Educação e Esporte nas Escolas

 

Ensino Avançado

Perspectiva de Bom Aprendizado

 

Ilustração: Beto Pimentel.

 

Ouvindo a Voz do Povo

 

Ilustração: Beto Pimentel.

 

Desde ago./1988 vimos realizando eventos com centenas de crianças na praia de Icaraí e, posteriormente, em Copacabana. Afora, dezenas de visitas a escolas – Rio, Niterói – para demonstrar o método que preconizamos para o ensino do voleibol. É algo bastante diferençável do protagonizado por universidades e a Confederação Brasileira de Volleyball, mesmo em seu programa Viva Vôlei, este já com os dias contados.

Em nossas andanças por Niterói somos abordados por mães que desejam que seus filhos – em especial meninas – frequentem um bom ambiente de iniciação esportiva no voleibol. Os clubes estão falidos, desinteressados da promoção de competições, limitam-se a alugar seu ginásio a treinadores das escolinhas, sem qualquer vínculo educacional de qualidade.

 

Reflexos da Sociedade

 

Cremos estar muito próximos de uma solução atraente para as crianças aprenderem a usar seus aparelhos… E é claro, a se mexerem!

 

— Iphone, smartphone, tablets… viralizaram”?

— Como combater um processo epidêmico?

 

“Jovens de 19 anos se mexem tão pouco quanto quem tem 60 anos”

As descobertas, publicadas na revista Preventive Medicine, ajudam a explicar a crescente epidemia de obesidade entre crianças e adolescentes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda pelo menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa por dia para crianças de 5 a 17 anos. Mas, segundo o estudo, a orientação não é seguida por mais de 25% dos meninos e 50% das meninas de 6 a 11 anos. Nem por mais de 50% dos garotos e 75% das garotas de 12 a 19 anos.

Os autores sugerem que as campanhas não devem apenas estimular a prática regular de exercícios, como também que se espalhe essas atividades ao longo do dia. Vale lembrar que, além de afastar o risco de doenças, suar a camisa favorece o aprendizado e a memória.

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Fonte: http://doutorjairo.blogosfera.uol.com.br/2017/06/20/jovens-de-19-anos-se-mexem-tao-pouco-quanto-quem-tem-60-anos/

 

 

Ação Ministerial

 

Na esfera da educação e dos esportes no Brasil, vale lembrar a feliz menção do blogueiro José Cruz em sua decisiva mea culpa:

“A disputa entre educação e esporte é antiga. A falta de diálogo também. O próprio Ministério do Esporte não consegue avançar no entendimento sobre a prática da educação física nas escolas públicas e o assunto se esparrama por décadas.[…] Somos um país olímpico, mas ainda estamos no Terceiro Mundo da integração do esporte com os estudos”.

Nota: faltou lembrar a ação de se esperar do Ministério da Saúde, se é que existe.

Cada gestor educacional, político ou não, tem seus interesses que prevalecem sobre toda e qualquer aspiração legítima dos cidadãos. Pelos dizeres do bloguista percebe-se o caos em que nos encontramos em matéria de ensino há muitos anos e ao que nos relatam os fatos atualmente, pelo menos mais uma geração não será beneficiada por boas práticas educacionais. Indagados certa feita a respeito:

— Por que não oferecer este projeto a algum órgão governamental?

Possui características de emprego nacional, é inédito, revolucionário, e de baixo custo. Tem tudo para dar certo…! Todavia, nosso empenho e exemplo não frutificaram. Em resposta fomos pontuais:

— Você entregaria anos de estudos, pesquisas, idas e vindas em busca de apoio, tempo e dinheiro investido em variadas aparições, a um órgão ministerial?

— VOCÊ, o que faria?

 

 

Um Protótipo “ao vivo”

 

 

Durante três ou quatro anos estivemos com projetos na praia de Icaraí (Niterói-RJ), chegando à marca de 400 alunos (200/turma) praticando o minivoleibol regular e gratuitamente. Terminado o ciclo de cursos para acadêmicos e poucos professores, nada restou. Em seguida, durante dois anos, o treinamento de atletas de vôlei de praia profissionais para ambos os sexos, agora remunerado.

Em uma atitude ousada, levamos a efeito por 9-10 meses dois cursos simultâneos: um na praia de Icaraí, e outro na praia de Copacabana. Ambos em dias alternados da semana, com independência total de material, professores e equipe de apoio. Um sucesso!

Foram momentos gratificantes, de grande aprendizado, mas que também não despertou o interesse de estudantes ou professores.

Certamente, pela incompatibilidade de horários e frequência às aulas, ou trabalho. Mas quando levamos o projeto à praia de Copacabana, Rio, logo descortinamos possibilidades de mídia fácil, especialmente quando convidamos a seleção feminina com o técnico Bernardinho para uma visita especial.

Tamanho foi o sucesso, que o treinador solicitou-nos a compra e acervo  pedagógico para futura a implantação em Curitiba (PR), no Centro Rexona localizado no ginásio do Tarumã.

E o então presidente da Confederação Brasileira de Volleyball, Ary Graça, morador de Copacabana, viria a nos convidar a implantar e coordenar o programa Viva Vôlei da entidade.

 

 

Formação de Professores

 

EUA, Finlândia

 

Já vimos em outras oportunidades comentários sobre o ensino na universidade de Harvard e na Finlândia, inclusive com visitas ao Brasil das respectivas educadoras, Dra. Katherine Merseht (Construindo uma Escola Inovadora) e Marjo Kyllönen (O Futuro da Escola no Brasil). Ambas acentuaram os progressos auferidos com os estímulos proporcionados à formação de bons professores e, sem dúvida, o valor do emprego de novas tecnologias a favor da Educação.

 

Katherine MersehtRepensando como Educar Indivíduos

 “À frente de um dos cursos mais concorridos de Harvard, a prestigiada educadora diz que treinar gente talentosa para dar aulas é a fórmula para qualquer país trilhar o caminho do crescimento.  A fórmula se baseia na atração de jovens recém-formados, das engenharias às ciências biológicas, que ali aprendem a ensinar crianças de escolas públicas, onde vão trabalhar depois”.

 

 

Marjo Kyllönen…  A Escola do Futuro Já Existe

“Não faz mais sentido manter um ensino enciclopédico e aprisionado em disciplinas. Esqueça o colégio entre quatro muros. A nova concepção de ensino prevê que a criança disponha de fontes de aprendizado permanente – e não se trata só de tablets e computadores. Mestres que se veem na zona de conforto, senhores de suas áreas, agora precisam trabalhar o tempo todo em conjunto. Cada um dos professores mostra à turma como certo fenômeno pode ser entendido sob a ótica de sua matéria. “É claro que houve resistência, mas aí veio a descoberta: se você dá treinamento, material e incentivo à mudança, ela ocorre. A escola que adere ao novo modelo e traz resultados, p.ex., ganha bônus para seus professores”. 

 

 

Brasil, Inglaterra, Portugal 

 

Com base no artigo Teremos professores no futuro? Priscila Cruz

 

Brasil

[…] “Estamos em 2017, e, mesmo com o rápido avanço da educação à distância, essas imagens tecnológicas de uma escola quase artificial não se tornaram realidade. Por duas razões: primeiro porque não há tecnologia que substitua um bom professor e porque nosso problema não é o fato de as máquinas substituírem gente, mas sim a falta de seres humanos na docência. […] A crônica falta de atratividade da carreira de professor está fazendo com que cada vez menos jovens invistam nela como futuro profissional, comprometendo o futuro da educação brasileira e do próprio país. A questão é complexa. […] O número de pessoas que ingressam nos cursos de formação docente do Ensino Superior no país seria suficiente para suprir a demanda de professores na Educação Básica – porém, o que falta é interesse em lecionar. Temos profissionais suficientes para ocupar vagas em todas as disciplinas (com exceção de física) nas escolas de todo o Brasil, porém as condições da profissão repelem grande parte dos potenciais docentes. Ou seja, a falta de atratividade da carreira de professor (o grifo é nosso) está fazendo com que cada vez menos jovens invistam nela como futuro profissional”. […]

 

Comentários Procrie 

 

Todos sabemos o que fazer. O problema é como fazer!

Com a devida vênia, a articulista repete fatos já conhecidos há muito, reflexo de  uma classe que foi e continua sendo mal preparada pelas universidades para a difícil tarefa do ensino. A grande maioria deixa-se levar pelos “ativistas” de plantão, especialmente do partido político que permaneceu no governo pouco mais de 12 anos. Entretanto, não encontraram quem apontasse um norte a ser perseguido que nos leve a descortinar soluções. Continuam a bater na mesma tecla enquanto caravanas de jovens passam sem qualquer perspectiva de futuro na profissão.

— Seria apenas o salário o maior vilão?

— Por que não especularmos sobre a formação de novos professores?

 

Comunidades de Morros da Zona Sul do Rio de Janeiro

Compilando artigos já postados, selecionamos três deles que, em última análise trata-se de um só. Refere-se à nossa atuação por três meses no Morro do Cantagalo, zona Sul do Rio. Efetivamente, soa como um relato bem elaborado para pretensões bem simples. Pedimos paciência pela reprise, mas vai ajudar-nos a ilustrar a concepção e o escopo da criação de algo perfeitamente tangível, principalmente para professores em início de carreira, inclusive não especialistas.

Trata-se efetivamente, de conhecer e ter as primeiras informações para um longo caminho. Além do mais, dada à profusão de artigos, é bem possível que muitos dos atuais visitantes não efetuaram as leituras  de data tão distante: 2009.

Nota: algum tempo depois, a TV Globo incentivou no mesmo espaço um de seus programas voltados para a prática de exercícios, o chamado “Criança Esperança”. Não sabemos sobre o seu desfecho, mas deduz-se que não houve continuidade, uma vez que cessaram as “chamadas” publicitárias na sua grade.

 

 

Inglaterra

[…] Tão diferentes e enfrentando o mesmo problema, cujas raízes são as mesmas. Por que não há professores tanto em terras britânicas como brasileiras? A primeira coisa que vem em mente quando perguntamos isso é: “Ah… mas o salário do professor é muito baixo… É claro que ninguém quer seguir essa profissão!”. É a mais pura verdade: nossos docentes recebem em média o equivalente à metade (52,5%) do salário dos outros profissionais de nível superior. […] O problema, porém, é muito mais complexo do que apenas a questão salarial. Os jovens respondem: embora 37,6% dos estudantes de ensino médio já tenham pensado em seguir carreira no magistério, 23,5% já desistiram da ideia. E por quê? […]

 

Enquanto isso, em Portugal¹

Em continuidade aos meus apelos a PROFESSORAS e PROFESSORES em torno de pesquisas e experiências sobre Metodologia e Pedagogia aplicáveis às suas aulas, lembro o apelo do eminente professor português José Curado, em 2006, aos professores e treinadores portugueses:

“Não há progresso significativo sem investigação. É preciso acabar com o clima de desconfiança há muito existentes entre os teóricos e os práticos, avançando para projectos de cooperação entre uma Academia verdadeiramente aberta à comunidade e a actividade desenvolvida pelos atletas e treinadores, contribuindo para a resolução dos problemas levantados por esta”.

 

(¹) Por algum tempo colaboramos como convidado do sítio português sovolei, já desativado. Leia mais… História do Voleibol Presente na Europa


Nossa Proposta 

 

 

Você Professor, trabalharia nesse ambiente?

Você aluno, gostaria de aprender brincando?

Alunos registram sua história – Aprendem a pensar: grupos, lideranças – Ensino para a vida: desafios e projetos  

Ginásio 4 + recortada

Ginásio

Até 64 alunos/aula – Facilitador – Tutoria – Monitoria – Liderança – Grupo (4) – Circuitos – Oficinas
Multidisciplinar: Matemática, Oralidade, Música… Níveis: atos de construção lentos e cumulativos… Trabalhos e projetos extramuros… Memória: Celular –Iphone –Smartphone – Tablet… Ensino a Distância: Videoaulas – e-books -Sítio/Blogue… Cursos Presenciais

 

Leia mais…  Inovando em Criatividade, Construindo Lideranças

 

 

 

O Grande Salto: da Teoria à Prática

 

Passemos às análises a que nos propusemos, dado que ela se insere nesse momento devido às colocações anteriores relativas à PRAXIA que estamos propondo nos artigos sobre a PROTOTIPAGEM. Inclusive, com duas fortes argumentações: a base para um curso introdutório e a oportunidade de editar videoaulas e e-books.

 

Professorado: autossuficiência, criatividade, inovações…

 

Igualmente, percebam que mantemos nossa preocupação em torná-los aptos a se desenvolverem por conta própria, possivelmente incorporando conhecimento teórico indispensável contido em textos de autores consagrados e nas vivências desse autor.

Vejam uma demonstração do que poderíamos encarar como uma prototipagem nas três postagens no final de 2009 e início de 2010, sobre nossa oportuna participação no Morro do Cantagalo, Zona Sul do Rio de Janeiro, ainda uma comunidade conturbada pela violência.

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Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizado (I)

Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizado (II)

Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizado (final)

 

 

Interação social e comunicação

Projeto no Morro do Cantagalo

Período: novembro 1999 a janeiro 2000

Local: Morro do Cantagalo, Rio de Janeiro. O ginásio do CIEP (escola pública municipal) foi equipado com cinco (5) mini quadras e 24 bolas de mini voleibol, podendo comportar confortavelmente até 50 alunos/aula

Público alvo: crianças (8-9 anos), adolescentes e adultos (até 23 anos) de ambos os sexos, moradores de morros da Zona Sul

Total de inscritos: 200. Atividade: mini voleibol

Coordenação do trabalho durante três meses; 4 x semana; 3 aulas diárias

Colaboradores: um professor e 2-3 monitores da comunidade

Planejamento & Atuação
Tema pedagógico: Metáfora do Andaime

Quando bem construídos, os andaimes ajudam a criança a aprender a ganhar alturas que elas seriam incapazes de escalar sozinhas.

Proposta

Formação de liderança na comunidade para continuidade das ações.

Convite a moradores da comunidade para o papel de monitores/professores, independentemente de histórico desportivo
Identificar na comunidade indivíduos engajados na continuidade do projeto, inclusa a prática regular do esporte em clube ou praia².

 

Frutos de um trabalho consistente

(²)  Anos depois encontramo-nos no torneio de Vôlei de Praia da federação de voleibol carioca com um dos monitores (pai de aluna) da comunidade que nos apresentou orgulhosamente seis jovens atletas.

Detalhe: referido monitor nunca jogou voleibol.

 

Boas Leituras…!

Teoria vs. Prática, Você Resolveu o Dilema?

MiniEuFavBairro INVERTIDA

Aulas Práticas, Quem Ensina?

 

Parece que sabemos todos o que fazer.

O problema é colocar em prática!

 

 

Puxãozinho de orelha…

  • As universidades estão preparadas para a revolução no ensino?
  • Os cursos de treinadores “modelo Fivb” são eficientes?
  • O que VOCÊ diz é o que faz? Afinal, VOCÊ dá aula ou ensina?
  • VOCÊ tem proposta para transpor o abismo entre teoria e prática?

Metodologia adequada

Não seria melhor que parássemos por instantes para reexaminar  a Metodologia a empregar caso a caso? Creio que, mesmo internacionalmente, estejamos vivendo o que se dizia a respeito da Educação no século passado: “O professor ensina; o aluno aprende.”  E ponto final! … E VOCÊ, ensina ou simplesmente dá aula?

As observações e opiniões ao final desse texto são de indivíduos que já  militaram na prática e que conseguiram superar obstáculos que a vida profissional lhes impôs. Afinal, são ”lições de vida”. Tenho me batido para que PROFESSORAS e PROFESSORES se debrucem sobre textos de caráter pedagógico e metodológico a todo instante no intuito de se expressarem com maior segurança e provocarem melhores cursos para seus alunos. Mas só isto não basta!

Lembrei-me que um bom número de indivíduos foi negligenciado e peço-lhes desculpas. São os MESTRANDOS e DOUTORANDOS, entre eles, não só os que tratam de temas relativos à Educação Física e Desportos, mas também SOCIOLOGIA, JORNALISMO, PEDAGOGIA. Não se esqueçam de que o Procrie está repleto de História do Voleibol no Brasil desde 1939, calcado em livro do mesmo nome, enciclopédico e memorialista, constituindo-se em obra de referência e excelente oportunidade para pesquisas em várias áreas acadêmicas.

Vários textos foram compostos a partir de pesquisas em sítios de busca a respeito de assuntos relativos à Metodologia e Pedagogia. Inclusive, há algum tempo ofereci-me para compartilhar informações com a Universidade do Porto – leia-se Isabel Mesquita – e seus discípulos. Infelizmente, a ideia não prosperou, mas permanece a intenção. Outra, a Universidade de Coimbra. No primeiro desses artigos relatamos princípios que o matemático húngaro G. Pólya compôs em sua vida e descritos por mestrandos portugueses. Outro, Vôlei vs. Vôlei, de João Crisóstomo, com o qual trocamos comentários proveitosos pela web e que poderão acompanhar em Teoria vs Prática.

Pascual visita Saqua nov.2012Na foto, Roberto Pimentel e o atual membro do Comitê Olímpico espanhol, Rafael Pascual (El Toro), em visita ao Aryzão, em Saquarema.  É bem possível que a nossa história possa contribuir para o ensino e formação de crianças em Espanha. Ainda a respeito de nossa preocupação com o ambiente acadêmico, reportem-se ao que foi consignado em Educar para a Vida, em que discorremos sobre algumas práticas em universidades brasileiras.

Alunos do séc. XXI

Certamente este é um modelo atrativo para acadêmicos, professores iniciantes que se disponham a enveredar por pesquisas metodológicas. Criamos um espaço de discussão em contraponto ao academicismo. Não verão escrito como fazer, mas sim o quê fazer. Por isso se adapta ao tamanho de qualquer atividade, não importa se nas escolas, clubes, praias ou região. VOCÊ decide!

Uma aula de inovação

Sob esse título a revista VEJA do dia 7 p.p. publicou reportagem de Helena Borges versada em tecnologia e com um DNA empreendedor em alto grau, uma turma jovem que começa a criar soluções para romper com o marasmo e elevar o nível da rede pública. (…) Essa garotada não tem a ambição de inventar a roda nem a empáfia de deixar de ouvir quem é da área. O que eles fazem é dispor da tecnologia para dar novos ares à escola, numa tentativa de torná-la menos maçante e mais eficaz no seu papel de levar conhecimento a uma geração que, como eles próprios, é pouco conectada à lousa e ao giz. Esse, aliás, é um trunfo da força criativa da turma; ela conhece bem seu público-alvo. Aliás, bem dizia o Professor português José Pacheco:

Temos escolas do séc. XIX professores do séc. XX e alunos no séc. XXI. 

Em reforço ao que vimos pregando, há necessidade urgente de esclarecermos à nova geração do valor dos estudos sobre Psicologia Pedagógica, inclusos os Métodos a empregar na Educação. Infelizmente, como alardeiam experientes estudiosos e profissionais da área, há muito o currículo universitário deixa a desejar, já tendo comprometido algumas gerações. Tomara que nossa contribuição, ainda que modesta, colabore para o enriquecimento dos milhares de visitantes do mundo inteiro que nos honram com suas visitas e leituras.

Leia Mais… Primeiro Grande Passo, o cotidiano dos professores nas escolas.

Ensino crítico      

Ninguém inventa nada se for servil ao conhecimento passado.

“Ensinar a reverenciar a rebeldia intelectual nada mais é do que educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. É um treinamento decisivo para quem deseja mais do que reproduzir, mas inventar. O bom educador deve ensinar a seus alunos a olhar sempre com uma ponta de desconfiança aquilo em que todos acreditam e dar uma ponta de crédito a ideias ou projetos que todos desmerecem”. (desconhecido)

Importância de um bom ensino

Este fator está atrelado à liberdade de poder criar e ao ato de ter ideias maravilhosas. A inteligência não pode se desenvolver sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas mais complicados. (Eleanor Duckworth, The Having of Wonderful Ideas, 1972)

O Circuito do Ensino

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.

– Henry Brooks Adams

Excelentes professores se concentram no que o aluno está dizendo ou fazendo e, graças a essa concentração e ao seu grande conhecimento do assunto, são capazes de enxergar e reconhecer o esforço hesitante e desajeitado que o aluno mal consegue articular na tentativa de um dia atingir a mestria. Uma vez identificado esse esforço, estabelecem um contato mais estreito com ele por intermédio de uma mensagem direcionada. As palavras-chave na descrição acima são conhecimento, reconhecer e contato mais estreito.

Os grandes professores e treinadores são uma espécie de “serviço de entrega” de sinais que alimentam e direcionam o crescimento de um determinado circuito neural, dizendo a esse circuito com grande clareza que dispare aqui e não ali. O trabalho do treinador é uma longa e íntima conversa, uma série de sinais e reações voltados para um objetivo comum. Seu verdadeiro talento consiste não num tipo de sabedoria universalmente aplicável que ele pode transmitir a todos, mas sim na capacidade elástica de identificar o ponto ideal no limite da habilidade individual de cada um e de enviar os sinais adequados, que ajudarão os circuitos a disparar na direção do objetivo certo, infinitas vezes.

Um excelente professor tem a capacidade de sempre ir mais fundo, de perceber o que o aluno consegue aprender e ir até esse ponto. E a coisa vai se aprofundando cada vez mais porque ele pode pensar no tema de muitas formas diferentes e fazer incontáveis associações. Noutras palavras, são necessários anos de trabalho para construir os circuitos (mielinizar) neurais de um grande treinador, circuitos esses que constituem um misterioso amálgama de conhecimento técnico, estratégica, experiência e sensibilidade aguçada na prática e sempre pronta a identificar e compreender o ponto em que os alunos estão e aonde precisam chegar.

Desenho28 InvertidoPor que grandes professores e treinadores tendem a serem pessoas mais velhas?

Como lembra Anders Ericsson, talvez por mero acaso ou, quem sabe, simples reflexo de forças sociais (afinal é mais provável que crianças cresçam acalentando a ideia de se tornar craques como Ronaldinho no futebol, ou como Tiger Woods no golfe, que a de virar treinadoras quando adultas). Ou talvez a idade mais avançada dos treinadores seja decorrência dessa dupla exigência característica da profissão – além de adquirir extrema competência no campo de sua escolha, precisam aprender a ensinar de modo eficiente a habilidade necessária ao exercício profissional ou à atividade amadora naquela área. (Anders Ericsson, pág. 207, “O código do talento”)

E então?

O importante é que cada indivíduo saiba brincar com o tempo que brinca, de modo criativo, sem se esquivar aos seus dons. Parece que sabemos todos o que fazer. O problema é colocar em prática.

Os próximos passos são os SEUS!

Cursos e Pedagogia do Esporte

Roberto Pimentel, Bené, Bernardinho e R. Tabach visitam o Curso prático e criativo (1ano) nas areias de Copacabana, Rio de Janeiro, 1995.

A melhor escolha foi feita. Alguém duvida?   

    

Importância dos Cursos de Formação   

Relia um dos livros de Le Boulch e tendo recebido a comunicação de um curso em minha caixa eletrônica deparei-me com um conflito ainda não resolvido em nosso país que, a julgar pelo andar da carruagem, estamos longe disso. Diz aquele médico, psicólogo e professor de Educação Física francês acerca das finalidades da ação educativa: “O objetivo da educação é o de favorecer um desabrochar humano que permita ao homem situar-se e agir no mundo em transformação por um melhor conhecimento e aceitação de si; um melhor ajustamento da conduta; e uma verdadeira autonomia e acesso à responsabilidade no âmbito da vida social. Considere-se que os profissionais não têm em geral uma formação suficiente para resolver, no plano científico, os problemas que descobrem no decorrer de sua prática. São então levados naturalmente a resolver estes problemas aplicando certo número de “receitas” técnicas que representam outras fórmulas dogmáticas impermeáveis a qualquer crítica científica. E continua: “Agindo sobre as atividades corporais e os movimentos atingiremos o ser social, pois o ato motor não é um processo isolado e só tem significação quando em relação com a conduta de toda a personalidade. Inversamente, afastamo-nos totalmente de um aspecto que a ciência do movimento pode perder, centrado no rendimento motor, que visa fazer do corpo humano um objeto útil para a sociedade, criando uma forma de alienação que compromete a unidade da pessoa.                    

Eis a mensagem:  Curso Nacional de Treinadores de Voleibol Nível 2 em Rondônia. A Federação Rondoniense de Voleibol (FRV), através da Confederação Nacional de Voleibol (CBV), vai realizar de 27/08 a 05/09 o Curso Nacional de Treinadores de Voleibol Nível 2. O curso é voltado para profissionais de educação física, interessados em atuar como técnico de voleibol, mas pode ter a participação de ouvintes. Será ministrado pelos instrutores Luiz Delmar e Romeu Beltramelli, que são instrutores internacionais de nível 3. Para o presidente da FRV, José Romano, é importante que os profissionais que atuam na área se qualifiquem, pois quem é formado em educação física mas não tem a formação específica exigida pela CBV (o grifo é meu), não pode ficar no banco de reservas orientando seus atletas durante as competições oficiais. Para atuar como técnico os profissionais devem ter registros na CBV. O profissional de educação física, graduado, tem direito à graduação de Técnico nível 1. Do nível 2 ao 5, o profissional deve fazer os cursos organizados pelas federações ou pela CBV. São oferecidas no mínimo 15 e no máximo 40 vagas, e outras 10 vagas para ouvintes. As inscrições encerram dia 23 de agosto. Para inscrições feitas até dia 15/08 o curso custa R$ 350. Já quem fizer a inscrição até dia 23/08 o custo será de R$ 400, nos dois casos o pagamento deve ser à vista. Para se inscrever os interessados devem apresentar cópia da carteira de técnico nível 1; caso não tenha, deve providenciar a inscrição na CBV junto à FRV e apresentar cópia do diploma (licenciatura ou bacharelado em educação física), RG, CPF, comprovante de alistamento militar, comprovante de endereço e local de trabalho com endereço e telefone e comprovante da taxa inscrição de R$ 20,00 (Banco do Brasil: 3231-x, C/C 100.511-1); preencher ficha de certificado profissional da CBV, comprovante de atestado médico indicando estar apto à prática de atividade física; Curriculum Vitae.                    

Custo & Benefício. Não conheço o Estado nem a capital Porto Velho, mas imagino a dificuldade de um professor desembolsar R$ 420,00, pouco mais de 82% do salário mínimo (R$ 510,00), mais alguns centavos por conta das cópias documentais exigidas e, ao final de 10 dias sair todo satisfeito com o seu diploma. E aí?    

Democratização do esporte. Um segundo texto chegado pela mesma via pede a democratização do esporte. Vejam parte do seu teor: “Raí Oliveira, Ida, Ana Moser, Magic Paula e Joaquim Cruz reuniram-se hoje (9/8), em São Paulo, com o ministro do Esporte, Orlando Silva. No encontro, os ex-atletas da ONG Atletas pela Cidadania levaram ao ministro propostas para a valorização do esporte brasileiro tendo em vista a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. No documento apresentado, os atletas defendem a necessidade de democratização da atividade esportiva, em todas as escolas públicas, com aumento do investimento público na educação esportiva. Pedem, ainda, a revisão do Sistema Nacional do Esporte, de forma que a sociedade tenha mais dados e informações sobre o assunto. O presidente da Atletas pela Cidadania, Raí Oliveira, acredita que o esporte ainda é visto como supérfluo dentre um universo de temas tão importantes para o desenvolvimento do Brasil. O esporte desejado pelos atletas da ONG vai contribuir para o desenvolvimento da sociedade, na melhoria dos indicadores sociais, de um modo geral. Por isso, é necessário um maior investimento no desenvolvimento de políticas públicas que busquem o esporte para o desenvolvimento social e por isso, os recursos atuais e a média histórica não são suficientes, ainda mais tendo-se em vista os mega eventos esportivos”. Seria legislar em causa própria?                 

E os professores? Esta é uma das razões de eu estar voltado para o verdadeiro professor, aquele que pretende servir-se do esporte para educar, conduzir, respeitar a criança pelo que ela é e pelo que poderá vir a ser algum dia, isto é, um ser humano, ético e capaz. Não um simples campeão, um mero medalhista, que ao final da vida útil de atleta passa a depender dos favores do Estado ou de alguma entidade. Percebam a natureza do que fazem no Brasil – e certamente no mundo – e as poucas esperanças de não nos deixarmos contaminar por tanta insensatez. O esporte encarado como “negócio” não pode ser educacional, pelo contrário, a vitória tem que vir a qualquer preço; todos nós estamos vivendo sob essa égide. Le Boulch, citado no início desse tema, dá-nos a exata posição sobre os objetivos da educação. E mais, sobre os perigos das “receitas técnicas”, que aqui chamamos de “receitas de bolo”, fórmulas dogmáticas muitas delas jurássicas, que se repetem ano após ano e mofam nas prateleiras caseiras dos cursilhistas. Não é bem isso que precisa o Professor para ser bom e eficiente em seu mister.  Não estariam todos “atropelando” os verdadeiros missionários da Educação Física? Ao que tudo indica, eles decidem o que os professores devem fazer ou deixar de fazer sem ao menos ouvir as suas vozes. Quer me parecer que os ex-medalhistas encontraram a solução para os seus próprios problemas. Não importa o que se faça cientificamente, o importante é o que pensam, ou melhor, do que precisam. E o pior é que podem ter sucesso em suas investidas, até porque este é um ano de eleições. E, até onde sei, são colocados como “delegados” de alguma entidade desportiva maior. Será que o que estou pregando tem alguma valia neste cenário? Em que país estou? O que faz o Ministério da Educação?                    

Pedagogia do Esporte. Felizmente, nem tudo está perdido. Descobri uma luz em artigo que busquei na Internet e aqui deixo um resumo do texto publicado no CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu. 25 anos de história: o percurso do CBCE na educação física brasileira. Anais… Caxambu: Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, 2003: “Este trabalho analisa e apresenta sugestão para Prefeituras (Secretarias de Educação e de Esporte e Lazer) para as relações que se estabelecem entre o esporte e a escola. Analisamos a presença de ambos nos processos de socialização, discutindo discursos e práticas propostas pelo Estado para a inclusão do esporte na escola. Propomos algumas  indicações para uma política pública para o esporte escolar, tomando como primado orientador a compreensão da escola e do esporte como direitos sociais, o que requer do Estado primazia para práticas democráticas e inclusivas formuladas e realizadas com participação popular. Isto implica  dialogar com  os sujeitos escolares, professores e alunos”.                    

Programa de esporte escolar – Competição esportiva – Conteúdo de ensino                    

1. Teoria e prática: sugestões acerca da prática pedagógica.                   

2. Princípios pedagógicos que orientam uma prática de QUALIDADE.                   

3. Esboço de proposta escola/esporte.                     

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E se você ainda tem dúvidas sobre a escolha de cursos aguarde a próxima postagem, Curso de Formação. Vou contar-lhes um caso bem sucedido em matéria de curso/ensino. E se você conseguiu ler até aqui deixe sua opinião sobre a Logo.    

Voleibol, Brasil e Portugal (III)

Ideias Maravilhosas

Este texto foi publicado em www.procrie.com.br/Formaçãocontinuada sob o título “Spartakiada, conclusão, Ideias Maravilhosas” (8.5.2010).

Cada ideia é apoiada e colorida por uma rede de outras ideias. (Piaget) 

Dando seguimento à série de postagens a respeito da Spartakiada, trago à lembrança o esplêndido texto de Eleanor Duckworth, no livro The Having of Wonderful Ideas, 1972, O Ato de ter Ideias Maravilhosas: “Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, novas ideias ocorrem e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”. Pretendo produzir uma cadeia de pensamentos, ou ideias, em que se sugiro a adoção sistemática da Ginástica Geral e outras manifestações da Educação Física no âmbito escolar infantil, sem perda de conteúdo para a tendência moderna de ensino desportivo precoce. Isto é, ambos podem evoluir harmonicamente, de forma bastante lúdica, favorecendo um desenvolvimento global da criança pelos motivos que veremos mais adiante.

Melhor ensino para o voleibol. Retroagindo um pouco no tempo, publiquei em 27.11.2009 neste blogue (procrie), sob o título “Teoria vs. Prática” meu diálogo com o Professor João Crisóstomo (Vôlei vs. Vôlei) tratando sobre as possíveis relações entre a especialização unilateral precoce e a qualidade final do desempenho. Ele acentuava as possíveis relações entre vivências motoras variadas na infância e o comportamento técnico do atleta na idade adulta. Concluía com a hipótese de que o voleibol praticado na infância de forma sistematizada visando à formação de futuros atletas para a modalidade atua como fator limitante para o desempenho de voleibolistas adultos, pois lhes falta a necessária memória motora produzida na infância. Nesse diálogo relatei a minha história, o que viria a atestar a sua hipótese. Evidentemente, é quase nada para se concluir como uma teoria. Resolvi, então, incrementar meus estudos para encontrar apoio técnico-científico às minhas ideias.

Como surgem as ideias. A inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular, que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Uma vez que o conhecimento é organizado em uma estrutura coerente, nenhum conceito pode existir isoladamente. Assim, cada ideia é apoiada e colorida por uma rede de outras ideias.

Conhecimento amplo e conhecimento restrito. Quando Piaget ministrava seu curso sobre inteligência, ele começava perguntando: “O que é inteligência”? Ele então respondia: “Inteligência é o que nos possibilita adaptarmo-nos a novas situações”. E continuava salientando que existem dois aspectos em qualquer ato de adaptação – nossa compreensão da situação e a invenção de uma solução baseada nesse entendimento. As situações nunca são inteiramente novas e nós as entendemos assimilando o que observamos à totalidade de conhecimento que trazemos para cada situação. A solução que inventamos pode nunca ser, portanto, mais inteligente que nossa compreensão da situação. Uma vez que nossa compreensão da situação depende do conhecimento que trazemos para ela, inteligência e conhecimento para Piaget referem-se amplamente à mesma coisa. Essa afirmação torna-se mais clara à luz da distinção feita por Piaget entre conhecimento em um sentido amplo e conhecimento em um sentido restrito. Sugere-se, então, que é melhor colocar a ênfase na aprendizagem no sentido amplo. Porções específicas de conhecimento são entendidas por assimilação dentro da totalidade de conhecimento no sentido amplo. A construção de conhecimento no sentido amplo depende da construção de sistemas operacionais e de uma vasta rede de relações. Conhecimentos gerais sobre matérias variadas – Geografia, História, Voleibol… – não podem ser construídos sem uma estrutura lógica e espaço-temporal. O conhecimento no sentido amplo não é, portanto, uma coleção de fatos específicos, mas antes uma rede de ideias organizadas. Em outras palavras, a aprendizagem não pode ser destituída de input (contribuição) específico se crianças pequenas devem aprender qualquer coisa, contudo a questão permanece: Que tipos de input específicos contribuem para a aprendizagem no sentido amplo do termo? Acreditamos que as atividades de conhecimento físico são ideais porque dão oportunidade para a aprendizagem de porções específicas de informação de uma forma que contribui para a aprendizagem no sentido amplo do termo. Concluindo, se tentarmos encher a cabeça das crianças com uma grande quantidade de fatos como os educadores empiristas tentam fazer, teremos a ilusão, em curto prazo, de termos ensinado muita coisa quando na verdade contribuímos para a repressão da construção com o decorrer do tempo. Enfim, todo ensino específico torna-se fútil quando ignora a importância da aprendizagem no sentido amplo.

Falar muito não resolve. Para se entender melhor, quando os proponentes de um novo programa de educação “científica” alegam que ele é “orientado ao processo” se segue um “método de descoberta”, suas suposições empiristas básicas estão ainda em contradição com a importante distinção feita por Piaget entre “descoberta” e “invenção”. Colombo descobriu a América – ela já existia; mas o homem inventou o automóvel. Essa mesma diferença aplica-se ao conhecimento físico versus conhecimento lógico-matemático, o primeiro referindo-se à descoberta do que está no mundo exterior e o último, envolvendo a criação de relações, teorias e novos objetos. Para a construção do conhecimento científico, a observação de fatos empíricos e a conceitualização de teorias são ambas necessárias. O professor pode, portanto, saber o que a criança pode aprender por observação e o que ela não pode a fim de evitar o perigo de reduzir à “descoberta” toda a aquisição de novo conhecimento.

Concluindo, as atividades de conhecimento físico são usadas não para a instrução ou “descoberta” de conhecimento científico, mas para a construção de conhecimento pela criança num sentido amplo. Se aceita tal teoria, “Como, então, aplicar tais conhecimentos no ensino desportivo de crianças”? É o que veremos a seguir.

Professor de Vôlei (IV)

 4. Reciclagem e problemas nas escolas 

Roberto Pimentel, 12.7.2009.  Infelizmente, os únicos seres neste país que conheciam o termo mini volei eram os que estavam muito próximos de mim. O Marco Aurélio só foi conhecer quando fui convidado para desenvolver técnicamente o mini no programa da CBV. Quem promovia TODAS as aulas de demonstração nas escolas era exatamente eu e mais ninguém. Desiludi-me face ao mercantilismo empregado na entidade. Imagino que tenham ficado órfãos quanto à metodologia a propor e as atitudes pedagogicas recomendadas para trabalhos com crianças. Se duvidar, frequente um dos cursos de formação que realizam. Outros, a quem emprestei e leram os Anais do 1º Simpósio Mundial de Minivolei da FIVB (Suécia, 1975), permaneceram estáticos no processo educacional, nada acrescentando ao que foi dito (e mal) há 34 anos. É incrível! Este é um dos motivos do site que estou lançando em breve. Instruir, “aprender a ensinar”, pela internet. Atualizar ou informar a quem quer fazer melhor e se interessa por uma boa formação para as crianças. Vou entrar no site e ver de que forma poderei ajudá-los.

Roberto Pimentel, 13.7.2009. Pediu-me que colaborasse na reciclagem dos professores para que eles despertem o interesse dos alunos pelo voleibol. Estive também examinando a apostila do minivôlei inserida no site da Secretaria de Esportes da Prefeitura de Duque de Caxias.   Após leitura rápida e breve análise do que estão a realizar, percebo que estão no caminho certo, isto é, incentivar a prática desportiva na escola. E mais, já agora com a preocupação da valorização do docente, através de estímulos à sua “formação continuada”. Em que consistiria esta reciclagem? Que ferramentas pedagógicas poderão contribuir para um crescimento dos docentes? Se lhes for perguntado, temos certeza de que as respostas serão evasivas e não nos levarão a nada. Você deu o primeiro passo através da confecção de textos pedagógicos. Todavia, pressupõe-se que sejam do conhecimento dos professores, pois a Pedagogia faz parte do currículo das escolas de Ed. Física. A releitura seria apenas uma lembrança de que existem alguns princípios que devem ser seguidos ao longo do ensino, já que a simples leitura (e você nunca saberá se leram) não vai modificar o comportamento deles. A tentativa louvável se perderá mais uma vez no imobilismo, isto é, tudo será igual no dia seguinte e as coisas se repetirão ano após ano. Que atitude tomar para mudar este estado de coisas?  

Todos lêem, aprendem, decoram textos. São capazes de discorrer horas sobre o assunto sentado a uma mesa. Contudo, tanta informação não é suficiente para se realizar uma aula em que se pretende ensinar algum conteúdo aos alunos. Psicologia é ciência, mas “ensinar é uma arte”. E o que falta aos professores que pretende auxiliar nesta difícil tarefa é APRENDER A ENSINAR. Precisam romper os grilhões que os prendem ao passado, um CHOQUE de criatividade e liberdade para pensar e agir, e não REPETIR ou COPIAR procedimentos usados desde a época de nossos avós. Imagino que precisam “ver e sentir” algo palpável, algo em que acreditem, que tenha crédito e que sintam que mude para melhor. E que eles podem também realizar. Há que se promover a transposição da TEORIA para a PRÁTICA. Tenho a receita para tal, já testada e aprovada ao longo de muitos anos. É um dos assuntos do site que estou criando. No caso da Secretaria, a sugestão seria um Curso de Formação Continuada para os professores que atuam no município, participantes ou não dos jogos escolares. Além disso sugiro um reexame do formato das competições de minivoleibol para crianças de 8-14 anos. Vocês poderão cooptar todo o universo do Ensino Fundamental, e não somente algumas equipes. Imagino que deva ser algo à parte dada a quantidade de participantes. Se quiser aprofundar o diálogo estarei à disposição. Não encontrei no site da Secretaria o “Fale conosco”.

Solução de problemas. Um lembrete para toda a Comunidade do Voleibol: estou à disposição para conhecer e tentar encontrar soluções para quaisquer problemas relacionados ao assunto. Isto nos enriquece a todos. Percebo que não está havendo manifestações de colegas. Participem, desnudem suas dúvidas ou problemas.

Guilherme, 14.7.2009.  Infelizmente já tentamos realizar cursos de reciclagem através da Secretaria mas parece que nossos professores e outros não pecisam adquirir novos conhecimentos apesar de demonstrarem através de seus alunos que o caminho que estão trilhando não está dando certo como você pode ver pelo número de equipes participantes, que vem caindo ano a ano. Talvez devessemos oferecer cursos com pessoas fora de nossa comunidade e de algum renome para ver se assim eles se interessam. Sei que alguns leram os textos do site e até tentam segui-los mas a maioria quer abraçar o mundo e passa a tomar conta de várias equipes em várias modalidades o que os leva a não conseguir se dedicar e demonstrar conhecimento firme e seguro para prender a atenção de seus alunos. Temos tambem vários “professores” que se aproveitaram dos “cursilhos” que o CREF ministrou  e que felizmente não o faz mais e possuem “títulos” de provisionados que lhes permite atuar com equipes escolares. No nosso Regulamento permitimos a participação apenas de Professores formados, estagiários de Educação Física acima do quarto período (conforme a lei) e estes que conseguiram a tal carteirinha do CREF. A única maneira que encontrei para efetuar alguma mudança foi acrescentando dentro do Regulamento as regras específicas do Voleibol Infantil e do Minivolei e dando uma atenção maior na categoria infantil e sub 12, que possuem um número significativo de modalidades e consequentemente pontuação para o Troféu Geral. As escolas públicas melhores colocadas ganham o direito de poder participar do JEEP. As campeãs de cada modalidade podem atuar como representantes da Olimpíada da Baixada (competição organizada pelo jornal O DIA) e a partir do ano de 2010 o Prefeito prometeu prêmios às escolas melhores colocadas. Quanto ao link – Fale conosco. realmente foi retirado pelo desuso total já que eles preferem efetuar a comunicação pessoalmente comigo nos locais de jogos e ao final de cada ano realizamos a reunião final de avaliação e nesta, as sugestões, reclamações e críticas são avaliadas pela Comissão Organizadora. Continuarei insistindo no processo de conscientização dos professores através das mudanças que pretendemos realizar em outras modalidades também, tais como o mini handebol, o tênis pongue (iniciação ao tênis) e o mini basquete. Obrigado pelos conselhos e atenção.

Professor de Vôlei (II)

2. Problemas na Iniciação Esportiva

Roberto Pimentel, 20.6.2009 – Permiti-me resumir as dúvidas e dificuldades que relataram. Coloquei algumas outras para discutirmos e buscarmos as soluções, como uma “paradinha para pensar” e enxergar as questões de outro ângulo. Para termos ideias novas, criativas, inovadoras, opinião independente, temos que aprimorar primeiro os nossos sentidos. Não lhes parece o melhor caminho? Parece que não estamos sozinhos. Entrem na “comunidade do basquete” e observem o que dizem os professores a respeito da evasão de protagonistas no RS e em Barueri (SP): “Vão discutir o problema com a coordenadoria”. Estou inclinado a convidá-los para nossas discussões, pois não acham que têm as mesmas dificuldades?

Guilherme … (1) Metodologia não motiva – (2) Crianças não conseguem jogar – (3) Exercícios monótonos – (4) Solução: aplicação de pequenos jogos; redução da quadra; não exigência de técnicas apuradas.

(1) Convite a uma busca de uma Nova Metodologia, motivo dessas conversas. Como fazer? As “receitas” são muitas, mas não redundam em melhoria. Trata-se do grande abismo entre Teoria e Prática. (2) TODOS jogam a partir da 1ª aula, não importa a sua habilidade. É importante para que se sintam seguros, participantes, incluídos entre todos: “Sou capaz!” Os aspectos psicossociais estão inteiramente assegurados e prestes a se desenvolver com força. Como realizar esta façanha numa classe? No clube os “mais fracos” seriam alijados. Devo fazer o mesmo na escola ao dispensar da aula quem não quer jogar? Só jogam os melhores? (3) Utilizo muito material “alternativo” para CRIAR os exercícios. Todos praticam ao mesmo tempo e NÃO há preocupação com o gesto técnico. Inicialmente, o que importa é que as crianças consigam ter a sensação de que estão jogando. A pouco e pouco terão mais informações. Isto implica no que disse a respeito de ”produção, atração, envolvimento, brincadeiras”. (4) Está perfeito. Contudo, a condução da classe é outra questão. Ensinar não é uma ciência, mas uma arte.

Milton… (1) Escola ou clube? – (2) Práticas lúdicas e desafios – (3) Jogo em campo reduzido.

(1) Produzi treinos excelentes em clubes renomados do Rio; o Bernardinho aplicou no Centro Rexona, em Curitiba, o mini vôlei que me “encomendou” na Praia de Copacabana; o governo estadual do Paraná aplicou-o em várias escolas. Por que não daria certo? Qualquer mudança é traumática. Os novos profissionais são levados pelo sistema a resolver estes problemas práticos, aplicando certo número de “receitas” técnicas que representam fórmulas dogmáticas ultrapassadas durante anos. Não há tempo para parar e pensar? (2) Está certíssimo, desde que haja um planejamento das ações orientadas para o aprendizado da modalidade e respeitados aspectos psico-fisiológicos da criança. (3) Perfeito, porém não basta. Como fazer numa aula com 20-30 alunos? Como motivá-los? Classes mistas? E as diferenças?

Em outro momento, se estiverem interessados, vou dizer-lhes como consegui reunir 400 crianças (8-13 anos) em curso regular na “minha praia”.

Guilherme, 8.7.2009 – É bom saber que não estamos no caminho errado. Claro que a motivação da aula é de fundamental importância e é aí que se deve depositar todo principio da aula, treino ou jogo. A ludicidade com as crianças funciona principalmente com a diversidade de atividades e materiais, mas toco aqui num elemento que considero fundamental para o ensinamento de qualquer desporto. O conhecimento, o mais profundo possível, para que aquilo que se pretende alcançar, para que o aluno ou atleta execute o movimento de forma correta, para que os movimentos não sejam executados sem um intuito ou de forma dispersa. Pensar no se faz. E para isto a segurança em corrigir, demonstrar e explicar os objetivos depende deste conhecimento profundo. Seria interessante também a troca de experiências neste nível, pois só encontramos bibliografias e estudos do voleibol de alto nível ou competitivo. As bibliografias que versam sobre a iniciação são a meu ver falhas e sem muita objetividade, muito vagas e monótonas.

Roberto Pimentel, 9.7.2009 – Fico feliz pelo aceite à participação neste bate-papo sobre a Iniciação Desportiva. E está de parabéns pelas colocações. Você mexeu muito na minha cabeça grisalha para rebuscar coisas que possam ajudar-nos nesta missão.

“O melhor cérebro da Europa Hans Magnus Enzensberger, poeta e ensaísta alemão, é um raro exemplo de intelectual que sugere que se debruce sobre um assunto com a dedicação do especialista; todavia, ele se distingue dos especialistas pela variedade de questões às quais sua curiosidade o conduz”. (Veja, 24.6.2009)

No Brasil nunca houve indivíduos – muito menos cientistas – que se preocupassem com a Iniciação Esportiva. Pelo contrário, sempre foi uma área desprezada, entregue a pessoas também muito mal preparadas, verdadeiros curiosos ou “quebra galhos”. Você mesmo observou ao consignar que as bibliografias que versam sobre o tema são falhas e sem objetividade, muito vagas e monótonas. Traduzindo, não ensinam absolutamente nada. E em continuação, mostra o caminho que devemos seguir – a troca de experiências sobre a Iniciação – pois os estudos que existem se reportam ao alto nível e só se pensa na competição, sempre com a proposta de GANHAR a qualquer preço. Você diz nas entrelinhas que precisamos buscar novos conceitos e metodologia em substituição ao que as Escolas de Educação Física e Cursos de Técnica espalhados pelo país vem praticando (e repetindo), isto quando se ocupam da matéria, pois na maioria das vezes, não merece qualquer atenção. Esse despertar teve início a partir da introdução do min voleibol no Brasil, do qual sou pioneiro. Concluí que seria interessante para todos os docentes, não treinadores de clubes, que se tomasse conhecimento do método e que o desenvolvêssemos entre os colegas. Muitos anos se passaram até que foi colocado nacionalmente no chamado programa Viva Vôlei, da CBV (fui o mentor técnico). Mas a visão dos dirigentes era mercantilista, queriam e estão conseguindo tão somente vender o produto. A proposta filosófica e a metodologia foram mais uma vez deixadas de lado e continuam “empurrando” para os menos avisados, todo aquele entulho didático do qual será muito difícil nos livrarmos. E pobre dos novos acadêmicos que não têm a quem recorrer (bibliografias falhas, no seu dizer). Como fazer?

Uma observação importante: tanto no Brasil, como em muitos países, comete-se o erro de aplicar no mini voleibol a mesma metodologia que conhecemos, aplicada aos adultos para treinamento competitivo. E o que quer dizer com conhecimento, o mais profundo possível? Dentro de mais alguns dias espero estar lançando um novo site para auxiliar na solução para este estado caótico do ensino, especialmente da Iniciação. E não importa que desporto você pretenda ensinar. A proposta é online, voluntária, dirigida especialmente aos docentes que atuam em escolas e, especialmente, aos que não possuem qualquer intimidade com o voleibol. Pretendo oferecer toda minha experiência no setor e, principalmente, propor uma metodologia construída em parceria com o professor, segundo suas circunstâncias e objetivos. Para tanto, uma passagem da TEORIA para a PRÁTICA. E garanto o seu sucesso. Isto talvez contraste e o assuste, pois você referenda uma postura de conhecimento profundo. Estarei me baseando em teorias da aprendizagem, tal qual os pedagogos de plantão das universidades instruem, mas não ensinam. A pequena e sutil diferença é que estarei mostrando na prática como realizar e observar fenômenos manipuláveis, o primeiro passo para uma mudança de atitude frente ao problema.

(…) Pensar no que se faz. E para isto a segurança em corrigir, demonstrar e explicar os objetivos dependem deste conhecimento profundo. Chamo a isto “Aprender a Ensinar”. Muitos dizem Psicologia é ciência, mas ensinar é uma arte. A comparação do desempenho de um perito com o de um iniciante, por exemplo, revela não somente diferenças de rapidez, fluidez e precisão nas ações, mas também na estrutura da percepção, memória e operações mentais dos envolvidos. A partir deste ponto de vista, os atos de aprender a aprender, pensar e comunicar-se são explicados em função da aquisição de diversos tipos de perícia. Este me parece um caminho que devamos percorrer quando estabelecemos um planejamento para ensinar um indivíduo ou grupo de pessoas. E Vigotski nos dá uma ajudinha neste processo com uma ferramenta muito preciosa, a zona de desenvolvimento proximal.

Em outra ocasião falaremos dela.

Educar para a Vida

Encontro com universitários

Certa feita recebi em minha residência um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tinham a missão curricular de entrevistar-me a respeito do meu trabalho relativo à Iniciação/Formação ao voleibol. Eram em número de seis, sendo cinco moças. Trouxeram uma planilha em que já constavam as questões a serem formuladas e, com certeza, posteriormente fariam uma análise resumida do pensamento do entrevistado. Após minha apresentação curricular rápida, coloquei-me à disposição. Seguiu-se, então, uma conversa bastante interessante, uma vez que além de satisfazer às indagações, sempre lhes cobrava algum raciocínio, ora através de uma sentença não concluída, ora com uma outra pergunta do tipo: “Neste caso, como acham que deveria proceder? Por que acham que este seria o melhor caminho”?

Enquanto isso observava a participação de cada um deles. Notei que uma das moças se mantinha alheia e silenciosa a tudo. Indaguei-lhe em certo momento: E você, ainda não me perguntou nada e não emitiu qualquer comentário? Disse-me ela, em tom quase áspero: “Estou aqui obrigada, nunca gostei de voleibol”! E mais não disse. Retornei aos demais e respeitei sua colocação. Não me cabia considerar ou influir no seu pensamento.

Satisfeitas as considerações impostas pelo questionário, ofereci-lhes pequeno lanche e, divaguei sobre minhas ideias, projetos e experiências com crianças. De forma espontânea, tenho certeza de que me emociono, reconheço o embargo na voz e, dizem-me, meus olhos brilham intensamente todas as vezes que discorro sobre o ensino/aprendizagem. Possivelmente este fato contagiou a todos, porém a surpresa geral foi a aluna desinteressada. Após minha fala, pouco antes de encerrar a visita, pediu a palavra e falou com todas as letras: “Professor, disse-lhe antes que não gosto de voleibol; agora, após sua explanação tão entusiasta, passei a ver de outra forma. Acho que vou me esforçar para aprender”. Minha surpresa foi substituída por um sentimento de dever cumprido, isto é, ganhei mais do que dei.

Mas a história não acabou ali. Duas semanas após, compareci à mesma Universidade para realizar uma aula demonstração do método. Era uma turma grande, rapazes e moças muito animados. Tudo transcorreu conforme o planejado, exceto por um detalhe. Ao final da apresentação, fui novamente surpreendido pela moça (ex)desinteressada que, esbaforida, confessou-me alegremente: “Professor, adorei a aula, foi a primeira vez que joguei vôlei e nunca me diverti tanto”!

Aulas na UERJ. Em 1981 foi a vez da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Convidado pelo titular da cadeira de voleibol, Professor Paulo E. H. Matta, proferi aulas (12h) no Curso de Técnica sobre o ensino para crianças. O objetivo de minha ida foi servir de contraponto ao ensino estabelecido e, dessa forma, suscitar o pensamento crítico dos professores. Recordo-me que em minha apresentação afirmei: “Se conseguir que pelo menos um de vocês tenha dúvida quanto à metodologia a empregar em suas próximas aulas terei recompensada minha vinda a esta Universidade”.

Infelizmente, não tive o concurso do equipamento que sempre me acompanha nesses eventos. Improvisei a única aula prática no último dia de aula, tendo conseguido dosar com eficácia teoria e prática com rara felicidade. O efeito não se fez esperar. Após o encerramento fui abordado por uma das professoras que, de forma objetiva, colocou: “Professor, disse no primeiro dia que mexeria na nossa cabeça; com certeza já não sei como realizarei minha aula amanhã na escola”! Senti uma sensação de dever cumprido e recompensado.

Prática em clube. Veja esta outra experiência com a equipe América (adultos). Em dado momento criei um exercício complexo que envolvia os 12 jogadores simultaneamente. Consistia na circulação da bola pelas duas quadras simulando as fases mais simples do jogo (exceto o saque): recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa. A bola passava de mão em mão e, após a respectiva ação, o protagonista dirigia-se na direção em que a bola foi passada, deslocava-se e ocupava temporariamente a nova posição, e assim sucessivamente. Iniciamos a tarefa simplesmente com a bola lançada (e segura), até que todos memorizassem as ações combinadas; a seguir, com a bola no ar. O exercício foi repetido em quatro ocasiões (2 semanas), inclusive como forma de entrada em calor e despertar da atenção. Na quinta apresentação, inesperadamente durante a sua execução, solicitei que invertessem o sentido do percurso da bola sem qualquer instrução minha. Após breve intervalo para diálogo, logo recomeçaram a prática com total eficiência. Em outro treino, também de surpresa, introduzimos uma segunda e, depois terceira bola, tudo absorvido de forma extremamente natural, apesar da intensidade imprimida. Para todos tornou-se uma experiência gratificante que muito contribuiu para a aprendizagem, refletida nos semblantes e no prazer de estar ali em coletividade, experimentando intensa atividade mental. Alguns declararam que não se achavam competentes para realizar a tarefa, mas com o incentivo dos colegas conseguiram e, por isso, experimentaram um sentido de realização própria: “Se consegui isto, posso conseguir muito mais”! Como foi bom para mim contribuir silenciosamente para o crescimento daqueles rapazes.

Empenho e Sucesso

Empenho e sucesso

Aproveite o primeiro caso favorável que aparecer para por em prática a decisão tomada e procure atender a toda aspiração emocional que surja em você no sentido daqueles hábitos que você quer adquirir. As decisões e empenhos deixam no cérebro certo vestígio não quando surgem, mas no momento em que produzem alguns efeitos motores. O empenho de agir lança raízes em nós com tanto mais intensidade quanto mais frequente e continuamente nós repetimos de fato as ações e quanto mais cresce a capacidade do cérebro para suscitá-las”. (D. Wood)

Empenho. Sempre considerei inadmissível a falta de empenho nos treinos. A partir do momento que me predispus a treinar atletas de Vôlei de Praia deixei bem claro para os mesmos – eram em número de seis – que não toleraria atrasos, faltas e empenho. Esta última particularidade considero também responsabilidade do próprio treinador, que dita e imprime a dinâmica das aulas. Utilizei sempre dois recursos pedagógicos. Primeiro, o incentivo de todos em prol de determinado colega na ação. Segundo, minha própria exigência, reavaliando constantemente os limites de cada indivíduo e buscando sempre sua superação. Assim, alguns ensaios colocados em tempos certos, contribuíam para mantê-los atentos para tais desafios. Por exemplo, iniciamos com o lançamento da bola próxima à rede à determinada distância do atleta. Sua tarefa, tocar a bola como pudesse de modo que ela retornasse à sua própria quadra. A posição inicial era junto à rede e da antena. Quando dos lançamentos, procurava ocultar-me, localizando-me atrás dele, a 2m-3m de distância; e ainda, para que não desse a partida para a corrida antes do arremesso, tinham instruções de realizar um salto de bloqueio. Antes de sua queda, ainda no alto, arremessava a bola. Inicialmente, a 5m-6m para todos, com altura aferida de modo que tivessem sucesso e se preocupassem tão somente com a memorização do exercício. A cada duas sessões era incrementada uma nova distância e, em 2-3 semanas conseguiram – TODOS –, tocar a bola no limite considerado ótimo de 9m, isto é, de antena à antena. Contudo, isto não bastava, uma vez que a segunda condição imposta determinava que a bola tocada retornasse à própria quadra. Para tanto, mantivemos os ensaios diários, acrescido de novos elementos e exigência: deveriam deslocar-se tanto à direita, como à esquerda, considerando ainda os toques com uma das mãos, esquerda ou direita, respectivamente. Concluindo, observamos que o comportamento técnico dos atletas experimentou melhoria considerável, a ponto de não mais ocorrer a denominada “bola perdida” (de impossível recuperação) do jargão voleibolístico.

Olhando com olhos de ver. Numa manhã ensolarada observava atento o treinamento de uma dupla na praia. O treinador, diante do treinando arremessava a bola alta atrás do mesmo e aguardava sua recuperação com devolução por manchete; e assim sucessivamente. Ocorre que o atleta, sabedor que a bola seria lançada sempre à mesma altura e no mesmo espaço, adquiria um postura inicial de lateralidade que o facilitava no deslocamento para trás. E assim, um parecia estar a enganar o outro. Parecia a mim um “faz de conta que estou ensinando e, o outro, aprendendo”. Ocorre que, logo a seguir a este exercício, os atletas iniciaram um coletivo. A certa altura, estando na posição de expectativa para defesa, aquele atleta foi surpreendido com um lançamento da bola alta, nas suas costas. Qual foi sua reação? Quem apostou que ficou parado acertou.

Ainda sobre princípios do ensino. Este e outros fatos aguçaram minha curiosidade em como deveria ensinar alguém a reagir eficazmente diante de lances inesperados (até certo ponto). Por isso também estou aqui a ocupá-lo com esta leitura. Juntar a teoria com a prática num projeto que minha experiência como jogador, professor e técnico pode vir a ter valia para jovens educadores.

O professor deve conhecer estas formas de aprendizagem. Deve evitar as formas ineficazes e aproveitar as formas eficazes. Deste modo, pode dar bom uso aos três princípios que analisamos nos últimos textos. Tais princípios da aprendizagem são também princípios do ensino. Existe, contudo, uma condição: para tirar proveito de um determinado princípio o professor não deve apenas conhecê-lo por ouvir dizer. Deve entendê-lo intimamente, com base na sua importante experiência pessoal. (Pólya)

Teoria do Conhecimento

Aprender a Ensinar

“Ensinar não é uma ciência, mas uma arte”. Ensinar está em correlação com aprender. Eu me faço criança quando em aula e isto parece ser um diferencial. Tento ler na face do aluno, tento ver as suas expectativas e dificuldades, ponho-me no seu lugar. Questões metodológicas e pedagógicas serão tratadas à luz dos escritos de renomados mestres, e perfeitamente aplicáveis em sala de aula ou mesmo em comunidades, transportando-nos da teoria à realidade de cada grupo de pessoas.

Teoria do Conhecimento. No desenvolvimento de meus projetos, nas experiências de minhas próprias aulas e no diálogo com professores em variadas regiões do país, tenho me colocado como um pesquisador, pois andei formulando hipóteses e, mais ainda, confrontei-as com a prática e com a metodologia vigente nas universidades, com o fito de avançar na formalização das ações e dos fatos. Trata-se de um processo epistemológico – teoria do conhecimento – em psicocinética.

“A ciência do movimento humano só progredirá de fato na medida em que for simultaneamente teórica e prática”.

Quando Le Boulch descreve sumariamente este processo, isto me leva a imaginar um de nós com um texto ou página de livro assistindo uma aula de educação física numa escola. Tente compatibilizar as duas coisas: texto e prática. Descobrirá que existe um verdadeiro abismo entre o que dizemos, o que lemos e o que praticamos. Para tanto, venho desenvolvendo um projeto calcado em buscas na Psicologia Pedagógica em que objetivo realizar concretamente esta ponte entre a teoria e a prática. A tarefa é árdua e lenta e impossível de ser concretizada por um só indivíduo. Mais uma vez peço sua colaboração e empenho compartilhando comigo seu conhecimento e experiências.

“O conhecimento é essencialmente o fruto da colaboração entre o que é sensível e o que é racional. Ele é elaborado em três estágios: da observação vivida ao pensamento abstrato, do pensamento abstrato à prática”.

Dessa forma, pretendo instiga-lo a uma colaboração estreita, muito próxima, especialmente quando se trata de profissionais menos experientes, ávidos por resolver os problemas que descobrem em suas práticas diárias, mas que ainda não têm em geral uma formação suficiente no plano científico. Quase sempre serão levados naturalmente a resolver estes problemas práticos aplicando certo número de ‘receitas’ técnicas que representam outras fórmulas dogmáticas, as famosas receitas-de-bolo.

Quer um exemplo? Os inúmeros cursos de voleibol que conhece praticados em todo o país. O interessado recebe uma apostila (cartilha), é instado à frequência plena às aulas (curta duração), sem direito à contestação à quase leitura da matéria (“está tudo na apostila”). E para culminar, uma “prova” de aptidão para o esporte, constante de execução de saque, cortada etc. A seguir, o certificado de conclusão, verdadeira conquista! Com ele, sabe-se lá, podem-se pleitear melhores salários, pois enriqueceu o currículo. E depois, o que acontece com a prática diária?

Estou falando em tese e não pretendo denegrir as evidentes vantagens dos cursos. Chamo a atenção tão somente para o fato de que existem “cursos e cursos”, cabe ao interessado discernir e avaliar se valeu a pena no sentido da aquisição de conhecimento. Se o interesse era o diploma, é outra história.

Tudo o que foi dito nos traz de volta às minhas intenções. A mim interessa um diálogo construtivo a respeito do ensino do movimento, seja ele direcionado ao voleibol, basquete, futebol ou outro qualquer desporto. As bases científicas, a metodologia e pedagogia sempre surgirão se rebuscarmos e nos mostrarmos curiosos e interessados. Quais são elas, o que é melhor para o meu grupo em determinado momento, como evoluir e outras indagações, é o que quero descobrir junto com você.

Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem (I)

Interação social e comunicação

Projeto no Morro do Cantagalo
Período: novembro 1999 a janeiro 2000.
Local: Morro do Cantagalo, Rio de Janeiro. O ginásio do CIEP (escola pública municipal) foi equipado com cinco (5) miniquadras e 24 bolas de minivoleibol, podendo comportar confortavelmente até 50 alunos/aula.
Público alvo: crianças (8-9 anos), adolescentes e adultos (até 23 anos) de ambos os sexos, moradores de morros da Zona Sul.
Total de inscritos: 200. Atividade: minivoleibol
Coordenação de todo o trabalho durante 3 meses; 4 x semana; 3 aulas diárias.
Colaboradores: um professor e 2-3 monitores da comunidade.

Planejamento & Atuação
Tema pedagógico: metáfora do andaime
“Quando bem construídos, os andaimes ajudam a criança a aprender a ganhar alturas que elas seriam incapazes de escalar sozinhas”.

Proposta
Formação de liderança na comunidade para continuidade das ações.
a) Convite a moradores da comunidade para o papel de monitores/professores, independentemente de histórico desportivo.
b) Identificados na comunidade quem já praticava o desporto (clube, praia).

Metodologia
a) Instrução em grupo – nível de interação entre as crianças como facilitador do desenvolvimento dos exercícios.; reconhecimento dos benefícios quando o indivíduo é ajudado por outro que tem mais conhecimento e como este último pode ele mesmo beneficiar-se.
b) Instrução individualizada – capacidade de as crianças, enquanto aprendizes serem arquitetas da própria compreensão; capacidade de autocorreção e autoinstrução, individualizando a própria aprendizagem; importância da interação social, da comunicação e da instrução.
c) Criando a interação entre colegas – como e em que circunstâncias a cooperação e a comunicação levam à construção conjunta de conhecimento e compreensão entre crianças? Instrução em grupos; o professor e a capacidade de explorar as interações entre crianças para facilitar a aprendizagem (considere-se que trabalho em grupo pode produzir pouca atividade de aprendizagem dirigida); resolução cooperativa de problemas (exigência de técnicas de “combinação”, seleção de tarefas e incumbências, e administração do trabalho em grupo).

Mapa do território do aprendiz
A perspectiva que adoto solicita a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências que habilitem a criança e o adolescente aprenderem a ‘linguagem’ proposta. Isso exige necessariamente, e sempre, um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. A experiência me diz que certo grau de incerteza, a possibilidade de se deparar com surpresas e a chance de descobrir e resolver novas ambiguidades é o que impulsiona e motiva tanto o ensino quanto a aprendizagem. A única maneira de evitar a formação de concepções errôneas arraigadas é a discussão e a interação, lembrando que “no discurso matemático, uma dificuldade compartilhada pode tornar-se um problema resolvido”.

Pequenos grandes passos: teoria e prática
Vocês acompanharão na parte II dessas “Lições” os momentos em que buscamos soluções para unir a prática à teoria, um caminho que nos pareceu fácil de trilhar e que nos enriqueceu demasiadamente. Penso que a principal dificuldade a superar quando se ministra aula para grandes grupos é a comunicação: O que fazer? Quando fazer? Como fazer?
Optei uma vez mais pelo emprego do “princípio da aprendizagem ativa”.

Na próxima postagem revelarei meu procedimento prático e uma reflexão sobre as ações. E, claro, pequenas surpresas. Aguardem.

Leia mais…

  • Lições de um projeto e perspectivas da aprendizagem – Parte II e III