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— Por que alguns períodos e lugares são tão mais produtivos para a formação de talentos do que outros?
Peças de Reposição
Carlos A. Nuzman, presidente do COB, em entrevista ao repórter Alexandre Gimenez da Folha de São Paulo, 24.7.96:
“Paulo Roberto de Freitas, Bebeto, desde 1984 apregoava que o vôlei estava reduzido a uma elite de jogadores e que isso poderia prejudicar a seleção brasileira nas próximas competições internacionais, por falta de opções para o treinador.
Para o presidente da Confederação Brasileira de Volley-Ball (CBV) Carlos Nuzman, “o problema seria mundial, pois nem a União Soviética conseguiu armar uma equipe com mais de uma opção tática. Prova disso é que ainda não havia substituto para o levantador Zaitsev. O problema de renovação de valores e surgimento de novos ídolos depende muito da safra de jogadores. Não seria o elemento fundamental, mas contribui para o sucesso de uma seleção. Veja-se o caso do Japão, por exemplo, que tinha uma grande equipe até 1972 e não conseguiu mais uma boa geração de jogadores e vem caindo a cada ano. E lá não faltam competições de alto nível e o número de jogadores é expressivo. Uma das soluções é os nossos técnicos se empenharem mais na formação de jogadores com funções específicas”.
E continuou sobre o interesse dos técnicos: “A atualização dos técnicos brasileiros aos métodos mais modernos de treinamento e às táticas adotadas pelas principais potências preocupava o dirigente. Ele não sabia explicar a falta de interesse dos treinadores brasileiros pelo trabalho que vinha sendo realizado nas seleções feminina e masculina: “Em oito meses de preparação, apenas dois técnicos, um do Piauí e outro do Ceará, se interessaram pelo trabalho do Ênio e do Bebeto. Nenhum treinador comparecia aos treinos das seleções ou demonstrava qualquer interesse pelo trabalho. Além disso, poucos participaram dos cursos internacionais promovidos pela CBV nos últimos três anos. Isso só prejudica a formação de novos treinadores”.
Ao que parece Nuzman não considerava que os treinadores interessados tivessem seus próprios afazeres, seus compromissos profissionais e que nunca houve incentivo da entidade em promover esse particular; pelo contrário, percebia-se certo desprezo, desconforto ou má vontade em atender possíveis candidatos. (“História do Voleibol no Brasil”, vol II, Pimentel, Roberto A., n/ed.). Além disso, não entendia que o trabalho na Formação de atletas é bastante diferenciado dos treinamentos da elite. Esquecia-se também da voz sonante no meio de sua época de jogador: “há técnicos que só sabem formar atletas e, outros, dirigi-los em competições”. Todavia, não creio que saibamos ainda formar atletas de voleibol (competitivos), mas sim especialistas em determinadas funções e, inevitavelmente, peças descartáveis, de curta duração, certamente por defeito de fabricação. Ou, simplesmente, falsificadas!
Então, como formar ou descobrir novos talentos?
Safra de Jogadores
Foto: Revista Volei, Paris (1956). Competições em estádios de futebol. Acervo João Carlos C. Quaresma.
São várias as teorias que tentam explicar esse fato. Os russos empreenderam estudos e formaram inclusive doutores nessa ciência de prospecção de talentos (temos pelo menos um no Brasil), baseando-se em quatro fatores preponderantes que deveriam possuir os indivíduos. O que mais chamou a atenção do mundo ocidental trata-se das “impressões digitais”. Inclusive, quando de seu apoio a Cuba, a partir do início da Guerra Fria, 1963, deram conhecimento aos cubanos dessa teoria. Em palestra, um dos cientistas russos respondendo a um interlocutor que lhe perguntara como tinha certeza de seus estudos, teria afirmado: “Basta que você conte o número de medalhas que conquistamos”. Contudo, não se interessou em dizer o fantástico número de milhões de praticantes em seu país e a importância política que lhe era conferida. Em outubro de 2002, em entrevista com o presidente Carlos A. Nuzman, foi entregue ao COB um projeto de Prospecção de Talentos de autoria do Professores Doutor José Fernandes Filho e Roberto Affonso Pimentel que em suas letras iniciais conferia: “O programa Prospecção e Descoberta de Talentos foi concebido para identificar crianças e jovens com potencial para determinação correta da modalidade esportiva na qual suas características genéticas melhor se enquadram. Consiste no diagnóstico do potencial genético do indivíduo – qualidades físicas básicas – através da análise de suas impressões digitais, permitindo uma melhor utilização dos recursos disponíveis. Através da análise das impressões digitais – Dermatoglifia – é possível conhecer o potencial genético do atleta, possibilitando que “[…]
Teoria Mielínica (do livro “O código do talento”, Daniel Coyle)
Considere-se que tanto podemos estar buscando uma safra de talentosos atletas de voleibol, como em outro lugar, alguém enceta buscas por pianistas, pintores ou artistas teatrais. Ou como em épocas mais remotas em algumas cidades foram constatadas concentrações de gênios. Segundo um estatístico da Universidade de Carnegie Mellon chamado David Banks, que escreveu um breve ensaio The Problem of Excess Genius (O problema do excesso de genialidade), os gênios não se distribuem uniformemente no tempo e no espaço, ao contrário, tendem a surgir em grupos. Para ele, só há uma pergunta a ser feita aos historiadores: Por que alguns períodos e lugares são tão mais produtivos que o resto? A resposta tem implicações valiosíssimas para a educação, a política, a ciência e a arte, comenta o autor.
Dos três exemplos citados e identificados por Banks – Atenas, Florença e Londres – nenhum é tão impressionante nem tão bem documentado quanto o florentino. No espaço de algumas gerações, uma cidade com uma população de pouco menos de 50 mil habitantes, produziu o maior fluxo de excelência artística que o mundo já conheceu.
Um gênio solitário não é difícil de explicar, mas dúzias deles, no período de duas gerações? Como isso pode acontecer? Banks lista as suas razões fornecidas pelo senso comum:
Prosperidade, que proporciona dinheiro e mercado para a arte;
Paz, que dava a estabilidade para buscar o desenvolvimento artístico e filosófico;
Liberdade, que preservava os artistas do controle estatal ou religioso;
Mobilidade social, que permitia aos indivíduos pobres e talentosos ingressar no mundo das artes.
Paradigma cultural, que trazia novas perspectivas e meios responsáveis por uma onda de originalidade e expressão.
Certamente encontraremos mais explicações para o mesmo fato, entretanto, como participei dessas duas de forma direta ou indireta, deixo a critério do leitor enveredar por suas pesquisas e realizar sua escolha. Mas, antes de fazê-lo, vamos continuar percorrendo o que nos relata Daniel Coyle e, além das minhas, algumas outras experiências de treinadores pelo mundo. E você, teria alguma vivência especial sobre o assunto?
——————————- A seguir, “Melhores Treinos, Melhores Atletas“.
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Curso regular para 400 crianças na Praia de Icaraí, Niterói (RJ). Desenho: Beto.
Tempo, Passado, Futuro. E o Presente?
Dando continuidade ao texto Futebol e Voleibol na Praia, acrescento detalhes que a história registra. Percebam o valor do passado para a construção do futuro, senão de que valeria o presente?
Os Fins Justificam os Meios. Ao que parece, os atletas de vôlei de praia só têm obrigações. Não possuem qualquer organização classista e estão completamente desassistidos a partir de seus treinamentos. A maioria deles é egressa do vôlei de quadra, onde deram os primeiros passos no esporte e percorreram um caminho nem sempre alvissareiro, incerto e, às vezes, cruel. Recentemente, na preparação para os Jogos de Sydney, assistimos a um episódio que mostra esta faceta de jogo de interesses, quando uma dupla famosa de vôlei de praia que, não conseguindo a classificação para os Jogos Olímpicos, retornou às quadras. Foram sacrificados dois outros atletas que lutavam por sua indicação, disputaram as Olimpíadas e, na volta, um deles permaneceu na quadra e o outro retornou na maior simplicidade (com contrato sensacional) à praia. Imaginem o estímulo proporcionado aos atletas dispensados. Aliás, isto nos faz lembrar o episódio do corte de Pedrão, da seleção olímpica de 1964, que viajara a Santos para se despedir da família e, por telefone, foi cortado. A história se repetiu uma vez mais.
Voleibol Indoor vs. Voleibol na Praia. Logo que surgiu e com sua rápida evolução, os eventos na praia tomaram proporções gigantescas, tendo sido difundido rapidamente pelo mundo graças à aceitação inicial nos dois pólos primitivos – Estados Unidos e Brasil – de onde saíram os primeiros campeões mundiais. A modalidade, então, transformou-se em ganha-pão de muitos rapazes e moças, que atraídos pelos prêmios, viagens e toda a parafernália marqueteira do Banco do Brasil, deixaram seus estudos, muitos até suas casas para se aventurarem pelo Brasil nas dezenas de competições armadas pela CBV praticamente em todo o território nacional, não importando se no litoral ou em cidades interioranas. O empreendimento criou a necessidade de os atletas tornarem-se essencialmente profissionais a ponto de dedicarem-se exclusivamente à sua formação técnica e física, o que implicava treinamentos diários pela manhã na praia e, à tarde, nas academias. Inicialmente tinham o chamado “pai-trocínio”, isto é, eram financiados domesticamente; outros, como dois gaúchos que conheci, já emancipados economicamente, aventuraram-se pelo País somente com uma mochila nas costas e muita coragem e determinação. Saíram de sua cidade natal no início da temporada e só retornaram um ano depois.
Renovação e Prospecção de Talentos. Durante o horário de almoço na “Reunião Estratégica” (16.10.96) no hotel Le Meridien, Rio de Janeiro, que antecedeu a posse do atual presidente da CBV, conversei com um dos participantes a respeito da renovação no vôlei de praia. Meu interlocutor manifestava sua preocupação e visível contrariedade em relação à participação de atletas juvenis (vôlei de quadra) nos circuitos de vôlei de praia. Argumentava que haveria, no futuro, um esvaziamento, com graves prejuízos às seleções nacionais. Contra-argumentei que a nova modalidade deveria encontrar seu caminho para crescer e que o setor de vôlei de praia da entidade, atento e sensível, saberia escolher os melhores caminhos a trilhar. Em 1998 a CBV deu início ao seu programa de renovação feminina. Contratou o treinador da dupla medalhista de ouro – Vantuil – para gerir o treinamento de quatro atletas que poderiam vir a ser, num futuro próximo, também elas, campeãs internacionais. Esses treinos foram produzidos nas areias de Copacabana e, ao que parece, não frutificaram. Creio que a intenção foi mais dar trabalho ao treinador do que propriamente realizar um trabalho planejado e eficiente. Não durou muito. Quatro anos depois, neste mesmo programa, a entidade convidou a treinadora de vôlei de praia da dupla vice-campeã olímpica em Sydney, Letícia Pessoa, para proceder a esta tão esperada e necessária renovação. Seriam criados (aproveitados) quatro ou cinco centros de treinamento em diversas cidades, as respectivas federações indicariam os seus treinadores e estes comporiam a equipe de trabalho. Quem já estiver trabalhando no segmento terá a preferência, pois existem muitos treinadores de vôlei de praia espalhados pelo país.
Em 14 de janeiro de 2001, a CBV divulgou as bases de um Programa para produzir novas atletas no setor feminino, pois achava que no masculino já existia uma renovação que se produz espontaneamente ou, ainda, é fruto do sacrifício dos jogadores: “É bem possível que possam ‘se virar sozinhos’, os prêmios são bastante generosos e os resultados internacionais são satisfatórios”. Apesar de tudo, o vôlei de praia masculino só conseguiu uma única medalha (de prata) em duas Olimpíadas. Para evitar que os atletas que não disputam o circuito mundial fiquem completamente parados durante o recesso do Circuito Banco do Brasil, de maio a setembro, a entidade incentivou as federações a promoverem torneios regionais. Além disso, junto a cada etapa do circuito, o Banco do Brasil está promovendo escolinhas em conjunto com as federações locais. Uma semana antes do início da competição, professores indicados pela federação reúnem as crianças na arena e ensinam os fundamentos básicos. Segundo apregoam, cerca de 400 (sic) crianças estariam participando em cada evento. Uma deslavada mentira, com o intuito de formar (falsa) opinião.
Planejando o Futuro. Como deveria ser um Programa de incentivo à prática do voleibol na praia? A “receita” da CBV nunca funcionou e espera-se que, se houver interesse, seja programada por quem entende do assunto, ou pelo menos, que possua experiência nesse sentido. Não se produz atletas da noite para o dia como o pão na padaria da esquina. Enquanto forem imediatistas, só por sorte conseguirão alguma coisa. Recordo-me que logo após os Jogos Olímpicos em Atlanta -1ª participação oficial do vôlei de praia – a Federação do Rio de Janeiro buscava soluções para incrementar o voleibol no Estado e para tanto, emitiu convite a alguns treinadores para comporem o seu Conselho de Treinadores. Não teve sucesso, mas em seguida, recebeu a ajuda graciosa de Sami Mehlinsky, antigo treinador inclusive de seleções brasileiras e prestador de serviços à Confederação. Também foi infrutífera sua colaboração. E, a partir daí, um esvaziamento total no voleibol carioca e estadual. E, pior, até hoje á Federação ostenta o mesmo quadro de dirigentes.
A mesmice, a repetição dos fatos traduz-se ambas em uma prolongada estagnação que o tempo não perdoa.
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