Pioneirismo em Metodologia de Ensino Esportivo

A História do Voleibol no Brasil agora na FIVB: Ary Graça e Roberto Pimentel.

 

Apresentação

por Arlindo Lopes Corrêa (1)

Roberto Pimentel tem uma longa lista de serviços prestados ao esporte, em especial ao voleibol, ao qual se dedicou, com grande sucesso, inicialmente como atleta de alto nível técnico e posteriormente como professor e treinador. Apaixonou-se pelo minivoleibol, cujas potencialidades desvendou com clareza e muito lutou pela sua disseminação teórica e prática no Brasil. Após trabalho longo e árduo foi além, tornando-se o mais abrangente historiador do esporte da rede no Brasil. A seguir abraçou com ardor a causa da educação e explora suas íntimas relações com o esporte, dando contribuição valiosa à melhoria da qualidade do ensino. Seu site/blog na web internacionalizou sua influência, atravessando fronteiras e beneficiando um grande número de aficionados, professores e técnicos de voleibol.

Agora, um passo adiante e Roberto Pimentel brinda-nos com seu Manual de Engenharia Pedagógica elaborado para aqueles que se dedicam às atividades docentes, nele apresentando ideias inovadoras, caminhos criativos e colocando à disposição dos leitores o resultado de sua vasta investigação sobre os temas abordados.

Roberto Pimentel é um benemérito do voleibol e merece o agradecimento e a admiração de todos os desportistas.

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Educação Física e Esporte Escolar – A Escola do Séc. XXI

Desenvolvendo Habilidades Especiais

– por Roberto A. Pimentel

Uma palavra

Peneiramos durante décadas pequenos grandes detalhes que sugerem progressos significativos na área da Educação Física e Esporte escolar. São práticas voltadas não só para atividades físicas, como também à construção de habilidades especiais aplicáveis à vida pessoal. Inicial e estrategicamente, o olhar se fixa no ensino fundamental.

Apresentamos um Manual de Engenharia Pedagógica que, longe de se constituir numa cartilha, pretende aguçar o envolvimento do professorado em questões conflitantes relativas às práticas de ensino. Uma janela instigante que enfatiza novíssimas formas de aprendizado e acessível para pesquisas que podem revolucionar a Educação.

Estão comparadas abordagens de renomados psicólogos e especialistas em gestão da educação, acrescidas de criativa e sugestiva praxia elaborada pelo autor. Os dizeres explicam que podemos ter sucesso desde a mais remota infância, pois todos somos vencedores e talentosos.

 O segredo é praticar de forma CERTA!
 Então, surge a pergunta que ainda não foi respondida: COMO FAZER?

O leitor terá oportunidade de tomar conhecimento com o que se contém a seguir.
Boas leituras!

Manual de Engenharia Pedagógica

T E M Á T I C A

PARTE I –  Antecedentes e Diagnósticos
Estudo e Pesquisa
Por que é Revolucionário?

PARTE II – Desenvolvimento e Maturidade
Como Melhorar a Educação?
O Futuro da Educação
Proposta Curricular séc. XXI

PARTE III – Formação Profissional Continuada
Educação Física e Esporte
Prática de Ensino, Base para Boa Formação

PARTE IV – Centro de Estudos
Design Thinking Potencializando Inovações
Trabalhos em GRUPO, Avaliações Mútuas
Blog Procrie: EaD, Vídeo-aulas, e-books

PARTE V – Didática e Praxia (em construção)
Residência Pedagógica
Estágio Supervisionado, Praxia

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Nota bibliográfica: A obra resulta de experiências e métodos criativos produzidos pelo Autor (autodidata, 1974) e identificado na contribuição de variados precursores. Entre eles… 1) Freire, Paulo – Pedagogia da Autonomia, práticas pedagógicas; 2) Le Boulch, J. – Psicocinética – vários; 3) Kamii, Constance e De Vries, Rheta – Implicações da Teoria de Piaget; 4) Coyle, Daniel – O código do talento, treinamento profundo, a teoria mielínica; 5) Brown, Tim – Design thinking, metodologia para o fim de velhas ideias; 6) Vigotski, L. S. – Psicologia Pedadógica; 7) Wood, David – Como as crianças pensam e aprendem; 8) Freinet, Celestin – Proposta pedagógica; 9) Montessori, Maria – Método montessori; 10) Piaget, Jean – Educação: uma nova teoria.

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(1) Arlindo Lopes Corrêa é engenheiro, pós-graduado em economia, com vasto currículo nacional e internacional: Estudos para Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; Secretário Executivo da Fundação Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, e depois Presidente, de 1974 a 1981; Membro do Conselho Federal de Educação; Diretor do Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa da Fundação ROQUETTE PINTO; Consultor para Educação e Recursos Humanos (OEA); Consultor e Membro em inúmeras participações para a UNESCO em diversos países.

 

Aprender a Ensinar – Métodos (I)

Figurinhas no mini voleibol. Desenho: Beto.

Educar é Contar Histórias  

Sou assinante e leitor assíduo da Revista Veja, que no seu exemplar destinado à população do Rio de Janeiro (www.vejario.com.br) me trás à lembrança um excelente  professor da língua portuguesa e de matemática. Na revista de 15.12.2010, o articulista Manoel Carlos relata com deliciosa maestria cenas do cotidiano escolar, algumas peripécias e ressalta conceitos que se tornam marcantes na memória de cada um de nós. No coça-coça de sua memória, relembra seu querido e inesquecível professor Angelo Magrini Lisa, mestre dos mestres, exigente sem deixar de ser compreensivo, fazendo com que os alunos amassem a matéria que ministrava, tal era a maneira como ensinava. Seu professor, calcando-se numa reflexão do poeta inglês Alexander Pope, assim definia o método de ensino: ”Convém ensinar as pessoas como se não as ensinássemos. E explicar-lhes as coisas que não sabem como se apenas as tivessem esquecido”l 

De uma forma tupiniquim, tenho pensamentos muito próximos do poeta sempre que me expresso livremente em cursos que realizo: “Faço-me criança para aprender com elas”. E há muito percebi que “brincando elas aprendem sem se aperceberem”. Ou ainda, “diante de uma criança meu respeito é maior, não pelo que representa hoje, mas pelo que ela pode vir a ser no futuro“. Creio que a fórmula mágica está centrada em como despertar o interesse pela matéria, pois sabemos todos, isto nos levará ao denominado colorido emocional de que jamais se esquecerão. 

Discutamos, então, como realizar esta importante tarefa de educar um indivíduo, isto é, “partir para a prática”, deixar um pouco de lado a teoria e entrarmos na quadra. Como neste momento estamos num ambiente virtual terei que me tornar um “contador de histórias” de minhas práticas. Peço, então, a paciência de todos, mas lembrando que venho afirmando categoricamente que precisamos todos de um Curso Presencial, em que perceberão os meandros, detalhes e sutilezas de uma aula de voleibol para quem jamais praticou este esporte. E lanço ainda um desafio: faço com que todos joguem a partir da primeira aula. Reportem-se mais uma vez à apreciação que realizei em minhas atuações no Morro do Cantagalo, no Rio de Janeiro. Foram três artigos intitulados “Lições de um Projeto, Perspectivas de Aprendizagem” que, ao que parece, retratam com muita clareza o que se pretende dizer nesta postagem sobre Métodos.  

Meu pensamento é estimular comentários em torno dos variados métodos ou de soluções em determinadas circunstâncias principalmente no universo escolar. Para tal, peço permissão ao Professor José Manuel Moran, um especialista em mudanças na educação presencial e à distância, para usufruirmos de seu saber e buscar responder às questões que formulou em seu texto “O educador bem sucedido” (www.eca.usp.br/prof/moran/sucedido.htm). Ali fala em questões não respondidas do cotidiano em sala de aula. Vejam algumas delas.    

Professor Moran. Por que, nas mesmas escolas, nas mesmas condições, com a mesma formação e os mesmos salários, uns professores são bem aceitos, conseguem atrair os alunos e realizar um bom trabalho profissional e outros, não? Não há uma única forma ou modelo. Depende muito da personalidade, competência, facilidade de aproximar e gerenciar pessoas e situações. Alguns professores conseguem uma mobilização afetiva dos alunos pelo seu magnetismo, simpatia, capacidade de sinergia, de estabelecer um rapport, uma sintonia interpessoal grande. É uma qualidade que pode ser desenvolvida, mas alguns a possuem em grau superlativo e exercem-na intuitivamente, o que facilita o trabalho pedagógico. Uma das formas de estabelecer vínculos é mostrar genuíno interesse pelos alunos. Os professores de sucesso não se preparam para o fracasso, mas para o sucesso nos seus cursos. Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com os alunos e para isso os aceitam afetivamente antes de os conhecerem, se predispõem a gostar deles antes de começar um novo curso. Essa atitude positiva é captada consciente e inconscientemente pelos alunos que reagem da mesma forma, dando-lhes crédito, confiança, expectativas otimistas. O contrário também acontece: professores que se preparam para a aula prevendo conflitos, que estão cansados da rotina, passam consciente e inconscientemente esse mal-estar que é correspondido com a desconfiança dos alunos, com o distanciamento, com barreiras nas expectativas. 

Interesse e Inclusão 

Roberto Pimentel. Certa feita, em conversa informal com um Professor de Educação Física da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), técnico consagrado de vôlei, inclusive de seleção brasileira, confidenciou-me o seu pesar pela ausência dos testes de aptidão física aos novos egressos às escolas de Educação Física argumentando: “Como poderei ensinar um indivíduo a dar toques na bola de voleibol se ele nem segurar a bola consegue”? Não respondi, pois presumi que naquela altura do diálogo ele demonstrava insatisfação com as novas medidas. Mas a indagação permaneceu em minha memória. Anos mais tarde fui convidado a ministrar aulas num Curso de Férias para 14-16 professores de vários estados na Universidade Gama Filho. Coube-me a Iniciação ao Voleibol e me destinaram somente 3-4 aulas práticas. Na primeira intervenção – apresentação – apressei-me em conhecer-lhes as habilidades motoras que já possuíam, desperto pela lembrança daquela conversa. Sutilmente, envolvi-os em brincadeiras com as bolas e pequenos deslocamentos, enquanto observava o comportamento geral – manuseio da bola, equilíbrio etc. E detectei vários professores talentosos, alguns ex-atletas de voleibol. Todavia, um deles me chamou a atenção: era completamente descoordenado, desastrado mesmo com a bola. Certamente jamais lidou com elas. Reuni-os e expliquei-lhes minhas propostas de ensino gerais e, em seguida, dei início ao primeiro tema: a criança e a bola. Como desenvolver esta nova relação? Como fazer para instruir sobre o manuseio da bola? Diante do mutismo (ou curiosidade) de todos, indaguei tempestivamente: “Quem sabe jogar voleibol”? Todos se apressaram a levantar a mão, exceto um, que ficou imperceptível para os demais. Em seguida, sugeri um exercício simples e solicitei dois ou três voluntários que logo se apressaram a colaborar. Realizamos os ensaios rapidamente e logo lhes propus outro. Novos voluntários deveriam se apresentar e, neste momento, intervi e “convoquei” aquele que nada tinha a ver com voleibol. E novamente, realizamos os exercícios. Só que desta feita, repleto de erros, uma vez que ele não conseguia dar seguimento às propostas. Neste momento transmiti-lhes a primeira e mais importante lição: “Se conseguirmos fazer com que este aluno (aquele professor) se divirta jogando voleibol é sinal que estamos no caminho certo”. E passei aos temas seguintes tornando aquele personagem a pessoa mais importante da classe, sem menosprezo e, ao contrário, incluindo-o no contexto da turma. Mais tarde, em oportunidades distintas, tive mais dois casos similares, em que minha atuação metodológica foi decisiva para a inclusão de duas alunas universitárias. Consegui despertar-lhes o INTERESSE e satisfiz-lhes as condições básicas para que jogassem com seus colegas. Daí para frente, grandes saltos de desenvolvimento. Façam o mesmo e até melhor com seus alunos e todos se lembrarão de vocês pelo resto de suas vidas, tal como o professor lá de cima; lembram-se ainda do que ele disse? No desenrolar desse bate-papo hipotético vão surgir outras historinhas que vou contanto a pouco e pouco, pois “educar é contar histórias”. 

Daremos seguimento em próxima postagem. Até lá aguardaremos seus comentários ou conte uma de suas histórias relativas ao assunto. Será muito agradável intercambiarmos idéias e fatos ocorridos.

Voleibol, Brasil e Portugal (II)

Como evoluir com novas ideias

A participação de todos – professores, treinadores, pedagogos, agentes educacionais, administradores, incluídos agentes de marketing – é imprescindível. Efetuar um planejamento pressupõe estabelecerem objetivos a serem cumpridos e reformular suas diretrizes. Quem poderá fazê-lo? Vocês mesmos, não esperem as ações institucionais, ou apresentem a elas um plano de metas a serem cumpridas e tratem de proceder a uma auto gestão, tornando-se autônomos e construtores do próprio fazer com o mínimo de conotações políticas. No Brasil é permitida a criação de Ligas desportivas, independentemente das Federações estaduais (o futebol tem a “Liga dos 13”). E em Portugal, o que diz a lei? Não conheço uma cartilha de receitas que possa ser usada para educar todas as crianças da mesma forma. Embora as crianças compartilhem de semelhanças básicas, as metodologias conhecidas sugerem que o professor deve responder às ideias únicas de cada criança de uma forma flexível. O que se pretende fazer é comunicar uma forma de pensamento sobre crianças e ações de modo que os professores sejam capazes de inventar suas próprias atividades, isto é, serem criativos, e não repetitivos aplicando técnicas de adestramento. Salienta-se ainda que os princípios gerais de ensino que delinearem devem sempre ser adaptados por cada professor a um grupo específico de crianças num determinado tempo, evoluindo passo a passo.

Blogues. Atualmente, uma das melhores ferramentas de ensino universitário. O mérito de um blogue é que ele vai além das generalidades, dando ideias práticas e exemplos concretos, mas sem fornecer receitas ou um método pronto para usar. Alguns exemplos são fornecidos para algum balizamento inicial para os menos experientes no desporto. Os leitores poderão discutir como um professor pode e deve experimentar em sua própria classe criando várias situações e avaliando suas intervenções em vista das reações de seus alunos. A partir disso, entende-se muito bem o que vem a ser o caráter essencialmente “construtivista”, e o consequente ganho em autonomia para educar. Lembro que não estamos falando tão somente do ensino do voleibol, mas de múltiplas atividades na infância. Aqui tratamos de Metodologia e Pedagogia a empregar e a ser discutida. Fica então a sugestão para uma amplitude de troca de conhecimentos e informações: construam o seu próprio blogue e comuniquem-se entre si, pois dessa forma TODOS poderão expor suas ideias e experiências. O ganho é geral. Se preferirem, utilizem inicialmente o sovolei ou o procrie.

Subsídios pedagógicos para a estruturação das atividades:  1) Centralizar esforços na invenção de atividades que permitam às crianças agir sobre o material empregado – bolas, redes e principalmente outros objetos –, e observar as reações ou transformações. Esta é a essência do conhecimento físico, onde o papel das ações do sujeito é indispensável para o entendimento.  2) Desenvolvendo a autonomia: as crianças estarão aprendendo a manipular os mais variados objetos e a atuar com eles, construindo suas próprias experiências.  3) As crianças são curiosas; levá-las a comentar e questionarem é uma excelente técnica pedagógica na promoção da autonomia. Lembrem-se de que não são as respostas que movem o mundo, mas as perguntas.  4) O professor deve considerar que a importância dos erros não deve ser negligenciada, visto que um erro corrigido é frequentemente mais instrutivo que um sucesso. Tirar proveito pedagógico em cada situação.

A instrução, ou transmissão do conhecimento cumulativo do passado – “quem aprendeu a andar de bicicleta não esquece jamais” –, tem um lugar legítimo na educação de um indivíduo. Isto é, deve haver uma forma indireta de ensinar que se entrose com, e apoie a construção material do conhecimento que se iniciou na infância. As ideias iniciais a serem apresentadas são apenas o começo de uma tentativa de desenvolver tal forma de ensino. Dentro em breve, espera-se, mais educadores se aprofundarão em pesquisas de causalidade. Não se pode esperar que a autonomia de um indivíduo se desenvolva totalmente se a educação foi limitada aos anos iniciais de sua formação. O uso de uma metodologia ou teoria significa mudanças drásticas na concepção do professor sobre o processo educativo. Quando o foco do ensino desvia-se do que o professor faz para como a criança constrói seu próprio conhecimento, o centro da sala de aula não mais será a matéria ou o método de ensino, e o pensamento do professor sofrerá uma revolução semelhante à revolução de Copérnico. A fim de estimular a autonomia, os professores  terão que parar de tentar enquadrar o indivíduo em um molde. A ideia é produzir adultos com mentes inquisidoras, críticas e inventivas. Também acredita-se que os formandos em tais escolas tenham maior probabilidade de continuarem aprendendo e se desenvolvendo pelo resto de suas vidas. Enfatizo que os relatos das atividades apresentadas em diversos momentos do meu blogue não são modelos para serem seguidos pelos professores. Eles são apenas algumas formas pelas quais em momentos específicos tentei usar a teoria com um grupo de indivíduos (crianças, jovens ou adultos). Portanto, os professores devem transcender essas ideias construindo por si próprio formas de aplicar os princípios esquematizados segundo a orientação pedagógica da escola.

Autonomia. Finalmente, pode ser útil mencionar que à medida que observamos os professores começarem a usar novos métodos de ensino, percebemos algumas vezes duas fases iniciais de mudança. Uma na qual eles se sentem paralisados na sala de aula. São frequentes comentários como “Eu era capaz de ensinar sem pensar no por que eu estava fazendo o que fazia”. Uma segunda reação posterior é tentar muitas intervenções. Isto parece originar-se da nova consciência dos professores da análise racional combinada com o velho hábito de ensinar falando. Com a experiência, geralmente o professor torna-se capaz de descentralizar-se e pensar mais em termos do que as crianças estão pensando, e essa descentralização resulta em uma intervenção mais adequada. Dizia eu durante aula numa universidade, “Faço-me criança enquanto produzo a aula”. 

Conclusão. Quando o professor supera as fases iniciais de reconstrução de sua forma de pensamento sobre o ensino, ele encontra um novo estímulo e uma nova confiança que provém da sua utilização dos instrumentos teóricos adequados para a análise de sua prática de ensino.

História do Mini Vôlei (II)

Mini Vôlei no Brasil e no Mundo (II)

Tema: Introdução Natural do Vôlei na Escola.

 

3. A experiência alemã, por Gerhard Dürrwachter.

Métodos de preparação, iniciação e aperfeiçoamento do mini vôlei.

É importante combinar o aprendizado tático – através de jogos – com os fundamentos básicos para os iniciantes: jogos de menor importância não motivam como faz um jogo internacional de voleibol e jogos de menor importância proporcionam uma maneira mais prática de ensinarem táticas. través dos jogos os alunos aprendem tática; aprendem a antecipar; aprendem a cooperar na defesa e no ataque; aprendem que o sucesso depende da cooperação e do mais fraco elo da cadeia; aprendem através de “tentativas e erros”, mas é necessário o ensino direto do professor; são motivados para a iniciação; entendem que é necessário aprender os fundamentos básicos através de exercícios; ganham experiências, motivação e intensificam seu interesse.

Estratégia de ensino. Sequência de pequenos jogos, como pegar e arremessar por cima da rede; passar por cima e segurar; voleibol com saques; mini voleibol e voleibol de acordo com as regras internacionais. Notem que é um exemplo real para as escolas; muitos jogos podem ser cansativos; escolher os pequenos jogos de acordo com a capacidade dos alunos. A principal idéia do voleibol real deve ser dada através de simplificações e não interromper o jogo por causa de pequenos erros, porque isto perturba o envolvimento emocional da criança com o jogo. Durante o jogo é melhor usar palavras em códigos ou sinais para esclarecer os erros e não permitir a continuação dos mesmos. Todos os fundamentos básicos devem ser explicados claramente.

Metodologia. Considerações e passos metódicos para os exercícios técnicos: é muito difícil ou impossível ensinar a técnica corretamente através de jogos; exercitar os fundamentos básicos separadamente; é impossível simular o jogo exatamente apenas exercitando os fundamentos.

Exercícios. 1) É possível determinar os objetivos e os métodos do exercício; 2) é possível modificar os objetivos e os métodos de acordo com o desenvolvimento dos alunos; 3) durante o exercício é possível aumentar ou diminuir a intensidade do mesmo; 4) durante o exercício a vontade de aprender é mais forte do que durante o jogo, especialmente se os alunos conhecem a finalidade do exercício; 5) os exercícios permitem um aprendizado mais apurado.

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4. A experiência alemã, por Manfred Utz.

O professor deverá planejar suas aulas de acordo com as habilidades dos alunos. Ele não deve considerar apenas os aspectos físicos, mas também os aspectos sociais e pedagógicos. A pesquisa tem mostrado que há quatro pontos a considerar: o objetivo do aprendizado; o conteúdo; métodos de ensino; controle do progresso do aprendizado.

Objetivo do aprendizado: o aspecto psicomotor inclui as habilidades básicas (força, velocidade de movimentos, resistência e suas combinações), fundamentos técnicos e táticos, a serem desenvolvidos até o grau máximo individual. Incluir o desenvolvimento da coordenação e reflexos, não somente para o jogo, mas para a vida em geral.

Efeitos (longo prazo): há um importante aspecto na cooperação que os elementos sociais do jogo transferem para a vida do indivíduo: aceitação das regras, aprender a comparar seu grau de habilidade em relação aos outros etc. Além disso, satisfazer a necessidade de jogo e encorajar a força de vontade para o sucesso das atividades de grande esforço e, assim, dar-lhes o senso de satisfação.

Aspecto cognitivo: a criança deve ter um conhecimento das regras, técnicas e táticas referentes ao voleibol.

Conteúdo: os movimentos básicos, como correr, parar, cair, rolar e saltar, devem ser desenvolvidos. Igualmente, a habilidade, flexibilidade, elasticidade, reflexo e velocidade de movimentos. Força e resistência não são tão importantes para as crianças.

No aspecto técnico há três elementos básicos a desenvolver: o passe por cima, a manchete e o saque por baixo. O elemento tático a ser desenvolvido é a percepção da quadra no momento de dar e receber o saque. As regras do mini vôlei devem ser ensinadas às crianças.

Método de ensino

Ensino formal e informal: o ensino formal é o melhor método de aprendizado de técnicas enquanto que o ensino informal é a melhor maneira de se aproximar das habilidades básicas como correr, saltar, etc. Escolhi o método formal, porque as crianças alcançam a meta mais rapidamente e o método informal torna isso muito demorado, fazendo com que as crianças percam o interesse pelo jogo.

Jogos com regras adaptadas ao jogo propriamente dito. Apesar de as crianças conhecerem os fundamentos básicos, isto não significa que elas podem jogar. Deverão praticá-los na situação de jogo, através de estágio a estágio.

Controle do progresso do aprendizado: é importante para o professor saber que ele alcançou sucesso através de seus métodos. Deve usar testes para os aspectos psicomotor, cognitivo e social. É importante também para a criança avaliar seu próprio desenvolvimento (aspecto pedagógico) em relação aos demais.

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5. A experiência polonesa, por Czeslaw Wielki.

Em seu método, o professor vê três possibilidades de realizar seus objetivos:atividades obrigatórias, atividades opcionais (atividades obrigatórias a escolher entre as diferentes formas de educação física) e atividades opcionais não-obrigatórias (a escolher entre a educação física e outras atividades culturais). Em todo o complexo da educação física e do esporte educacional distinguimos certos graus ou progressos: atividades motoras de base, atividades com regras simples, atividades específicas aos esportes escolhidos e prática dos esportes (competição).

Observações. Durante nossa experiência de diferentes atividades na escola primária os alunos mostraram interesse espontâneo pela prática do basquete e do handebol. A  despeito da habilidade motora natural entre 7-8 anos as crianças não se interessavam pelo voleibol porque o mesmo exige uma habilidade motora especial para executar o passe, o saque ou a cortada; no início, trabalhamos com crianças de 8 anos. Tínhamos atividades motoras que iam diretamente ao voleibol, prestando atenção na sua habilidade geral e objetivando uma habilidade mais específica; iniciando a prática, induzimo-las a pequenos jogos de maneira a dar-lhes uma habilidade psicomotora geral e específica apenas suficiente para iniciá-las nos elementos de base do voleibol. Posteriormente, passamos a uma formação de base onde desenvolvemos as bases específicas de todos os elementos técnicos do voleibol através de um trabalho mais sistemático, induzindo-as a vencer em “grupo” ou “equipe”, sem considerar, entretanto, a apreciação de uma técnica perfeita. Aos 15-16 anos, orientamo-las à especialização, induzindo-as a jogar baseado nas suas características somáticas; as experiências relacionadas com as atividades esportivo-motoras escolar induziu-nos a sincronizar o desenvolvimento psicossomático das crianças com os estágios de formação afim de jogar com sucesso como os melhores jogadores. Esses estágios são separados a fim de tornar a compreensão mais fácil. Na prática, estão integrados completamente:

Estágio 1 – Preparação preliminar (7-8 anos até 11-12 anos)… convite e iniciação.

Estágio 2 – Formação básica (11-12 anos até 14-15 anos)… aprendizado, aperfeiçoamento, orientação, especialização.

Estágio 3 – Treinamento (depois de 14 anos)… exercícios leves (escolar), exercícios pesados (total).

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Na última postagem sobre o tema “Introdução natural do vôlei na escola” trarei para vocês os comentários das experiências suecas com Jorgen Hylander e Erik Skarback, e do holandês Jaap Tel. Aguardem.

Métodos de Ensino (II)

Lições de uma entrevista

Em entrevista que concedeu ao site português http://www.sovolei.com, o treinador brasileiro Carlos Eduardo Bizzocchi teceu comentários a respeito das qualidades para caracterizar o que seria um bom técnico. Numa das passagens assim respondeu à pergunta: ” É necessário ter sido um bom jogador para ser um bom técnico?

–  Ter sido um atleta razoável ajuda muito. Ter sido um atleta fora de série nem sempre ajuda. Muitas vezes o ex-atleta espetacular não entende por que seu pupilo não consegue realizar tal tarefa. Com ele era tão fácil. Se lhe perguntarem como fazia, talvez não saiba explicar, apenas demonstrar. A consciência de que a dificuldade existe para os outros é algo às vezes surreal para o craque. Logicamente não é uma regra geral e absoluta, mas quase sempre é assim.

Considerações

Um dado informal, mas importante: a incapacidade de os jogadores de xadrez, p.ex., identificar, descrever ou expressar de forma ordenada e sistemática o modo como eles “viam” o tabuleiro. Certamente, boa parte de nossa perícia é desse tipo. O conhecimento é ”tácito”, integrado no modo pelo qual agimos e trabalhamos, e não é fácil de sistematizar ou descrever para os outros. Se não reconhecerem que os novatos não percebem as situações da mesma maneira que eles, os peritos podem considerar seus problemas com perplexidade e até com fúria. Não deve ser motivo de surpresa que, mesmo quando o perito indica aquilo que deve ser observado, o novato possa não ser capaz de “absorver” o que lhe é mostrado, por não ter o conhecimento anterior necessário que o habilitaria a perceber e memorizar configurações. Neste caso, também não é de admirar que a capacidade que o perito tem de agir e pensar seja mais certa, fluente e precisa que a do novato.  

Estou citando este fato para alertar treinadores e professores a respeito do ensino desde a FORMAÇÂO, de modo que não estabeleçam desde cedo uma metodologia baseada na repetição de movimentos – ADESTRAMENTO -, o que certamente não contribuirá para o pleno desenvolvimento dos seus alunos.