
Iniciação & Formação. Problemas e Soluções
6. Como atacar?
No caso de iniciantes, os ataques por cortada são raros, especialmente se o jogo se desenvolve em quadra oficial. Nesse caso, a percepção desenvolvida para defender sua própria quadra poderá servir de base para decisões a serem tomadas. Primeiramente, atente-se para o fato de que, se não orientadas, as alunas devolverão as bolas no 3º momento simplesmente de manchete ou de toque, passando-a para o outro lado sem a mínima preocupação de ataque proposital. É a situação mais comum nos jogos de principiantes, especialmente entre meninas.
A professora poderá leva-las a perceber que os ataques necessariamente não têm que ser por cortada e assim, desperta-las para ações mais eficientes. Se ainda não dominam a recepção do saque e o respectivo passe à levantadora e se esta por sua vez também não domina o toque de levantamento, pouco adiantará para a equipe possuir excelentes cortadoras. A incidência de erros naqueles fundamentos fará com que a equipe reponha a bola em jogo quase sempre de manchete, simplesmente passando a bola para o outro lado. Basta assistir a um jogo entre principiantes – mesmo entre federadas – para constatar o número elevado de casos da natureza. Aliás, isto era muito comum ainda na década de 60, quando equipes (e seleções) brasileiras femininas atuavam contra as japonesas. Não conseguiam sucesso nas recepções de saques balanceados. (simplesmente porque os treinadores esqueciam-se de fazê-lo).
É conveniente que as alunas aprendam a VER a outra equipe, aonde se colocam as suas jogadoras, especialmente quando atacadas: que posição adotam? Quem é a mais fraca na defesa? Colocam-se muito perto das linhas? Existem grandes espaços entre elas? E o fundo da quadra? Conseguem recuperar bolas lançadas próximas à rede? E, principalmente, onde está e para aonde vai a levantadora?
Construir exercícios específicos nesse sentido: uma equipe em expectativa de defesa e outro grupo de alunas realiza sucessivos ataques por toque de diversas posições da sua quadra em bolas lançadas, ora pela professora, ora por uma colega. Proceder a vários rodízios entre elas antes de trocarem de funções. Enquanto realizam os movimentos, fazer que as demais observem e detectem os “vazios”, isto é, os espaços entre atletas, a rede e as linhas demarcatórias.
7. Como ver a outra equipe no momento do ataque?
Esta é uma percepção bastante difícil de ser ensinada. Ela pressupõe, a meu ver, o desenvolvimento da visão periférica, onde a jogadora, ao se conjugar com o movimento da bola que será tocada em seguida, percebe a posição ou movimentação de uma ou mais jogadoras adversárias. É passível de ser treinada, resultando em acréscimo no desenvolvimento tático de qualquer atleta. Normalmente, é mais utilizada pela levantadora que, ao receber um passe favorável junto à rede pode discernir para que posição efetuar o levantamento em função da movimentação das bloqueadoras. A observação da equipe adversária logo após sofrer um ataque também contribui para memorizarem as posições mais adotadas pelas adversárias: a tática da equipe é repetitiva. A partir dessa observação, permite-se uma orientação dos ataques, tanto por cortada, como de toque. E, ainda que nem todas as atletas tenham esta percepção, não será difícil que se orientem e se desenvolvam neste mister mutuamente. Existem vários exercícios que propiciam a visão periférica. Ex.: toques, 3 a 3, com duas bolas; toques, 2 a 2, todas em círculo.
8. Como defender?
As contramedidas necessárias a qualquer tipo de ataque – entenda-se que ataque é qualquer bola lançada em direção à quadra adversária (exceto o saque) – devem fazer parte da tática individual das atletas e da equipe. No caso de iniciantes, onde os ataques por cortada são escassos e não muito fortes – especialmente em se tratando de equipes femininas – recomenda-se até a dispensa da formação de qualquer bloqueio. É mais eficaz para a equipe contar com todas as suas jogadoras em posição de defesa, com exceção para as bolas muito próximas à rede e, assim mesmo, nos casos em que as atletas de ambas as equipes tenham condições de alcançá-las com saltos. Um dos treinamentos mais eficazes para desenvolver uma boa defesa é o da rede coberta com um pano, onde uma equipe não vê a outra e somente uma realiza as ações de defesa: a outra produz sucessivos ataques de posições relativamente afastadas da rede. A professora comanda os exercícios de trás da quadra da equipe que defende, corrigindo posicionamentos e medindo a velocidade de reação de suas atletas. Estas, por sua vez, imaginam para onde suas colegas adversárias provavelmente devem dirigir as bolas e qual seria a minha área de defesa. (ver item 6, como atacar?) Aceleram-se medidas preventivas, de expectativa ou de antecipação. Multiplicam-se soluções criativas de lado a lado, produzindo-se um incremento tático invejável.
9. Ritmo de jogo
Inicialmente, a sucessão de movimentos requerida pelo voleibol assusta. Entretanto, as experiências sucessivas e renovadas nos jogos, a obtenção de uma técnica individual razoável através de exercitação conveniente, podem transformar as alunas em exímias jogadoras. Facilitadas pela diminuição dos espaços e pelo número de jogadoras, o mini vôlei (quadra menor) pode conduzi-las rapidamente à observância da ocupação apropriada do terreno de jogo e a um repertório inimaginável de soluções e criatividade. A sensação, neste estágio, é que aprendem sozinhas, sem a participação da professora. Neste propósito, caso necessite, poderá acelerar este processo, promovendo algumas aulas com exercícios específicos de movimentação em quadra: somente uma equipe realiza sucessivas tentativas de recepção e troca de passes, até o consequente ataque. As bolas podem ser arremessadas pela professora ou alunas especialmente designadas. Dependendo do número de participantes, pode-se realizar uma competição: “Que equipe consegue realizar mais ações sem erro”? Ou, então, errou duas vezes, sai e dá lugar à outra. Nestes momentos, é interessante que a professora oriente de perto, muito próxima das crianças. A posição mais favorável é dentro da quadra, atrás das alunas, mostrando às defensoras como ocupar ou diminuir os espaços. Observar o tempo ou intensidade com que é feita a reposição das bolas, conduzindo o exercício num ritmo satisfatório, nem aquém, mas tampouco demasiadamente exigente.
Na sequência, estarei comentando sobre os gestos técnicos, as emoções e a posição de expectativa. Até lá!
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