Novas Formas de Pensar o Treinamento: Defesa (2)

 Busca de Novos Métodos de Treinamento na Formação

MiniEuFavBairro INVERTIDA
Roberto Pimentel propõe o volley thinking na busca de novos métodos de treinamento.

 

Pensando o Vôlei… Volley thinking 

– Vale a pena treinar?

– O quê treinar?

– Como?

   – Quanto?

    – Quando?

 

 

 

Conceitos e Métodos – O Circuito do Ensino – Aprender Brincando e Jogando – Valor da Defesa – Circo de Matsudaira – Criatividade nas Aulas e Treinos – Liberdade de Ter Ideias Maravilhosas – Líbero, Antes e Depois – Importância da Dúvida.

————————————

Conceitos e Métodos

O Circuito do Ensino. Daniel Coyle é autor do livro O Código do Talento, que trata de uma ideia simples: a fábrica de talento. Esta consiste no acesso a um mecanismo neurológico no qual certos padrões de treinamento direcionado constroem uma habilidade. Trata-se de uma zona de aprendizagem acelerada, zona essa à qual podem ter acesso aqueles que sabem como fazê-lo. Em suma, decifraram o código do talento. Este se baseia em descobertas científicas revolucionárias sobre um isolante neural chamado mielina, atualmente considerado por alguns neurologistas o Santo Graal da aquisição de habilidades. (Leia mais O Circuito do Ensino)

Aprender Brincando e Jogando. Os internautas que me acompanham conhecem a máxima em que me apóio sobre a metodologia a empregar nos treinamentos, mesmo para adultos. Sempre que possível divertir-se jogando previne uma série de contra tempos e desgastes nervosos, quebrando as inefáveis monotonias a que estão submetidos os treinandos em qualquer circunstância. Este um dos piores defeitos do adestramento, em que se ensina o automatismo, e não fazer com que se adquira uma aptidão geral para a aprendizagem motora. O mais importante é o trabalho de tatear efetuado pelo indivíduo, e muito mais, a resultante desse trabalho, i.e., a aquisição de habilidades motoras. É um grande erro pedagógico querer acelerar os processos de ações intempestivas e invasoras. O papel do educador é o de suscitar, de favorecer as tentativas, os erros e o ajustamento, e não o de substituir o mecanismo educativo desse processo adaptativo por suas técnicas (Le Boulch). Quando uma experiência é bem sucedida no decorrer do tatear, ela cria como que um apelo à potencialidade e o indivíduo experimenta a necessidade de repetir esse ato bem sucedido até que possa fazer parte do automatismo. A atmosfera da alegria das sessões certamente contribui para a criação (C. Freinet). (Leia mais em Categoria/Metodologia e Pedagogia)          

 

Tese Inovadora

I – Justificativa

II – Metodologia e Pedagogia

III – Prática e Avaliação dae Resultados

IV – Conclusão

————————————              

Parte I – JUSTIFICATIVA 

Valor da Defesa

O emocional e os números

Quem jogou e quem quer se iniciar no voleibol é principalmente atraído pelos lances espetaculares, especialmente as cortadas de ataque. Pouquíssimos emprestam atenção aos lances de defesa. É bem possível que nos EUA os treinadores de base tenham despertado sua atenção para esse detalhe e consequentemente valorizado o treinamento específico. A tal ponto que nos jogos entre profissionais na década de 70 disputados entre equipes constituídas de cinco atletas, sendo uma mulher, sem rodízio, os lances mais aplaudidos eram referentes às defesas. Ao final da partida, o destaque era sempre o que mais defendera.

Um segundo aspecto nos é oferecido pela Regra do jogo em que cada erro corresponde a um ponto – pontos por raly. O locutor de Tv e alguns comentaristas muitas vezes afirmam que, a partir do vigésimo ponto, todos os pontos são importantes. Já refutei a sentença em postagem neste Procrie quando considerei que cada ponto, a partir do primeiro, é importante, pois pode fazer falta no final do set. Qual seria o ponto mais importante: o primeiro ou o último? Nesse caso tenho certeza de que o emocional prevalece sobre os números, pois os atletas são compelidos por seus treinadores a não errarem nos derradeiros momentos de um set (decisivo). Há aqueles que apelam: “Pelo amor de Deus, entra lá e não erre o saque”!

Por último, uma indagação: “Por que o líbero é o melhor defensor”?

A resposta soa óbvia, mas existe um desdobramento que nos parece importantíssimo para o desenvolvimento de nossa tese. Imagina-se que todos responderiam dizendo que o indivíduo apto a se constituir como líbero deve possuir algumas características inatas que o levem a se tornar um exímio especialista na função. Como está impedido de atacar, e até de sacar, sua participação no jogo está devidamente demarcada: ele só defende! E, consequentemente, seu treinamento é voltado exclusivamente para se tornar um perito em defesa ou recepção de saques, nada mais. Certamente, o criador do voleibol não gostaria de ver sua obra tão deturpada, uma vez que a ideia primitiva era de rodízio de funções entre os componentes. Todavia, através dos anos as competições tornaram imperiosas as especializações. Antes do advento da manchete no Brasil (1964), os três (depois dois) levantadores eram os principais artífices em defesas, pois basicamente tanto estas, quanto as recepções de saques eram realizadas “de toque” (por cima) com ambas as mãos. Considerando-se ainda, que este toque deveria ser perfeito, sob pena de punição pelo árbitro (“dois toques”). Por outro lado, à época, o voleibol dividia espaços nos raros ginásios com o basquete, o que lhes conferia reduzido tempo para treinamento, além de horários exprimidos com as diversas divisões em cada modalidade. Em suma: técnicos do alto nível e mesmo treinadores das categorias de base jamais tiveram vislumbre ou preocupação em treinar defesa por gerações. E o que acho incrível, até nossos dias!

E para concluir, sabe-se que quem dita métodos e programa de treinos invariavelmente são os treinadores das seleções nacionais de plantão, os demais, copiam. Especialmente, quando são vitoriosos. Mas quem disse que também aqueles (da seleção) já não têm suas receitas técnicas construídas desde seus tempos de atletas? Estaríamos confundindo o ponto de partida com o ponto de chegada?

Circo de Matsudaira

Brasil URSS Maracanã 2
Foto: Abril Press; Revista Vôlei Brasil.

O Voleibol transformado em ESPETÁCULO!

A foto ao lado refere-se à partida entre os selecionados de União Soviética e do Brasil, Maracanã (1983), com recorde de público de 90 mil espectadores. (Leia mais História do Voleibol no Brasil, vol. II, pág. 163-164)

Antes, no Japão, Yasutaka Matsudaira realizou façanha que surpreendeu e encantou o mundo quando levou o país a se tornar campeão olímpico em 1972 com a equipe masculina. Anteriormente (1964), as moças conquistaram a medalha de ouro na própria casa. Para isto, foram precisos oito anos de treinamento e aperfeiçoamento em novas técnicas e táticas não conhecidas no ocidente, entre elas o jogo de ataque fintado, o saque de longa distância balanceado e a técnica defensiva aprimorada ao extremo. Dizia-se até que para eles “não existia bola perdida”. O principal encantamento – as fintas e ataques rápidos – foram imediatamente incorporadas aos cardápios de treinos no mundo, enquanto que saques e defesas invariavelmente postos de lado, e a não ser por um ou outro detalhe, logo esquecidos. A técnica do saque seria substituída em 1982-84 com o emprego do saque com salto (viagem ao fundo do mar), mas até o momento espera-se que treinadores despertem de sono profundo. Resta saber que a federação japonesa produziu um filme de 20min contando essa verdadeira epopeia, exibido no Brasil em 1975 durante curso na EsEFEx. Espero que o tempo não tenha danificado o DVD que copiei, e que algum dia possa mostrar aos novos treinadores e internautas como os japoneses treinavam defesa e mantinham sua elasticidade. (Leia mais Valorizando Defesas em Detrimento de Ataques – Lição VII; História do Voleibol no Brasil, vol. II, pág. 145-147.)

Criatividade nas Aulas e Treinos

Cada vez mais me convenço da inutilidade dos treinamentos de defesa da forma como são aplicados. Possuo longa e profícua experiência no voleibol como atleta de excelente nível técnico, treinador. Tenho repetido que ao ver uma equipe atuando duas ou três vezes posso adiantar como ela é treinada, ou seja, o que falta de técnica individual a seus integrantes. No caso masculino, invariavelmente as bolas atacadas pelos adversários que ultrapassam os bloqueios não são defendidas. Os esquemas táticos de defesa empregados pelas equipes permanecem os mesmos da década de 60, em nada se diferem uns dos outros, inclusive no alto nível. Assim, os principais erros procedem de falha humana, ou de treinadores que não procedem a métodos de treinamento mais adequados a partir da Formação. Daí as expressões mais ouvidas no alto nível em qualquer desporto: “Não tenho tempo para treinar”! Deveriam aprender isto na Formação”!

Por que tudo isto? A meu ver, má colocação dos defensores e, na maioria das vezes, a posição não muito adequada dos braços (estão dispostos para defesa por manchete) e o consequente receio de uma bolada (medalha) que acarreta as sucessivas esquivas, especialmente em bolas na altura do peito ou rosto. É o que chamo de esconder-se atrás do bloqueio. Este estudo – verdadeira tese não acadêmica – está lançado online inclusive para debatermos o assunto de forma livre e cristalina. Aos que se juntarem, sejam bem-vindos, pois não creio que tenham encontrado nada similar e desfrutem de oportunidade ÚNICA de aprofundamento na matéria. Mais do que tudo, compartilharemos informações, conhecimentos e estaremos nos comunicando. Quer mais? Não se esqueçam que nossas descobertas deverão fazer parte dos treinos e aulas na Formação e mesmo nas aulas escolares. Aprenderão brincando e se divertindo!

Liberdade de Ter Ideias Maravilhosas

Penso que a inteligência não pode desenvolver-se sem conteúdo. Fazer novas ligações depende de saber o suficiente sobre algo em primeiro lugar para ser capaz de pensar em outras coisas para fazer, em outras perguntas a formular que exigem ligações mais complexas a fim de compreender tudo isso. “Quanto mais ideias uma pessoa já tem à sua disposição, mais novas ideias ocorrem, e mais ela pode coordenar para construir esquemas ainda mais complicados”. (Leia mais Importância de um Bom Ensino)

Líbero, Antes e Depois

FABI UNILEVER Marketing
Fabi, Unilever Marketing.

É certo que a atleta consagrada da foto jamais figuraria em um time de voleibol devido à sua estatura (1,69m) caso não fosse alterada a regra do jogo em 1992 após as Olimpíadas de Barcelona. E por que alteraram a regra? Invariavelmente os ataques preponderam sobre as defesas e a solução foi permitir (não é obrigatório) que jogadores mais ágeis atuassem somente na função de defensor (não podem atacar), e ao mesmo tempo não prejudicassem o número de substituições permitidas em cada set (6). Para chegar a ser a melhor do mundo na função o que foi preciso? Como foi treinada? Por que outras não atingiram tanta excelência? Enfim, como prospectar e produzir novos talentos? De uma coisa sei, facilitou-a o fato de atuar no futebol com seus irmãos e amigos desde tenra idade e possuir um jeito todo descontraído de ser, quase moleca. Por outro lado, para estar no time, tem que ser a melhor entre as baixinhas. (Leia mais Teoria vs. Prática)

 Continua… (em desenvolvimento)

II – Metodologia e Pedagogia

III – Prática e Avaliação de Resultados

IV – Conclusão

——————————————

Bibliografia:

Psicologia Pedagógica, L. S.Vigotski – Como as Crianças Pensam e Aprendem, David Wood – O Código do Talento, Daniel Coyle – O Código Cultural, Clotaire Rapaille – Rumo a uma Ciência do Movimento Humano, Jean Le Boulch – Rápido e Devagar, Duas Formas de Pensar, Daniel Kahneman – História do Voleibol no Brasil, Roberto Affonso Pimentel.

 

Aprender a Defender – Lição IV

Brasil Uruguai feminino Mulher no Esporte pré olímpico.
Brasil vs. Uruguai feminino no pré-olímpico. Foto: /Divulgação.

Altos e baixos no jogo

Os poucos e raros atletas altos (1,90m) de voleibol no Brasil nas décadas de 40 a 60  eram considerados lerdos e, por isto, pouco aproveitáveis numa equipe. A tal ponto que o treinador da seleção masculina – Sami Mehlinsky – presente ao Mundial de Paris em 1956, justificou a convocação de vários atletas de baixa estatura – Jorginho, Borboleta, Maurício, Márcio, Urbano – em detrimento de outros mais altos, por considerá-los mais aptos em aspectos técnico/táticos diversos tais como defesa, movimentação em quadra, toque de bola e levantamentos. Pesou também o desconhecimento total de como atuavam as seleções mundiais participantes dos jogos. Após o Mundial seguinte (1960) teve início o jargão popular de que baixinho não tem vez em voleibol. Muitos anos depois, com as soluções encontradas por Matsudaira e a posterior introdução do líbero nas Regras, procedeu-se a uma reavaliação do tamanho das peças que devem compor esse tabuleiro: exigências táticas sugeriram um equilíbrio no porte físico dos atletas. 

Atualmente, é certo que quando comparamos dois indivíduos, um relativamente baixo, e outro bastante alto, p.ex., Serginho (1,84m, líbero) e Leandro Vissoto (2,12m, oposto), ainda que haja diferenças alarmantes, valeria a pena treiná-los em defesa da mesma forma, isto é, segundo o mesmo método, mas guardadas as respectivas características físicas e mentais? Além do mais, imagina-se que os treinadores da Formação deveriam se esmerar em um treinamento diríamos global de seus alunos para compor um arcabouço de técnica generalizada e, jamais, especializada. E, ainda, não privilegiar atletas com +2m, a menos que consigam ter uma técnica considerável na totalidade dos fundamentos do esporte. Todos sabemos que estamos muito longe dessas providências, pois copiam a mesma metodologia e exercícios empregados nos treinos das seleções. Mas os treinadores dessas seleções, apesar de tantas vitórias, reclamam a todo instante de falhas pueris de seus atletas durante as competições internacionais. E a história se repete, pois ao serem indagados enunciam o velho refrão: “Não há tempo para treinar”! Então, o que fazem diariamente nas sessões em seus locais de treinamento? Como explicar o que ocorre com alguns atletas (e a equipe) que sucumbem diante de alguma pressão – talvez erros sucessivos?

Ocorre que durante uma partida, as caretas dos técnicos que as TVs mostram só ocorrem durante os erros e, nos intervalos, é puro desperdício de tempo querer ensinar como fazer a alguém que nunca aprendeu. Essas considerações têm procedência uma vez que nada se fez para alterar o status quo dessa situação. Ao que parece, planejar ceder no presente para conquistar no futuro próximo não passa pela cabeça de nossos gestores esportivos e técnicos super campeões. 

Passemos aos nossos diálogos questionando:

– Por que um baixinho levaria vantagem nos movimentos de defesa?

– Por que atletas negros do basquete americano são ágeis apesar de sua altura (+2m)? Seriam eles rápidos e eficientes também nos movimentos defensivos? 

– Que motivações teriam os atletas altos para se esmerarem nas defesas? E aqueles que invariavelmente cedem o lugar ao líbero durante as partidas? E mais: o que fazer com o levantador e o seu oposto? Como treiná-los?

– No caso em que o levantador participa diretamente de uma defesa, quem deve efetuar um possível levantamento? (Cobertura na defesa)

– Qual deveria ser o nível de exigência nos treinamentos de defesa?

– Em contraponto, como nossos ataques podem prejudicar a defesa contrária, especialmente em jogadas que não permitam as fintas? 

—————————

Em voleibol tudo tem início a partir do primeiro impulso (ou movimento) dado ao corpo. Dessa forma, a posição que este corpo adquira nos momentos que antecedem sua intervenção efetiva é primacial para o objetivo que tenha em mente naquele instante. Todavia, cremos que o método de treinamento quase sempre está mal aplicado em nossos tempos, mesmo em se tratando de alto nível. Confunde-se o ponto de partida com o ponto de chegada, reclama-se do atleta, mas se analisarmos “como” treinam veremos que algo deve melhorar em relação à visão que têm seus treinadores.

A arte de ensinar

Na formação esportiva, onde o ajustamento motor é dominante (ou indispensável), é grande o risco em proceder por adestramento para parecer ganhar tempo ou simplesmente por dificuldade de utilizar outra modalidade de aprendizagem. Tenho adotado algo como a interação, a negociação e a construção conjunta de vivências, que habilitem a criança (e adultos) a aprender a linguagem proposta. Para tal há sempre uma exigência de um elemento de interdependência e a capacidade de fazer descobertas acidentais. Portanto, é importante levar o indivíduo a aprender a pensar e tomar decisões próprias diante dos imprevistos que se lhes apresentam. Aqui reside o que denominamos aprender a linguagem a ser proposta a cada aluno. Hoje tenho certeza que caminhei sempre por intuição nesse sentido especialmente quando me recordo das atividades motoras a que era chamado a participar nas brincadeiras de rua, tais como subir em árvores, lançar pedras, nadar e pescar (de mergulho), andar de bicicleta, jogar xadrez, pular carniça e uma gama variada de atividades aprendidas em terrenos baldios. Por isto, quando me iniciei propriamente dito no voleibol aos 18 anos, tive um aprendizado acelerado, derrubando mitos: “Quem não aprendeu antes, não aprende mais”. Todas aquelas vivências se somaram às novas atividades, com independência e descobertas acidentais, pois não foi tão necessário alguém dizer-me o que fazer ou como criar algo. Por exemplo, que melhor exercício existe para aprender a antecipar-se do que o jogo de xadrez, que aprendi a jogar aos 8-9 anos?  Em suma, tornei-me autodidata; nos treinamentos solos ou em jogos dos quais participava não me preocupava em “vencer”, mas “em não errar”, motivo pelo qual tive encurtado  os avanços técnicos. Leia mais em Teoria vs. Prática, publicado em 27.11.2009, sobre a conveniência de a criança receber estímulos variados os mais naturais possíveis. E mais: Pensar e Aprender (I) (2.2.2010), sobre ensino contingente.

Ataque, Bloqueio,Cobertura
Foto: Fivb/Divulgação.

Assim, em se tratando de defender é recomendado que esteja em posição de expectativa (posição baixa), e certamente, na área que lhe foi atribuída por consenso tático da equipe. Creio que até aqui todos estão de acordo. O problema que impede um jogador de se esmerar na arte de defender recai em ignorar como trabalhar as pernas e os braços de modo a colocar-se na trajetória dos ataques adversários. Como invariavelmente deve encontrar-se em uma posição mais baixa que a trajetória da bola, posto que favorece a sua devolução para o alto, os seus movimentos requerem agilidade e discernimento rápidos. Como são adestrados para tentarem a defesa por manchete – imaginem o bate-bola de aquecimento (ver Nota no final), a posição invariavelmente que assumem é a menos indicada para serem bem sucedidos em suas ações. A não ser que combinem com os adversários para enviarem seus ataques em sua direção e, ainda assim, na altura dos joelhos, pois lá estarão estaticamente ao aguardo (em manchete) de seus arremessos. Essa é a tônica nos treinos, mesmo em seleções: três auxiliares sobre uma mesa a desferir ataques sobre os defensores; ocorre que as trajetórias parecem ser combinadas, inclusive a força da batida, para que não se desviem do alvo. Pena que durante os jogos não se possa combinar com os adversários para que reproduzam o mesmo, mas todos têm conhecimento que o treinamento deve reproduzir as situações de jogo na medida do possível. Por que não o fazem? Caso a trajetória dos ataques tenha direção alta, torna-se inevitável a esquiva para não correr o risco de um impacto no tronco ou rosto (medalha). Nenhum deles é adestrado para receber os ataques com braços flexionados e as mãos acima da cintura, à altura do peito.

SARA PAVAN, UNILEVER CANHOTA CANADENSE
Sarah Lindsey Pavan, atleta canhota canadense do Unilever (oposto, 1,96m), aguarda saque adversário. Foto: Alexandre Loureiro / Vipcomm.

Retornando ao aspecto da posição das pernas, vemos que todos empregam o mesmo detalhe bem acentuado quando da recepção do saque: pés e pernas, abertos e paralelos. E para maior conforto, ligeira flexão das pernas e braços estendidos. Muitos, ainda se dão ao luxo de descansarem suas mãos próximas aos joelhos. Como produzir movimento rápido a partir de uma posição estática? Muitas vezes fico a observar a recepção do serviço nas partidas de tênis, em que a bola chega a atingir 280 km/h. Como não existe a possibilidade de deslocamento frontal, percebam como se comporta o atleta quando ainda em expectativa para o saque, isto é, pequenos movimentos – balanço – deslocando o peso do corpo alternadamente de uma perna para a outra, e a posição da raquete, na vertical à frente do tronco. Tudo isto para favorecimento de deslocamentos de pernas e o braço que empunha a raquete. É claro, neste exemplo consideramos tão somente as observações e reações do atleta diante de um impacto iminente e o ajustamento de suas reações motoras de forma satisfatória, a devolução da bola. No atletismo – prova de 100m – podemos também tirar bom exemplo na capacidade de o indivíduo mover-se rapidamente frente a um estímulo.

Capacidade de reação

A velocidade de reação motora humana ou tempo de reação é uma capacidade física importante para voleibolistas, sendo observada na reação aos ataques da equipe adversária a fim de realizar uma recepção de saque, defesa ou até uma esquiva (bolas fora).

Façam um teste com qualquer de seus atletas, não importa se de alto nível ou não, para aquilatarem sua “entrada em movimento” a partir de um dado estímulo. Terão surpresas desagradáveis, pois desconhecem princípios elementares isto é, não foram treinados para tal. Um exemplo fácil de comprovar é o treinador colocar-se a uma distância de 3m do atleta com uma bola na mão e o braço esticado na horizontal. Em dado momento, deixar cair a bola para que ele a recolha e, então, observar o primeiro gesto do indivíduo. Verá que invariavelmente, realiza pequena e ligeira passada atrás (troca de base) para, em seguida, movimentar-se à frente. Além disso, provavelmente tentará tocar a bola ainda em uma altura razoável, o que no voleibol dificulta qualquer recuperação (tocará na sua metade e não embaixo). Pouquíssimos atletas discernem que o toque junto ao solo é mais favorável uma vez que permite tempo maior para a aproximação, como também a bola é tocada de baixo para cima com mínimo de esforço, e perfeitamente recuperável por um companheiro.

Detalhes: 1) trata-se do uso de um único braço em movimentos laterais. Saber realizar rolamentos favorece uma boa técnica e previne contusões ou acidentes; 2) para defesas em que as bolas estão muito distantes do atleta, sempre será preferível o toque junto ao solo, com uma das mãos em concha, com o polegar flexionado. 3) a manchete é desaconselhável em posições críticas ou extremas, isto é, o alcance para o toque na bola é maior quando o atleta utiliza um dos braços. Além disso, muitas vezes a posição “em manchete” (braços unidos) não permite o toque baixo e a sua orientação conveniente para futura utilização no jogo. 

Defesa na praia fotoFivb
Foto: Fivb/Divulgação.
Defesa Praia Ana Paula Mão trocada
Foto: Fivb/Divulgação.
Foto: Fivb/Divulgação.                             

Em tempo: nas comemorações pela conquista do bicampeonato olímpico, observamos que muitas atletas não sabem realizar rolamentos (frente e atrás). Tentaram uma variação feminina ao que produzem os rapazes com os seus peixinhos. Alguns dirão não ser necessário o seu aprendizado, pois afinal não foram campeãs? Talvez fosse salutar assistirem ao vídeo do filme de Matsudaira sobre a formação atlética dos jogadores japoneses. Estou providenciando para colocar no YouTube em breve. Um segundo aspecto não menos importante, refere-se à intuição do atleta, sua experiência e capacidade de análise da situação (estudo do adversário) e, assim, ter elementos que o ajudem a antecipar-se ao movimento dos adversários. E aqui realçamos a tarefa do professor na FORMAÇÃO de atletas.

Nota – Observa-se que a posição das pernas e braços no treinamento de defesa está prejudicada devido aos exercícios de aquecimento com bola, o famoso bate-bola realizado pelos atletas independentemente se estão em treino ou jogo. Repetem os mesmos movimentos e, na nossa concepção, erroneamente, pois aguardam estaticamente que a bola venha em sua direção. Seria o que se chama treinamento por adestramento, isto é, repetitivo, sem a participação do pensamento, tanto do atleta e treinadores. E por que isto?

Continuem a nos acompanhar nessa série de artigos. Convidamos os internautas que participem desse fórum com suas contribuições e comentários. Afinal, estamos todos no mesmo barco da aprendizagem. O que nos falta talvez seja compartilhar as ideias. Voltaremos breve e até lá, boas leituras.

Treinamento de Defesa – Formação

A jogadora Piccinini defende com os joelhos no chão no jogo contra o Japão. Foto: Fivb/Divulgação.

 

Formação

Observando a foto ao lado o que teria a dizer o treinador italiano?

Faço este preâmbulo para situá-los no tempo e nas considerações técnicas que pretendo discorrer com colocações e teorias a respeito. Nesta nossa conversa tratarei de relatos com passagens e histórias com campeoníssimos também do Vôlei de Praia. Perceberão que diversas contingências influenciavam a forma de treinar, causando danos irreparáveis na formação de novos atletas e, pior, a precariedade e as improvisações realizadas nos períodos de treinamento das seleções a indicar falsos caminhos aos treinadores brasileiros. E, também, ao ensino universitário, cujo currículo imagino seja o mesmo ainda hoje para a formação de professores. Verão também as razões pelas quais muitos treinadores de alto nível em vários desportos dizem que o erro está na “base”, quando se referem a atletas com deficiência em alguns fundamentos. E, em seguida, se exprimem: “Não tenho tempo para treiná-los”! Esquecem-se que eles mesmos, ao formarem jogadores nos respectivos clubes procedem de forma semelhante e repetitiva.

Peço perdão aos leitores por imiscuir-me nesses momentos em que estarei historiando fatos que vivenciei. São as minhas impressões e, portanto, impregnadas de um subjetivismo a que nenhum narrador escapa. Minha ideia é exemplificar com olhar crítico e não enaltecer-me. Além disso, sirvo-me do depoimento de um dos melhores e mais experiente jogadores da época – João Carlos da Costa Quaresma. Iniciei-me no voleibol em clube a partir de 18 anos, em 1958. Participei e presenciei treinos nos mais diversos níveis, inclusive de seleções brasileiras e confesso que nunca vi e tão pouco soube como os técnicos treinam seus atletas para serem bons defensores. Aliás, como há tempos não assisto a qualquer treino, pergunto ao leitor: Conhece algum?

Representação do Líbero (do italiano, livre)

Fabi, líbero da seleção brasileira, faz defesa; substituição de jogadores da função agora é livre. Foto: FIVB/Divulgação Fonte: Terra, 11.10.2010.

 

A Fivb buscava dar um equilíbrio entre defesa e ataque principalmente nos jogos masculinos. A figura de um jogador especializado em defesa dá principalmente ao voleibol masculino uma condição melhor, já que o ataque é preponderante em função do vigor físico da categoria e prepondera sobre a defesa. Surge, então, o líbero para tentar dar um equilíbrio nessa relação entre ataque e defesa.

No Brasil do início da década de 80 era o jogador que não recepcionava o saque e se apresentava para o “ataque de fundo”. Posteriormente, passou-se a designar líbero o atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos (ralis) e tornar o jogo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando a linha de três metros ou esteja sobre a área por ela delimitada, deverá executar somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede. Uma série de experiências foram realizadas pela Fivb com este “sétimo” jogador, sendo a primeira delas em 1995. No ano seguinte foi introduzido, ainda experimentalmente. no Grand Prix feminino, logo após a Olimpíada de Atlanta. Em 1997 foi testado o jogo com o líbero; sua aprovação e inclusão nas Regras deu-se somente em 1999-2000, quando foi incluída na Regra do Líbero.

Neste mês ( 9.12.2010) a Federação Internacional anunciou uma mudança nas Regras. A partir de 1º de janeiro de 2011, os treinadores poderão substituir o líbero quantas vezes quiserem durante todo o confronto. Atualmente, a alteração pode ocorrer apenas uma vez, isto é, se o líbero titular for substituído pelo reserva, não pode voltar à quadra. A mudança na regra foi votada durante um congresso da entidade em setembro e aprovada com unanimidade. Segundo a entidade, a mudança aconteceu porque a Regra limitava o uso do segundo líbero, já que os times optavam por relacionar apenas um líbero e 11 jogadores de ataque para as partidas. Recentemente, as equipes poderão disponibilizar dois (2) jogadores como líberos.

Grandes e Pequenos

Pelo que percebo, se o jogador não for o baixinho – o líbero -, não vale a pena perder tempo com este fundamento; acredita-se que a melhor defesa está no bloqueio e sendo assim, por que fazer os grandes sofrerem? Até porque certamente nunca foram adestrados nesse sentido. O vôlei de praia é um exemplo formidável: um atleta maior será sempre o bloqueador e, o outro, mais baixo, defensor; não há como evitar. Assim, tanto nos sextetos quanto nas duplas, os respectivos treinadores tendem a desprezar este fundamento e se atêm aos esquemas e sistemas de defesa, às coberturas e atribuem a maior responsabilidade ao líbero, que está ali só para isto. E o líbero, como deve ser treinado? Creio que muitos treinadores não percebem que, em determinados níveis, épocas ou circunstâncias, ou melhor, quando há o embate entre equipes do mesmo nível, os detalhes fazem a diferença. E essas diferenças podem se acentuar em pouco tempo, distanciando tecnicamente uma equipe da outra. Então, para resolver (ou não) o problema adiam e ficam a aguardar que alguém o faça e os ensine.

Histórias “selecionadas”. Em 1960, na preparação do Mundial realizado em Niterói e Rio de Janeiro, participei como “ouvinte” – um intrometido – de vários treinos da equipe brasileira, pois os ensaios eram todos no ginásio do Caio Martins, em Niterói, onde resido até hoje.

Jogadores brasileiros no ginásio do Caio Martins, Niterói, em 1960.

 

As delegações de todos os países participantes das chaves finais estavam hospedadas na cidade, exceto o time masculino da Rússia, que preferiu um hotel de Copacabana, no Rio. Assim, os treinos das equipes masculinas e femininas se distribuíam pelos poucos ginásios existentes: SEDA (Marinha), Icaraí Praia Clube (IPC), Faculdade de Direito, 3ª RI (Exército)  e o próprio Caio Martins. Assim, era fácil estar presente em muitos deles e contemplar um mundo novo para os meus olhos, ávidos pelas novidades técnicas e feitos dos melhores do mundo. Vi no IPC a equipe russa feminina com a sua belíssima atleta Ludmila e a super campeã Aleksandra Tchoudina, 5 medalhas olímpicas no atletismo até 1956, foi campeã mundial de voleibol em Paris e também no Brasil. Bati bola com os americanos comandados pelo extraordinário Gene Selznick e estive a admirar o levantador romeno de 1,92m, que me despertou para uma providência tática que tomaria logo depois, pois além de ser a minha altura, descortinei possibilidades múltiplas para a equipe que tivesse um levantador alto, também atacante e, melhor, que atacasse com o braço esquerdo; era o meu caso, embora não fosse canhoto. Por último, providenciei uma equipe do clube IPC, em que eu mesmo atuei, para jogarmos contra o selecionado brasileiro.

Autodidatismo

Terminado este Mundial, consegui uma bola de vôlei que fora usada pelos romenos num dos seus treinos no IPC. Como cortavam muito forte, uma delas foi achada por acaso em local de difícil acesso. Pois somente com esta bola realizei meu treinamento completo no ginásio do clube: foram 3 meses, com exercícios solitários de duas horas, três vezes na semana. Os ensaios, eu mesmo os criava e recriava, aumentando sempre o nível de exigência. O clímax ocorreu quando lesionei o ombro esquerdo e, não podendo atacar com ele, dispus-me a aprender a fazê-lo com o braço direito. E consegui. Ao final, já refeito da lesão, era o único no país a atacar com ambos os braços. Mas não só, recepcionava, atacava nas três posições da rede, bloqueava, efetuava levantamentos, defendia e sacava com maestria. Em resumo, era completo como jogador, tendo a altura de 1,92m, um dos mais altos na década de 60. Joguei por terra duas assertivas daqueles tempos: “Quem não aprende a jogar cedo, depois dos 18 anos não aprende mais”. E a outra: “Todo sujeito alto é mole”.

Em 1962, nos preparativos para o Mundial realizado em Moscou, participei da primeira fase dos treinamentos na Escola Naval, Rio de Janeiro. Consistia em exercícios físicos pela manhã, ensaios de fundamentos à tarde, compreendidos aqui principalmente exercícios de toque, saque e ataques. Lembrando que até então não se conhecia a manchete no Brasil e a recepção era privilégio de poucos, isto é, realizada de toque e em nível de exigência máximo por parte da arbitragem. À noite realizavam-se os treinos coletivos. Tudo isto, se não me falha a memória, talvez 30 dias antes do embarque, descontados aí os 8 dias referentes aos fins de semana. Em suma, diante do envolvimento profissional reinante em nossos dias, uma brincadeira, um faz de contas!

Em 1968, na cidade de Porto Alegre (RS), foram disputados os jogos referentes aos Campeões Estaduais. Estava presente com a equipe do Clube de Regatas Icaraí, de Niterói, em que era técnico e atleta simultaneamente. No dia seguinte ao nosso jogo contra a equipe do Minas T. C., de Belo Horizonte (MG), encontrei-me com o seu treinador, o saudoso Adolfo Guilherme, à beira da piscina da Sogipa, onde estávamos alojados. Disse-me ele: “Roberto, no jogo de ontem conseguimos vencê-los a duras penas. Não sei o que vocês fazem em Niterói quanto aos seus treinos, mas nunca vi uma equipe defender tanto, chega a irritar”! Esbocei um leve sorriso e creio que o surpreendi: “E esta não é a melhor equipe que pudemos trazer, pois alguns não puderam viajar”.

No início da década de 70, todos os treinos nos clubes eram ainda realizados somente duas vezes na semana, depois do horário de trabalho ou estudo dos atletas. Isto devido a problemas de espaço físico – um ginásio – e a manutenção de mais de uma atividade desportiva. Neste período, o curto tempo era dedicado à prática coletiva; em 1971, o voleibol no Fluminense F. C. deu a partida para acrescentar mais um treino  (três) na semana, com ensaios variados de fundamentos e precária formação física, muitas vezes rebatida pelos atletas que só queriam a prática coletiva. Estive atuando pelo clube em 1972. Contudo, em 1970-71, atuando como técnico do Tijuca T. C., realizei um trabalho que interessou demasiadamente aos atletas (masculino e feminino) e que reverteu em bons resultados no que tange aos ganhos do fundamento defesa. Fui criativo ao cobrir a rede com um extenso pano opaco e, a partir dali, através de múltiplos ensaios produziram-se ganhos extraordinários individualmente e coletivamente. Em 1981, também atribuindo ênfase aos treinos de defesa, consegui com uma equipe (América F. C.) mediana em termos técnicos alavancar elogios de diversos treinadores dos principais times do Rio.

Saímos do “amadorismo” em 1982 e, ainda na fase de adaptações às novas condições, a seleção brasileira esteve treinando em 1987 durante 4 dias na AABB de Niterói, local que consegui disponibilizar a pedido da CBV. Estava comandada pelo coreano Sohn, técnico campeão brasileiro pelo Minas T. C. A auxiliá-lo o ainda inexperiente treinador carioca Leão. Para o meu sentir os treinos foram decepcionantes em todos os sentidos. Ainda no mesmo clube, estiveram treinando também as moças, pouco antes de uma série de amistosos no Brasil contra a sensacional equipe cubana. Não percebi qualquer providência com respeito ao apuro da recepção contra os saques poderosos das adversárias. No único jogo que assisti, foi um desastre para a equipe brasileira. E muito menos quanto ao treinamento de defesa.

Já agora na “era Bernardinho”, presenciei parte de um treino em Saquarema e um outro, na Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx), no Rio, quando lá estive para conversar sobre o treinamento do canhoto André Nascimento, considerado o melhor atacante no Mundial da Argentina. Em ambas as situações, não consegui deslumbrar nada que me chamasse a atenção, muito menos transmitir o que pensava. Mas fui muito bem recebido e convidado posteriormente a fazer palestra no Centro Rexona, em Curitiba (PR) sobre a Formação e o Mini Voleibol.

Formação em Portugal  Acabo de ler no site da Federação Portuguesa de Voleibol (FPV) notícia que revela um Programa de Formação para jovens de ambos os sexos com idades entre 14-15 anos e altura mínima pré-estabelecida. Esta ação de formação estará representada por duas seções semanais de treinamento. Dará certo? Imagino que as peneiras de algumas associações esportivas no Brasil – em São Paulo – venham fazendo há muito tempo algo similar, isto é, em determinada época do ano abrem inscrições em nível nacional para receberem pretendentes a comporem suas equipes de base. Estes fazem um estágio probatório de alguns dias e, se aceito, são contratados pela associação. Como em Portugal, certamente fazem as exigências morfológicas aos candidatos. E na bateria de testes pelos quais têm que passar alguém acha que o nível de exigência para o fundamento defesa é excludente?  Assim, a forma de trilhar novos caminhos de que falamos em “Aprender a Ensinar – Memória” poderá comprometer uma vez mais todas as boas intenções dos gestores esportivos. E sugiro ainda que tornem a ler o que se contém em “Teoria vs. Prática”, postado em 27.11.2009. Muitas coisas podem ser melhoradas com tão pouco, tanto aqui como acolá.

Voleibol na Década de 90

Principais Mudanças na Regra

1992 – Após os Jogos Olímpicos de Barcelona, a regra do 5º set (tie-break) foi modificada. Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos. Motivo: o jogo Itália e Holanda, no 5o set, foi encerrado com a vitória da Holanda por 17×16; em seguida, houve protestos dos italianos e a consequente mudança da regra.

1994 – O Congresso Mundial realizado em Atenas aprovou as novas regras que serão introduzidas oficialmente em 1º de janeiro de 1995: permite contatos com a bola com qualquer parte do corpo, incluindo os pés. A zona de saque foi estendida para a totalidade (9m) da linha de fundo. Eliminação da falta dos “dois toques” na recepção da bola vinda da quadra oponente. E a permissão para tocar na rede acidentalmente quando o jogador em questão não participa da jogada. A bola pode ser tocada voluntariamente com qualquer parte do corpo, inclusive pernas e pés (mundial da Grécia).

1995 – A linha de ataque foi estendida com faixas tracejadas em 1,75m; a pressão interna da bola foi reduzida para 4,27lb a 4,56lb; foi permitida a invasão da linha central com as mãos; cartões de indisciplina passam a ser cumulativos; a bola que passa por cima ou por fora das antenas (fora do espaço de cruzamento) em direção à área livre da equipe adversária pode ser recuperada. Foi ampliada a zona de saque: corresponde à largura da quadra (9m); o saque pode tocar a rede; introdução de contagem de “PONTOS POR RALI” (25 pontos) sem ponto limite – acaba o sistema de VANTAGEM –, sendo que no set DECISIVO (5°, tie-break), ainda jogado com 15 pontos, não há ponto limite; em caso de empate em 14-14, o jogo continua até que uma das equipes obtenha uma diferença de dois pontos. Nos quatro primeiros sets foram criados dois “tempos comerciais” (para TV): no 8° e 16° pontos. Têm início as experiências com o “sétimo” jogador, o líbero, um jogador especial, diferenciado pelo uniforme, com características exclusivas de defesa e recepção, cujas trocas sucessivas não são computadas à equipe.

1996 – O líbero foi Introduzido (experimentalmente) no Grand Prix feminino, logo após a Olimpíada de Atlanta; a posição dá principalmente ao voleibol masculino uma condição melhor, já que o ataque é preponderante em função do vigor físico da categoria e prepondera sobre a defesa. O líbero veio para tentar dar um equilíbrio nessa relação entre ataque e defesa.

1997 – A partir desse ano foi testado o jogo com o líbero; sua aprovação e inclusão nas Regras deu-se somente em 1999.

LÍBERO, no Brasil do início da década de 80, era o jogador que não recepcionava o saque e se apresentava para o “ataque de fundo”.

O líbero é um atleta especializado nos fundamentos realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta “função” foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos e tornar o jogo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando a linha de três metros ou esteja sobre a área por ela delimitada, deverá executar somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede.

1998 Após as Olimpíadas de Seul, foi incluído o sistema de pontos “rally” no set decisivo (5º) (Regra 7.4). A contagem de cada set limita-se a 17 pontos: depois de um empate de 16 a 16, a equipe que primeiro marcar o 17º ponto vencerá o set com somente um ponto de vantagem (Regra 7.2.2). Modificações que não deram certo: TEMPO de JOGO e as duas TENTATIVAS de SAQUE (Regra 17.6). A Regra 17.7 coibiu o emprego da “barreira”, que impedia a visão do sacador. A CBV comunicou ainda (NO nº145/88) decisões da FIVB sobre a secagem (toalhas) da quadra e outros formas escusas utilizadas para interromper a partida.

1999-2000 – Finalmente foi incluída no texto da Regra Oficial a participação do líbero no jogo.

 —–   —–

Nota aos meus leitores – Encerro com este texto a série sobre as características do jogo com base na evolução das suas Regras. O cansaço e a idade não me permitem tanto trabalho de pesquisa e anotações. Espero que os mais jovens se empenhem algum dia nesse mister. Fui até aonde podia; outros farão melhor. Grato por suas companhias…

Evolução das Regras, 1980-99

Década de 80

1980 – 17º Congresso da FIVB: as Regras do jogo foram traduzidas para três linguas: francês, inglês e espanhol.

1982 – A pressão da bola foi incrementada de 0,40 kg/cm² para 0,46 kg/cm².

1984 – A partir dos jogos de Los Angeles foi proibido o bloqueio do saque e os árbitros receberam instruções para serem mais benevolentes na avaliação das defesas. Durante os Jogos Olímpicos alguns atletas brasileiros (medalha de prata) atraíram as atenções pela habilidade do saque com salto. A ideia não era nova, pois foi usada no Campeonato Mundial da Argentina, em 1982, sem resultados objetivos.

1988 – A partir dos Jogos Olímpicos, uma nova regra impediu a interrupção do jogo para que se pudesse secar a quadra. Os times passaram a entrar com toalhinhas presas na parte de trás do calção, usadas sempre que o suor molhasse o piso. A FIVB impôs uniformes para as equipes femininas, o que gerou uma série de problemas com o descumprimento dessa obrigação por parte da maioria das Federações. Somente a equipe de Cuba fez uso desse uniforme. No Brasil, a Federação de Voleibol do Estado do Rio de Janeiro (FVERJ) oficializou a bola da marca Penalty.

Bloqueio. Em 1984 foi proibido o bloqueio de saques (Olimpíadas de Los Angeles). Proibido também o ataque do saque (na zona de ataque).

Defesa.  Em 1984  foram permitidos contatos múltiplos numa mesma ação. Em 6 de maio de 1988 a FIVB inaugurou suas novas instalações em Lausanne.  Nos Jogos Olímpicos desse ano o torneio masculino contou com 12 equipes (previstas 10). Os EUA venceram no masculino e a URSS no feminino, após dramática final com a equipe do Peru. O Congresso Mundial aprovou que o 5º set decisivo seja disputado no sistema de pontos por rali em que cada saque corresponde a um ponto. O placar final do set foi limitado em 17 pontos, com UM ponto de diferença. Essa medida seria modificada em 1992.

Década de 90

1992 – Após os Jogos Olímpicos de Barcelona, a regra do 5º set (tie-break) foi modificada. Nos empates em 16-16, o jogo continua até que uma das equipes consiga uma vantagem de dois pontos. Motivo: o jogo Itália e Holanda, no 5o set, foi encerrado com a vitória da Holanda por 17×16; em seguida, houve protestos dos italianos e a consequente mudança da regra.

1994 – O Congresso Mundial realizado em Atenas aprovou as novas Regras que seriam introduzidas oficialmente em 1º de janeiro de 1995: permite contatos com a bola com qualquer parte do corpo, incluindo os pés. A zona de saque foi estendida para a totalidade (9m) da linha de fundo. Eliminação da falta dos dois toques na recepção da bola vinda da quadra oponente. E a permissão para tocar na rede acidentalmente quando o jogador em questão não participa da jogada. A bola pode ser tocada voluntariamente com qualquer parte do corpo, inclusive pernas e pés (Mundial da Grécia).

1995 – A linha de ataque foi estendida com faixas tracejadas em 1,75m; a pressão interna da bola foi reduzida para 4,27lb a 4,56lb; foi permitida a invasão da linha central com as mãos; cartões de indisciplina passam a ser cumulativos; a bola que passa por cima ou por fora das antenas (fora do espaço de cruzamento) em direção à área livre da equipe adversária pode ser recuperada. Foi ampliada a zona de saque: corresponde à largura da quadra (9m); o saque pode tocar a rede; introdução de contagem de “PONTOS POR RALI (25 pontos) sem ponto limite – acaba o sistema de VANTAGEM –, sendo que no set DECISIVO (5°, tie-break), ainda jogado com 15 pontos, não há ponto limite; em caso de empate em 14-14, o jogo continua até que uma das equipes obtenha uma diferença de dois pontos. Nos quatro primeiros sets foram criados dois tempos comerciais para TV: no 8° e 16° pontos. Têm início as experiências com o sétimo jogador, o líbero, um jogador especial, diferenciado pelo uniforme, com características exclusivas de defesa e recepção, cujas trocas sucessivas não são computadas à equipe.

1996 – A figura do líbero foi introduzida experimentalmente no Grand Prix feminino logo após a Olimpíada de Atlanta; a posição dá principalmente ao voleibol masculino uma condição melhor, já que o ataque é preponderante em função do vigor físico da categoria e sobrepõe-se à defesa. O líbero veio para tentar dar um equilíbrio nessa relação entre ataque e defesa.

1997 – A partir desse ano foi testado o jogo com o líbero; sua aprovação e inclusão nas Regras deu-se somente em 1999. No Brasil do início da década de 80 era o jogador que não recepcionava o saque e se apresentava para o ataque de fundo.

O líbero é um atleta especializado nos fundamentos que são realizados com mais frequência no fundo da quadra, isto é, recepção e defesa. Esta função foi introduzida pela FIVB em 1998, com o propósito de permitir disputas mais longas de pontos e tornar o jogo mais atraente para o público. Um conjunto específico de regras se aplica exclusivamente a este jogador. O líbero deve utilizar uniforme diferente dos demais, não pode ser capitão do time, nem atacar, bloquear ou sacar. Quando a bola não está em jogo, ele pode trocar de lugar com qualquer outro jogador sem notificação prévia aos árbitros e suas substituições não contam para o limite que é concedido por set a cada técnico. Por fim, o líbero só pode realizar levantamentos de toque do fundo da quadra. Caso esteja pisando a linha de três metros ou esteja sobre a área por ela delimitada, deverá executar somente levantamentos de manchete, pois se o fizer de toque por cima (pontas dos dedos) o ataque deverá ser executado com a bola abaixo do bordo superior da rede.

1998 – Após as Olimpíadas de Seul, foi incluído o sistema de pontos rally no set decisivo (5º) (Regra 7.4). A contagem de cada set limita-se a 17 pontos: depois de um empate de 16 a 16, a equipe que primeiro marcar o 17º ponto vencerá o set com somente um ponto de vantagem (Regra 7.2.2). Modificações que não deram certo: TEMPO de JOGO e as duas TENTATIVAS de SAQUE (Regra 17.6). A Regra 17.7 coibiu o emprego da barreira, que impedia a visão do sacador. A CBV comunicou ainda (NO nº145/88) decisões da FIVB sobre a secagem (toalhas) da quadra e outros formas escusas utilizadas para interromper a partida.

1999 – As normas relativas à atuação do líbero foram finalmente incluídas nas Regras.