Regras 1920-50

Regras nas décadas de 20 e 30

O voleibol é um dos esportes que mais sofreu alterações nas regras. Inicialmente procurou-se dar maior ênfase às jogadas de ataque e, logo depois, pensou-se mais seriamente em termos de defesa. As mudanças tiveram como objetivo tornar o esporte cada vez mais atraente, o que contribuiu para levá-lo à condição de segundo na preferência popular. Da criação do vôlei, em 1895 até a década de 50, foram feitas inúmeras modificações nas regras. Nesse período, como foi criado nos EUA, os americanos ditaram as normas do jogo. Sua influência só foi minimizada com o surgimento da Federação Internacional, em 1947.    

Em sua fase inicial técnicos e dirigentes não perseguiam uma linha de pesquisa que beneficiasse o desenvolvimento do esporte e as Regras. A linha de treinamento era ditada e focada em privilegiar o ataque em detrimento da defesa, justificada até pela atração que o gesto de atacar (com violência) exerce sobre os jovens, especialmente os rapazes. As técnicas individuais (e coletivas) de defesa sempre foram negligenciadas e, até nossos dias, relegadas a segundo plano por técnicos, treinadores e “entendidos”, nas palavras de Sílvio Raso. Para se entender a evolução do esporte, importante é conhecer as regras vigentes cientes de que, a cada “descoberta” – um golpe na bola, uma providência tática – tudo poderá determinar uma rápida evolução. Para tanto, é importante que tiremos lições do passado e caminhemos a passos largos no presente, sem perder de vista as novas gerações. 

Regras Americanas. Logo após à criação do voleibol decidiu-se pela demarcação de uma linha de dribbling, que conteria a zona de dribbling a uma distância de 1,20m da rede e paralela a ela. A bola podia ser tocada no ar todas as vezes que o jogador desejasse até ser enviada para o outro lado, desde que não entrasse na zona de dribbling. Isto tornava o jogo mais atraente, com toques de parte a parte, permanecendo a bola mais tempo no ar (ralis longos). A linha central surgiu em 1921 para limitar os dois campos e conter “invasões”  de quadra – voluntárias ou não – que pudessem importunar os adversários. Assim, eram duas as linhas: a de dribbling e a central. A primeira desapareceria algum tempo depois para reaparecer como linha de ataque em 1951.     

– Como tornar conhecidas as Regras no mundo inteiro? Em 1939 o Guia Anual de Referência da Associação de Voleibol dos Estados Unidos (USVBA) e as regras oficiais do jogo de voleibol deram as informações necessárias e propiciaram um fórum onde experiências e ideias emanadas de diferentes fontes puderam ser trocadas. Durante a Guerra milhares desses guias foram distribuídos pelo mundo.    

Regras no Brasil. Enquanto isso, no Brasil eram raríssimas as informações a respeito. Sem intercâmbio e comunicações precárias, ressentíamo-nos da falta do conhecimento sob todos os aspectos do treinamento: técnico, tático e preparação física adequada. Vamos encontrar alguns aspectos das Regras em 1938-39 em artigo de uma página publicado na Revista de Educação Física do Exército – EEFE (1938) que retransmito, optando por manter os termos utilizados na obra apócrifa. As inovações introduzidas por ocasião do I Torneio Aberto da Associação Cristã de Moços (ACM), no Rio de Janeiro retratam bem a preocupação dos aficionados do voleibol em tornar o jogo mais rápido, movimentado e mais atraente. As alterações foram traduzidas pela Comissão encarregada da organização daquele torneio e percebe-se a grande preocupação e influência exercida pela ACM e a EsEFEx no desenvolvimento do voleibol. Destaco o relato de Aguinaldo Mendonça (1911-2004) sobre a participação da equipe do Icaraí Praia Club (IPC), de Niterói, no II Torneio Aberto de Volley-Ball promovido pela ACM no Rio de Janeiro, patrocinado pelo jornal Correio da Manhã. Eram vinte equipes compostas pelos melhores jogadores dessas duas cidades, sendo três times de Niterói. As partidas foram disputadas em “3 jogos de 15 pontos” (dois sets vencedores) e sistema de “dupla eliminatória”. Aliás, constava do regulamento uma observação para os menos avisados: “se no último jogo o vencedor invicto for derrotado, haverá um encontro para desempate do 1° lugar”. Não houve necessidade, o IPC ganhou todos os jogos.  Eis as Regras e alguns comentários que tomei a liberdade de acrescentar para uma maior visão histórica dessa evolução:  

Arbitragem e saque – Foi suprimida a necessidade de o juiz apitar ANTES de cada saque: ele apitará apenas o início da partida. Saques subsequentes poderão ser realizados sem esperar por aquele apito. Atribuía-se grande vantagem ao fato, uma vez que o time que fizesse o ponto e logo se apoderasse da bola poderia sacar antes que os adversários tivessem tempo de se refazer da jogada anterior. A medida visava imprimir maior movimentação ao jogo: jogadores permanentemente atentos para não serem surpreendidos pelo saque adversário.    

Cera – É vedado ao time que perder o ponto reter a bola ou fazer cera para esfriar o jogo do adversário, sob pena de perda do ponto. Uma vez que a bola deveria ser entregue imediatamente ao time contrário para nova saída, alguns atletas faziam-no de forma bastante lenta, rolando-a na direção de qualquer outro atleta adversário, exceto o sacador. Quando o faziam utilizando os pés (chute), os juízes chamavam sua atenção e, se reincidentes, punidos com perda de ponto (falta técnica). Em outros casos, os jogadores não se colocavam propensos a se deslocar e repor a bola para os adversários, alegando “não ser sua obrigação”. Quase sempre algum espectador o fazia voluntariamente.      

Cruzes de marcação – A Regra determina que os jogadores estejam nas suas respectivas áreas delimitadas por dois “X” no campo, que o divide em 6 zonas iguais.    

Linha de defesa – Em 1922, foi criada a linha de defesa. Possivelmente, a de dribbling. Em continuação, sinais foram feitos no chão em 1935. Denotava-se preocupação em evitar que os jogadores trocassem de posição (atacantes e defensores) deliberadamente. As “cruzes” permaneceram provavelmente até o final da década de 30, quando foram extintas. Mais tarde, em 1950, cedeu lugar à linha de ataque ou de 3m. O rodízio obrigatório (1923) contribuiu para posicionar e dar transparência às posições dos atletas na quadra. Muitos anos depois, em 1997, a linha de ataque seria estendida em 1,75m com faixas tracejadas.

Parede – Não era permitido agruparem-se na frente do sacador fazendo barreira a fim de dificultar a visão da trajetória da bola. Conhecida também como cortina. Certamente, alguns se aproveitavam discretamente do expediente para dificultar a visão dos adversários. Com a continuidade, foi reprimido. Foi criada em 1952 e permaneceu até 1959. Era permitido aos atletas inclusive levantarem os braços. Em seguida foi abolida esta permissão (levantar os braços), mantida ainda a barreira e, em 59, abolida definitivamente. Atualmente, os atletas da rede podem manter os braços erguidos, como numa ação preparatória para bloqueio, desde que afastados uns dos outros, sem a intenção precípua de dificultar a visão dos adversários. 

Tempo de descanso – Cada time tem direito a pedir tempo para descanso (1 min) duas vezes em cada jogo (set). As interrupções para substituições de jogadores não serão consideradas de descanso.    

Ataque – As cortadas devem ser nítidas e “insofismáveis”. Bolas carregadas ou conduzidas serão rigorosamente marcadas pelo juiz. Os atacantes deverão dar preferência às cortadas de soco (mão fechada), que são de maior eficiência, se bem que mais difíceis de empregar.    

Defesa – As novas regras permitem dois ou mais contatos com a bola, desde que sejam consecutivos e resultantes da mesma jogada. É fácil imaginar a dificuldade de se produzir uma defesa quando o outro time empregar cortadas violentas e de soco. Nesses casos, são tolerados dois contatos com a bola, devendo, entretanto, ficar bem entendido que o jogador não poderá fazer senão uma tentativa ou jogada para bater a bola. Cabe exclusivamente ao juiz julgar se a bola foi emendada (corrigir falta ou defeito com um toque a mais; acrescentar um toque) ou se os contatos foram produzidos pela violência imprimida à cortada.    

Substituições – Durante o jogo poderão ser feitas substituições no time. O jogador substituído tomará o lugar do que se retira; os demais conservarão suas posições, não podendo haver alterações na ordem de saque. O jogador substituído poderá voltar ainda uma vez ao mesmo jogo (set) no lugar de QUALQUER jogador.

Evolução das Regras, 1980-99

Década de 80

1980 – 17º Congresso da FIVB: as Regras do jogo foram traduzidas para três linguas: francês, inglês e espanhol.

1982 – A pressão da bola foi incrementada de 0,40 kg/cm² para 0,46 kg/cm².

1984 – A partir dos jogos de Los Angeles foi proibido o bloqueio do saque e os árbitros receberam instruções para serem mais benevolentes na avaliação das defesas. Durante os Jogos Olímpicos alguns atletas brasileiros (medalha de prata) atraíram as atenções pela habilidade do saque com salto. A ideia não era nova, pois foi usada no Campeonato Mundial da Argentina, em 1982, sem resultados objetivos.

1988 – A partir dos Jogos Olímpicos, uma nova regra impediu a interrupção do jogo para que se pudesse secar a quadra. Os times passaram a entrar com toalhinhas presas na parte de trás do calção, usadas sempre que o suor molhasse o piso. A FIVB impôs uniformes para as equipes femininas, o que gerou uma série de problemas com o descumprimento dessa obrigação por parte da maioria das Federações. Somente a equipe de Cuba fez uso desse uniforme. No Brasil, a Federação de Voleibol do Estado do Rio de Janeiro (FVERJ) oficializou a bola da marca Penalty.

Bloqueio. Em 1984 foi proibido o bloqueio de saques (Olimpíadas de Los Angeles). Proibido também o ataque do saque (na zona de ataque).

Defesa.  Em 1984  foram permitidos contatos múltiplos numa mesma ação. Em 6 de maio de 1988 a FIVB inaugurou suas novas instalações em Lausanne.  Nos Jogos Olímpicos desse ano o torneio masculino contou com 12 equipes (previstas 10). Os EUA venceram no masculino e a URSS no feminino, após dramática final com a equipe do Peru. O Congresso Mundial aprovou que o 5º set decisivo seja disputado no sistema de pontos por rali em que cada saque corresponde a um ponto. O placar final do set foi limitado em 17 pontos, com UM ponto de diferença. Essa medida seria modificada em 1992.

Década de 90

1992 – Após os Jogos Olímpicos de Barcelona, a regra do 5º set (tie-break) foi modificada. Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos. Motivo: o jogo Itália e Holanda, no 5o set, foi encerrado com a vitória da Holanda por 17×16; em seguida, houve protestos dos italianos e a consequente mudança da regra.

1994 – O Congresso Mundial realizado em Atenas aprovou as novas Regras que seriam introduzidas oficialmente em 1º de janeiro de 1995: permite contatos com a bola com qualquer parte do corpo, incluindo os pés. A zona de saque foi estendida para a totalidade (9m) da linha de fundo. Eliminação da falta dos dois toques na recepção da bola vinda da quadra oponente. E a permissão para tocar na rede acidentalmente quando o jogador em questão não participa da jogada. A bola pode ser tocada voluntariamente com qualquer parte do corpo, inclusive pernas e pés (Mundial da Grécia).

1995 – A linha de ataque foi estendida com faixas tracejadas em 1,75m; a pressão interna da bola foi reduzida para 4,27lb a 4,56lb; foi permitida a invasão da linha central com as mãos; cartões de indisciplina passam a ser cumulativos; a bola que passa por cima ou por fora das antenas (fora do espaço de cruzamento) em direção à área livre da equipe adversária pode ser recuperada. Foi ampliada a zona de saque: corresponde à largura da quadra (9m); o saque pode tocar a rede; introdução de contagem de “PONTOS POR RALI (25 pontos) sem ponto limite – acaba o sistema de VANTAGEM –, sendo que no set DECISIVO (5°, tie-break), ainda jogado com 15 pontos, não há ponto limite; em caso de empate em 14-14, o jogo continua até que uma das equipes obtenha uma diferença de dois pontos. Nos quatro primeiros sets foram criados dois tempos comerciais para TV: no 8° e 16° pontos. Têm início as experiências com o sétimo jogador, o líbero, um jogador especial, diferenciado pelo uniforme, com características exclusivas de defesa e recepção, cujas trocas sucessivas não são computadas à equipe.

1996 – A figura do líbero foi introduzida experimentalmente no Grand Prix feminino logo após a Olimpíada de Atlanta; a posição dá principalmente ao voleibol masculino uma condição melhor, já que o ataque é preponderante em função do vigor físico da categoria e sobrepõe-se à defesa. O líbero veio para tentar dar um equilíbrio nessa relação entre ataque e defesa.

1997 – A partir desse ano foi testado o jogo com o líbero; sua aprovação e inclusão nas Regras deu-se somente em 1999. No Brasil do início da década de 80 era o jogador que não recepcionava o saque e se apresentava para o ataque de fundo.

O líbero é um atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos e tornar o jogo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando a linha de três metros ou esteja sobre a área por ela delimitada, deverá executar somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede.

1998 – Após as Olimpíadas de Seul, foi incluído o sistema de pontos rally no set decisivo (5º) (Regra 7.4). A contagem de cada set limita-se a 17 pontos: depois de um empate de 16 a 16, a equipe que primeiro marcar o 17º ponto vencerá o set com somente um ponto de vantagem (Regra 7.2.2). Modificações que não deram certo: TEMPO de JOGO e as duas TENTATIVAS de SAQUE (Regra 17.6). A Regra 17.7 coibiu o emprego da barreira, que impedia a visão do sacador. A CBV comunicou ainda (NO nº145/88) decisões da FIVB sobre a secagem (toalhas) da quadra e outros formas escusas utilizadas para interromper a partida.

1999 – As normas relativas à atuação do líbero foram finalmente incluídas nas Regras.