Ideias Maravilhosas em Metodologia

O autor com pequenos atletas em Ronneby, Suécia, no 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol promovido pela Fivb e Fed. Sueca. Foto: acervo Roberto Pimentel.

Travessia de Séculos

— Independentemente da comunidade, cidade ou país em que vivemos, o que esperam de nós os nossos filhos e alunos em matéria de transmissão de conhecimentos?

— Estaríamos preparados para o embate pedagógico que se nos afigura neste século?

Na foto, o autor foi clicado com atletas mirins em Ronneby, Suécia, quando da realização do 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol (jul./1975), em uma promoção da Fivb e a Federação Sueca.

Esporte na Escola – Ensino Esportivo – Asas à Imaginação – Motivação e Interesse – Despertar o Interesse – Arte de Ensinar – Conciliando Educação Física e Esporte – Aulas e Cursos Presenciais.

Percebam o significado e a dimensão do alerta que nos coloca o Professor José Pacheco ao dizer que temos Escolas do séc. XIX, professores no séc. XX, e alunos no séc. XXI.

Em Escolas, entenda-se também Universidades, posto que representam a principal forma utilizada pelas sociedades modernas de transmissão do conhecimento. A História nos diz que a Escola é uma invenção moderna, não faz muito tempo que foi criada, contudo os conhecimentos sobre Tecnologia da Informação e Comunicação, que nos atropelam de forma avassaladora há menos de 50 anos, realmente nos impedem de acompanhá-la passo a passo como fazem os nossos alunos em centros mais avançados de ensino.

—  Qual a melhor atitude, que providências a adotar para uma Educação adequada aos tempos modernos?

— Que escola escolher para nossos filhos?

Permito-me sugerir a leitura do texto de Gustavo Ioschpe (VEJA, 19/2/2014), Como escolhi a escola dos meus filhos. Encontrar a escola certa para os filhos é um desafio para os pais, mas fica mais fácil quando se busca uma instituição que entenda a defenda “a supremacia e a universalidade do saber”. Não deixem de criticar a opinião dele, proposta pelo próprio autor.

Por que esporte na escola?

Alguém acredita que os pais se preocupariam em escolher uma escola em que um dos critérios fosse um bom ensino de Educação Física e Esportes? Acreditem, já tive notícias sobre este fato, i.e., a escola fez a diferença na escolha dos pais por ter um ensino mais qualificado em Educação Física e Esportes. E lembro aos mais novos o pensamento de um dos mais importantes estadistas a respeito da atividade física e sua representação:

Atividade física não é apenas uma das mais importantes chaves para um corpo saudável – ela é a base da atividade intelectual criativa e dinâmica. (John Kennedy)

A partir dessa afirmação, pode-se proceder a alguns desdobramentos sobre a atividade física e o movimento. Creio que chegamos ao cerne da questão, ou seja, aliar educação dos movimentos às atividades dinâmicas, em que se manifestam entre outras, a intelectualidade e criatividade. Simplesmente, os jogos! O que nos leva a concluir sobre as vantagens de trabalhos em grupos.

Ensino esportivo

– Nossas universidades estão preparadas para essa verdadeira revolução no ensino?

– Seria melhor que cada um parasse um instante para examinar com isenção como anda o nosso ensino acadêmico, especialmente em matéria de Métodos e Psicologia Pedagógica.

– Existe um abismo entre teoria e prática, i. e., o que se diz é o que se pratica?

Além disso, sendo um país de dimensões continentais e contrastes sociais, é evidente que nos aproveitemos da ciência e meios modernos que facilitam sobremaneira a execução de ensino à distância, promovendo a instrução para milhões de jovens ávidos por conhecimento e informação nas mais diferentes áreas. Não sou perito, ao contrário, um leigo em TIC. Contudo, atrevo-me a pesquisar sobre Metodologia e Pedagogia na tentativa de descortinar novos métodos e abordagens de ensino, ou seja, Aprender a Ensinar. Como elegi o esporte, e mais precisamente o voleibol, direciono meus parcos conhecimentos nessa direção. Não sem lembrar mais uma vez aos leitores, que os princípios da Psicologia Pedagógica são aplicáveis a qualquer área de ensino, incluso qualquer desporto. A ideia principal NÃO é impingir um novo modelo (ou receita), mas apresentar uma sugestão e discuti-la profundamente com os principais protagonistas: o Professor e a Professora (na escola), ainda que NUNCA tenham praticado determinada modalidade. Na minha proposta, o desenvolvimento do trabalho independe do currículo esportivo do mestre. Isto implica, naturalmente, estudos de caso a caso, mas o mesmo objetivo. Trata-se do início de um novo caminho! 

Trabalho em grupo

Parece ser um bom caminho, já adotado por países com sistemas educacionais mais eficientes, como a Suécia. Trabalhar em grupo acelera o aparecimento de resultados. É uma cultura do consenso que deve ser inculcada desde o ensino básico. Há momentos em que você vence e outros em que você perde. Aprende-se rapidamente que não convém falar mal dos nossos adversários/concorrentes. “Não se deve matar o vizinho porque você pode acabar sozinho, e isto não é bom para a nossa sobrevivência. (VEJA, entrevista Håkan Buskhe, 26/fev./2014)

Dê asas à imaginação

Penso que a inteligência não pode se desenvolver sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem as ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. “Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”. (Eleanor Duckworth, The Having of Wonderful Ideas, 1972).

Motivação e interesse, como despertar?

Esta me parece uma excelente indagação para incrementarmos um processo de aprendizagem. O desenvolvimento de uma teoria eficaz do “ponto onde o aprendiz está” e a construção de uma “psicologia do assunto” que seja operável representam desafios formidáveis: “Qual o próximo passo a dar” aparenta ser uma exigência impossível. Para uma aprendizagem eficiente, o aluno deverá estar interessado nos conteúdos a aprender e sentir prazer nesta atividade. Você saberia como fazer para despertar e manter esse interesse?

O que o professor ensina nunca é melhor do que o professor é. Ensinar depende da personalidade do professor – existem tantos métodos bons como existem professores bons. É sabido por todos os maus professores como não interessar o aluno por qualquer atividade física. E o que faz, então, um bom professor para atrair e manter as crianças em qualquer atividade? Será que ensinar é ensinável? Ensinar é uma arte e uma arte é ensinável? Existe algo que se possa denominar de método de ensino?

A arte de ensinar

Trata-se de despertar nos aprendizes a gostar de aprender. Para tal, desde o ensino básico, deve-se respeitar as tentativas de cada aluno, mesmo quando antecipadamente percebamos que estão no caminho errado, pois é fundamental para o desenvolvimento do raciocínio. Mais à frente, quando adultos, terão facilidades em atividades que estimulem continuamente a inovação.

Breve história – Quando aluno no ensino médio (17 anos, 1956), diante de uma questão na prova de Geografia indaguei à professora sobre uma questão que estaria formulada de forma dúbia. Dizia: “O que pensa sobre a construção de Brasília”? Indaguei se ela queria o que ensinou nas aulas, ou cada um poderia manifestar o próprio pensamento? Isto gerou pequena confusão, mas denota o que pretendemos evitar para o futuro de nossos filhos.

Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Hoje, tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar nas brincadeiras de rua, tais como subir em árvores, lançar pedras, nadar e pescar (de mergulho), andar de bicicleta, jogar xadrez, pular carniça e uma gama variada de desportos aprendidos em terrenos baldios. Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos?

Educação física e esporte escolar, como conciliar?

Às vezes é preciso parar e olhar para longe, para podermos enxergar o que está diante de nós. (J. Kennedy)

Desenho 0 Ginásio
Aulas alegres e divertidas em que todos tomam parte. Ilustração: Beto Pimentel.

Em minhas andanças em busca de nova metodologia de ensino e tomando boas notas a partir de observações de professores, elegi e construí um projeto que considero de simples execução e que merece ser perseguido num primeiro instante. Trata-se de conciliar no ambiente escolar as práticas de EF e Esportes, considerando que TODOS os indivíduos devam participar verdadeiramente, e não só os “escolhidos”, como atualmente através das chamadas escolinhas.

– Estariam escolas e docentes preparados para tal façanha, uma mudança aparentemente tão drástica?

Este é o desafio que devemos enfrentar: a QUALIDADE do ENSINO. Considerem que todos nós temos talentos diferentes, mas todos nós gostaríamos de ter iguais oportunidades para desenvolvê-los. Aproveitem o momento e aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão com certeza perder o futuro. (J. Kennedy)

Aguardo-os TODOS!

 

Aulas e Cursos Presenciais

CursoVoleidePraia1
1º Curso de formação de técnicos de Vôlei de Praia, CBV. Foto: Roberto Pimentel.

Estou empenhado na obtenção de apoio para a execução de Aulas Presenciais pelo Brasil, incluídas aulas em universidades, escolas e até mesmo logradouros públicos. Os interessados em promover e divulgar deverão notificar-me neste espaço. Estarão preservados nome e e-mail.

Treinadores de Vôlei de Praia

Na foto, o Autor (semi-encoberto com a bola na mão, á direita), realiza ensaios com alunos do 1º Curso de Treinadores de Voleibol de Praia, Rio (ago./1998), promovido pela CBV. Participamos e organizamos diversos Cursos no Brasil, sendo o presente caso  implementar o quadro de técnicos de vôlei de praia e capacitá-los para desenvolver trabalhos de iniciação e de treinamento de alto nível. Contou com profissionais experimentados como Célio Cordeiro Filho, Jorge Barros, Letícia Pessoa, Antônio Leão, Roberto Pimentel, entre outros, além de especialistas na área da Formação. O curso teve duração de oito dias em tempo integral na EsEFEx. (História do Voleibol no Brasil, vol. I, Roberto A. Pimentel).

 

 

 

 

Procrie na Alemanha

Sete cidades com visitantes ao Procrie, exceção a Freiburg, uma homenagem ao professor G. Dürrwächter.

 VOLLEY-BALL, SPIELEND LERNEN – SPIELEND ÜBEN                   

Voleibol, aprender brincando – aprender jogando         

  

Homenagem a um Professor                        

Tenho um apreço e respeito muito grande pelo povo alemão e especialmente a um de seus professores. Trata-se de Gerhard Dürrwächter, a quem conheci em 1975 durante o 1ª Simpósio Mundial de Mini Voleibol na Suécia, sob os auspícios da Fivb e da Federação Sueca de Voleibol. Creio que habitava em Freiburg, daí a sinalização no mapa ao lado. Todavia, sem qualquer visitante a este blogue.      

Em 1974 descobri uma brochura intitulada “Novedades en Voleibol”, editada pelo Instituto Nacional de Educación Física Y Deportes, Madrid, de 1972. São textos de diversos autores europeus traduzidos para o espanhol e revisados pelo Centro de Documentação  e informação do I.N.E.F. Inclusive do Professor Dürrwächter.                        

Meu primeiro contato com a sua metodologia foi através de seu livro editado em Madri, também do INEF (1974), sob o título “Voleibol, Aprender Jugando – Practicar Jugando”. Trata-se de um método pedagógico auxiliar para a iniciação ao voleibol; anexos, as regras do jogo e material de instalação. Prefaciado por Edgar Blossfeld, treinador nacional da Federação Alemã de Voleibol (julho/1966), há indicações que o autor do livro foi também capitão da seleção nacional, com experiência no mais alto nível internacional e como professor de educação física de um centro de ensino médio, além de treinador de equipes de clubes, possui conhecimentos relativos à formação de principiantes. Anos mais tarde, já no Brasil, o livro foi traduzido e editado pela Ao Livro Técnico, Cadernos de Educação Física (Prática 13), e agora sob o título “Voleibol, treinar jogando”. Tenho ainda uma versão da obra impressa na Bélgica: “Le Volley-Ball, apprendre et s’exercer en jouant”, Editions Vigot, tradução do título original alemão VOLLEY-BALL, SPIELEND LERNEN-SPIELEND ÜBEN (7ª édition, 1976).                         

Ainda durante aquele Simpósio na pequena e pacata Ronneby, trocamos presentes: ofereceu-me seu mais recente livro sobre treinamento de voleibol para principiantes – VOLLEYBALL, SPIELNAH TRAINIEREN – e, em contrapartida, agraciei-o com uma peteca (indiaka). Ele foi um dos professores selecionados a oferecer o exemplo de uma aula prática com grupo de meninos suecos. A cada exercício parecia que já sabia o que aconteceria dada minha familiaridade com a sua metodologia, que passei a desenvolver e pesquisar a partir ainda de 1974 nos cursos realizados no Brasil. Não precisava conhecer o idioma alemão ou inglês, pois os gestos, as indicações e os próprios envolvimentos faziam-me adivinhar o que estava por vir. Foram momentos de exaltação e realização! Descobri o meu caminho e daqui para a frente tudo seria mais fácil. Em suma, “Aprendi a Ensinar”! Em sua homenagem, relembrando todos os oito dias de convivência, faço referência à sua metodologia e afiancio que esteja onde estiver jamais o esquecerei por sua simplicidade. Obrigado Professor Gerhard Dürrwächter! (Alguém me daria notícias suas?)        

Jogo de Peteca. Aos mais curiosos, apresentei no Simpósio uma alternativa de jogo com características táticas próximas ao voleibol. Em Niterói, minha terra natal, praticava com crianças na Praia de Icaraí. Posteriormente, incluí nas lições de saques a utilização daquele artefato que, lá na Suécia, denominavam INDIAKA. Um detalhe: na apresentação em slides, meu narrador foi o então vice-presidente da Fivb, o mexicano Ruben Acosta.               

         

Historinha… Quando chegamos a Ronneby, pequena cidade onde foi realizado o Simpósio Mundial era noite e, por acaso, encontrei Dürrwächter e um outro professor. Para nos deslocarmos até o hotel precisávamos de um táxi. Como não estão a circular pelas ruas, especialmente naquele horário, recorremos a um telefone público. Fone no ouvido, do outro lado da linha deveria haver o atendimento imediato. Ocorre que passados alguns instantes, impaciente, o professor deixou sua pequena mala no chão, abriu-a e retirou de dentro a surpresa que nos fez rir a todos: um pequeno despertador! Ajustou-o para tocar e ao tilintar da campainha, incontinenti colocou-o junto ao fone. Entre tantos sorrisos, percebemos todos quanto era alegre e simpático. E, incrível, rapidamente chegou-nos o táxi.                       

Voleibol alegre. É voz corrente que uma equipe é a “cara” de seu treinador, isto é, a personalidade daquele que comanda ou lidera é preponderante na forma de atuação dos seus comandados. É assim também numa aula em qualquer escola do planeta. Pergunto então aos meus colegas professores e mesmo aos treinadores de equipes competitivas: “E suas aulas ou treinos, são alegres e ruidosos”? Clique na figura ao lado e veja a influência positiva na vida das crianças. Este o grande legado que podemos conceder àqueles que nos sucederão. Considerem e reformulem seus métodos enquanto há tempo, pois daqui a instantes as crianças se tornarão adultas e, muitas delas, frustradas por não terem se divertido na melhor época de suas vidas. Veja como brincar é importante para uma criança!        

Pelo semblante dessas lindas moças alemãs imagino que tenham sido inspiradas pela obra formadora do Professor Dürrwächter. São irresistivelmente alegres e maravilhosas, verdadeiras campeãs de simpatia. Parabéns ao povo alemão.                           

                           

                                         

                          

Jogadoras da seleção alemã presentes ao Campeonato Mundial no Japão, 2010. Fotos: Fivb/Divulgação.