizavam-se os treinos coletivos. Tudo isto, se não me falha a memória, talvez 30 dias antes do embarque, descontados aí os 8 dias referentes aos fins de semana. Em suma, diante do envolvimento profissional reinante em nossos dias, uma brincadeira, um faz de contas!
Em 1968, na cidade de Porto Alegre (RS), foram disputados os jogos referentes aos Campeões Estaduais. Estava presente com a equipe do Clube de Regatas Icaraí, de Niterói, em que era técnico e atleta simultaneamente. No dia seguinte ao nosso jogo contra a equipe do Minas T. C., de Belo Horizonte (MG), encontrei-me com o seu treinador, o saudoso Adolfo Guilherme, à beira da piscina da Sogipa, onde estávamos alojados. Disse-me ele: “Roberto, no jogo de ontem conseguimos vencê-los a duras penas. Não sei o que vocês fazem em Niterói quanto aos seus treinos, mas nunca vi uma equipe defender tanto, chega a irritar”! Esbocei um leve sorriso e creio que o surpreendi: “E esta não é a melhor equipe que pudemos trazer, pois alguns não puderam viajar”.
No início da década de 70, todos os treinos nos clubes eram ainda realizados somente duas vezes na semana, depois do horário de trabalho ou estudo dos atletas. Isto devido a problemas de espaço físico – um ginásio – e a manutenção de mais de uma atividade desportiva. Neste período, o curto tempo era dedicado à prática coletiva; em 1971, o voleibol no Fluminense F. C. deu a partida para acrescentar mais um treino (três) na semana, com ensaios variados de fundamentos e precária formação física, muitas vezes rebatida pelos atletas que só queriam a prática coletiva. Estive atuando pelo clube em 1972. Contudo, em 1970-71, atuando como técnico do Tijuca T. C., realizei um trabalho que interessou demasiadamente aos atletas (masculino e feminino) e que reverteu em bons resultados no que tange aos ganhos do fundamento defesa. Fui criativo ao cobrir a rede com um extenso pano opaco e, a partir dali, através de múltiplos ensaios produziram-se ganhos extraordinários individualmente e coletivamente. Em 1981, também atribuindo ênfase aos treinos de defesa, consegui com uma equipe (América F. C.) mediana em termos técnicos alavancar elogios de diversos treinadores dos principais times do Rio.
Saímos do “amadorismo” em 1982 e, ainda na fase de adaptações às novas condições, a seleção brasileira esteve treinando em 1987 durante 4 dias na AABB de Niterói, local que consegui disponibilizar a pedido da CBV. Estava comandada pelo coreano Sohn, técnico campeão brasileiro pelo Minas T. C. A auxiliá-lo o ainda inexperiente treinador carioca Leão. Para o meu sentir os treinos foram decepcionantes em todos os sentidos. Ainda no mesmo clube, estiveram treinando também as moças, pouco antes de uma série de amistosos no Brasil contra a sensacional equipe cubana. Não percebi qualquer providência com respeito ao apuro da recepção contra os saques poderosos das adversárias. No único jogo que assisti, foi um desastre para a equipe brasileira. E muito menos quanto ao treinamento de defesa.
Já agora na “era Bernardinho”, presenciei parte de um treino em Saquarema e um outro, na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), no Rio, quando lá estive para conversar sobre o treinamento do canhoto André Nascimento, considerado o melhor atacante no Mundial da Argentina. Em ambas as situações, não consegui deslumbrar nada que me chamasse a atenção, muito menos transmitir o que pensava. Mas fui muito bem recebido e convidado posteriormente a fazer palestra no Centro Rexona, em Curitiba (PR) sobre a Formação e o Mini Voleibol.
Formação em Portugal Acabo de ler no site da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) notícia que revela um Programa de Formação para jovens de ambos os sexos com idades entre 14-15 anos e altura mínima pré-estabelecida. Esta ação de formação estará representada por duas seções semanais de treinamento. Dará certo? Imagino que as peneiras de algumas associações esportivas no Brasil – em São Paulo – venham fazendo há muito tempo algo similar, isto é, em determinada época do ano abrem inscrições em nível nacional para receberem pretendentes a comporem suas equipes de base. Estes fazem um estágio probatório de alguns dias e, se aceito, são contratados pela associação. Como em Portugal, certamente fazem as exigências morfológicas aos candidatos. E na bateria de testes pelos quais têm que passar alguém acha que o nível de exigência para o fundamento defesa é excludente? Assim, a forma de trilhar novos caminhos de que falamos em “Aprender a Ensinar – Memória” poderá comprometer uma vez mais todas as boas intenções dos gestores esportivos. E sugiro ainda que tornem a ler o que se contém em “Teoria vs. Prática”, postado em 27.11.2009. Muitas coisas podem ser melhoradas com tão pouco, tanto aqui como acolá.
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Jogo Brasil e Alemanha, fase de aquecimento. Foto: Fivb/Divulgação.
Treinamento de Defesa – II
Brasil e Alemanha. Na recente partida entre as seleções dos dois países (6.10), observei um lance que reputo como um daqueles já comentado em textos sobre a Iniciação e Formação de jogadores. Creio que se desenrolava o 3º e último set da partida que seria ganha pelo Brasil (3×0). Um jogador alemão salta na saída da rede (II) para o ataque e, tendo percebido a chegada do bloqueio duplo, evita o ataque por cortada e, simplesmente, lança a bola com uma das mãos em direção ao fundo da quadra adversária (em V), encobrindo o defesa-esquerda brasileiro que se aproximara para a cobertura do bloqueio. Contava ele, com toda certeza, que o defesa-centro – creio que o Dante – estaria pronto para realizar a sua própria cobertura, isto é, não havendo o impacto violento, estaria disponível para o respectivo deslocamento lateral até V, o que não aconteceu. O atleta brasileiro ficou “pregado” ao chão, sem qualquer reação. Considerando que a bola foi lançada sem força a uma distância razoavelmente grande – da rede ao fundo de quadra, entre 8m e 9m, por que será que o jogador não esboçou qualquer reação para realizar a defesa? Notei, inclusive, que o líbero voltou seu olhar como se o interpelasse: “Por que não foi na bola, estava tão fácil”? Desatenção? Despreparo? Não conseguiria chegar lá? Cansaço?
Não entendo bem como são realizadas as estatísticas do treinador, mas certamente a filmagem espiã poderá revelar o lance para uma análise e, se houver tempo, treinar o atleta para jamais reproduzir o erro. Entretanto, o desconhecimento de alguns treinadores sobre noções psicopedagógicas pode contribuir para a sua permanência como pode ser observado, principalmente no alto nível. Além disso, ao ultrapassar a idade de 30 anos, olhar para o futuro e não enxergar muito tempo de vida útil no esporte, e ainda mais com a bagagem de títulos que ostenta certamente que nenhum atleta vai se arriscar a se atirar no chão para tocar uma bola. É preferível deixar para lá, uma vez que o jogo estava fácil. É coisa de brasileiro, não sei se de outros. Mas nunca vi em equipes japonesas, já que têm uma disciplina rígida quanto aos propósitos a conquistar, inclusive a preservação de sua imagem. Até o fato de o treinador principal alegar que “não tem tempo” para treinar é bastante significativo do ponto de vista do nível de exigência. E no caso brasileiro um grande paradoxo.
Primeiro movimento. Para entendermos como se processa aquele movimento de defesa, peço auxílio à Psicologia Pedagógica através de D. Wood.
Quando penso em apanhar uma bola o estágio conclusivo depende do primeiro passo: de preparar-me em expectativa. A execução do primeiro movimento determina se toda a ação será executada. Logo, na minha consciência deve haver a noção sobre o primeiro movimento como réplica efetiva para todo o processo. Essa concepção do primeiro movimento que antecede o próprio movimento é o que constitui o conteúdo daquilo que costumamos denominar sentimento do impulso.
Foto: Fivb/Divulgação.
Sentimento do impulsoé uma modalidade de concepção antecedente sobre os resultados do primeiro movimento físico que deve ser executado. Noutros termos, toda a vivência consciente e o desejo, incluindo o sentimento de decisão e de impulso, são constituídos pela comparação das concepções sobre os objetivos que competem entre si. Uma dessas concepções chega a dominar, associa-se à concepção sobre o primeiro movimento que deve ser executado. E esse estado de espírito passa ao movimento. Temos a sensação de que esse movimento foi suscitado pela nossa própria vontade, porque o resultado final obtido corresponde à concepção anterior sobre o objetivo.
A atenção
A atenção consiste em reações adaptativas de atitudes do nosso organismo, que se desenvolve graças a um exercício sistemático e minucioso.
A chamada atenção arbitrária surge através de uma reação interior de pensamento. Logo, ela irá manifestar-se com tanto mais frequência quanto maior for o número de estímulos interiores a que esteja ligada. Noutros termos, para surgir ela necessita de uma grande reserva de estímulos interiores.
Exercitar a atenção significa suscitá-la sempre por meio desse tipo de reação interior. Naturalmente, quanto mais fizermos isto, quanto mais casos semelhantes suscitarmos tanto mais intensamente reforçaremos a relação entre o estímulo interior e as reações de atenção.
Por isso que não existe meio mais decidido de regular as ações externas que reprimir os movimentos absurdos e reforçar os racionais.
O comportamento consciente pressupõe atenção, e atenção se estabelece graças ao exercício, ou seja, graças à repetição de certos movimentos que são reforçados com base no método dos reflexos condicionados como uma concepção desses movimentos.
Pode-se ler e reler este e outros textos sobre o assunto, entender o que está escrito, mas não conseguir traduzir em ensaios frutíferos. Gostaria de tentar produzir algo a respeito com os seus alunos, não importa a idade que têm? Vamos começar desde cedo a produzir indivíduos mais técnicos? Que tal os nossos atletas aprenderem corretamente desde crianças? Estes são alguns detalhes a que venho me referindo e que podem ser sanados a partir da Iniciação. É o ensino com Qualidade e que treinadores competentes não têm tempo de corrigir, pois as competições se sucedem ano a ano. Enfim, é como aprender a andar de bicicleta; depois que aprende, não esquece jamais!
+ Detalhe: chamo a atenção dos treinadores e professores para o denominado “bate-bola” de aquecimento dos jogadores. Considero, independente se antes de uma partida ou treino, como treinamento. Assim, algumas atitudes errôneas certamente vão comprometer o rendimento técnico dos envolvidos. Releia, por favor, o item 4 acima.
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Em 3o de julho publiquei o primeiro artigo com este título. O tema é o fundamento defesa em voleibol, quer seja individual ou coletivamente. Lá, dei os primeiros passos para estimular a maneira de pensar o treinamento dos atletas. Da mesma forma faço-o agora esperando despertar os leitores para o leque de opções que o assunto encerra. Tenham redobrada atenção e jamais desconsiderem a história e o tempo, ambos são nossos aliados. Lembrando Santo Agostinho, “Se nada sobrevivesse, não haveria o tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente”. E continua: “De que modo existem aqueles dois tempos – o passado e o futuro – se o passado já não existe e o futuro ainda não veio”? E fala-nos sobre o presente: “Quanto ao presente, se fosse sempre presente e não passasse para o pretérito, já não seria mais tempo, mas eternidade”. Portanto, não fiquem parados, tirem bom proveito de seu tempo!
Lições do Mundial
Desde que houve a mudança na Regra da contagem para Pontos por Rally, ocorreram várias mudanças de comportamento entre os atletas no jogo. Uma delas, o risco no próprio saque. Entretanto, com o aprimoramento e o intercâmbio global entre jogadores, equipes e seleções nos extensos calendários continentais e mundiais, as equipes tendem a se nivelar com tamanha distribuição de talentos. Agora, por exemplo, é a Turquia que resolveu investir no voleibol, depois de igual procedimento no futebol e basquetebol. Estão contratando jogadores, técnicos, enfim, investindo maciçamente, talvez até para entrar no seleto grupo dos países da Comunidade Europeia.
Detalhes fazem a diferença
Cada vez mais o nível das seleções nacionais vem se elevando com o aparecimento de muitos atletas que podem fazer a diferença em um jogo. As estatísticas, ao final de cada partida, sempre apontam para os detalhes maiores, isto é, número de intervenções em cada fundamento, % de eficiência (ou não), o melhor disso, o “mais ….”, mas escapa aos olhos e à digitação dos encarregados de selecionarem esses dados pequenos detalhes que passam imperceptíveis a muitos, especialmente treinadores. Certa feita um cronista de basquete disse: “Uma partida de basquete deveria ser disputada com as equipes com 100 pontos cada; e o tempo de jogo, somente um minuto”. Uma das interpretações que podemos dar é que todas as emoções, estratégias e circunstâncias do jogo estão concentradas nos seus instantes finais. Ele, o minuto final, descreve e resume tudo o que se passou anteriormente e, certamente, o imponderável ditado pelo emocional dos litigantes, surgirá nesses instantes. Assim, se as equipes se nivelarem durante todo o transcurso da partida somente no derradeiro minuto saberemos quem é a vencedora. Qual delas? Não sabemos, mas pode-se pensar a respeito, isto é, talvez “aquela que errar menos”. Tenho a impressão de que todos concordarão uma vez que se minha equipe não errar e a adversária cometer um só erro, tenho assegurado a vitória. É claro que isto é um simplório exercício de lógica sobre a hipótese do cronista. Mas já ocorreu no voleibol. Relembro o fato a seguir.
Olimpíada em Barcelona
Calquemo-nos agora nesse jogo histórico acontecido não muito longe no tempo, foi em 1992. A final de voleibol dos Jogos Olímpicos jogada entre Itália e Holanda teve desfecho dramático e único. Inclusive, culminou com a mudança no sistema de contagem dos pontos. A Regra vigente até então era a aprovada no Congresso Mundial em que dizia: “O 5º set decisivo será disputado no sistema de ‘pontos por rally’, em que cada saque corresponde a um ponto. O placar final do set foi limitado em 17 pontos, com um ponto de diferença”. Ora, aconteceu que neste jogo teve o 5º set (tie-break) e esteve empatado em 16 pontos. Com o 17º ponto da Holanda, o árbitro deu como encerrada e a vitória olímpica à equipe. Os representantes italianos protestaram, fizeram um recurso à Fivb e esta resolveu mudar a Regra: “Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos”. É a que vigora até nossos tempos, embora a contagem limite do tie-break seja 15 pontos. A partir desse fato a Federação Internacional só realiza mudanças efetivas nas Regras após as Olimpíadas.
Pontos por Rally
E por que contei esta história? Não lhes parece semelhante a do cronista sobre o basquetebol, guardadas as devidas proporções? Isto é, dá-se muita atenção ao último ponto, ele é o ápice, ele é quem decide o término da contenda, com ele o árbitro finaliza tudo. Mas e os outros pontos, quantos erros e virtudes para se chegar lá? Algum atleta italiano teria sido negligente ou incompetente em algum lance? E este não fez a diferença? Assim, como se comportam emocionalmente os atletas nos 4 primeiros sets de uma partida de voleibol? Que diferença pode haver no comportamento emocional no set decisivo e os anteriores? Estar sempre à frente no placar tem influência psicológica no andamento da partida? Como deve agir um treinador nos diversos momentos do jogo para sanar problemas dessa natureza? Enfim, como considerar e treinar tais aspectos?
Treinamento de defesa
Relação entre bloqueador e defensor. Foto: Fivb/Divulgação.
Por que não cuidar, então, de não errar “nem em treinos”? Qual deve ser o nível de exigência? Como posso me superar para fazê-lo e, mais ainda, como estar atento para “compensar” qualquer falha eventual de um companheiro? Se eu estivesse jogando atacaria todas as bolas na direção do jogador mais fraco no fundamento defesa que, por exemplo, seria o Vissoto, com seus 2.12m. Basta ter olhos de ver, especialmente quando ele está “atrás”, em que sempre troca de posição para ficar em (I) e, dali poder efetuar os ataques de fundo. Ocorre que bem à sua frente, em (II) está o levantador (Bruno), o mais baixo bloqueador. Assim, todos os adversários deveriam volver seus ataques, especialmente de entrada de rede e meio de rede na direção dos mais fracos defensores. Se não o fazem, com ligeira pitada de ironia, pode-se concluir que as “estatísticas” nada dizem a este respeito, ou não consta do Manual da Fivb. O que faz, então, o treinador? “Há que conviver com o problema da melhor forma possível”! Ainda mais em se tratando de atleta que só atua em uma posição e, como dizíamos antigamente, de “uma bola só”. Todavia, sabendo usá-lo e não decepcionando nas suas investidas, é um GRANDE (2,12m) trunfo para a equipe. Contra a Rep. Checa foi sacado da equipe em boa hora, pois não estava bem, embora ainda ache que o levantamento para ele pode ser mais alto, dada a sua envergadura e lentidão nos deslocamentos. Teve até bloqueio simples do canhoto Hudecek (1,95m).
Brasil e Alemanha
Na recente partida entre as seleções dos dois países (6.10), observei um lance que reputo como um daqueles já comentado em textos sobre a Iniciação e Formação de jogadores. Creio que se desenrolava o 3º e último set da partida que seria ganha pelo Brasil (3×0). Um jogador alemão salta na saída da rede (II) para o ataque e, tendo percebido a chegada do bloqueio duplo, evita o ataque por cortada e, simplesmente, lança a bola com uma das mãos em direção ao fundo da quadra adversária (em V), encobrindo o defesa-esquerda brasileiro que se aproximara para a cobertura do bloqueio. Contava ele, com toda certeza, que o defesa-centro – creio que o Dante, mas não importa seu nome – estaria pronto para a sua própria cobertura, isto é, não havendo o impacto violento, estaria disponível para o respectivo deslocamento lateral até V, o que não aconteceu. O atleta brasileiro ficou “pregado” ao chão, sem qualquer reação. Considerando que a bola foi lançada sem força a uma distância razoavelmente grande – da rede ao fundo de quadra, entre 8m e 9m, por que será que o jogador brasileiro não esboçou qualquer reação para realizar a defesa que consistia na tática da equipe em dar cobertura aos “alas” que quase sempre se deslocam um pouco à frente? Notei, inclusive, que o líbero voltou seu olhar como se lhe interpelasse: “Por que não foi na bola, estava tão fácil”?
Sobre este lance falarei um pouco mais em outra oportunidade. Farei relato do que vi em treino da seleção brasileira, inclusive com o considerado melhor líbero e defensor do mundo, Sérgio, o Escadinha. Enquanto isto proponho debatermos também o lance visto pelo lado alemão: “Por que o atleta teria realizado o ataque daquela forma”?
Até lá que tal aquecermos o nosso bate-papo? Comentem!
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