Professor, Principal Artífice de Transformação

Roberto Pimentel

Da série…

O Que um Técnico Pode Ensinar a um Professor

O Que um Professor Pode Ensinar a um Técnico

Leigo Ensinando Voleibol a Milhares de Crianças

 

Informar, Formar, e Transformar!

O Professor,  principal artífice de Transformação. Sua Formação Continuada, a Missão do Procrie.

Política Nacional de Esporte Educacional, existe?

Reportamo-nos à brilhante análise do bloguista José Cruz sob o título A fartura financeira e a falência institucional do esporte, do dia 4 p.p., com os seguintes destaques:

Impressiona o contraste entre os recursos que abastecem o alto rendimento nacional – R$ 6 bilhões no último ciclo olímpico –   e a miséria financeira e carência administrativa nas federações estaduais. (…) Os recursos públicos que abastecem os clubes de ponta do país (…) conflitam com os destinados às confederações, levantando dúvidas sobre a real missão dessas entidades. E nessa conjugação quem se dá muito mal são os clubes menores e federações estaduais, frágeis também administrativamente, que acabam perdendo seus expoentes para os que detêm o poder financeiro. […]

E conclui com algumas indagações:

–  Terá o grupo “Atletas pelo Brasil” ânimo para centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, sugerindo-lhe que se definam as indispensáveis competências do Estado e dos órgãos gestores?

– E o próximo governo honrará o artigo 217 da Constituição Federal, que determina aplicação de recursos públicos “prioritariamente no desporto educacional”, ao contrário do alto rendimento, como agora?

E finaliza desesperançoso…

Ironicamente, apesar da fartura financeira e do potencial de atletas de que dispomos o panorama institucional do nosso esporte é falido e com perspectivas desoladoras.

Em outro artigo, Atletismo nas alturas! Na China, claro (6/9/2014), relata inconformado o desleixo a que as autoridades esportivas do Brasil tratam o patrimônio construído, denuncia a falta de uma política de esportes, e aponta para tratamento diferenciado nas prioridades,  metas e dinheiro só para os atletas que têm chance de pódio na próxima Olimpíada. Dos R$ 400 milhões anuais que o governo coloca à disposição do esporte, através da Lei de Incentivo, são apresentados projetos que totalizam R$ 250 milhões, no máximo. E a captação de recursos é em torno de R$ 100 milhões. Ou seja, temos um desperdício anual de R$ 300 milhões que não são usados por falta de bons projetos (o destaque é nosso), principalmente.

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Professores, Professoras e seus Saberes 

Permito-me comentar a respeito, pois a matéria vem ao encontro da Visão deste Procrie, um projeto de construção  de um Centro de Referência em Iniciação Esportiva, especialmente voltado para o ambiente escolar. Além disso deixou indagações que pretendemos discuti-las com nossos leitores. Passemos às apreciações.

  1. Sobre ministros e secretários, não é muito saudável em termos de ganhos práticos para a população que sejam ex-atletas ou medalhistas, tendo desfilado por ali Pelé, Zico, Bernard. Isto nos parece populismo inoportuno para um país, carente de dirigentes competentes. Tomara que nunca se repita para continuarmos a alimentar esperanças.
  2. Acrescentaria fato histórico que permanece até o momento no voleibol, e que se alastrou por todos os esportes, pois faltou previsão quando do início da profissionalização nos anos 1980. À época, havia o monólogo ditado por Carlos Arthur Nuzman, o autor e executor da tarefa. É verdade que mudou a estrutura nacional, mas não foi acompanhada das devidas cautelas que se perpetuam passadas três décadas.
  3. Sobre a lembrança de centralizar o debate e levar ao futuro presidente da República um diagnóstico da realidade, devo exprimir que vimos apresentando sugestões há quatro anos sobre o desenvolvimento do esporte em nosso Contributo ao Desenvolvimento do Voleibol em nossa página na web: www.procrie.com.br/ e o linque Procrie no Prezi/

A análise (2) do articulista nos reporta aos clubes nordestinos que sempre sofreram o assédio no voleibol dos principais centros esportivos do sudeste – Rio, São Paulo e Minas Gerais. Enquanto isto era lugar comum a filosofia de as filiadas da CBV tomar a iniciativa de angariar subsídios para seu sustento (e clubes), pois a entidade oficial tinha como meta a atenção voltada somente para o alto nível, isto é, as seleções. Para mantê-las em silêncio, alguns favores lhes eram oferecidos, como mordomias quando das eleições (no Rio), a chefia de uma delegação em compromissos internacionais, e verba magra para um ou outro campeonato regional. A alteração prática no sistema se deveu somente no Vôlei de Praia, uma vez que os atletas são independentes em todos os sentidos. Todavia, ainda sob a tutela da entidade em alguns aspectos essenciais, pois ela trata de não perder a “mão forte”.

Design thinking em busca da transformação

Observando-se os resultados obtidos no Procrie até esta data (abaixo), estamos convencidos de que apresentamos uma ferramenta inédita no cenário nacional: a Formação Continuada de professores lotados em escolas, públicas e privadas. A medida é fruto de nosso diálogo com o professorado, buscando soluções aos seus apelos, dada a falência do ensino universitário, principal formador de professores. A medida reside no ineditismo do material representado na obra do autor História do Voleibol no Brasil (1939-2000) revestida de traços sociais, e também a contribuição de propostas metodológicas e pedagógicas no desempenho da função no ambiente escolar. Trata-se de algo não contemplado pelas universidades e tão pouco pelos cursos de técnico da CBV. Nossa proposta é de que permaneça perene, inclusive com discussões e apresentações práticas – não acadêmicas – de experimentos ou inovações regionais, em tempo real para todos os interessados.

Futuro do Procrie

Levamos o projeto a uma Fundação séria do país apresentando sugestão inicial e experimental de divulgação de aulas  práticas revestidas de novos conceitos em Metodologia e Psicologia Pedagógica. Seriam gravadas em DVDs e distribuídas a TODAS as escolas de ensino público. Por seu turno, professores convidados e motivados a compartilhar e discutir soluções para seus problemas. As experiências e resultados seriam coletados e catalogados para posterior divulgação em sítio especificamente construído, dando a conhecer e compartilhar informações de forma transparente e fecunda. Esse procedimento nos faculta acompanhar passo a passo as iniciativas de transformação e avaliar resultados.

Em outro momento, criar novos objetivos caso a caso, através de Aulas Presenciais, sempre divulgando as iniciativas. Como se observa, o Procrie está criou raízes em outros países: de um total de 2.538 cidades, o Brasil contribui com 1.003 (40%). As demais estão dispersas por 130 outros países. (Ver quadros). Pensamos, inclusive, levantar meios para uma edição em inglês. Acreditamos tratar-se de grande contributo ao sistema universitário, carente de pesquisas e pesquisadores. E ao ensino esportivo em geral, dado que as providências e princípios metodológicos são aplicáveis a toda e qualquer atividade humana e não só ao voleibol. Talvez dessa feita a Academia Olímpica Brasileira possa nos acolher para conversarmos a respeito. Ou permanecer estagnada em “berço esplêndido”!

Promoção da Meritocracia 

Com base nas explanações de experts brasileiros em Educação, estamos acordes que não é suficiente o aporte de verbas milionárias para o setor, mas a Visão de que o principal agente – o Professor – deve estar devidamente informado de sua importância no processo, assistido em sua Formação por tempo indeterminado e, principalmente, Avaliado na Transformação que se pretende seja levada aos seus alunos.

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Dados colhidos no Google Analytics em 5/set./2014. Para melhor visualização, clique nas figuras.

Mapa Mundi: 131 países MAPA MUNDI GERAL  1 Set. 2014   Principais países Mapa Principais Países  5 de set.2014 Destaques:   Índia                                                       Iran                                      Mapa India 5 set.2014   Mapa Iran cidades 5 set. 2014

África PALOP:  Cabo Verde, Guiné Bissau, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique.

Palop: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

Palop wikipédia países

O Que um Professor Pode Ensinar a um Técnico?

Desenho 0 Ginásio 

Parece que sabemos todos o que fazer.

O problema é colocar em prática.

 

 

Identificando e Buscando Soluções  (parte II)

 – Por que técnicos não transmitem aos professores suas experiências acumuladas em seu trabalho? 

– Não estaria embutida aqui uma ideia maravilhosa: o que o professor pode ensinar ao técnico?

 

Design thinking – Design instrucional – Engenharia pedagógica – Ingénierie pédagogique.

 

Técnico, Treinador, Professor(a)

– Que importância adquirem no ensino?

– Importância da participação de professoras.

Há pouco postamos artigo sobre o tema O que um Técnico Pode Ensinar a um Professor? Em que oferecemos debater o assunto de forma cordata, nada competitiva. Ali expusemos um exemplo do  valor relativo dessa contribuição dada a disparidade (ainda) dos valores pedagógicos a serem almejados. O alto nível está muito distante da base, sendo determinante a busca de outros passos a serem percorridos.

Para os menos sensíveis à questão da Formação esportiva, basta acompanhar o noticiário da imprensa sobre nossas possibilidades nos jogos olímpicos/2016. Percebam que não é injetando dinheiro que se produz uma geração de atletas, há algo mais em que se pensar com objetividade e conhecimento. Como propalam bons educadores, não é o salário que torna um professor bom ou mau em sua tarefa de ensino. Lembro que em algum dos artigos já postados apontamos uma realidade conhecida no meio esportivo: “Há bons treinadores (técnicos) para dirigir uma equipe; outros, para treiná-las (treinador). Difícil é acumular”! Mas, e nas escolas? Quem deve despertar o interesse dos jovens  na prática esportiva?

Como seria o diálogo, por enquanto impossível no Brasil, entre os grandes intérpretes e influenciadores dos interesses de um indivíduo: o técnico de seleção e o professor escolar, incluída a PROFESSORA? É notória a distância que os separa no cenário nacional, ainda que muitos reconheçam a necessidade de mudanças e a implantação de uma política de incentivo à Formação para qualquer desporto. Rios de dinheiro escoaram pelos ralos da incompetência e corrupção ao longo dos tempos e, enquanto políticos ou agentes desportivos defendem seus interesses, o espectro de que algum dia possamos  divisar luz no final do túnel muitas gerações estarão condenadas ao ostracismo desportivo. Vejamos como exemplo um caso em competição internacional.

A seleção de voleibol masculina andou declinando na primeira fase da Liga Mundial recentemente concluída. Ao final, recuperaram-se e conquistaram um segundo lugar honroso. Mas naqueles momentos duvidosos de classificação, as previsões eram pessimistas e ainda persistem, a clamar por renovação, a inclusão de um cubano que atua no Cruzeiro, falta de patrocinadores, equipes que se desfazem, a Liga Nacional não é a mesma, etc. Como pode o técnico constituir e tornar uma equipe campeã se existem fatores contrários à renovação de valores? E ainda: em que condições desenvolvem seu trabalho e se há algum instrumento confiável de avaliação de seu desempenho? Não se criam possibilidades de estudos/pesquisas para divulgação e acompanhamento científico. Até onde sabemos, apenas um relatório, logo engavetado. Talvez pudessem parar de se queixar de que “não têm tempo para treinar este ou aquele jogador com alguma deficiência”. Ou mesmo, que nenhum treinador se apresentava para acompanhar os treinamentos das seleções.

Os dirigentes da CBV tinham um critério na indicação dos técnicos principais das seleções: a confiabilidade pessoal de seu presidente. O período seria “olímpico”, coincidindo com os quatro anos entre os Jogos, salvo algum acidente de percurso como ocorrido  nas dispensas de Ênio Figueiredo (feminina, 1984) e posteriormente, na masculina como o coreano Sohn (1988). Atualmente, é de fácil conclusão que a eficiência – conquista de medalha – fala mais alto.

O treinador

Do dicionário extraímos os sinônimos: catedrático, docente, doutor, educador, instrutor, lente, mentor, mestre. Na prática, parece haver um consenso de hierarquia advindo de suas funções em uma equipe. Estaria logo a seguir do técnico e seu auxiliar mais direto, por isto denominado “auxiliar-técnico”. Todos eles, inclusive o técnico, podem ou não ser um professor de Educação Física. A prerrogativa principal é o diploma conferido pela entidade oficial do país de “técnico internacional”.

MiniSG3O Professor… e a Professora

Talvez fosse bem melhor para o esporte nacional, que eles ouvissem os professores de Educação Física e, principalmente, suas dificuldades em fazer Esporte Escolar. E não dizer-lhes que nada entendem, pois “não são do ramo”. Este fato parece não se constituir problema para a Rússia, uma vez que por lá existem milhões de praticantes de voleibol que têm sua iniciação ou formação a partir das escolas. Se verdade, creio que devamos volver nossos olhares não para as causas apontadas acima, mas para as crianças, suas escolas e, principalmente, a formação profissional de seus educadores.

Muitos professores ainda acham que o ensino do voleibol é dificultoso, especialmente para crianças. Alegam dificuldades motoras, além das imposições da regra do jogo que impede conduzir (progredir) a bola e deixá-la tocar o solo: o toque deve ser rápido e está limitado a três intervenções por equipe. Outros, que não vale a pena treinar baixinhos, gordinhos, seria perda de tempo. E ainda, bom número de aspirantes à docência já têm um histórico esportivo que os condiciona à especialização precoce em seu magistério e, portanto, quase sempre adotado em suas aulas.

Essa cultura está enraizada desde os primórdios das escolas de Educação Física, talvez pela falta de conhecimento dos primeiros mestres de formação militar. E permanece latente no ambiente universitário, haja vista a oferta de oportunidades de emprego e o ambiente restrito do voleibol, especialmente na atualidade com o encerramento das atividades clubistas. Durante muitos anos, e talvez ainda hoje, mestres universitários apregoavam que o voleibol deveria ser ensinado posteriormente ao basquete, e a seguir, o handebol. Todavia, dada a falta de atualização daqueles mestres, o currículo jurássico das universidades, aliados à falta de interesse na melhoria do ensino e dos próprios alunos, estamos estagnados em matéria de Métodos e Pedagogia de ensino. Então, as aulas se resumem a rolar uma bola de futebol para aqueles que querem brincar, e dez voltas no campo para os que se recusam. Enquanto isto, na quadra ao lado, as professoras ensaiam exaustivamente o tradicional jogo de queimada.

– Quais seriam, então, as oportunidades de as crianças aprenderem a jogar voleibol?

Essas e outras experiências contribuíram sobremaneira para alicerçar uma vocação que estava latente há muito. Com a aposentadoria das quadras, demos início a estudos sobre a Psicologia Pedagógica, Metodologia e a execução de projetos em nível nacional. Vejam a seguir como a falta e erros de percepção e planejamento oferecem condições de a história se repetir, isto é, confundirmos ponto de chegada com ponto de partida.

capas dupla história do vôleiEra Nuzman… 1975-1995 (História do Voleibol no Brasil, Roberto A. Pimentel, vol. II, pág. 207-208)

Peças de Reposição – (…) Bebeto apregoava (técnico da seleção, 1984) que o vôlei estava reduzido a uma elite e que isto poderia prejudicar a seleção brasileira nas próximas competições internacionais por falta de opções para o treinador.[…]

Para o então presidente da CBV, Carlos Nuzman, “o problema era mundial, pois nem a União Soviética conseguiu armar uma equipe com mais de uma opção tática. Prova disso é que ainda não havia substituto par ao levantador Zaitsev”. […] A atualização dos técnicos brasileiros aos métodos mais modernos de treinamento e às táticas adotadas pelas principais potências preocupava o dirigente. Ele não sabia explicar a falta de interesse dos treinadores brasileiros pelo trabalho que vinha sendo realizado nas seleções feminina e masculina: “Em oito meses de preparação, apenas dois técnicos, um do Piauí e outro do Ceará, se interessaram pelo trabalho do Ênio e do Bebeto. Nenhum treinador comparecia aos treinos das seleções ou demonstrava qualquer interesse pelo trabalho. Além disso, poucos participaram dos cursos internacionais promovidos pela CBV nos últimos três anos. Isso só prejudica a formação de novos treinadores”. […] Ao que parece, Nuzman não considerava que os treinadores interessados tivessem seus próprios afazeres, seus compromissos profissionais e que nunca houve incentivo da entidade em promover este particular; pelo contrário, percebia-se certo desprezo, desconforto ou má vontade em atender possíveis candidatos.

Até hoje nota-se uma rivalidade e uma “hierarquia” no ambiente do voleibol, gravados por um pretenso “saber maior” pelo fato de ter participado da equipe técnica de uma seleção brasileira. A tal ponto chegamos que, no primeiro curso para técnicos de voleibol de praia, um dos professores, que fora auxiliar técnico de seleção, dizia a um dos seus alunos, muito perguntador e crítico, que se aquietasse e deixasse de questionar tanto, pois “não era do ramo”, numa nítida posição de insegurança e prepotência, ambas as filhas do regime militar que aturamos por longos anos.[…]

O dirigente considerava-se “dono da verdade”, a ditar regras, esquecendo-se de que talvez tivesse pessoas ao seu redor para instruí-lo a respeito do assunto. Ou então, centralizador e ditatorial, menosprezasse qualquer alternativa contrária. E estamos à vontade para dizer isto, uma vez que, em 1984, convencemo-lo a dar início a um trabalho de renovação pela Base, com a construção de um Núcleo de Referência na AABB-Rio, que se irradiaria pelo país. Infelizmente foi abortado por ação de um conselheiro mais próximo.

Ora, se a FIVB se preocupava desde 1972 em despertar o interesse de crianças no esporte, tendo realizado inclusive Simpósio Mundial de Mini Voleibol (1975), por que não as suas Filiadas? O mesmo Nuzman, guindado à presidência do COB, continua a exercer sua influência não muito saudável sobre ditames de ordem técnico-pedagógico sobre o Ministério dos Esportes e da Educação, a nos dizer o que fazer em relação ao esporte escolar. Cremos que lhe falta um pouco de humildade e lembrar-se de que muita gente pensa neste país e que os professores escolares não são funcionários do COB. Continua achando que Jogos Escolares resolverão os problemas da Formação de Base. Puro jogo para a mídia e seus “fieis escudeiros” funcionários do COB.

Seria de se esperar que os gestores educativos permitissem e facultassem planejamentos em que os verdadeiros professores poderiam ensinar aos técnicos, invertendo a pirâmide a favor de milhões de indivíduos. Nos em nossa missão, na busca de uma arquitetura pedagógica em favor da Formação de nossos futuros atletas, e principalmente, cidadãos conscientes e íntegros.

Nota: Um dos técnicos de seleção brasileira que nos incentivou e apoiou em determinado momento foi Paulo Roberto de Freitas, o Bebeto, que em sua brilhante passagem na década de 80 pela Bradesco, facilitou o contato com o gerente esportivo da Associação no sentido de apresentar-lhe o projeto que pretendíamos implantar no Rio de Janeiro para a introdução do Mini Voleibol. Infelizmente, não avançou, talvez pela grande perturbação da implantação do profissionalismo no Brasil. Em um segundo momento (1984), o mesmo Bebeto conduziu a seleção a Niterói para uma exibição-treino no ginásio do Canto do Rio em favor da APAE. Um sucesso!
Além deles, dois outros: Paulo Emmanuel da Hora Matta, quando nos convidou a proferir aulas na UERJ em curso de Técnica de Voleibol (1981); e Célio Cordeiro Filho, na Gama Filho e Estácio.

Valor de uma Boa Formação 

Vissoto na defesa atrás do BrunoEm bate-papo informal entre amigos, logo após a missa de sétimo dia mandada rezar em Copacabana em sufrágio da alma de João Carlos da Costa Quaresma (março/2014), dizia-me Bebeto a respeito da Formação de atletas: “Como se pode fazer com que, p.ex., o Vissotto seja pelo menos um defensor regular? Ele jamais se sujeitaria a agachar-se e levar boladas no peito e cara”!  Calei-me em consentimento à afirmativa. Contudo, o leitor que nos acompanha perceberá o valor de um bom ensino a partir da formação inicial. Poderão constatar que não basta formar seleções de infanto juvenis, juvenis, uma vez que se destinam tão somente a vencer as competições internacionais, especializando precocemente os atletas e, muitas vezes, levando-os além de suas forças físicas. Tais competições não exprimem uma estratégica satisfatória, haja vista os resultados quando avaliados custo e benefício. Vejam o exemplo a seguir.

– Atualmente, como treinam as seleções brasileiras de ponta no que se refere ao fundamento defesa?

– Tentamos produzir diálogo com ambos os treinadores das seleções principais, mas nada conseguimos… AINDA, pois não desistiremos!

Em Portugal, p.ex., houve época em que a Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) realizava um programa de visitas regulares a algumas cidades em que implantara o Gira-Volei, equivalente ao nosso Viva-Vôlei, conduzindo também o treinador principal da seleção masculina para entrevistar-se com as crianças e professores. Só configuração para fotos!

Leia mais… Projeto Modelo para Formação de Base em Escolas

 

Aprender a Ensinar – I

Conversa com o Professor

Volto-me principalmente aos docentes de educação física que atuam em escolas e àqueles que prestam serviços em agremiações na área da Iniciação e Formação. Ressalto que as sugestões metodológicas e pedagógicas inicialmente colocadas para o ensino do voleibol devem contemplar igualmente qualquer outro desporto, é claro, guardadas suas peculiaridades. Se necessário, sugiro que se determinado assunto despertar maior curiosidade ou entendimento, que o leitor se aprofunde no próprio texto referenciado. Em caso de persistir a dúvida, a consulta imediata ao autor. Sendo assim, passemos à recapitulação do que já foi exaustivamente colocado neste Procrie.

Inicialmente, recordo que em junho/2009 – Professor de Vôlei (II) – tratei dos Problemas na Iniciação Esportiva travando um diálogo gratificante com colegas professores que explicitaram suas dúvidas e dificuldades. Possivelmente, a maior delas em qualquer escola seja a evasão de alunos com a continuidade das aulas ao longo do ano. Vi muito de perto este assunto quando meus filhos (10-12 anos) praticavam o basquete na escola. Só não percebi qualquer motivação do professor em resolver o problema, talvez porque recebia o salário pelas aulas independente do número de alunos e não era avaliado pelos seus gestores.

Pelo que sempre presenciei e também colhi no 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol (vejam Anais do Simpósio), no mundo inteiro as dificuldades e problemas são inevitáveis enquanto não houver um maior engajamento do professorado. Cumprir um currículo é uma coisa, dar uma boa aula é outra. Daí o movimento mundial na direção da meritocracia, que alguns países já fazem com sucesso. Imaginem se aquele professor de basquete ali de cima fosse remunerado não por hora/aula, mas pelo número de praticantes, como deveria proceder? Esta situação nos leva a indagar: “E no clube competitivo, quando há um limite no número de atletas?”

Farei uma pausa para contar-lhes três historinhas, duas delas de quase sucesso.

1ª. No colégio dos meus filhos vez por outra me insinuava junto ao professor de voleibol nas aulas extra classe para auxiliá-lo. Eram no máximo 14 alunas, de 13-14 anos. Foi sugerido à direção da escola o desenvolvimento de um programa para alunos de 9-10 com aulas pela manhã (estudavam somente à tarde). Aceita a sugestão, produzi para ele um convite que foi distribuído aos pais. Em resposta, 310 crianças aceitaram de pronto participar. Claro que não foi possível levar avante as aulas, pois se criou um lindo problema: o educandário, embora com excelentes instalações, não tinha como comportar tantos em poucas horas disponíveis. Passamos, então, à solução: as aulas de mini voleibol seriam incorporadas à grade curricular da educação física da escola. Com isso, TODOS os alunos seriam beneficiados! Ocorre que o professor Coordenador não se inclinou pela medida e sugeriu que os alunos fossem divididos em grupos, de modo a que frequentassem as aulas de 15 em 15 dias. Acreditam?

2ª. Na Praia de Icaraí, Niterói, bem em frente ao Cristo Redentor e ao Pão de Açúcar, os mais belos cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, desenvolvi por 4-5 anos atividades regulares, duas vezes na semana, para centenas de crianças de 8-13 anos de idade. A última delas para exatamente 400, incluídos 20 alunos da APAE. Foi um projeto que marcou época e se estendeu para 300 crianças e adolescentes na Praia de Copacabana, Rio. Ressalte-se que jamais me preocupei com a formação de equipes ou mesmo técnica, mas assegurar o interesse da meninada. E consegui, pois não havia evasão e, ao contrário, sempre uma intensa procura por novas matrículas. Marcou época!

3ª. Logo que dei início ao Procrie, levei a um clube do Rio de Janeiro o projeto que consistia em criar ali um Núcleo de ensino do voleibol para 240 crianças, com aulas regulares duas vezes na semana. As instalações eram favoráveis inclusive para o incremento de outros desportos – mini basquete, badminton – uma vez que possuem cinco ginásios. A partir dessas aulas, estaria divulgando a metodologia e, através de vídeos, a pedagogia pertinente, tendo sempre em mente pesquisar novas formas criativas e incentivando universitários a participarem. Infelizmente não consegui alavancar qualquer patrocínio para manter o projeto sem ônus para os alunos. Mas se cobrasse dos seus pais a mensalidade vigente no mercado (R$ 60,00) naquela época, percebam o quanto estaria auferindo mensalmente. O grande detalhe está em saber produzir aulas consistentes, atraentes e, acima de tudo, manter o interesse dos alunos permanentemente. Não só voltam como atraem mais colegas para o seu (nosso) convívio.

Roberto Pimentel, Bené, Bernardinho e R. Tabach no Centro de Mini Vôlei na Praia de Copacabana, Rio.

Quando ainda na Praia de Copacabana com o Curso, recebi a visita da seleção brasileira feminina de voleibol, à época (1995) comandada pelo Bernardo Rezende, o Bernardinho. Tomado de entusiasmo pela criatividade, encomendou-me material e equipamento para desenvolver um pólo no Centro Rexona, em Curitiba (PR). Posteriormente, o projeto foi estendido para diversas escolas públicas do estado.

Fórmula Mágica

Concluindo, percebam que os projetos eram INCLUSIVOS, isto é, TODAS as crianças seriam ou foram contempladas com as atividades, uma vez que não se prospectava talentos para a formação de equipes competitivas, mas sim, oferecer-lhes atividades múltiplas, convívio social e diversão. Foram atendidos assim os três preceitos fundamentais da primeira fase: a) convite, em que dou a conhecer o assunto, isto é, a prática do mini voleibol; b) encantamento, traduzido em diversão e alegria; c) interesse, mantido pela diversidade das ações e multiplicidade do equipamento. O que assegurava concomitantemente mais e mais adeptos.

Em outro momento voltarei a falar-lhes ou, se preferirem, façam contato. Até breve!