Novas Formas de Pensar o Treinamento (1)

Foto 104Design thinking como fonte do saber

“Em Stanford, design é uma disciplina ensinada para gestores, médicos, filósofos… e até para designers.” (Rique Nitzsche, autor do livro Afinal, o que é design thinking?).

(Stanford, Califórnia, universidade especializada em pesquisas, localizada próxima ao Vale do Silício.)

 

Design thinking – Pensamento de design – Como funciona – Identificando e resolvendo problemas – Liberdade de ter ideias maravilhosas – Heurística de Pólya – Conceito de priming, memória associativa – Volley design.

Conceito. Busca perspectivas para solução de problemas. Não há ideia burra!

Processo.  Dividido nas fases de imersão, análise, ideação e execução de protótipos.

Bibliografia:

Psicologia Pedagógica, L. S.Vigotski – Como as Crianças Pensam e Aprendem, David Wood – O Código do Talento, Daniel Coyle – O Código Cultural, Clotaire Rapaille – Rumo a uma Ciência do Movimento Humano, Jean Le Boulch – Rápido e Devagar, Duas Formas de Pensar, Daniel Kahneman – História do Voleibol no Brasil, Roberto Affonso Pimentel.

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Design thinking

Profissionais de vários setores estão convencidos de que se manter em forma também exige disciplina. Para essa equipe deslocar o olhar do cenário convencional pode conduzir a descobertas inesperadas e inovadoras. Mas em que se baseiam? No conceito do design thinking, tomado emprestado do processo de design de produtos, que, para especialistas, está ganhando no mercado a força dos MBAs do início deste século. Trata-se de um processo de como produtos e serviços são gerados. Esse artigo de Luciana Calaza foi publicado no jornal O Globo (26/5) e chamou-nos a atenção por se tratar de ideias e olhares pedagógicos sobre aspectos do treinamento humano, ou em outras palavras, sobre Compartilhamento e Educação. As ideias expostas sumariamente dão conta do que vínhamos postulando a respeito de inovação, criatividade, intuição e formas de ensinar. Resumindo, Aprender a Ensinar, onde o destaque está focado na maneira de pensar para atuar em quaisquer circunstâncias, prevenindo-se contra as receitas técnicas e mesmices.

Pensamento de design

O design thinking pode ser um vetor de mudança no aprendizado de ensino no país. Trata-se de criar um espaço para ser usado por todos os cursos em um ambiente propício para o processo de design thinking, chamado Inovateca. Aqui, os processos se desenvolvem em um ambiente em que não há ideia burra. Inovação não é para gênios, é para gente que tem disciplina para buscar o maior número de informações possíveis e chegar com insights interessantes. Qualquer setor pode se beneficiar do emprego do pensamento de design, pois mesmo as equipes mais talentosas, por vezes caem na armadilha de resolver um problema sempre da mesma maneira. Ele vem se juntar às ideias desenvolvidas por Daniel Coyle no livro O Código do Talento, além do processo de se obter ideias maravilhosas já ventilado neste Procrie em Importância de um Bom Ensino (I, II).

Como funciona

Mariana Gutheil, diretora da Perestroika, misto de escola de atividades criativas, empresa de consultoria e incubadora de ideias, lançou no Rio e em São Paulo o curso New Ways of Thinking. O design thinking tem a ver com formular, fazer protótipos e testar, além de antecipar o momento de feedback. Em vez de gastar milhões de reais desenvolvendo um produto, que tal, antes, lançarmos uma primeira versão, mais simples, para um número menor de pessoas?

Identificando e resolvendo problemas

Quando uma ideia se torna um sucesso, quando algo se torna inovador, nos perguntamos: “Uau, quem fez isso?” Na verdade, o que deveríamos estar nos perguntando é: “Uau, como isso foi feito?” O “como” é que devia ser explorado e analisado. O design thinking acelera o processo de inovação e é uma abordagem que ajuda a justamente entender a coisa. A ideia é capacitar pessoas a partir de uma aprendizagem baseada em projetos reais apresentados por várias empresas. O curso parte do princípio de que existe mais de um jeito de identificar e resolver qualquer problema ou desafio, tanto no ambiente de trabalho quanto em qualquer situação das nossas vidas. Pela primeira vez o mundo dos negócios está percebendo que há um método de resolução de problemas que não nasceu na área de administração. E pelo jeito, os executivos estão indo atrás desse método, que sugere que não importa o quão óbvia uma solução possa parecer – o que se espera aqui é que sejam criadas muitas soluções para a análise. Nas aulas de design thinking os alunos resolvem problemas reais das empresas brasileiras que levam seus cases para a discussão na universidade. Em 45 minutos tem-se que ter 20 propostas e daí surgem hipóteses que normalmente nem seriam cogitadas. E isso é bom. Depois, você pode excluir as que não servem, de acordo com as suas restrições, quer sejam elas de lei, distribuição, geográfica, temporalidade etc.

Fonte: jornal O Globo, caderno Boa Chance, Novas formas de pensar, de Luciana Calaza, lucalaza@oglobo.com.br, 26.5.2013.

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Liberdade de ter ideias maravilhosas! 

Penso que a inteligência não pode se desenvolver sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados. (Eleanor Duckworth, The Having of Wonderful Ideas, 1972) (Leia mais Importância de um Bom Ensino)

  • Como aplicar o design thinking no ensino de voleibol?
  • Como ter ideias e resolver problemas?

Heurística de Pólya

O matemático húngaro George Pólya em sua obra A Arte de Resolver Problemas nos esclarece: “Se você não consegue resolver um problema, então há um problema mais fácil que você pode resolver: encontre-o.” As heurísticas de Pólya são procedimentos deliberados da nossa mente. Uma definição técnica de heurística nos diz tratar-se de um procedimento simples que ajuda a encontrar respostas adequadas, ainda que geralmente imperfeitas para perguntas difíceis. Transmite a ideia de substituição.

Conceito de priming, memória associativa

Este conceito está desenvolvido no livro de Daniel Kahneman – Rápido e Devagar, duas formas de pensar – que exprime resumidamente o que seja a “máquina associativa” de nossa mente. Assim, priming é uma rede, uma associação de ideias que se sucede em nossa mente de um modo razoavelmente ordenado. Como falamos em ideia, esclarecemos que os psicólogos pensam nas ideias como nódulos numa vasta rede chamada memória associativa, em que cada ideia está ligada a muitas outras.

Volley design

Acreditamos que a partir desse instante podemos criar o nosso volley design e avançarmos para novas formas de encarar os problemas que o voleibol nos impõe enquanto pesquisadores da qualidade no ensino, denominada por Daniel Coyle (O Código do Talento) de “treinamento profundo”.

Dando início aos artigos verão nas próximas postagens uma versão não acadêmica de uma tese sobre o Treinamento de Defesa. Está colocada não como verdade, mas para ser criticada sobre vários olhares. Lembrando que apesar de alguns exemplos se referirem ao alto nível,  representa uma sugestão de como treinar a partir das equipes principiantes e em formação. Seria uma mudança de mentalidade a ser operada nos agentes educadores (e treinadores).

Até lá!

 

Rápido e Devagar, Duas Formas de Pensar

Roberto Pimentel

Como funciona a nossa mente

 

– O medo de perder é mais forte do que o prazer de ganhar?

Uma pessoa mais bonita será mais competente?

 

 

Daniel Kahneman, psicólogo judeu autor do livro “Rápido e Devagar, duas formas de pensar”, desenha um mapa do nosso modo de pensar e oferece métodos para combater os erros que cometemos de modo inconsciente e para melhor aplicar a nossa capacidade de raciocínio analítico. Incentivo a leitura dos estudos sobre a tomada de decisão conduzida por este psicólogo, prêmio Nobel de Economia, relembrando aos leitores o artigo postado em 9/5/2010 sob o título “Importância de um Bom Ensino (I)”, Ali fizemos coro aos ensinamentos de Eleanor Duckworth, na sua obra “Importância de não aprender e o ato de ter ideias maravilhosas” (The Having of Wonderful Ideas, 1972). Assim ela se expressava sobre o aprendizado:

“Penso que a inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”.

A arte de ensinar

Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Hoje, tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido, especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar. (…) Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos? Sobre o mesmo assunto, consignamos em vários artigos os conceitos pedagógicos da novel teoria neural divulgada por Daniel Coyle em seu livro “O código do talento”.

Agora, chega-me às mãos essa obra-prima (Financial Times) de Kahneman, a qual devoro por dias na busca de um aprimoramento que me conduza a um  aprender a ensinar mais eficiente. Resumindo, bons autores, bons ensinamentos. Aproveitemo-nos todos. Vejam alguns dos tópicos que selecionei em minha primeira abordagem às páginas (609) em sua visão inovadora sobre como nossa mente funciona e como tomamos decisões:

  • Nossa mente funciona de duas formas: uma rápida e intuitiva, e outra devagar, porém mais lógica e deliberativa.
  • A tomada de decisão é uma crença ilusória; estamos sempre expostos a influências que podem minar nossa capacidade de julgar e agir com clareza.
  • Por que o medo de perder é mais forte do que o prazer de ganhar?
  • Por que assumimos que uma pessoa mais bonita será mais competente?
  • De que modo o humor influencia o desempenho de uma tarefa?

A Máquina associativa

  • O trabalho mental que gera impressões, intuições e diversas decisões ocorrem silenciosamente em nossa cabeça. Normalmente nos permitimos nos guiar por impressões e sentimentos, e a confiança que temos em nossas crenças e preferências intuitivas em geral é justificada, mas nem sempre. Muitas vezes estamos confiantes quando estamos errados, e um observador objetivo tem maior probabilidade de detectar nossos erros do que nós mesmos.
  • Aperfeiçoar a capacidade de identificar e compreender erros de julgamento e escolha, nos outros e afinal em nós mesmos, propicia uma linguagem mais rica e mais precisa para discuti-los. Pelo menos um diagnóstico mais apurado pode sugerir uma intervenção para limitar o dano que julgamentos e escolhas ruins muitas vezes ocasionam.
  • A normalidade de uma multiplicidade de eventos poderá ser alterada por um evento. Esses eventos parecem normais porque convocam o episódio original, vão recuperá-los da memória e são interpretados em conjunção com ele.

Atenção e esforço

  • Esforço mental: à medida que você se especializa numa tarefa, a demanda de energia diminui. Na economia da ação, esforço é um custo, e a aquisição de habilidade é impulsionada pelo equilíbrio de benefícios e custos.
  • Custo & Benefício: os neurocientistas identificaram uma região do cérebro que avalia o valor global de uma ação quando ela é completada. O esforço que foi investido conta como um custo no cálculo neural.
  • Linha de base: conjunto inicial de dados ou observações utilizados como referência em um estudo.

Priming, ideia, efeito ideomotor

  • Conceito de priming: associação (rede) de ideias que se sucedem em nossa mente de um modo razoavelmente ordenado.
  • O que é ideia? … “nódulos numa vasta rede, chamada memória associativa, em que cada ideia está ligada a muitas outras”.
  • Ideias ativadas: a máquina associativa retrata apenas ideias ativadas, mas não considera (nem pode) informação que não detém.
  • Efeito ideomotor: é um fenômeno de priming, em que uma ideia influencia uma ação; funciona nos dois sentidos.

O que você vê é tudo que há

A notável assimetria entre os modos como nossa mente trata informação que está presentemente disponível e informação de que não dispomos. O perigo das conclusões precipitadas: o que você vê é tudo que há.

  •  “Aparentemente não se deram conta da pouquíssima informação que tinham”.
  • “Eles tomaram essa grande decisão com base em um bom relatório de um único consultor”.
  • “Eles não queriam mais informação que pudesse estragar a história deles”.

Voltaremos ao assunto e, até lá, discutamos como ser um bom professor ou treinador.