A Sala de Aula Moderna – Parte II

 

CONTINUAÇÃO DO ARTIGO 

 A Sala de Aula Moderna – Parte I
 roberto_pimentel@terra.com.br

Palavras-Chave (Tags): Atenção – Autorregulação – Determinação – Emoção – Empatia – Rendimento Escolar – Resiliência – Habilidade – Talento – Métodos


A Sala de Aula Moderna – Parte II 

Primeiras Aulas 

Neurociência & Treinamento Profundo

 

 

10ª a 12ª aula            De onde vem o talento?

 

Do ponto de vista biológico, nada substitui a repetição atenta.

Nada do que façamos – falar, pensar, ler, imaginar – é mais eficaz na construção de uma habilidade do que executar a ação, disparando o impulso pela fibra nervosa, corrigindo erros, afiando o circuito.

Para ilustrar essa verdade proponho a pergunta: “qual é a forma mais simples de diminuir as habilidades de um talento consagrado”?

 

Repita

A prática não leva à perfeição.

Uma prática perfeita é que leva à perfeição.

Descreve-se o treinamento profundo como alguém que tenha experimentado a sensação de aceleração referindo-se a ela como um “estalo”. E dessa forma, constroem-se novos tipos de atuação em qualquer atividade.

— Em que consiste  o tipo de aprendizagem conhecido por autorregulação?

— As pessoas observam, julgam e planejam a própria atuação, i.e., quando ensinam e supervisionam a si mesmas.

 

Responda como puder:

— Como indivíduos que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam talentosos?

— Qual a natureza desse processo capaz de gerar realidades tão díspares?

— O que é TALENTO?  Formar ou detectar?

 

Talento

A posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico: a diferença entre jogadores fabulosos e jogadores comuns está na organização; entre alguém que compreende uma linguagem e outro que a desconhece.

 

 

Neurociência & Treinamento Profundo

 

13ª a 15ª aula        Construir circuitos e isolá-los com mielina

  

Conceito de CHUNKING: pedaço, bocado, naco

A fluência é alcançada quando o indivíduo repete os movimentos por tantas vezes que já sabe como processar esses blocos como um só grande bloco.

Quando o chunking é bem realizado cria a miragem que provoca espanto, tipo CARAMBA!

Essa falsa realidade faz artistas, atletas e jogadores excepcionais parecerem superiores.

 

Habilidade

A habilidade – com sua graça e fluidez – é criada pelo acúmulo de circuitos pequenos e individualizados. Ações físicas também são constituídas de pedaços.

A habilidade consiste em organizar exercícios em blocos maiores e carregados de sentido; é o que os psicólogos chamam de chunking (divisão).

Habilidade é, em essência, o poder de agrupar e desagrupar pedaços – ou, para dizê-lo em termos de mielina, de disparar configurações de circuitos.

 

Ignição

Importância da IGNIÇÃO: disparo, motivação, interesse

— Na prática, o que sentimos quando isso acontece?

Como sabemos se estamos fazendo certo?

— O treinamento profundo é um treino reflexivo. O instinto deve fluir lentamente e dividir as habilidades em seus componentes.

 

 

 

Praxia… Foco na Prática

Um dos objetivos dos neurocientistas responsáveis pelo I Simpósio Internacional de Neurociência Aplicada à Educação (Rio,  jul./2015) era realizar uma ponte entre a ciência e professores.

Foi estruturado para dar conhecimento sobre os avanços da ciência de modo que professores em geral colhessem frutos e tornassem seus ofícios mais profundo e moderno. O mote escolhido foi promover uma “ponte entre   cientistas e docentes”. Infelizmente, os organizadores (URFJ) não apresentaram as “duas equipes” precedendo a contenda, tendo em vista as linguagens diferenciadas entre o mundo acadêmico e a prática em sala de aula.

Resultado: “NADA se aproveitou em dois dias de blá, blá, blá”. Note-se que fizemos oferta de palestra sobre o tema constante de nossos estudos, mas recusado tempestivamente.

 

DIÁLOGO COM PROFESSORES

 

Liberte a criança que há dentro de Você!

 

Construímos um Manual de Engenharia Pedagógica para as primeiras orientações aos ainda não identificados com métodos modernos de ensino. É o resultado de muitos anos de pesquisa, estudos e conceitos que edificamos por conta de nossa intuição e vasta experiência com crianças e adultos, especialmente naqueles indivíduos com pouquíssima ou nenhuma identificação com o esporte – voleibol -, dito por muitos profissionais com o mais difícil de ser ensinado.

Vale lembrar que o Manual aplica-se a todo e qualquer ensino esportivo, pois repleto de estímulos de aprofundamento em psicopedagogia, na novel neurociência, e em design instrucional, a principal carência nas universidades.

Dito isso, há um pressuposto que os interessados nas práticas que aqui estamos propondo, se imiscuam nas leituras propostas e, mais ainda, aprofundando-se em suas buscas, tal como fez este escriba. Por si só o Manual não é a “fonte” dos saberes, mas um guia para qualquer iniciante na “Arte de Ensinar”.

Nossa prática tem início em janeiro/1974, em Recife, quando de um curso para crianças, um programa grandioso desenvolvido pelo SESI-DN durante alguns anos. Naqueles momentos tornamo-nos pioneiro do minivoleibol no país.

 

 

1. Explorar o espaço repetidas vezes, atento aos erros, ampliando a área e desenhando um mapa mental até conseguirmos nos mover rapida e intuitivamente.

 

 

 

2. Dividir nos menores blocos possíveis. Construir circuitos confiáveis, atentando-se para os erros que então são corrigidos; decompor a habilidade e repetir cada circuito.

 

 

 

 

 

 

 

 

3. E assim são disparados os sinais que formam velozes circuitos de processamento.

 

 

 

 

Construindo vídeo, e-book

Inicialmente, uma panorâmica da quadra; em seguida, zoom para examinar detalhes em câmera lenta. Editar e-book.

 

Ignição, disparo, start, motivação

Criar ambientes motivacionais nos quais as crianças se apaixonem pelo que realizam. Que se sintam construtoras de sua “própria matemática”.

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Nota: com base no livro “O código do talento”, Daniel Coyle.

Melhores Treinos, Melhores Atletas

  – Como se adquire talento?

  – O que torna os indivíduos de sucesso diferentes do resto de nós? 

 – Qualquer talento depende unicamente de uma prática diferenciada, não de uma predisposição genética.  

 

Há pouco publiquei “Um Olhar no Voleibol Português”, em que sumarizo o desabafo do treinador brasileiro Rogério Lopes radicado em Portugal desde 1991. Numa de suas queixas deixa vir à tona o calendário das competições no país: são cinco meses de pura inércia para a maioria, sem jogos ou torneios, exceto para os selecionáveis e os compromissos internacionais. Esta é uma imposição da Fivb quando constroi o calendário anual. Sem criatividade, as Federações deveriam se esmerar para que tal lacuna não prejudicasse o próprio calendário. Entretanto, como deve ser o caso de muitas, fica a critério de cada uma realizar ou inventar algo para ocupar os filiados. Idêntico processo se desenvolve junto aos clubes em suas cidades. Nessas circunstâncias, o que fazer em matéria de treinamento dos jovens? Como treiná-los e mantê-los em uma atividade séria? Perceberão que a conotação do que seja ruim hoje, talvez encubra a real possibilidade de se realizar ensaios técnicos individualmente, que não se consegue em tempos de competição, quando a prioridade recai nos ajustes táticos, e até pelo pouco tempo disponível para as práticas. Então, o que é problema – 5 meses parado – cai do céu como solução para a totalidade de treinadores, haja vista que estão sempre a reclamar não terem tempo para treinar este ou aquele fundamento, legando a culpa aos formadores de atletas. Os erros na Formação permanecem por toda a vida atlética do indivíduo. Contudo, consertar é mais difícil do que criar ou manter. Saberiam fazê-lo? Espera-se que sim, pois perderam a justificativa de…”não tenho tempo”! 

Esta postagem, contendo raro depoimento de autor, um jovem atleta brasileiro em 1960, é o resultado de leituras sobre a nova teoria do treinamento profundo: “O código do talento” (The talent code), de Daniel Coyle, editado no Brasil pela Agir, 2010. Peço desculpas por citar-me, mas espero a compreensão de todos, pois era o que fazia por intuição, sem conhecer qualquer teoria psicológica.   

Propostas de Treinos Fora de Competições – Um Depoimento 

Sabendo como treinar o progresso de um mês pode ser equivalente a seis minutos.

Recuemos a 4 de novembro de 1960, quando tiveram início as finais dos campeonatos mundiais de voleibol no Brasil – masculino (IV) e feminino (III) – em Niterói e Rio de Janeiro. Neste mês, completara 21 anos de idade. Iniciei-me a treinar e jogar voleibol em 1958, em um pequeno clube de Niterói. Disputamos naquele ano os campeonatos municipais nas categorias juvenil e aspirante. Como eram poucos os clubes, basicamente rendeu-me poucas experiências e, então, como no exemplo acima de Portugal, estaria fadado a desistir do esporte. Todavia,  a ignição já estava presente graças à visão dos Mundiais; aquele jovem não podia se conter em si mesmo e saiu em busca de alternativas. A mais viável foi a praia, onde aos sábados e domingos jogava-se voleibol com bastante intensidade. E, inclusive, a grande maioria dos atletas federados, inclusive do Rio de Janeiro, na época o maior centro do País. Mas aquilo não lhe bastava, pois precisava adquirir rapidamente uma técnica que facultasse atuar com e contra tão excelentes jogadores. Então, resolvi autorregular-me, isto é, criei circunstâncias para meu treinamento seguindo o que ditavam minha intuição e raciocínio. Dessa forma, treinava solitariamente em um ginásio pobre, com uma única bola que me foi dada, deixada após o Mundial. Os ensaios eram religiosamente de 2 horas ininterruptas (9h às 11h), três vezes por semana. Aos sábados e domingos, jogos de 6 x 6  ou duplas na praia. Isto se desenrolou aproximadamente durante 3 meses. Ao final, rendeu-me um assustador e invejável desenvolvimento técnico, propiciando inclusive colocar-me entre os melhores atletas brasileiros e uma convocação para a seleção principal. O fato curioso é que comecei a treinar voleibol aos 18 anos, quatro anos depois, sem ter participado de campeonatos regionais, tornei-me um dos tops, e com invejável técnica – múltiplos fundamentos – superior em vários detalhes aos melhores do país. Sendo que era o mais completo, pois com 1,92m, atacando com preferência com a canhota (não sou canhoto), aprendera nos treinos a também atacar como destro e, principalmente, a executar com perícia a função de levantador. Em 1962, era o mais alto entre os selecionáveis e o de maior impulsão, sem jamais ter frequentado academia ou realizado exercícios com pesos. Enfim, ganhei a fama de ser um dos atletas de melhor apuro técnico de minha geração. Como consegui tamanho feito sozinho e em condições tão precárias? 

Antes, porém, um lembrete sobre a função e emprego da memória. Veja mais neste Procrie o artigo Aprender a Ensinar – Memória, 18/dez/2010.

Memória de curto prazo – Lembro-me, em 1984, durante Congresso de Mini Voleibol em Buenos Aires (Argentina), a fala do técnico italiano Pitera sobre a relação dos gestos desportivos – os movimentos – e a memória de curto prazo. Busquei durante algum tempo bibliografia a respeito e não encontrei. Agora, ao tomar conhecimento da teoria mielínica, parece vir à tona tudo o que buscava para interpretar o treinamento que realizei quando rapaz.

Atualmente, lendo na obra de Coyle, na década de 70 os psicólogos investigavam os fundamentos do processo humano de resolução de problemas. O primeiro projeto do pesquisador sueco Anders Ericsson tratou de investigar um dos dogmas mais sagrados da psicologia: a crença de que a memória de curto prazo é uma faculdade inata, fixa e limitada. O pesquisador mostrou que o modelo de memória de curto prazo então existente estava errado. A memória não era como o tamanho do pé; podia ser aumentada pelo treinamento. Neste caso, o que tinha limite? Todas as habilidades humanas eram formas de memória. Assim, quando uma campeã de esqui desce uma montanha a toda velocidade está utilizando estruturas da memória, dizendo aos músculos o que fazer e quando. O mesmo ocorre com um virtuoso do piano. Então, por que não seriam todos suscetíveis ao mesmo tipo de efeito de treinamento? Aqui reside a importância primacial do educador – professor ou treinador – em qualquer área do ensino.

Teoria Mielínica

A teoria mielínica é descrita como um programa para desenvolver habilidades especiais aplicáveis à vida pessoal e aos negócios. A ideia é aproximar teoria e prática, e tornarmos nossas aulas ou treinamentos observáveis à luz dessa nova teoria, que ainda tem muito a caminhar. Para tanto, antes de discorrer sobre o auto treinamento, aproximemo-nos de Coyle, pois como afirma “todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar de forma CERTA! O código do talento nos ensina como”.

———————————————-  A seguir, “Melhores Professores, Mais Talentos”.

 

Futebol de Talentos?

Rivais no Mundial de Clubes, Messi e Neymar podem atuar juntos no Barcelona. Foto: Reuters

Após o baile de bola que o Santos levou na final do Mundial Interclube, o assunto não poderia ser outro no país do futebol. Ou, pelo menos, era! Se todos os brasileiros já entendiam de futebol, atualmente está muito difícil conter as interpretações e “achismos” de técnicos, torcedores, fanáticos, entendidos, comentaristas, locutores e de gente que talvez nunca tenha chutado uma bola até mesmo numa quadra de futsal. A goleada sacudiu a nação e o sentimento de que devemos rever com profundidade os conceitos que regem nosso futebol atual. Todavia, quem deve conduzir essas rodadas de palestras? Os mesmos que aí estão há mais de meio século, os mesmos ex-jogadores que deveriam estar formando a Base das novas gerações ou os catedráticos de coisa alguma?

Talento e Habilidade

Estaria faltando talento aos nossos jogadores? Afinal, o que é talento e como se produzem atletas habilidosos? Podem-se criar talentos em outros desportos? Messi é considerado o melhor jogador de futebol do mundo já pelo segundo ano consecutivo. De onde vem o seu talento? Por que não é tão talentoso na equipe da seleção argentina?

É interessante também notar que a mídia no Brasil vá buscar explicações e soluções entre ex-jogadores, técnicos e comentaristas, esquecendo-se ou esquivando-se de leituras científicas que conduzem à prática de meios adequados ao que se denomina Treinamento Profundo, ou de Qualidade. O improviso na Formação já era, e com ele, as condições inadequadas de treinamento, especialmente por gente – quase sempre ex-atletas – sem formação específica na área pedagógica. Meros repetidores de um pragmatismo irrecuperável.

Habilidade vs. Talento

Fonte: Google Analytics

Um agradecimento

Não por acaso, mas este é o 365º título postado nesta excelente ferramenta – um blogue – que estamos a usufruir desde setembro/2009. Estatísticas anualizadas nos remetem nos dois últimos anos a uma média de 15 textos/mês, que parecem estar ao agrado dos quase 63 mil visitantes que consultaram pouco mais de 112 mil páginas. Como podem aquilatar nos mapas, as consultas nos chegam de 96 países dos cinco continentes, sendo que o Brasil detém a primazia  com 56.629 visitas (90%), oriundas de 702 cidades. Além disso, colocamos nas nuvens o Prezi-Procrie em agosto p.p., que já acumula nesta data visitas de 800 internautas, resultado estupendo que agradecemos com muito carinho tanta generosidade e partilhamento das informações.

Ensinar Voleibol, Futebol, Futsal, existe diferença? 

Frequento um sítio – CEV – e muitas vezes me animo a conversar com os professores que ali depositam o seu saber, comentários e dúvidas. Foi assim que me imiscui em um proveitoso bate-papo com professores de futebol e futsal. Como todos sabem, em um Centro de Referência de Iniciação Esportiva são reconhecidas as técnicas para ensino do movimento, isto é, a metodologia e pedagogia são (ou deveriam) ser compatíveis a qualquer tipo de ensino, isto é, não só aos desportos. Sigam a cronologia dessa feliz experiência e no que redundou de imediato. Tentarei resumir algumas passagens para não cansá-los.

O tema proposto foi Talento: Formar ou Detectar.

Proposta, por Prof. Enio Ferreira de Oliveira – (…) Gostaria de propor esta discussão após ler o livro Código do Talento. Talento nós formamos ou detectamos? Acredito que o professor de Ed. Física tem uma atuação mais global; antes de detectar talentos ou mesmo formá-los, seus objetivos têm que estar focados em formar cidadãos que saibam buscar e manter com prazer, qualidade de vida e boa saúde. (…) Dentro deste contexto o profissional deve detectar talento natural, não creio em formação de talentos, creio que lapidarmos diamantes, (…) na realidade polimos aquilo que já era natural. (…) Contrariando os conceitos do livro citado, creio que talento se detecta, se descobre, para eu desenvolver habilidades não pode se confundir com lapidação de talentos.

Comentários, por Roberto Pimentel – Professor Enio. Talento, nós formamos ou detectamos? Mas o que é talento? (…) tendo em vista que li e reli a obra de Daniel Coyle, devemos colocar para os demais colegas que possivelmente ainda não tiveram contato com o autor (a edição estaria esgotada) o conceito do que seja talento. No rodapé da página 21, está consignado como ele conceitua o termo: “À palavra talento muitas vezes se atribui um sentido vago e repleto de conotações igualmente imprecisas, sobretudo em se tratando de jovens – a pesquisa mostra que ser um prodígio não é um indicador confiável de sucesso duradouro. Em nome da clareza, definamos talento em sentido estrito: a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”. E continua, em tom de bom humor, “que me desculpem os jóqueis e os jogadores de futebol americano encarregados de interceptar os oponentes”. Na orelha pode-se descortinar todo o resumo desse trabalho: “Todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar da forma certa!” E a obra nos ensina como. O que depreendo do livro é que ele acentua e propugna uma melhor qualidade no ensino em qualquer área do conhecimento – música, teatro, esportes, ciências, letras, arte – e nos dá a oportunidade de aquilatar o que neuro cientistas descobriram e ele pode constatar em suas andanças pelo mundo, inclusive aqui no país, na área de sua atuação, o futebol e futebol de salão (ver pág.25 e seguintes, “Como o Brasil produz tantos grandes jogadores”?). Pelos seus dizeres, parece não ter entendido que a teoria do Treinamento Profundo por ele defendida confunde-se com as aulas com qualidade e um propósito bem definidos que levem o jovem a se desenvolver naquilo que ele próprio escolheu para si. E, como tal, é um programa que qualquer professor pode desenvolver e aplicável à vida pessoal, aos negócios etc. É como enfatizam, um estudo fascinante que amplia excelentes formas de aprendizado. Em outras palavras, uma metodologia calcada na mielina. Estarei postando (…) algumas experiências a este respeito. Devo dizer que, mesmo sem conhecer a teoria, por pura intuição, exercitei-me nos estudos – matemática, português – e no voleibol da forma que ele defende. E, sem falsa modéstia, dei-me muito bem! Recomendo àqueles que almejam qualidade em seu labor que leiam e releiam o excelente livro. Foi muito bom você ter colocado tema tão extraordinário. Ele nos leva a uma outra questão: “o que vem a ser um bom professor”?

Comentário, por Enio Ferreira de Oliveira – Obrigado prof. Roberto, sua resposta é sim de uma contribuição importantíssima, eu li este livro emprestado de um amigo, tenho procurado para comprar ainda não o achei. Esta mesma discussão coloquei no meu blog e gostaria muito de sua contribuição, se for possível, temos tido lá, com vários professores, um excelente debate.

Comentário, por Roberto Pimentel no blog do prof. Enio – Sinto-me um intruso, fora do meu ninho, pois nada entendo de futsal e, de cara, vejo que o blogue é só para apaixonados pela modalidade. Entretanto, como sou curioso e recebi o convite para dar uma espiadinha no debate, devo dizer-lhe que me enriqueci com o que li. Todavia, como o debate acalorado situa-se no âmbito da Psicologia Pedagógica e Metodologia, imagino que devam firmar o conceito do que seja talento. Alguns colegas seus já manifestaram suas opiniões e, como disse um deles, talvez estejam dando voltas em círculo, dizendo a mesma coisa, porém com conceitos diferenciados. As conversas se tornarão alongadas e, talvez improdutivas. Neste caso, aconselho-os à leitura de bons autores sobre o tema. De minha parte, longe de me considerar um expert, entendi que o talento é algo que pode ser incorporado diariamente às suas habilidades – naturais ou não – independentemente das características genéticas. Assim, como apregoam os defensores do treinamento profundo, um indivíduo poderá se desenvolver em qualquer área do conhecimento humano desde que receba de seu instrutor a orientação adequada, no caso, o “caminho mielínico” de que nos falam neuro cientistas. A acreditar nisto, trata-se de o professor “saber como treinar o jovem para auxiliá-lo no seu desbravamento motor”. Considere-se, então, que haverá diferenças neste desenvolvimento entre os alunos, mercê de outros pré-requisitos a determinados fazeres. Mas, até aonde for possível, e dentro dos seus limites impostos pela natureza, ele se desenvolverá plenamente. Em outras palavras, necessariamente o aluno não tem que chegar ao máximo na carreira, mas alcançar o seu máximo! É certamente a posição mais difícil, que requer muito conhecimento e experiência, sendo imprescindível que o mestre conheça profundamente cada um dos seus alunos. Parabéns a todos pelo nível das discussões.

Comentário, por Samuel – (…) Se lermos detalhadamente, estamos andando em círculos, com conceitos diferentes, vamos marcar sim, seria uma boa estamos juntos no MSN ou no próprio Facebook. Professor Roberto Pimentel, muito obrigado por também acrescentar muito em nossa discussão e ontem em conversa com Vagner Cardoso tivemos umas coisas em comum na conversa, então assim vejo que todos nós pensamos mais ou menos igual sobre este fator talento, porém temos alguns conceitos que ainda são diferentes em alguns casos. Por isso foi muito bom o debate para termos a oportunidade de compartilhar os pensamentos e até mesmo de modelar melhor nossos conceitos.

Comentário, por Lucas – (…) Entendo que os talentos existam em todos nós. E que pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. Acredito que os talentos de nossos jogadores são especialmente aflorados devido à forma como o futebol e futsal são vivenciados em nosso país. Crescemos jogando na rua, no recreio, com bola de plástico, de couro… O jogador brasileiro é estimulado desde muito cedo, acumulando uma gama de experiências enormes, talvez daí o nosso elevado nível técnico. Por fim, gostaria de deixar claro que acredito que todos podem ser bons em algo, com mais ou menos dificuldade. Para os gênios as coisas apenas acontecem mais naturalmente do que para nós os esforçados!

Comentário, por Roberto Pimentel, no CEV – Devo informar aos participantes do debate que fiz uma visita ao blogue do prof. Enio e lá deixei impressas algumas considerações, especialmente no que se refere ao valor da obra citada, “O código do talento”. Agora, surge um comentário muito interessante do prof. Lucas: (…) Pessoas que não detém um determinado dom podem sim vir a desenvolver uma grande habilidade em determinada função se a ela for ensinada de maneira correta. Nesta acepção, quer me parecer que talento (que chamou dom) e habilidade se confundem e, então, passível de ser desenvolvido (podem vir a desenvolver…). E continua: (…) em determinada função (que poderíamos dizer para maior clareza, direção, escolha). Entendo que uma escolha do indivíduo para desenvolver uma determinada habilidade está relacionada com o seu objetivo em aprender algo, como matemática, tocar piano, jogar tênis, pintar, cantar etc. Acrescenta ainda uma condição: se for ensinada corretamente. Lembro que terminei meus comentários (ver acima) com a pergunta: “O que vem a ser um bom professor”? Posto que para ensinar corretamente, somente um professor experiente e capaz. Felizmente, temos no Brasil muitos bons professores, que irradiam saber e cultura, cativando os jovens e tornando os caminhos da educação menos tortuosos àqueles que chegam ao mercado de trabalho. Ocorre que as formas de ensinar – os métodos – podem não ser os mesmos, o que os diferencia aos olhos menos atentos. Apenas seguem caminhos diferenciados para alcançarem o mesmo objetivo. Além disso, o carisma que possam despertar no outro, a pedagogia, seus sentimentos em relação aos jovens e à profissão, ampliam essas diferenças, ainda mais quando sabemos todos que Ensinar é uma Arte. Assim, é importante que cada professor esteja convencido e sempre busque cada vez mais aprimorar-se nessa difícil arte.

Coyle nos propõe reexaminar o processo do treinamento que ele denomina profundo, graças às suas pesquisas, leituras, buscas, viagens pelo mundo. Suas conclusões não são verdades absolutas, mas nos impelem a pensar e a também pesquisar, uma vez que sabemos nada é definitivo em matéria de Educação. O treinamento profundo não se diferencia do treinamento superficial na percepção de quem os realiza; esta seria enganosa, ou uma ilusão de competência. O treinamento profundo tem como um de seus princípios a aprendizagem situada no ponto ideal (correto), isto é, no limite de sua capacidade, de maneira que force o indivíduo a disparar seus circuitos neurais adequados. Como criar a habilidade em alguém? O indivíduo já nasce com ela ou é passível de ser ensinada e desenvolvida?  E mais: Como ensinar a desenvolver uma habilidade específica? Finalmente: Como estabelecer o ponto ideal da aprendizagem? (conceitualizada por Vygotsky nos anos 1920 como zona de desenvolvimento proximal). Essas e outras questões poderão ser discutidas (no meu blogue). Estarei aguardando-os com especial carinho.

Comentário, por Enio Ferreira de Oliveira (no CEV) – Professor Roberto, Muito obrigado por sua participação no meu blog, tenha certeza que nos enriqueceu muito com suas considerações. Estive lendo uns textos no site recomendado por você e pude constatar o excelente nível e com certeza passo a ser um assíduo frequentador. Uma dúvida, eu citando a fonte e o autor, é possível transcrever alguns textos no meu blog? Se isto for possível, sempre que o fizer lhe informarei. Vou recomendar a todos os amigos que verdadeiramente se interessam por crescer na profissão de educador.

Comentário, por Roberto Pimentel (no CEV) – Prezados jovens, Imbuí-me de uma missão (www.procrie.com.br/quemfaz/) cuja ferramenta imprescindível é a web. Desde que me aposentei (1991), sempre manifestei meu desejo de conversar com novos professores sobre a Arte de Ensinar, buscando oferecer-lhes mais alternativas para suas ações. Não encontrei eco na minha cidade, Niterói, confirmando-se o aforismo ninguém é profeta na sua própria terra. Ocorre que, dois anos depois de lançar o Procrie na internet, ocorreu uma espetacular mudança comportamental entre os meus pares niteroienses, pois já formam um grande contingente de visitantes. Que bom! A esse respeito, vejam o texto intitulado O Professor e o Missionário. Passarão a entender que estou aqui para servi-los no que me for possível. É claro que tenho demasiadas limitações, mas nada me assusta quando se trata de poder contribuir com uma palavra ou mesmo o meu silêncio respeitoso diante da fala de alguém. Quero estar próximo de todos. Sintam-se à vontade para usufruírem a melhor maneira que lhes aprouver desses escritos, muitas vezes sem muita valia, mas que encerram profundo sentimento de generosidade e carinho com a missão de ensinar a outrem. Só recomendo que tenham o cuidado de aprender interpretar e criticar as ideias dispersas entre tantas linhas. Assim, para uma análise do que vimos realizando, sugiro uma viagem pelos títulos do Novo Sumário, com uma sinopse das postagens. Sei que é muita coisa, mas vocês podem se programar e fazer um pit stop para, em outro dia, recomeçar a caminhada. Ter uma visão global do Procrie é recomendável, pois terá mais confiança (ou não) no autor. É o que se deve ensinar às crianças quando tomam da prateleira um livro desconhecido: examinem o sumário e, se houver a orelha, os comentários sobre a obra e o autor.

De futuro, certamente gostaria de saber de que forma soam aos seus ouvidos as mensagens registradas e, mais ainda, como poderia auxiliá-los nos seus trabalhos diários e planos de vida. Assim, qualquer manifestação no site, não importa o seu teor, é enriquecedora e cativante para o autor. Sem os comentários, cria-se um vazio muito grande e às vezes, desconcertante, pois sobrevém a indagação: “Será que estou agradando”? Ou, ainda, “de que precisam os novos professores”? Vocês são o motivo de eu estar por aqui. Agradeço por me confiarem o seu reconhecimento na arte de servir ao próximo.

Boas leituras.

Como se Adquire Habilidade? (Parte II)

Desenho: Beto Pimentel.

Formação de bons hábitos

“A prática não leva à perfeição; uma prática perfeita é que leva à perfeição.”

Como nada é definitivo especialmente em matéria de Educação, cito algumas considerações de autores consagrados em torno do significado pedagógico dos exercícios e sua aplicação. O leitor atento poderá discernir e optar pelas buscas em seu processo educativo e o melhor caminho a seguir. Aliás, caminhos, uma vez que nunca é demais pesquisar e tentar. Boas leituras.

Desde muito tempo, ainda atuava como técnico ou atleta, preconizava que não se deveria treinar muito, mas sim com qualidade. Imaginava que realizar demasiadas vezes um mesmo movimento para criar o hábito o executor poderia incorrer em dois perigos: o desgaste nervoso pelas repetições contínuas e permanentes; e a qualidade ou excelência na prática, isto é, a cada nova tentativa ou ensaio, buscar a perfeição nos gestos. Em suma, a AUTORREGULAÇÃO.

Treinamento reflexivo. Este tipo de treinamento, que o autor denominou treinamento profundo, na prática nos revela a sensação de explorar um quarto escuro e desconhecido. Começamos devagar, esbarramos na mobília, paramos, pensamos e começamos de novo. Lentamente e com certo incômodo, exploramos o espaço repetidas vezes, atentando aos erros, ampliando aos poucos a área do quarto a nosso alcance, desenhando um mapa mental do lugar até conseguirmos nos mover por lá rapida e intuitivamente. A maioria de nós faz um pouco desse treino. O instinto para ir mais devagar e dividir as habilidades em seus componentes é universal. Era o que diziam nossos pais e treinadores quando nos aconselhavam: “Um passo de cada vez”. Ocorre que os professores que adotam essa metodologia, fazem-no segundo três dimensões. Primeiro, os participantes encaram a tarefa como um todo – como um grande bloco, o megacircuito. Segundo, dividem esse bloco nos menores blocos componentes possíveis. Terceiro, brincam com o tempo, retardando a ação, para depois acelerá-la, a fim de conhecer sua arquitetura interna. (D. Coyle, O código do talento)

Significado pedagógico. Ensina-nos a Psicologia que o homem é um complexo vivo de hábitos e que em seu comportamento – espécie de reações organizadas – apenas 0,001 dessas reações é determinada por alguma coisa além do hábito. Por isso o objetivo do professor é infundir no aluno hábitos que na vida possam trazer proveitos. Pode-se afirmar, então, que 99% dos nossos atos são executados de modo automático ou por hábito. Todos os nossos atos e até mesmo as falas comuns consolidaram-se em nós graças à repetição em forma tão típica que podemos vê-los quase como movimentos reflexos: para toda sorte de impressões temos uma resposta pronta, que damos automaticamente. Seria de bom alvitre não deixar de considerar o significado pedagógico dos exercícios a serem propostos  (o grifo é meu) na formação de bons hábitos. Para a aquisição de um comportamento consciente tenha-se em mente que antes de cometer algum ato temos sempre uma reação inibida, não revelada, que antecipa o seu resultado e serve como estímulo em relação ao reflexo subsequente: “Todo ato volitivo é antecedido de certo pensamento, isto é, acho que pego um livro antes de estender a mão para ele”. O fato básico é que a noção anterior do objetivo corresponde ao resultado final. Não estaria implícito aqui todo o mistério da vontade? (David Wood, Como as crianças pensam e aprendem.)

Nível de exigência. Esta atitude do professor, que podemos denominar nível de exigência (ou de tolerância), nada tem a ver com aspectos disciplinares, mas, ao contrário, calcada em conhecimento prático e científico. O atleta deve internalizar em sua memória o movimento completo. Por outro lado, imagine o treinador que permite e aplaude atuações não condizentes com o nível técnico desejado. Para todos os efeitos, trata-se de complacência e, talvez, insegurança no trato com atletas, especialmente os de ponta. Presenciei vários casos no Rio de Janeiro, inclusive com atletas medalhistas olímpicos de ouro.

Exercícios-chave, educativos, transferência (transfert). Aconselha-nos Jean Le Boulch o abandono das tentativas inúteis de procurar exercícios-chave com alto poder de transferência. Suas observações tenderam a mostrar que a aprendizagem adquirida relativamente a uma parte da situação não o é relativamente a esta mesma parte inserida num todo novo. Em outras palavras, “as partes reais do estímulo objetivo não são necessariamente partes reais da situação vivida pelo indivíduo”. A consequência desta opção na aprendizagem é imediata e pode ser traduzido por aquilo que expressou M. RYAN (EUA), treinador de atletismo por ocasião de um congresso mundial após uma pergunta que lhe solicitava exercícios próprios para facilitar a aprendizagem do salto com vara: “Apenas o salto com vara prepara para o salto com vara e qualquer exercício que se lhe avizinhe, quanto mais próximo, tanto mais prejudica a aprendizagem”. Esta é uma concepção a que nos associamos de bom grado, mas repõe em discussão a utilização dos chamados exercícios educativos que ainda precedem a aprendizagem de um gesto técnico complexo nas progressões de muitos instrutores.

Nota – Atenção que se atribui muitas vezes à palavra talento um sentido vago e repleto de conotações igualmente imprecisas, sobretudo em se tratando de jovens. Por talento definamos em sentido estrito: “a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”.

E por fim, como você procederia para criar uma FÁBRICA DE TALENTOS  com um grupo de alunos? E se este grupo fosse constituído de 40 ou 240 crianças? Que exercícios devem ser propostos? Com que significado pedagógico?

Como se Adquire Habilidade? (Parte I)

O que faz um paraquedas na aula de voleibol?

Treinamento Profundo (de Qualidade)

“Qualquer discussão sobre o processo de aquisição de habilidades deve logo de saída levar em conta um fenômeno que conheci como Efeito Caramba”. A denominação se refere ao misto de descrença, admiração e inveja intensas que sentimos quando vemos um talento aparentemente saído do nada. Assim se expressa Daniel Coyle no capítulo 4 do livro O código do talento, em que discorre sobre as regras do treinamento profundo. Nas viagens feitas às fábricas de talento, Coyle testemunhou uma série de saltos significativos no nível de habilidade dos alunos. Como se percorresse uma série de dioramas, ia encontrando espécies cada vez mais evoluídas: os pré-adolescentes (que eram muito bons), os adolescentes de 15 a 17 anos e, por fim, os adolescentes acima dessa faixa, verdadeiros ases. Ele conheceu isto com o nome Efeito Caramba. A rapidez com que progrediam era assombrosa: cada grupo era incrivelmente mais forte, mais veloz e mais talentoso que o anterior, o que não o impedia de exclamar: “Caramba”! Coyle observou que existe um padrão, uma regularidade na percepção do próprio talento por seu detentor que a torna característica do processo de aquisição de habilidade.

Daí vem uma importante questão: qual a natureza desse processo capaz de gerar duas realidades tão díspares? Como esses indivíduos, que parecem ser iguais a nós, de repente se tornam talentosos, embora não tenham consciência disso, ignorando a verdadeira dimensão desse talento?

Notas:

  1. Fábrica de talentos eram locais – salas, galpões – desprovidos de qualquer conforto maior em que verdadeiros mestres realizavam suas aulas para alunos comuns, mas que devido à metodologia empregada, conseguiam desenvolver-se surpreendentemente naquilo que praticavam. 
  2.  Por talento definamos em sentido estrito: “a posse de habilidades repetíveis que não dependem do tamanho físico”. (D. Coyle)

Busca de nova metodologia. Mas enquanto isto, façamos breve pausa naquele relato para chamar a atenção do leitor para um artigo postado aqui em 27/nov./2009, sob o título Teoria vs. Prática, em que converso com João Crisóstomo sobre sua tese intitulada Volei vs. Volei. Naquele momento, concluímos sobre a importância de uma infância sadia repleta de movimentos e peripécias. Nada que seja demasiadamente formal, em que os indivíduos possam exercer o seu direito de simplesmente brincar. As crianças são os próprios construtores de sua matemática. Uma variação também já foi registrada em um colégio de Niterói onde os alunos dispõem de vários minicampos no pátio para se recrearem com o voleibol da maneira que escolherem: professor não entra! Assim, fez-se em mim o que muitos anos mais tarde este estudo viria a demonstrar com bastante autoridade. Sempre procurei examinar o porquê de minha relativa competência, que instintivamente me levava a considerar os episódios múltiplos das memórias corporais que adquiri na infância. Agora tenho certeza que aquela intuição era o prenúncio da verdade. Por isso, advogo que ninguém aprende adequadamente um movimento, p.ex. da cortada, se sequer sabe arremessar um objeto. Então, passei a preconizar que as crianças aprendam brincando e que essas brincadeiras levem-nas a lançar, saltar e transpor obstáculos organizar-se em torno de um paraquedas, chutar bolas, esquivar-se de arremessos, agachar-se e progredir, rolar etc., tudo isso antes do jogo. Deixo-as brincar de jogar voleibol sem exigências táticas ou técnicas. No fim, acabam aprendendo a jogar sozinhas e com muita alegria. É como aprender a andar de bicicleta, quando se dão conta, já saem pedalando.

(continua…)

Primeiro Grande Passo

Alunos do Ensino Fundamental assistem e participam das aulas no Colégio Batista, Rio de Janeiro.

O Professor e a Escola  

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência. (Henry B. Adams)   

O que acontece no cotidiano das escolas, mesmo a mais bem apetrechada, com poucas dificuldades? Como são formados e que preparo tiveram os professores de Educação Física? Como se desenvolvem as aulas de Educação Física? Seriam negligenciadas pela maioria dos educandários no Brasil? E as famosas “escolinhas”?  

Quer me parecer que as respostas a essas indagações podem ser investigadas a partir da figura principal: o professor.  

As “escolinhas” referenciam um determinado desporto com poucos alunos. Trata-se de uma atividade extracurricular e com pouca imaginação, e pouco rentável, embora se atribua a ela uma remuneração à escola e ao professor. Mas por que este mesmo professor não desenvolve um trabalho qualitativo com as suas classes? Por que a maioria não deseja aprender ou praticar? Será que o professor conhece uma pedagogia em que possa transformar um aluno reticente no aprendizado em um entusiasta desta ou daquela atividade? Qual o interesse do professor? O fato é generalizado em todo o Brasil: professores mal preparados em Pedagogia nunca conseguirão atuar no seu mister com um mínimo de qualidade. O detalhe é que não conhecem e pouco se interessam por tais estudos e as universidades em que são formados menos ainda. Estarão fadados ao insucesso e, com isso, arrastando legiões de alunos para o inconformismo com a atividade física, uma vez que o professor não conseguiu despertar o seu interesse. Quer uma prova? Indague a uma amiga como foi sua atividade física na época da escola. Invariavelmente, todas terão a mesma resposta: “Foi frustrante”! Aqui se aplica a influência negativa de que nos lembra Henry B. Adams, “um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.”  

Psicologia do Trabalho do Mestre  

(Com base nos livros Psicologia Pedagógica, Vigotski, L.S.; e O Código do Talento, Daniel Coyle)

A pesquisa que deveria estar sempre presente no cotidiano escolar deveria ter como objeto o desenvolvimento da criança, particularmente o seu desenvolvimento mental, que se realiza em função da aprendizagem, da atividade. E, pelo que se sabe atualmente, o pensamento é uma das funções mais importantes nessa fase da idade escolar. Como a criança estabelece a causa, a relação e a dependência entre as representações? Como investigar a relação entre os processos de desenvolvimento e aprendizagem?  

Memória e Treinamento. Várias teorias foram defendidas por psicólogos eminentes para responder a tantas indagações no século passado. Entretanto, surgiu agora uma outra teoria já explicitada resumidamente no artigo “O Circuito do Ensino” (9.2.2011) sobre o treinamento profundo, ou um treinamento com qualidade.  Neste momento entra em cena o sueco Anders Ericsson, nascido em 1947 num subúrbio de Estocolmo. Ao longo dos anos sua curiosidade levou-o a pesquisas na área de psicologia em meados dos anos 1970, no Royal Institute of Technology. Nessa época o mundo estava mudando. Em universidades na Inglaterra e nos Estados Unidos, uma revolução cognitiva estava em curso, liderada por psicólogos, especialistas em inteligência artificial e neurocientistas. Todos os dados convergiam para o que Ericsson procurava: um território inexplorado. O que era o talento? O que tornava indivíduos de sucesso diferentes do resto de nós? De onde vinha a excelência? Ericsson conseguiu demonstrar que a memória de curto prazo, ao contrário dos dogmas mais sagrados da psicologia, não é uma faculdade inata, fixa e limitada. A memória pode ser aumentada pelo treinamento. Se a memória de curto prazo não era limitada, o que tinha limite?  

Medindo a prática. Assim, concluiu que todas as habilidades humanas conhecidas eram uma forma de memória. Por que não seriam todas suscetíveis ao mesmo tipo de treinamento?  No entanto, se as pessoas são capazes de transformar o mecanismo que intervém no desempenho por meio do treinamento, então “se trata de um espaço inteiramente novo”, concluiu. “É um sistema biológico, não um computador; pode construir a si mesmo”, acrescentou. E assim Ericsson iniciou sua odisseia de trinta anos pelo reino do talento. Lembrando que ele era psicólogo, não neurologista, e a imagem de ressonância magnética com tensor de difusão ainda não tinha sido inventada. Em vez disso, ele estudou o processo do talento de um ângulo igualmente vital: mediu a prática. Ou melhor, mediu o tempo e as características dessa prática.  

Nos próximos artigos sobre o assunto comentaremos o trabalho de Coyle a respeito da habilidade de ensinar excepcionalmente bem, um talento como qualquer outro. Aguardem!