Lesões e Receitas de Treinamento no Voleibol

Duas manchetes despertaram-me a atenção recentemente logo após ter realizado uma intervenção no blog do Arlindo Lopes Corrêa a respeito de lesões no voleibol. Vejam as notícias em ordem cronológica de postagem:

Com 2,01 m, cubano de 15 anos vira “estrela” na Liga Mundial (24.7.2009)
“O vôlei ganhou um menino prodígio. Com apenas 15 anos e 2,01 m de altura, o cubano Wilfredo Léon Venero é um dos destaques da Liga Mundial, e no momento lidera a estatística de melhor pontuador da fase final da competição. (…) Sempre jogou em categorias superiores a sua idade e com 14 anos estreou na seleção adulta”. (Terra)

Marcel Gil: o gigante português (7.11.2009)
Existirem jogadores brasileiros de voleibol com mais de 2 metros não é surpresa nenhuma. Agora, que um dos dois atletas mais altos do Campeonato Nacional seja português, aí sim é surpreendente. Marcel Gil, de 19 anos, ostenta esse protagonismo na competição e com 2,05 m só há mais um jogador: o brasileiro Gilson França, do V. Guimarães. (www.sovolei.com)

Acompanhem alguns trechos de nosso diálogo:

Blog do Arlindo: Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa seleção brasileira de voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.

Roberto Pimentel: Há muito, em conversa com professor e técnico influente no voleibol de alto nível, indaguei sobre a prevenção de lesões ocorridas em atletas de nossas seleções principais, pois também me preocupava que não houvesse um estudo sobre o assunto. A impressão que me foi passada foi: 1) as mazelas seriam varridas para debaixo do tapete, não deveriam aparecer; 2) a moderada atividade física realizada em salas de musculação seria suficiente para prevenir lesões; 3) os atletas já chegavam à seleção lesionados, atribuindo-se velada culpa ao procedimento nos clubes de origem; 4) não havia tempo para sua recuperação.
Ao longo da história de nossas seleções tivemos conhecimento dessa prática. Com certeza, os técnicos, ou eram pressionados, ou aplicavam o dito popular, “ruim com ele, pior sem ele”. Foi assim nas Olimpíadas de 1964, quando viajaram somente 10 atletas, sendo que pelo menos um deles lesionado e durante os jogos, ficaram reduzidos a 6 atletas. O fato se repetiria vinte anos depois nas Olimpíadas de Los Angeles. Os interesses falavam muito mais alto do que o zelo pela saúde. Algum tempo depois, um jovem atleta (Shanke?) da seleção brasileira saiu da quadra em pleno jogo e foi levado diretamente para cirurgia de mão com problemas de circulação sanguínea. Afastou-se do voleibol.

Medicina esportiva

Encontrei algumas referências sobre estudos de lesões no voleibol, a partir de trabalhos acadêmicos (não sistemáticos) na internet. Percebo que a chegada do fisioterapeuta às quadras e à praia é recente e, ainda, pouco sedimentada a ponto de influir na metodologia do treinamento. Os técnicos, com a responsabilidade de “fazer ganhar” suas equipes, têm prevalência nas decisões e pouco (ou nenhum) conhecimento sobre como prevenir lesões. No vôlei de praia quem assume toda responsabilidade é o próprio atleta, pois é o patrão. Mas existe um perigo ainda maior. Atenta à orientação que deva ser proporcionada a crianças e adolescentes na prática de atividades físicas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou desde 2003 o Grupo de Trabalho em Pediatria e Medicina Desportiva. Esse grupo conta com a participação das Sociedades de Cardiologia e Traumato-Ortopedia e já produziram dois manuais abordando tópicos diversos para uma boa anamnese e exame posterior detalhado do indivíduo. Foi editado pelo SBP em parceria com o Ministério do Esporte o “Desafio de Chande”, uma versão para crianças daqueles manuais. Finalmente, o tema tem sido discutido em eventos científicos. Falta maior divulgação e, espera-se, que os responsáveis pelos treinamentos/aulas leiam e façam bom uso.

Receitas de treinamento

Muitos julgam que treinar muitas horas por dia é o melhor meio de superação dos adversários. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos. Esta concepção herdamos a partir de 1982, com a competição travada entre Bradesco (Rio) e Pirelli (S. Paulo). Era uma febre de treinamentos e viagens, com os atletas à disposição da seleção aproximadamente 9 meses. Sem isto, dizia-se, seria impossível superar as equipes de ponta no cenário mundial, representadas pela URSS e EUA, esta última campeã olímpica em 84, beneficiada como o Brasil, pelo boicote dos países socialistas ao evento. Como nesse país nada se inventa e tudo é copiado, a mídia se encarregou de difundir esse cenário, que se tornou crença, de que quanto mais treinar, melhor. Puro sofisma. Os “neoprofissionais” de plantão nunca aventaram para o detalhe que reputo mais importante em qualquer treinamento: a QUALIDADE. Além, é claro, do “ócio criativo”, isto é, os intervalos convenientes para reposição de ingredientes indispensáveis à saúde – física e mental – do indivíduo.

A este respeito, vejam o comentário de uma professora de Educação Física ao ler um trabalho pedagógico de minha autoria em que relato algumas experiências no treinamento do voleibol: “Uma citação (na obra) me faz lembrar um trecho de Aristóteles que o Bernardinho colocou no livro dele: Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes; a excelência, portanto não é um feito, mas um hábito!” Podemos, então, deduzir que o Bernardo Rezende (Bernardinho) é ferrenho defensor da REPETIÇÃO. Como se trata de técnico vitorioso, consagrado, pode-se concluir que a sua metodologia é a mais adequada e, portanto, deveria ser adotada. Mas, seria esta realmente a melhor forma de se atingir a EXCELÊNCIA?

O que acham?