Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (III)

Maracanãzinho, Brasil x Tchecoslováquia. Foto O Dia. Acervo Marly.

Organização dos Campeonatos                               

José Gil Carneiro de Mendonça foi o organizador e administrador do Mundial; o Professor Paulo Emmanuel da Hora Matta, o supervisor e coordenador da equipe masculina, cujo técnico era o santista Geraldo Faggiano, auxiliado por Heckel Raposo (Botafogo). No feminino, Zoulo Rabello (Fluminense) era o técnico principal auxiliado pelo mineiro Hélcio Nunan Macedo (Mackenzie). O bureau central foi montado no Automóvel Club do Brasil, no Centro do Rio e o Governo Federal não cedeu um centavo sequer.                               

As equipes foram organizadas em Chaves para o Torneio Classificatório, a saber:                         

 
Masculino        Local              Países
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Chave Y    B. Horizonte(MG)  Romênia, Polônia, Peru
Chave Z    B. Horizonte (MG) EUA, França, México, Rep. Dominicana
Chave W    Santos (SP)       Brasil, Uruguai, Venezuela, Índia(WO)
Chave V    Santo André (SP)  Japão, URSS, Paraguai
Chave X    São Paulo (SP)    Tchecoslováquia, Hungria, Argentina
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Obs: A equipe da Índia, apesar de inscrita, não compareceu.
W.O. = Abreviação esportiva para Walk over: a competição é ganha devido à ausência do oponente.
Feminino        Local                             Países 
Chave X    B. Horizonte (MG)        Brasil, EUA, Alemanha Oc., Paraguai(WO)
Chave Y    B. Horizonte (MG)        URSS, Tchecoslováquia, Peru
Chave V    Santos e Sto André (SP)  Japão, Polônia, Argentina, Uruguai
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Obs: 1) A equipe do Paraguai, apesar de inscrita, não compareceu. 2) Os jogos femininos em B. Horizonte nos ginásios do Paissandu e do Minas T.C.Abertura. Os sorteios para os jogos da fase final foram realizados em 1º de novembro, na sede do Automóvel Clube do Brasil, no Rio. Participaram desse turno dez equipes masculinas e seis femininas classificadas na fase eliminatória realizada em São Paulo, Santos, Santo André e Belo Horizonte. Os jogos finais foram realizados a partir do dia 3 de novembro no Maracanãzinho e no ginásio do Caio Martins (Niterói), enquanto que o Torneio de Consolação foi disputado em Volta Redonda (RJ), entre os dias 5 e 6 de novembro com a seguinte constituição:                           

Abertura. Os sorteios para os jogos da fase final foram realizados em 1º de novembro, na sede do Automóvel Clube do Brasil, no Rio. Participaram desse turno dez equipes masculinas e seis femininas classificadas na fase eliminatória realizada em São Paulo, Santos, Santo André e Belo Horizonte. Os jogos finais foram realizados a partir do dia 3 de novembro no Maracanãzinho e no ginásio do Caio Martins (Niterói), enquanto que o Torneio de Consolação foi disputado em Volta Redonda (RJ), entre os dias 5 e 6 de novembro com a seguinte constituição:                                

Feminino: Peru, Argentina, Uruguai e Alemanha Ocidental.                                

Masculino: Uruguai, Argentina, Peru,  Rep. Dominicana e México.                                

No dia 3 de novembro, com a presença de autoridades desportivas do país, além do presidente da Federação Internacional de Volleyball Amador e do presidente da Confederação Brasileira de Volleyball, Paulo Mendes, o Ministro da Justiça e Negócios Interiores Armando Falcão, declarou abertos os campeonatos que pela primeira vez foram disputados no Brasil. O governador do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Silveira, foi outro que se fez presente à noitada inaugural do turno final.                                

Cerimonial de Abertura – Com as delegações participantes ao turno final já na quadra foi levado a efeito o cerimonial de abertura com o hasteamento solene das bandeiras de todos os países presentes, sob os acordes do hino nacional brasileiro. Álvaro e Marly, capitães das equipes brasileiras, pronunciaram o juramento do atleta e, em seguida, uma homenagem ao fundador do esporte da rede, o norte-americano William Morgan.                                

Jogo Inaugural – o match inaugural colocou em ação a União Soviética e os Estados Unidos. O que seria aparentemente um jogo tranquilo para os soviéticos, confirmado pelo primeiro set (15×7), surpreendeu porque os americanos tiveram empolgantes performances nos demais sets, perdendo o segundo por 15×13 e, no terceiro, os soviéticos somente conseguiram a vitória por 16×14 em cotejo que maravilhou o público. A seleção masculina brasileira estreou no dia seguinte (4) nessa fase final contra a França no ginásio do Caio Martins. Por seu turno as meninas brasileiras fizeram sua estreia na véspera, atuando contra a Tchecoslováquia.     

 
  

Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (I)

Em lance da partida, Marly ultrapassa o bloqueio duplo das adversárias, mas não consegue evitar a derrota por 3x0 na partida contra a Tchecoslováquia no Maracanãzinho, no dia 4 de novembro.

História dos Campeonatos Mundiais de 60          

O País sediou o IV Campeonato Mundial masculino e o III Campeonato Mundial feminino. As finais foram disputadas nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói no mês de novembro. No masculino, medalha de ouro para a URSS, seguida da Tchecoslováquia, Romênia, Polônia e o Brasil em 5° lugar. O jogo entre estas duas últimas equipes no ginásio do Caio Martins, Niterói, foi concluído em torno das 2h da madrugada, com vitória polonesa por 3×2. Na versão feminina as russas foram tricampeãs, seguidas pela surpreendente equipe do Japão, Tchecoslováquia, Polônia, Brasil e Estados Unidos.  

Nessa década, soviéticos e tchecos continuaram a dominar as competições mundiais. Mas começavam a surgir seleções fortes de outros países, como a japonesa, a búlgara e a romena. Reflexo dos Mundiais, houve incremento do número de praticantes do esporte: surgiram  as “peladas” em terrenos baldios, especialmente em Icaraí e Santa Rosa, bairros do entorno do Caio Martins, além da prática nas Redes da Praia de Icaraí. O voleibol virou mania entre os jovens em Niterói e a Prefeitura tornou a incentivar a prática através de novas versões dos Campeonatos Colegiais. A partir da prática nas escolas, começam a surgir novos adeptos e grandes valores, inclusive com passagem nas seleções nacionais ainda nesta década.      

Colocação Geral        

Masculino: 1) URSS, 2) Tchecoslováquia, 3) Romênia, 4) Polônia, 5) Brasil, 6) Hungria, 7) Estados Unidos, 8) Japão, 9) França, 10) Venezuela, 11) Argentina, 12) Paraguai, 13) Uruguai, 14) Peru, 15) Índia, 15) México, 15) Rep. Dominicana. (estes três últimos não compareceram, apesar de inscritos)    

Feminino: 1) URSS, 2) Japão, 3) Tchecoslováquia, 4) Polônia, 5) Brasil, 6) Estados Unidos,7)Peru,8)Argentina, 9) Uruguai, 10) Alemanha Ocidental, 11) Paraguai (não compareceu apesar de inscrito).     

Antecedentes. Ainda em Paris, no ano de 1956, na seção de abertura do Congresso Mundial de Voleibol, dezenas de delegações participantes apresentaram suas credenciais e, após as proposições protocolares, iniciaram os debates em torno de vários itens constantes da Ordem do Dia. Desses, o que maior importância suscitava era o que indicaria a colocação dos países nas várias séries de cada categoria. No dia seguinte, o Congresso trataria da próxima sede para os Campeonatos e já se previa um duelo acirrado entre a Polônia, já com prioridade antecipada, e o Brasil, solicitador há um mês. Os observadores acreditavam que a Polônia, além da simpatia óbvia de todo o bloco da Cortina de Ferro, contaria ainda com o apoio de muitos países europeus interessados em não sair do continente. Todavia, havia esperança de que a própria Polônia abrisse mão em favor do Brasil, possibilidade que veio a se concretizar. Gil Carneiro participou de dois outros congressos na Europa para consolidar o Brasil como sede do Mundial. O país concorrente – Polônia – aceitou as condições oferecidas pelo Brasil, contribuindo dessa forma para que pudéssemos patrocinar o certame. A quantia de Cr$1.250.000,00 oferecida para transporte da delegação polonesa foi aceita e, no caso do campeonato ter saldo favorável, o Brasil se comprometeu a aumentar a cota da Polônia. Gil teve também a ajuda do russo Savin, pai do excelente jogador que brilharia no cenário mundial na década de 80. Ficou também acertado que o país não poderia arcar com despesas de hotel para as delegações e que as mesmas seriam alojadas em dependências modestas, no próprio ginásio, caso contrário o Brasil não poderia realizar o evento. Gil conseguiu os votos da URSS, França, Tchecoslováquia e Iugoslávia, países que comandavam a FIVB.           

Confederação Brasileira de Volley-Ball. Para viabilizar os campeonatos, a primeira providência foi empossar na presidência da CBV alguém de prestígio e suficiente crédito para alavancar todas as providências e dar credibilidade à estrutura que teria que ser montada. Esta pessoa foi o Sr. Paulo Monteiro Mendes, na época presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, localizada em Volta Redonda (RJ). A sede da companhia ficava na cidade do Rio de Janeiro e, ela mesma, já desenvolvia apoio ao voleibol, com uma equipe competitiva formada em 1957-58, com excelentes atletas – Quaresma, Borboleta, Roque, Afonso, Newdon – integrantes da seleção de 60. Todos eram funcionários da CSN e participavam dos seus eventos esportivos. Era o início de uma profissionalização no esporte, como veremos.           

 Sedes. Foram, então, criadas três sedes para a fase classificatória na qual também o país-sede – o Brasil – participaria. Assim, as equipes foram distribuídas por Belo Horizonte (MG), São Paulo (capital), Santo André (SP) e Santos (SP). O Brasil (masculino) classificou-se jogando nesta última. A fase final desenvolveu-se em Niterói (RJ) no ginásio do Caio Martins e Maracanãzinho, no Rio de Janeiro (DF), sendo que todas as equipes estavam concentradas no ginásio do Caio Martins, em Niterói, exceção da URSS (masculina), que utilizou um hotel de Copacabana, no Rio.     

A seguir veremos como a “diplomacia brasileira” através de José Gil Carneiro de Mendonça conseguiu trazer para o Brasil esses Campeonatos Mundiais. Aguardem.