Livro de Cabeceira

Roberto Pimentel oferece ao presidente da FIVB, Ary Graça, exemplar da História do Voleibol no Brasil (2 vol.). Foto: Roberto Pimentel.

História do Voleibol no Brasil

É o meu livro de cabeceira!

Mais uma vez fui agraciado com outro grande elogio pela obra que compus. E a referência elogiosa provém do mandatário da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) – Ary da Silva Graça Filho -, que em uma de suas estadas no escritório da Federação no Rio de Janeiro dispensou-me 55 minutos de atenção em raro bate-papo em que dediquei um exemplar devidamente autografado. Homem de poucas palavras, consegui arrancar um significativo elogio quando exclamou: “É o meu livro de cabeceira”! Já em duas ou mais oportunidades em que discorríamos sobre a obra, ressaltou sua preocupação em trabalhar pela construção de um Museu do Voleibol, tal como italianos e talvez outros países. Deve ter-se impressionado também pelo quantitativo de acervos de fotos de familiares que acabei sendo depositário.

Em clima de inteira cordialidade, ouviu-me pacientemente contar sobre meu projeto de desenvolvimento do voleibol no Brasil – www.procrie.com.br/procrienoprezi/ -, tendo-me aconselhado a procurar a CBV com um resumo bem elaborado. Relatei que já enviara correspondência eletrônica à entidade solicitando audiência com o atual Supervisor Geral, Marcos Pina, também meu companheiro no time do Botafogo, quando da campanha do eneacampeonato carioca de voleibol em 1973. Estou ao aguardo de ser convocado com bastante ansiedade e entusiasmo. Devo esclarecer aos leitores que privo da amizade do Ary há muitos anos – éramos jovens atletas do Botafogo em 1963 – e anos depois, quando ingressou com Nuzman na CBV, sondou-me para ser Supervisor Técnico da entidade. Naquele ano de 1975, fizemos parte de uma equipe de masters para um torneio incentivado pela CBV e FMV que, por tamanha excelência técnica, teve como consequência o término da competição no ano seguinte. Posteriormente, quando tomou posse na presidência da entidade no final da década de 90, mais uma vez lembrou-se de meus trabalhos com o Mini Voleibol e não pude recusar o convite para Coordenador Técnico do Viva Vôlei. Infelizmente, por motivos alheios à minha vontade, não pude dar sequência aos nossos trabalhos.

Entretanto, eis que surge outra oportunidade para a concretização de um velho sonho de construir um grande avanço no ensino esportivo, especialmente quanto à Metodologia a empregar. Trata-se do Contributo ao Desenvolvimento do Voleibol descrito em www.procrie.com.br/procrienoprezi/. Aqui é possível conciliar os currículos pedagógicos escolares de Educação Física e dos Esportes.

Boas leituras, Senhor Presidente! E tomara que seja do seu agrado.

 

 

Memória e História

Foto: Fivb/Divulgação.

Valor da História… quando a história de um se soma a de tantos outros!

Uma notícia no site do Terra despertou-me a atenção para o tema à epigrafe. A reportagem tinha como título “Octacampeão sul-americano, Giba lembra primeira edição” e a foto reproduzida ao lado.

Recordo-me ter estado com o Giba – foi a primeira vez que nos falamos – em um jantar no salão do Hotel Evereste, em Ipanema, Rio, onde estava hospedada a delegação nacional. Era véspera dos jogos contra a Polônia pela Liga Mundial deste ano. Na ocasião apresentei ao Bernardo e a ele, Giba, um dos exemplares do livro que compus, “História do Voleibol no Brasil”. De ambos colhi palavras elogiosas e de incentivo e mais não poderia esperar, uma vez que o momento não comportava análises mais detalhadas. Como se diz, “dei o meu recado” e, agora, mais gente já sabe que o voleibol no Brasil transcende 1984, 1964 e recua pelo menos até 1939, por coincidência, o ano em que nasci. Estaria eu predestinado a escrever tais histórias? Devo confessar que quando adolescente, tive brigas com as professoras de História, pois não encontrava sentido prático no seu ensino.

Da reportagem, saliento o tópico que motivou tal crônica: “Capitão da Seleção Brasileira, o ponta Giba nem sempre teve tanta moral no time nacional. Em 1995, ele era apenas um jovem ao lado de ídolos como Marcelo Negrão, Giovane, Maurício, Tande, Carlão e Nalbert na disputa de seu primeiro Campeonato Sul-Americano. Nesta segunda-feira, aos 34 anos, ele começa a sua nona participação no torneio, em Cuiabá, já com oito títulos na bagagem. E diz ele: Ainda me lembro do primeiro, novinho, com 18 anos, jogando ao lado de grandes ídolos da geração de 92. Foi especial. Com certeza nunca vou esquecer deste Sul-americano. Lembro tudo, as pessoas, o ginásio em Porto Alegre, foi tudo muito bom”, declarou. Giba foi campeão no Rio Grande do Sul, da mesma forma como foi em 1997, na Venezuela, e a cada dois anos, na Argentina, Colômbia, Rio de Janeiro, Lages, Chile e novamente em solo colombiano. Nesse tempo todo, a forma como encaramos o Sul-Americano muda um pouco. No primeiro, lembro que era uma ansiedade enorme por estar ao lado dos meus ídolos e, com o nome já feito, depois de tantos anos, é natural que isso mude”.

Giba e Roberto Pimentel conversam sobre a História do Voleibol.

Decorridos muitos anos, revejo minha posição ao ter concluído duas obras de caráter histórico. A primeira, editada em 2008, conta como era a “Villa Pereira Carneiro”, seus costumes e detalhes das numerosas famílias da primeira metade do século passado. Foi ali que nasci e iniciei-me em vários esportes. Narro, inclusive, meu primeiro encontro com o Bené, que já realizava treinos aos sábados numa pequena quadra improvisada. E, já agora, esta verdadeira obra em dois volumes sobre a História do Voleibol no Brasil,  com pouco mais de mil páginas, fartamente ilustrada com fotos. Arlindo Lopes Correa, que me brindou com a sua apresentação, adjetiva a obra como enciclopédica e memorialista.

Por que teria eu mudado o meu modo de pensar a História?  Qual a relação entre História e Memória? Possivelmente o alcance da História seja muito superior ao da Memória. Por isto, quase sempre tenhamos todos a pretensão de construir nossa própria história através da memória e concluirmos que é a verdadeira. Ocorre que à história de cada um acrescentam-se muitas outras, e aí vamos unindo os retalhos, os fragmentos e compondo a História. Para entender um pouco mais fui buscar subsídios no historiador italiano Carlo Ginzburg, que transcrevo a seguir, e deixo a critério de cada um se devem se aprofundar no assunto. Enquanto isto estarei tentando fazer um elo entre passado e futuro, entre o indivíduo e o seu grupo social.

História, memória da humanidade?

Existe uma tendência entre confundir memória com história. Todas as sociedades possuem uma forma de relação com o passado e, por sua vez, possuem suas regras e técnicas. E estas precisam ser colocadas à prova de quando em quando para que se possa sempre distinguir o verdadeiro do falso. Esta é uma conquista da qual não devemos abrir mão. Um dos desafios da história é acertar sua relação com a literatura? A relação entre ambas é muito próxima. Os historiadores também são contadores de histórias, mas tentam contar histórias verdadeiras. É a relação entre o verdadeiro e o falso.

  • A escrita serve como suporte para a memória coletiva. O que fazer, quando a memória erra, confundindo pensamentos e gerando a contradição?
  • Na memória podem ser insinuados erros e o mesmo pode acontecer na história. É importante procurar corrigir esses erros, mas é importante também entender por que eles ocorrem. É preciso aprender a decifrar o erro e a verdade mais profunda que pode estar por trás desse erro.

Em que ponto podemos dizer que uma afirmação histórica está refutada? E o que significa dizer que algo está historicamente provado? Qualquer afirmação sobre a realidade histórica – mesmo a que diz que Napoleão Bonaparte existiu – vale até que alguém prove o contrário. Se aquelas afirmações não fossem sujeitas a falsificações (em linha de princípio teórico), seriam dogmas. Como considerar hoje essa ambição de retratar os indivíduos esquecidos pela história? Hoje eu insistiria ainda mais no estudo da relação entre o indivíduo e o grupo social ao qual ele pertence; uma relação que deve ser explorada concretamente na medida em que os documentos assim o permitem. Por que história é tão aborrecida? O questionamento continua com a lembrança de uma afirmação de Henry James, datada do fim do século XIX: “Representar e ilustrar o passado, as ações do homem são tarefas tanto de historiador como do romancista; a única diferença que posso ver é totalmente favorável a esse último (à proporção, é claro, do seu êxito) e consiste na maior dificuldade que ele encontra para reunir as provas que estão longe de ser puramente literárias”.  O melhor caminho seria unir com ponderação provas e possibilidades, erudição e imaginação.

Animou-me o desejo de retratar os indivíduos esquecidos pela história e o seu grupo social. Nessas histórias que a própria vida me contou sobressai uma relação que deve ser explorada na medida em que os documentos e relatos assim o permitam. Parece-me que o melhor caminho seria unir com ponderação provas e possibilidades, além é claro, de imaginação. Por fim, hoje vejo que encontrei resposta à indagação: “Por que estudar História”? Esclareço que não sou escritor e muito menos historiador. Apenas conto histórias…

Recomendo de forma carinhosa aos internautas e, particularmente ao Giba, retribuindo a gentileza que prestou à minha neta (foto), que façam uma visita neste Procrie à Categoria de História do Voleibol – “Primeira Participação Internacional”, “Origem do Voleibol na América do Sul”, “Intercâmbio na América do Sul” –  e percebam como teve início esse intercâmbio e os campeonatos sul-americanos. Não é muito, mas foi o que pude apurar para deixar registrado na memória e na história. Tomara que a CBV leve avante o projeto de criação de um Museu do Voleibol, a exemplo de alguns outros países.

Giba conduz a menina nos seus primeiros passos. Brasil e Coreia, 2010.

No futuro a menina da foto, então com 4 anos de idade, haverá de se lembrar desse momento. Assim, presto uma homenagem aos novos e aos antigos atletas que construíram o voleibol brasileiro, medalhistas ou não.