Iniciação & Formação. Problemas e Soluções
10. O gesto técnico
Como aprender a executar o saque, o toque por cima com ambas as mãos e a manchete? Quando devem ser ensinados? Como ensiná-los?
Naturalmente, quando a criança é atraída para praticar algum esporte, tem alguma motivação a mais do que aquela que a induz a brincar e a se divertir. O motivo maior ainda é de DIVERTIR-SE. Para isso, passa a entender que é necessário aprender a executar alguns gestos pouco naturais imprescindíveis para ela brincar com as outras colegas. Esses gestos fundamentais para que haja um jogo podem ser ensinados de forma lúdica, sem comprometimento de aspectos psicológicos e, pelo contrário, com ganhos cognitivos e sociais. Num segundo estágio, já de formação de equipes, pode-se exigir e incrementar exercícios visando a uma melhor performance técnica. A partir daí, é aconselhável buscar a perfeição dos movimentos (apuro técnico).
11. Final de set, hora de decidir…
Perguntam-me o porquê e o quê fazer diante da indecisão de uma equipe em fechar um set? Muitas vezes, dependendo de um único ponto, perdem o set e a partida! Nesta altura do jogo parece que as mentes das atletas simplesmente tornam-se obnubiladas. Contudo, esses momentos se repetem através do tempo, não sendo exclusivo de determinadas equipes. São peculiaridades do esporte, inclusive do voleibol, quando os times começam a se nivelar entre si. Lembram-me a expressão muito usada em futebol, caixinha de surpresas. Constata-se que este fato não é exclusivo das categorias iniciantes. Ocorre no alto nível, em jogos mundiais e olímpicos, com equipes experientes. Já vimos isso inclusive com a seleção brasileira feminina em jogo contra a Rússia. Como explicar, ou melhor, como solucionar o problema?
Inteligência emocional. “Aprender a racionalizar a emoção ou a processa-la de forma inteligente é a chave do que os especialistas chamam de inteligência emocional. Ao perceber-se diante de uma situação de conflito ou tensão, uma atleta emocionalmente inteligente não se deixa levar pelo impulso, nem “paga na mesma moeda”. Busca detectar que tipo de resultado atingirá com as variadas reações que possa perceber e escolhe a que mais se adequa ao resultado a que se quer obter. Não se trata de dissimular emoções ou reprimi-las, mas de aprender a expressá-las adequadamente. Observa-se que quando a emoção das integrantes de uma equipe é levada em consideração, os resultados são, em geral, mais positivos. Para os psicólogos, são justamente as líderes de uma equipe que mais necessitam de orientação neste sentido”. (“Voleibol na Escola, I / Valorização das emoções nas atividades”)
Primeiramente, solucionar será bastante difícil ou impossível em equipes iniciantes. Não sabemos quando e onde vai ocorrer. É sempre inesperado. Como explicar, embora seja tarefa para psicólogos, posso fazer uma tentativa para a obtenção de soluções. Assim, penso que a atitude da treinadora é primacial para este estado de coisas. No seu relacionamento diário com suas atletas ela consegue passar a sua personalidade para a equipe que a absorve inconscientemente, especialmente se imatura ou se possui uma capitã com ascendência sobre as colegas. Fazer com que as atletas decidam por elas mesmas é uma das mais eficazes medidas a serem adotadas por uma treinadora experiente, pois vão precisar sempre de soluções inesperadas e criativas em confrontos difíceis. Esperar que a professora tenha soluções para todos os momentos pode não ser uma boa. Gritar, gesticular, esbravejar, atirar a responsabilidade sobre um lance ou atletas também não resolve o problema e tampouco é solução para o futuro. Assim, entendo que a melhor maneira de enfrenta-lo é instruir e fazer com que, diante de situações-problema, as atletas encontrem as melhores soluções por elas mesmas. Ou que, pelo menos, TENTEM. Este é um trabalho diário, de acompanhamento muito próximo e repleto de realizações, pois leva o indivíduo à sua plena realização. Elas, as crianças, passam a pensar, analisar e a decidir por elas mesmas sem a ajuda de quem quer que seja. E enquanto não alcançam esse estágio a professora estará bem próxima para apoia-las e instruí-las, sem protecionismo exagerado. São atitudes que levam à independência do indivíduo.
12. A posição de expectativa
Faça o seguinte teste com qualquer de suas jovens atletas:
a) a uma distância de 2m-3m, lance para ela uma bola para que ela simplesmente a segure;
b) em seguida, faça o mesmo lançamento orientando a trajetória da bola para que fique aquém da atleta. Para alcançá-la deverá fazer um pequeno movimento à frente;
c) observe a posição “de partida” da atleta e veja como realiza os primeiros movimentos em direção à bola: com certeza realizará, primeiramente, um movimento para trás e “desnecessário” com uma das pernas para, em seguida, avançar na direção da bola;
d) assim mesmo, se estiver numa posição inicial de expectativa, isto é, “baixa”: uma das pernas à frente da outra e, tal como o tronco, ligeiramente flexionados. É interessante que o peso do corpo esteja sobre uma das pernas. Braços também semiflexionados à altura dos quadris e as mãos relativamente abertas em forma de concha;
e) é uma posição que guarda uma similaridade com a “posição de partida” de um corredor de 100m no atletismo.
f) a cada movimentação da bola e adversários, “repensar” a sua posição dentro da quadra e em relação às suas colegas; terá facilitada a tarefa cada vez que se “antecipar” no raciocínio, isto é, “naquilo que a adversária pode fazer”.
g) os exercícios com a rede coberta (item 8, “como defender”?) propiciam um desenvolvimento fantástico neste mister.
No próximo post, apresentarei aspectos relativos às funções das jogadoras numa equipe principiante, como sacar e detalhes da recepção.

