Como Ensinar

Desenho: Beto Pimentel.

Aquisição de Habilidades 

“Não se trata de reconhecer um talento, o que quer que isso venha a ser. Nunca saí à procura de alguém que fosse talentoso. Primeiro, é preciso trabalhar os fundamentos e logo se percebe para onde caminham as coisas”. (Robert Lansdorp)

Aquisição de Habilidades,  Avaliando o Treinamento, Percepção, Talento.

Há que se destacar na aquisição de habilidades e no desenvolvimento de talentos dois aspectos. A habilidade, como um processo celular, que se desenvolve mediante o treinamento profundo através de um processo similar à ignição de um carro; ela fornece a energia inconsciente para esse desenvolvimento. E os raros indivíduos com o impressionante dom de combinar essas forças para desenvolver o talento em outros. Em outras palavras, “como combinar estes dois elementos”?

Em 1970, dois especialistas em psicologia da educação, ganharam uma oportunidade de ouro: partindo do zero, elaborar e implantar um programa de leitura numa escola experimental de um bairro pobre de Honolulu. Financiado por uma fundação educacional havaiana, o projeto envolveu 120 alunos de pré-escola (4 a 6 anos de idade) à segunda série (8 anos). Dois anos após, quando a escola abriu as portas, puseram em prática as ideias pedagógicas mais avançadas da época, muitas delas referentes a estratégias do professor para aumentar o percentual de tempo que os alunos permanecem concentrados no que quer que tenham de fazer em sala de aula, aplicando-se ao máximo nas tarefas propostas. Os pesquisadores eram inovadores, dedicados e tenazes. Nem por isso tiveram êxito e, em 1974, começaram a questionar seriamente a própria metodologia. Os dois estavam na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), onde deram algumas aulas e tentaram compreender por que o projeto marcava passo. Uma tarde um deles teve uma ideia: fariam do melhor professor que pudessem encontrar o objeto de um estudo ultra detalhado e utilizariam os resultados dessa pesquisa para aperfeiçoar o seu projeto de ensino. O professor escolhido, que trabalhava na UCLA, foi John Wooden, treinador titular do time de basquete. O professor concordou que os dois cientistas bisbilhoteiros observassem seus treinamentos. Eles ocuparam assentos à beira da quadra para ver o mago realizar o primeiro treino da temporada. Como ex-atletas, conheciam as boas e velhas ferramentas para conduzir bem um treino: exposições ilustradas com esquemas desenhados no quadro-negro, discursos de incentivo, punições aos indolentes como correr mais voltas, elogios aos aplicados. Então o treino começou…  (do livro “O código do talento”).

Como ver um treino e aprender com ele? Que tipo de comentários resultam das observações e indagações realizadas?

Poderão ver respostas a essas perguntas talvez no tamanho de meia página de caderno. Isto é, ninguém que realiza cursos, especialmente no exterior, está alertado ou se preocupa com isto. Querem isto sim, o imediativismo tal como as crianças, nada de pensar, mas conhecer os exercícios que são executados para o desenvolvimento dos atletas. Então, o curso se resume à memorizar (filmar) o que se realiza em termos práticos, deixando de lado todo o escopo metodológico e pedagógico. Há algum tempo li comentários de um técnico estrangeiro que esteve em Saquarema (RJ), no centro de treinamento das seleções brasileiras de voleibol. A mim me pareceu um turista em viagem de recreio. Outro, um brasileiro, foi contemplado com uma viagem ao Japão para se inteirar e aperfeiçoar. Retornou ao Brasil, e pasmem, permaneceu fiel ao que fazia há anos, isto é, nada incorporou ao seu conhecimento. Um terceiro, este mais experiente, disse-me após retornar também do Japão: “Eles falam pouco, e começam a dizer algo só muito mais tarde, após testarem sua paciência e interesse em observar o que ocorre”.

Um segundo aspecto trata-se da divulgação do conhecimento adquirido. Como todos competem entre si através de seus respectivos clubes por que divulgar o que foi aprendido? Este pensamento prevalece mesmo quando é a entidade máxima do desporto que patrocina o curso. Inclusive, não é cobrado absolutamente nada ao viajante em seu retorno. Foi, viu e voltou! E tudo continua como estava.

(continua…)