Voleibol na Escola (X)

 Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

17) De novo a levantadora, agora numa equipe de competição.

Se todos os passes devem ter o mesmo endereço (da levantadora), não é difícil imaginar a sua importância para uma equipe. Costuma-se dizer que é o seu cérebro. Quem deve atacar? De onde? A distribuição das bolas, as combinações de ataque, as fintas, a observação das bloqueadoras, o rendimento das suas parceiras, a técnica individual, o equilíbrio das decisões nas horas difíceis, tudo são momentos rápidos e necessariamente precisos de uma levantadora numa equipe de nível relativo. Dada à responsabilidade de seus atos torna-se necessário um treinamento exaustivo e diferenciado das demais jogadoras. As características da função traduzem-se no seu equilíbrio emocional e em algumas habilidades intrínsecas, tais como excelente domínio da técnica do toque alto, visão periférica, força de salto para bloqueio e velocidade nos movimentos para a chegada nas bolas mal passadas. Ela deve conhecer muito bem suas companheiras de equipe, saber quem possui o necessário equilíbrio nas horas difíceis, confiar em quem pode decidir com um ataque e, se necessário, orientar essa atacante para onde dirigir sua cortada. Fora da quadra, deve ser conselheira, comedida, singela e uma moça que inspire tranquilidade, calma e confiança. Deve ser amiga de todas as suas companheiras.

18) Percebendo a equipe adversária

TODAS as ações e movimentos da equipe adversária, sem exceção, devem ser acompanhados atentamente por mais de uma observadora. As figuras principais desse trabalho são a própria treinadora e a levantadora (ou capitã) da equipe. Isto implica que qualquer detalhe deve ser levado discretamente ao conhecimento de ambas para elaboração e subsídio de futuras decisões que serão tomadas durante a partida. As observações têm início a partir da chegada da equipe à quadra, durante o aquecimento, com ou sem bola, a todo instante. Qualquer detalhe pode ser importante num momento de decisão, pois traduz como pensa e age a sua treinadora. Transmite informações valiosas da sua personalidade que identificam o seu pensar e o seu agir durante a partida, inclusive sobre suas possíveis decisões: “A equipe é reflexo de sua treinadora”. É um verdadeiro trabalho de espionagem, em que se procuram migalhas de informações. As auxiliares, se houver, cuidam dos detalhes de aquecimento e preparação das demais atletas. Caso não as tenha, a treinadora deve realizar aulas de esclarecimento de como se aquecer sozinhas. É fácil e muito importante para a equipe, pois transmite autonomia e segurança (ver item 19, A treinadora).

Durante a partida, as observações devem ser realizadas a cada jogada de ataque, percebendo-se em rápidos e sucessivos olhares, como se posiciona a equipe adversária e quais os seus pontos falhos – melhor bloqueadora, pior defensora, atleta mais temperamental, a mais nervosa e, principalmente, onde se posiciona a levantadora. “Se não pode derrotar o inimigo, alie-se a ele” – esta é uma máxima que, guardadas algumas proporções, podemos traduzir para o nosso dia a dia de outra forma: se conhecermos bem as nossas adversárias saberemos do que são capazes – suas virtudes e fraquezas – e isto pode nos tornar mais fortes.

19) A professora e a treinadora

Para tornar um grupo de garotas numa equipe com forte personalidade e vencedora, não basta ensinar-lhes os fundamentos e as táticas mais sofisticadas do voleibol. Compete à treinadora dar-lhe também a necessária autonomia para tomar decisões inevitáveis durante as partidas mais difíceis e para a vida, em geral. Como fazê-lo? O que deve ser evitado? Não existem receitas prontas e muito menos donas da verdade. Existem  pessoas que já passaram por diversas experiências em circunstâncias as mais variadas e que, por isso, adquiriram alguns ensinamentos emanados das soluções e respostas que assumiram naqueles momentos. Ao longo de uma dezena de anos de vida esportiva em todos os níveis a que um jogador pode chegar, concluí:

  • As pessoas são as mesmas e têm os mesmos anseios e aptidões de outrora;
  • Atualmente encontram-se muito mais problemas de instabilidade emocional;
  • Melhoraram e foram aperfeiçoadas formas de treinamento; o esporte por esporte não tem lugar em certos grupos;
  • A competição pela vida está mais acirrada.

Tudo isto e, possivelmente muito mais, é atirado sobre as pequenas alunas ou atletas, cobrando-se-lhes ainda vitórias, pois o paradigma moderno é “VENCER ou VENCER”, não importa como. Basta ver as inocentes partidas de qualquer esporte na sua escola, com os seus próprios filhos. As TVs contribuem em muito quando dão destaque às cenas de violência, os métodos empregados e uma super valorização do desportista que alcança o pódio. É o culto do “herói nacional”. A professora numa escola ou a treinadora de equipes iniciantes num clube têm pouca chance de desenvolver qualquer modalidade esportiva com apoio da entidade. Sobrevivem graças à sua persistência e obstinação. E isto implica em sacrifícios muitas vezes irreparáveis, uma vez que para atender a uns, inevitavelmente negligenciará com outros. E fico a imaginar o caso das mulheres, esposas e mães, professoras e treinadoras. É quase impossível conciliar tantos afazeres, muito embora tenham uma inteligência emocional bastante desenvolvida, inclusive em escala maior que a dos homens.

Como fazer? – Como é difícil dizer algo a respeito uma vez que cada caso é um caso e, dificilmente alguém, mesmo com a maior experiência do mundo, poderá aconselhar a professora que tem dificuldades ou problemas inusitados e intransponíveis em muitos momentos. Além disso, soluções aplicadas em certas regiões ou comunidades com relativo sucesso, necessariamente não correspondem ao que deva ser empregado em outro grupo. Aspectos culturais, sociais, religiosos e de todas as espécies contribuem para fazer a distinção entre grupos humanos. Sem considerar as características pessoais dos indivíduos e suas relações com a coletividade. Mas isto não me desanima em buscar soluções, pelo contrário. Então, vamos a elas!

Uma sugestão – e não uma receita – seria que se estabelecessem algumas metas a serem atingidas e perfeitamente alcançáveis pelo grupo durante um período estabelecido em comum acordo com as alunas. Quanto mais pessoas envolvidas no propósito, melhor. O fato de uma só assumir todas as tarefas facilita de um lado – não há discussões, é impositivo. Por outro, dificulta em futuros relacionamentos e aspirações, produzindo-se mais facilmente os inevitáveis conflitos de opiniões e a formação de partidos, que acabam com a unidade do grupo. E há ainda a possibilidade de alguém mudar de ideia, trocar de interesse e desistir da tarefa. Como ficam as demais pessoas?

Quando dizemos um grupo, estamos nos referindo a uma grande coletividade – as escolas de um município, com seus alunos, pais e professores. Se conseguirem formar uma unidade de pensamento e aspirações em torno de um programa construído por eles mesmos, terão dado o primeiro grande passo no seu crescimento. (Veja tb no item 20,  “O que você tem que saber antes de iniciar o seu planejamento”)

O quê deve ser evitado? – As tentativas isoladas não se perpetuam no tempo e tendem a esvair-se rapidamente. Abdicar de qualquer vaidade, tornar-se simples e convencer seus pares e colegas que, JUNTOS, poderão tudo. Sozinha, é apenas mais uma tentativa que não vingou. A vida está repleta de exemplos, a literatura, os psicólogos e toda uma gama de conselheiros ensinam lições de solidariedade e união para se caminhar numa direção de realização maior. A competição pela vida, a garantia de seu trabalho ou emprego, o seu dia a dia, tudo impõe condições estressantes às pessoas que se protegem em casulos. Estes são verdadeiros muros de proteção aos seus interesses imediatos sob o manto da competência ou soberba, agredindo a maioria das vezes a quem se aproxima não importa com que intenção. Quando conseguem parte do que querem, colocam-se num pedestal tão alto que é impossível qualquer diálogo ou união de propósitos: parece que estão todos contra. ” Eu estou certa e o mundo que se dane…” O afastamento das colegas gera um isolamento que não leva a lugar algum. Pelo contrário, depõe contra a profissão e sua atuação educativa. O que esperar da professora que nem as suas próprias colegas conseguem trabalhar juntas?