Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (II)

 Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960 (II) 

José Gil Carneiro de Mendonça (em pé, à esquerda da foto) quando da fundação da Federação Sul-Americana de Voleibol, 1946,  relata detalhes de sua missão no Conselho Administrativo da FIVB, em Mônaco, onze anos após (1957). Entenda por que conseguimos realizar os campeonatos mundiais de 1960 no Brasil. (publicado na imprensa, s/ref, 1957) 

Busca de Patrocínio. Para que o Brasil fosse vitorioso na sua pretensão de patrocinar os próximos campeonatos mundiais de voleibol, contamos com o auxilio valioso dos Srs. Paulo Costa (representante dos esportes nacionais na Europa) e Vickensky (2° secretário da embaixada polonesa em Paris), bem como dos Srs. Libaud e Lenoir, respectivamente, presidente e vice-presidente da Federação Internacional de Voleibol“ – afirmou José Gil Carneiro de Mendonça, então vice-presidente de Relações Exteriores da CBV quando regressou de Mônaco, onde representou a entidade nacional no Conselho de Administração da FIVB, conseguindo para o Brasil o patrocínio dos campeonatos mundiais – masculino e feminino – que seriam realizados em 1960. Desde o certame de Paris (1956), os delegados nacionais lançaram a candidatura brasileira para sediar o futuro certame. Posteriormente, o Sr. Adolpho Schermam, então vice-presidente na gestão Dennis Hathaway, voltou à Europa a fim de reafirmar a disposição de o país sediar o Campeonato Mundial, uma vez que se apresentava credenciado pela conquista de dois campeonatos sul-americanos (invictos) e por um terceiro lugar nos Jogos Pan-Americanos. 

Ao assumir a presidência da CBV em 1957, o sr. Antonio Jaber procurou concretizar os trabalhos iniciados pelo seu antecessor. Logo após o carnaval, Gil Carneiro seguia para a Europa – sem ônus para a CBV – a fim de ratificar os entendimentos já anteriormente mantidos. No Congresso Administrativo daquela entidade, o país foi eleito sede dos próximos certames mundiais, por unanimidade. Relata-nos Gil: “Os poloneses também desejavam realizar os mundiais e, por certo, venceriam a luta pelo voto da Holanda. Como Paulo Costa era amigo do 2° Secretário da embaixada da Polônia em Paris – Sr. Vickensky – promoveu o meu contato com aquele diplomata. Acompanhados do Sr. Lenoir, secretário da FIVB, fomos todos à embaixada polonesa, onde foram mantidos vários contatos telefônicos com o governo polonês, em Varsóvia. Finalmente, a Polônia concordou em abrir mão do patrocínio, em favor do Brasil, sob promessa de algumas facilidades para o envio das suas representações. Como a Polônia irá se constituir em uma das atrações do certame, concordei com a solicitação. Assim, quando fomos para a votação do Conselho, em Mônaco, o assunto já estava resolvido. A Polônia retirou sua candidatura e o Brasil foi eleito por unanimidade”. 

Principais decisões tomadas pelas demais comissões reunidas em Mônaco: 

Comissão de Arbitragem – (1) Os juízes Newton Leibnitz e Erasmo Batista foram confirmados no quadro internacional da FIVB. (2.) Foi lançada também a candidatura para aquele quadro dos árbitros Walter Alves e Walter Azar. Em virtude da distância, foi outorgado ao Brasil, EUA, Japão e China (Comunista) o direito de designarem juízes para o quadro internacional, sem os necessários exames perante a Comissão de Arbitragem da FIVB. 

Na primeira reunião da Comissão Esportiva, recém-criada, do qual o Brasil é membro, juntamente com a Tcheco-Eslováquia, Polônia, França, Estados Unidos e Japão, elaborou-se o calendário para 1958. Pelos estatutos dessa Comissão, caberá ao Brasil a superintendência geral das atividades concernentes ao voleibol em toda a América do Sul. Desta forma, os países sul-americanos devem colocar a CBV a par, regularmente, de suas atividades. 

O Brasil apresentou em plenário o Regulamento de Campeonatos (masculino e feminino) elaborado pela CBV para gerir os certames patrocinados pela FIVB.

Mundial de Paris (VII)

O Volley Nacional e o Mundial de Paris

As seleções contavam ainda com o apoio de Gil Carneiro que, além de representante da CBV junto à FIVB, era também correspondente dos Diários Associados, jornal que patrocinou sua ida para a cobertura do Mundial. Átila, mesmo cortado, viajou por conta própria simplesmente para assistir aos jogos. Vejam a crônica de Gil Carneiro no O Jornal sob o título O Volley Nacional e o Mundial de Paris:

“Seguiram os selecionados brasileiros para o Campeonato Mundial de Paris. Tiveram as seleções dois meses de treinamento com concentrações rigorosas em Volta Redonda e Agulhas Negras. As exibições de despedida que realizaram tiveram o dom de provar que infelizmente não iremos com a força máxima de nosso voleibol. De relance, podemos anotar as ausências de Selma, Lilian, Maria Lilia, Parker, Gilberto e Átila, que a Confederação justifica como medida de ordem disciplinar. Ora, nós que militamos no voleibol sabemos perfeitamente que tais ausências se dão somente por fatos políticos, devido ao ambiente que imperava na entidade, antes da posse do Professor Otacílio Braga. Empossado este, muita coisa mudou, mas o tempo foi curto demais para sentir em toda a sua plenitude o ambiente e perceber as injustiças. Atletas estão afastados devido a fatos insignificantes ocorridos no México; outros estão incluídos na delegação após terem feito coisa muito pior no Sul-Americano de Montevidéu.

A equipe brasileira presente ao Sul-Americano de Montevidéu,1956

– O que se viu no Maracanãzinho¹ na noite de 23?

O público, todo ele ligado ao vôlei e, a par das injustiças, demonstrou seu desagrado ao torcer contra os selecionados e vibrar com a derrota da equipe masculina. Insistem os dirigentes e o técnico Sami em afirmar que a derrota foi devida ao ambiente e ao despeito dos jogadores que integraram a seleção carioca. Absolutamente, pois ambiente muito mais adverso encontraram em Montevidéu e encontrarão em Paris e não foi pelo despeito que os guanabarinos venceram e sim por possuir elementos mais categorizados que, mesmo sem treinamento, tiveram capacidade para formar um conjunto mais harmonioso e se o jogo foi equilibrado, deve-se unicamente ao toque de bola defeituoso na defesa do saque, que redundou em numerosos pontos para o selecionado brasileiro.Os grandes males do selecionado masculino estão na baixa estatura de seus integrantes, no sistema empregado e ainda na falta de classe de alguns elementos, haja vista que o técnico não teve coragem de utilizar nada menos do que quatro jogadores que, obrigatoriamente, deveriam ser melhores do que os integrantes da equipe carioca. Dizemos mal do sistema empregado, não por não acharmos ideal, mas por não possuirmos elementos capacitados para empregá-lo. Os convocados não sabem ‘levantar’ muito bem, principalmente bolas na ponta, que precisam ser rápidas e não muito altas. E sem levantadas não há cortadas, não existindo ataque eficiente. E a baixa estatura anula praticamente o bloqueio, arma de defesa número um do vôlei moderno, pois ninguém se iluda que iremos defender cortadas dos americanos, russos ou mesmo mexicanos no fundo da quadra!Já o feminino carece unicamente de levantadoras. Não existem boas levantadoras no selecionado! O público assistiu foi ao show dado por Selma na defesa das cores da FMV. E esta moça foi afastada porque precisava de alguns dias para conseguir uma substituta no seu emprego; como era carioca, nada lhe foi concedido, enquanto Urbano só se apresentou em Agulhas Negras praticamente no fim da concentração! Mas é mineiro e a entidade estava sendo muito exigida pela Federação mineira. Caso Zezé, Neucy e Gilda acertem, existe esperança para o selecionado feminino. Iremos fazer a cobertura do certame mundial. Não conhecemos as equipes dos países da Cortina de Ferro, mas sabemos da fama de seu poderio. Vamos torcer pelo nosso sucesso e esperar que as deficiências sejam suplantadas e que o Brasil faça uma boa figura nesta sua primeira apresentação nas quadras europeias. De qualquer maneira, a lição nos será utilíssima e o nosso vôlei muito progredirá com os ensinamentos que lá iremos colher. E, finalmente, poderemos saber realmente como se ‘apita’ em voleibol”.

Arbitragem – Como se depreende, as queixas para o desenvolvimento técnico recaíam no aspecto das arbitragens que, como as equipes, se ressentiam de um maior intercâmbio. As jogadas de ataque conhecidas hoje como bolas chutadas seriam impossíveis no Brasil de 56, uma vez que a precisão esperada do levantador dependeria do seu toque na bola de uma forma dita carregada, impossível aos olhos dos árbitros. Tempestivamente assinalariam bola conduzida.

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¹ Amistoso contra um combinado carioca formado principalmente com atletas do Fluminense F.C.

Voleibol no Rio

International Volley Ball Review – 1949

José Gil Carneiro de Mendonça, o maior incentivador do voleibol do Brasil durante muito tempo, produziu relato das principais atividades no ano de 1949 para a revista International Volley Ball Review. Veja o resumo de suas apreciações:  

1.  No Distrito Federal (cidade do Rio de Janeiro), há 9 diferentes campeonatos com 9 divisões, sendo 6 masculinas e 3 femininas.  

2.  Campeonato Brasileiro (Extra) realizado em São Paulo (SP):

                         Masculino                                   Feminino

1º.                Distrito Federal                             São Paulo

2º.                São Paulo                                     Distrito Federal

3º.                Minas Gerais                                Estado do Rio

4º.                Estado do Rio                               Minas Gerais 

3.  Campeonato Universitário Brasileiro (somente masculino) disputado em Salvador (BA).

          1º.  Distrito Federal;   2º.  Minas Gerais;   3º.  Pernambuco.

4.  Torneio do E. C. Pinheiros, São Paulo, pelo 50º aniversário de sua fundação.

                       Masculino                                         Feminino

1º.          Fluminense F. C. (Rio)                       E. C. Pinheiros

2º.          E. C. Pinheiros (São Paulo)               Fluminense F. C.

3º.          C. A. Paulistano (São Paulo)             C. R. Icaraí (Estado do Rio)

4º.          T. C. Paulista (São Paulo)                 Minas T. C. (Minas Gerais) 

5.  Destaques:

  • O Campeonato Sul-Americano nunca foi realizado por falta de competidores. O Brasil foi sempre o único a propugnar a sua realização.
  • Durante um mês a seleção paraguaia realizou amistosos em S. Paulo e no Rio.
  • O Fluminense (e não o scracht brasileiro) realizou tour pela Argentina e Uruguai.
  • Aguarda-se o início do Campeonato de Praia – sextetos masculino e feminino – organizado pelo Jornal dos Sports com mais de uma dezena de equipes. 

6.  Campeonatos Regionais – 1949

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Cidade/Estado                                          Campeão                 Vice-campeão

Rio de Janeiro (Distrito Federal)

   Masculino       1ª Classe         C. R. Flamengo          Fluminense F. C.

                           2ª Classe        Tijuca T. C.                 Fluminense F. C.

                            3ª Classe        Fluminense F. C.       Tijuca T. C.

   Feminino        1ª Classe          Tijuca T. C.                Fluminense F. C.

                           2ª Classe         Fluminense F. C.      Tijuca T. C.

 Niterói (Estado do Rio de Janeiro)

Masculino                                  Clube Tatuís              Icaraí P. C.

Feminino                                   C. R. Icaraí                 Icaraí P. C. 

São Paulo (São Paulo)

Masculino      1ª Classe            C. A. Paulistano         E. C. Pinheiros

                        2ª Classe          E. C. Pinheiros           C. A. Paulistano

Feminino        1ª Classe           E. C. Pinheiros           C. A. Paulistano 

Belo Horizonte (Minas Gerais)

Masculino                                 Atlético                        Olímpico

Feminino                                  Minas T. C.                 América 

Porto Alegre (Rio Grande do Sul)

Masculino                                 Y. N. C. A.

Feminino                                  S. O. G. I. P. A.

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