Melhores Treinos, Melhores Atletas

  – Como se adquire talento?

  – O que torna os indivíduos de sucesso diferentes do resto de nós? 

 – Qualquer talento depende unicamente de uma prática diferenciada, não de uma predisposição genética.  

 

Há pouco publiquei “Um Olhar no Voleibol Português”, em que sumarizo o desabafo do treinador brasileiro Rogério Lopes radicado em Portugal desde 1991. Numa de suas queixas deixa vir à tona o calendário das competições no país: são cinco meses de pura inércia para a maioria, sem jogos ou torneios, exceto para os selecionáveis e os compromissos internacionais. Esta é uma imposição da Fivb quando constroi o calendário anual. Sem criatividade, as Federações deveriam se esmerar para que tal lacuna não prejudicasse o próprio calendário. Entretanto, como deve ser o caso de muitas, fica a critério de cada uma realizar ou inventar algo para ocupar os filiados. Idêntico processo se desenvolve junto aos clubes em suas cidades. Nessas circunstâncias, o que fazer em matéria de treinamento dos jovens? Como treiná-los e mantê-los em uma atividade séria? Perceberão que a conotação do que seja ruim hoje, talvez encubra a real possibilidade de se realizar ensaios técnicos individualmente, que não se consegue em tempos de competição, quando a prioridade recai nos ajustes táticos, e até pelo pouco tempo disponível para as práticas. Então, o que é problema – 5 meses parado – cai do céu como solução para a totalidade de treinadores, haja vista que estão sempre a reclamar não terem tempo para treinar este ou aquele fundamento, legando a culpa aos formadores de atletas. Os erros na Formação permanecem por toda a vida atlética do indivíduo. Contudo, consertar é mais difícil do que criar ou manter. Saberiam fazê-lo? Espera-se que sim, pois perderam a justificativa de…”não tenho tempo”! 

Esta postagem, contendo raro depoimento de autor, um jovem atleta brasileiro em 1960, é o resultado de leituras sobre a nova teoria do treinamento profundo: “O código do talento” (The talent code), de Daniel Coyle, editado no Brasil pela Agir, 2010. Peço desculpas por citar-me, mas espero a compreensão de todos, pois era o que fazia por intuição, sem conhecer qualquer teoria psicológica.   

Propostas de Treinos Fora de Competições – Um Depoimento 

Sabendo como treinar o progresso de um mês pode ser equivalente a seis minutos.

Recuemos a 4 de novembro de 1960, quando tiveram início as finais dos campeonatos mundiais de voleibol no Brasil – masculino (IV) e feminino (III) – em Niterói e Rio de Janeiro. Neste mês, completara 21 anos de idade. Iniciei-me a treinar e jogar voleibol em 1958, em um pequeno clube de Niterói. Disputamos naquele ano os campeonatos municipais nas categorias juvenil e aspirante. Como eram poucos os clubes, basicamente rendeu-me poucas experiências e, então, como no exemplo acima de Portugal, estaria fadado a desistir do esporte. Todavia,  a ignição já estava presente graças à visão dos Mundiais; aquele jovem não podia se conter em si mesmo e saiu em busca de alternativas. A mais viável foi a praia, onde aos sábados e domingos jogava-se voleibol com bastante intensidade. E, inclusive, a grande maioria dos atletas federados, inclusive do Rio de Janeiro, na época o maior centro do País. Mas aquilo não lhe bastava, pois precisava adquirir rapidamente uma técnica que facultasse atuar com e contra tão excelentes jogadores. Então, resolvi autorregular-me, isto é, criei circunstâncias para meu treinamento seguindo o que ditavam minha intuição e raciocínio. Dessa forma, treinava solitariamente em um ginásio pobre, com uma única bola que me foi dada, deixada após o Mundial. Os ensaios eram religiosamente de 2 horas ininterruptas (9h às 11h), três vezes por semana. Aos sábados e domingos, jogos de 6 x 6  ou duplas na praia. Isto se desenrolou aproximadamente durante 3 meses. Ao final, rendeu-me um assustador e invejável desenvolvimento técnico, propiciando inclusive colocar-me entre os melhores atletas brasileiros e uma convocação para a seleção principal. O fato curioso é que comecei a treinar voleibol aos 18 anos, quatro anos depois, sem ter participado de campeonatos regionais, tornei-me um dos tops, e com invejável técnica – múltiplos fundamentos – superior em vários detalhes aos melhores do país. Sendo que era o mais completo, pois com 1,92m, atacando com preferência com a canhota (não sou canhoto), aprendera nos treinos a também atacar como destro e, principalmente, a executar com perícia a função de levantador. Em 1962, era o mais alto entre os selecionáveis e o de maior impulsão, sem jamais ter frequentado academia ou realizado exercícios com pesos. Enfim, ganhei a fama de ser um dos atletas de melhor apuro técnico de minha geração. Como consegui tamanho feito sozinho e em condições tão precárias? 

Antes, porém, um lembrete sobre a função e emprego da memória. Veja mais neste Procrie o artigo Aprender a Ensinar – Memória, 18/dez/2010.

Memória de curto prazo – Lembro-me, em 1984, durante Congresso de Mini Voleibol em Buenos Aires (Argentina), a fala do técnico italiano Pitera sobre a relação dos gestos desportivos – os movimentos – e a memória de curto prazo. Busquei durante algum tempo bibliografia a respeito e não encontrei. Agora, ao tomar conhecimento da teoria mielínica, parece vir à tona tudo o que buscava para interpretar o treinamento que realizei quando rapaz.

Atualmente, lendo na obra de Coyle, na década de 70 os psicólogos investigavam os fundamentos do processo humano de resolução de problemas. O primeiro projeto do pesquisador sueco Anders Ericsson tratou de investigar um dos dogmas mais sagrados da psicologia: a crença de que a memória de curto prazo é uma faculdade inata, fixa e limitada. O pesquisador mostrou que o modelo de memória de curto prazo então existente estava errado. A memória não era como o tamanho do pé; podia ser aumentada pelo treinamento. Neste caso, o que tinha limite? Todas as habilidades humanas eram formas de memória. Assim, quando uma campeã de esqui desce uma montanha a toda velocidade está utilizando estruturas da memória, dizendo aos músculos o que fazer e quando. O mesmo ocorre com um virtuoso do piano. Então, por que não seriam todos suscetíveis ao mesmo tipo de efeito de treinamento? Aqui reside a importância primacial do educador – professor ou treinador – em qualquer área do ensino.

Teoria Mielínica

A teoria mielínica é descrita como um programa para desenvolver habilidades especiais aplicáveis à vida pessoal e aos negócios. A ideia é aproximar teoria e prática, e tornarmos nossas aulas ou treinamentos observáveis à luz dessa nova teoria, que ainda tem muito a caminhar. Para tanto, antes de discorrer sobre o auto treinamento, aproximemo-nos de Coyle, pois como afirma “todos somos vencedores e talentosos, o segredo é praticar de forma CERTA! O código do talento nos ensina como”.

———————————————-  A seguir, “Melhores Professores, Mais Talentos”.

 

Liga Europeia Feminina: Evolução?

A Mulher no Esporte

Aspectos Técnicos e Táticos – Evolução do Jogo – Melhor Atleta – Mulher no Esporte

 

No dia 14 do corrente (ver Comentários), uma internauta indagou-me: “Quais foram os jogadores de voleibol mais importantes em cada década no Brasil”? O que você responderia? Provavelmente recorreríamos à memória e depois ao Google para renovarmos a listagem dos atletas de seleção e, dali realizarmos a escolha que, provavelmente, recairia no nome mais badalado pela mídia, ou o jogador mais bonito, mais forte, mais sexy etc. Além disso, em “jogadores” estariam embutidos homens e mulheres? E aí a resposta estaria complicadérrima. No que se refere às mulheres, alguns sites e imprensa inventaram eleger a mais bonita e as musas. Estariam se tornando “atleta-objeto”? Percebam a influência da própria Fivb ao determinar o modelito de uniforme das equipes, especialmente femininas, inclusive no vôlei de praia.

Conceituar o que vem a ser um bom jogador de voleibol é tarefa bastante árdua e talvez não se chegue à conclusão alguma. Mas alguns parâmetros, determinados pelas respectivas épocas em que atuaram possam nos conduzir por um caminho razoavelmente inteligente. Percebam que não estaremos nomeando, personificando um atleta, mas esboçar o que poderia vir a ser um “bom jogador de voleibol”. Para fazer´nos entender, certamente precisaria de muito mais tempo e espaço dada a profundidade do tema. Mas vamos conduzindo esse nosso bate-papo devagar, sem pressa, e colocando na tela o que nos vem à cabeça.

Para começar, vou tirar alguns exemplos da partida que assisti pela TV nesse último dia de fevereiro entre as equipes femininas do Bergamo e do Villa Cortese pela Final Four da Liga dos Campeões 2012 CEV, em que o Villa venceu no golden set, após ter perdido a partida por 3×2. Este “set de ouro” faz parte do regulamento dos campeonatos promovidos pela CEV no caso de empate  nos dois jogos do torneio classificatório.

 

Guardadas as devidas proporções, cito um exemplo muito nítido em minha mente, quando no início dos anos 1970 era treinador da equipe feminina do Tijuca T. C., no Rio de Janeiro. Nesse período, as mesmas atletas disputavam os campeonatos juvenis (até 18 anos) e de 1ª divisão. Como se pode aquilatar será muito difícil e audacioso compará-las com as atletas das equipes italianas, recheadas de atletas também de outras nacionalidades. Enfim, são profissionais do ramo e com um lastro invejável de experiência internacional, bem como seus técnicos.

Todavia, será que muitos  treinos e jogos internacionais, equipamentos, bolas, uniformes, equipe técnica e médica, fazem muita diferença na concepção de um treinador no que diz respeito ao lado técnico? Se ele influenciasse na Formação de suas atletas como procederia? Digo isto porque vi o técnico do Villa se esgoelar nos tempos técnicos a dizer para uma das suas atletas – a ponteira na posição IV – que se esforçasse para pelo menos colocar a bola dentro da quadra adversária e não no bloqueio duplo que insistentemente impedia seus ataques. Em outras situações, sempre produzidas pelo mau passe, as bolas eram levantadas (ou lançadas para o alto) de manchete, prejudicando tudo o que fora treinado “em casa”. E, nessas situações o que fazer? Quase sempre os erros se sucedem de maneira já agora aceitável, pois as duas equipes se equivalem em ambas as concepções. Por isto, relembro – 1963 – o querido e já falecido Zoulo Rabello a nos ensinar: “Ganha quem erra menos”! Dessas colocações podemos abstrair o seguinte: “Por que erram tanto as atletas atuais, com tantos recursos técnicos e materiais à disposição, com treinadores capazes e estudiosos?

Um exemplo de acuidade técnica passamos a ensinar àquelas meninas, tendo iniciado pela levantadora – na foto, nº 2, – que passou a ser minha demonstradora para as demais e, logo a seguir, para a equipe masculina do mesmo clube que também treinava. Nessa época, o voleibol no Rio de Janeiro era jogado somente às terças e quintas-feiras, não comportando mais do que 2 horas de treinamento para uma equipe. Mostrei-lhe que em todos os jogos, não importa que equipes, a incidência de recepções mal realizadas quase sempre implicavam em devolução da bola à quadra adversária por manchete. E sempre lançando a bola o mais alto possível; será que acreditam que a altura prejudica a recepção? É bem possível, pois até nossos dias o fato se repete em grande intensidade. O que fazer?

Orientei-a no sentido do que eu já fazia em jogos oficiais e na praia: lançava a bola de toque, buscando os claros ou vazios, e principalmente, nas proximidades do levantador adversário, nunca sobre ele. Nessa época também existia uma máxima entre os atletas de que “a segunda bola é do levantador”, exaustivamente repetida até hoje. Dessa forma, qualquer lançamento com altura mínima nas imediações daquele atleta envolvia um grave problema a ser resolvido: quem deve defender (tocar) em primeiro lugar, o levantador ou um outro atleta? Assim, com um ataque tão singelo, criávamos um problema de difícil solução, e quase sempre tínhamos a bola de volta sem ataque. Percebam que se o levantador assumisse a recepção, para onde remeteria a bola? Quem levantaria a seguir? Quase sempre tentavam o atacante mais próximo – meio de rede, III – ou lançavam a bola para o alto contando que algum companheiro de defesa infiltrasse e efetuasse o levantamento. Certamente, a pior solução. Se o meio de rede recebesse o levantamento jamais teria condições facilitadas de ataque, uma vez que são jogadores mais lentos e adestrados para ataque com corrida, isto é, precisam de espaço e tempo já incorporados à sua técnica de ataque. Não tendo condições de ataque, tentariam um levantamento para um outro companheiro, o que sabemos todos, seria sempre uma lástima e, se bem sucedido, torna-se presa fácil para os bloqueadores. 

Depois dela, passamos esse aprendizado para as demais e, como seus jogos eram preliminares da equipe masculina, também para eles, com excelentes demonstrações práticas. Nunca vi outra equipe fazer o mesmo e, até hoje, uma raridade em nível internacional. No jogo em questão – Bergamo vs. Villa Cortese – em três sets que pude ver, foram perto de dez devoluções por manchete e nenhum ataque à levantadora. Essa atleta tijucana tornou-se professora de Ed. Física e, imagino, jamais esqueceu daqueles ensinamentos que, ao longo de sua vida profissional devem ter sido enriquecidos com suas contribuições inteligentes.

Para não nos alongarmos demasiadamente pois, como dissemos no início, a evolução técnica e tática do voleibol tem suas épocas bem definidas, devolvo a questão: Quem é a melhor jogadora na sua época? Seriam somente as selecionáveis? Além disso, será que os dois técnicos italianos sabem disso? Imagino que sim, apenas não houve tempo para treinar. E vocês, o que acham?

XV Campeonato Mundial de Voleibol Feminino – Gamova

Ekaterina Gamova

Velha conhecida dos torcedores brasileiros, a ponteira Ekaterina Gamova foi mais uma vez o ponto de desequilíbrio para tirar da seleção brasileira o tão sonhado inédito título mundial. Com uma atuação memorável no quinto set, a gigante de 2,02 m chamou a responsabilidade para si e virou três bolas incríveis na sequência. Ao Brasil coube olhar e admirar o desempenho da russa, que além de um foco incrível na partida, sabia muito bem como provocar a equipe verde e amarela com encaradas e olhares a cada cravada que dava no chão da quadra brasileira. “Ela conseguiu fazer tudo no tie-break, foi só ela. Não conseguimos segurar, o ataque dela vem muito alto e vem para baixo, pontua muito. Para o time da Rússia foi o diferencial”, disse a levantadora Fabíola. “Ela jogou sozinha. Ela que ganhou esse campeonato. Infelizmente, não deu para a gente”, completou Jaqueline.

Ficamos no quase

Na reedição da final de 2006, a equipe brasileira começou arrasadora, mas sucumbiu para a Rússia a partir do quarto set e viu o inédito título mundial escapar pelas mãos pela segunda vez consecutiva. A vitória russa, de virada, veio apenas no tie-break, com parciais de 21/25, 25/17, 20/25, 25/14 e 15/11, neste domingo, em Tóquio. Com as duas equipes invictas na competição, o time conseguiu durante parte do jogo controlar a gigante Gamova e a experiente Sokolova, porém sofreu uma queda de rendimento inesperada e viu exatamente as duas jogadoras desequilibrarem a partida.

A derrota encerra não da melhor forma uma campanha irretocável da Seleção até chegar à final, passando por adversários favoritos ao título como Itália e Estados Unidos. Estraga ainda a possibilidade da Seleção de ter a hegemonia do vôlei feminino, com os títulos dos Jogos Olímpicos e do Mundial. Alguns destaques da equipe no Mundial, como a ponteira Natália e a meio de rede Thaisa, não conseguiram repetir os desempenhos das partidas anteriores. No final restou às brasileiras chorarem e verem a festa da Rússia.

Como dizemos no Brasil para a levantadora: “Dá para quem está virando”. Isto é, se ela está acertando todas, por que lançar para outra? É a segurança de pontos para a equjipe.

Todavia, quando se trata de adversária, o que devemos fazer para anular o seu ataque ou mesmo, atenuar. Como criar problemas para que a equipe não jogue com ela?

Sugiro que acompanhem a série de textos sobre o SAQUE que venho postando regularmente.