De Niterói ao Leste Europeu
Ao que parece, o Leste Europeu começa a assinalar interesse pelo voleibol brasileiro. Ou, como diz um sobrinho meu, tem brasileiro por lá. Fico muito satisfeito e agradeço ao Google Translate a oportunidade de estar ao mesmo tempo em várias partes do mundo. É mais um estímulo a dar continuidade à linha pedagógica que tracei. Não percebo o esporte como fonte de renda, um negócio, embora seja uma das três principais indústrias da era moderna, movimentando bilhões de dólares. Os leitores certamente estão envolvidos pelo enfoque educacional e confesso que me espelho nos ensinamentos do francês Jean Le Boulch e sua Psicocinética.
Quando me iniciei propriamente no voleibol, um rapazinho de 18 anos de idade, os mais velhos falavam-me sobre a excelência do esporte nos países do Leste Europeu, sob forte influência política (e dominadora) da URSS. Dizia-se que os atletas de suas seleções eram mantidos pelo Estado, colocados em quartéis e contemplados com patentes de oficiais. Estavam dispensados de todo o serviço militar para dedicarem-se exclusivamente a treinar. Essas histórias foram repassadas às gerações seguintes e serviu de postulado para a nossa revolução no início da década de 80. Demos o grande passo para o profissionalismo declarado, pois até então era disfarçado e, por isso denominado “marrom”.

Foi-se o tempo em que nos deslumbrávamos com as equipes soviéticas, tchecas e polonesas como meus olhos apreciaram em 1960 no ginásio do Caio Martins, em Niterói. Ou mesmo nos treinos entre jogos no ginásio do IPC, na Praia de Icaraí. Ali conheci a famosa Aleksandra Tchoudina, campeã em Paris (1956) e atleta olímpica no atletismo. Desses treinos no ginásio do IPC, um dos poucos existentes à época em Niterói, recordo-me de um levantador da Romênia, com 1,90m e talvez o mais alto entre todos os especialistas. Não pude deixar de me comparar a ele, uma vez que eu já treinava levantamentos, era possuidor de um bom toque de bola, 1,92m de altura e com a vantagem de atacar com o braço esquerdo (sem ser canhoto). Assaltou-me uma pontinha de vaidade ao pensar que mais adiante poderia ser igual e até superá-lo. O clube niteroiense, protagonista de grandes feitos em vários esportes, transformou o piso de seu ginásio em quadra de saibro para tênis, jogo pelo qual os poucos sócios remanescentes ainda devotavam alguma atenção. Atualmente, o desastre maior: o clube morreu! Sua sede foi vendida para uma imobiliária e um novo prédio cobrirá da memória tantas histórias. Felizmente, resgatei algumas delas em “Voleibol em Nictheroy”.

Não cheguei a ver a excelente equipe tcheca, vice-campeã naquele mundial. Só os veria atuando em dezembro de 1966, quando o time do Spartak realizou alguns amistosos no Rio. Nesta oportunidade perdeu na estreia para o Botafogo, comandado por Jorge Bettencourt (Jorginho) e capitaneado pelo excelente Quaresma.

Para se aquilatar a importância desse time, remonto ao ano de 1946, quando em janeiro o Spartak de Praga jogou na Polônia, sinalizando após anos de guerra que havia quebrado um jejum de jogos e contatos e ocorria a necessidade da criação de uma organização internacional de voleibol. Por ocasião de um amistoso entre a Tchecoslováquia e a França (26/8), um encontro teve lugar em Praga entre os representantes das federações tcheca, francesa e polonesa. O encontro redundou no primeiro documento oficial da futura FIVB, com a criação da comissão da organização da Federação Internacional, a promoção de um Congresso Constituinte, e a decisão de lançar um Campeonato Europeu ou Mundial o mais breve possível. Os diretores de voleibol tiveram o reconhecimento da USVBA, sendo que o jogo já se constituía no quinto esporte de equipe mais fomentado nos EUA.
Mas adiante, talvez em 1975, vi Feitosa, então treinador da seleção brasileira masculina, a elaborar um filme didático tendo como protagonistas os atletas da seleção búlgara que nos visitava para amistosos. Nunca soube se levou a contento a obra. No mesmo ano, entretanto, recebemos a visita do organizador da revolução tática mundial, o técnico Yasutaka Matsudaira, que nos brindou com um filme bem elaborado sobre o treinamento de suas equipes. Possuo talvez a única cópia telecinada.

