Aprendo muito conversando com pessoas inclusive estrangeiras. É algo que edifica nossa personalidade. Trata-se de um intercâmbio de ideias muito bom que sugiro aos meus leitores fazer o mesmo. Este Procrie vem colecionando visitantes de duas cidades polonesas, Gliwice e Katowice. Entretanto, há duas semanas aconteceu-me algo inédito e bastante edificante. Recebi um e-mail de um cidadão polonês de Blachownia, uma cidade ao Sul do país. Em seu bom português esclarece o seu interesse. Praticamente usando o vocabulário do amigo polaco, resumo abaixo o que me expôs em diversas correspondências.
Amo e gosto muito do voleibol brasileiro. Por certo tempo fui jornalista na Polônia e escrevia artigos sobre a Superliga de vôlei no Brasil. Revela ainda querer conhecer essa história em detalhes e, no futuro, viajar ao Brasil uma vez mais, pois já o fizera no ano passado. Na oportunidade, comprou diversos livros a respeito. Pensou também em escrever um livro da história do voleibol brasileiro direcionado aos poloneses, em língua polaca, uma vez que há anos coleta dados e matérias, mas sente a necessidade de voltar ao Brasil e produzir pesquisas aqui mesmo em arquivos, livros, realizar entrevistas etc. Acredita que encontrará leitores em seu país, pois há muitos fãs do voleibol brasileiro. Daí o empenho em fazer contato comigo, pois tomou conhecimento de que escrevi essa história recentemente e me considera um especialista. Dessa forma será o primeiro da lista no exterior para receber a obra que espero pacientemente pelo meu editor ‘conceber’ o primeiro volume. Felizmente ele sabe e já possui vários livros sobre o assunto, além de matérias esparsas colhidas em entrevistas de jogadores para revistas polonesas. Todavia, o vôlei brasileiro é pouco conhecido na Polônia, muito embora os fãs conheçam e respeitem muito a seleção brasileira, masculina e feminina, com as quais o país tem jogado frequentemente. Eles poucos sabem sobre os jogos da Superliga devido ao fuso horário (muito tarde) e também a dificuldade do idioma, pois os polacos preferem aprender inglês, alemão, russo e francês. Daí a dificuldade em ler sites brasileiros. Finalmente, o voleibol europeu é mais importante, pois é do seu próprio continente, são muitas as partidas pelos campeonatos e seus jogadores atuam em equipes europeias.

Cita diversos livros como Oscar Valporto “Vôlei no Brasil – Uma História de Grandes Manchetes”, Vitória! A Força, A Garra Emoção. “O Vôlei de Ouro do Brasil”, Rodrigo Kock – “A Saga Dourada de Vôlei etc. Informa que gosta de ler “Levantando a vida” do Ricardinho, e me deixa algumas questões: 1) O que você acha sobre o conflito entre Ricardo e Bernardinho? 2) O Rezende estava certo quando cortou Ricardo da selecão? 3) Quem está certo? 4) O que você pensa sobre o Ricardinho? Revela por último que se trata de algo importante para ele, que confessa saber pouco sobre o assunto. Em contrapartida insinuei que talvez fizesse a edição do 2º volume em e-book, no que refutou imediatamente, pois não crê que seria do agrado dos leitores”.
Como simples observador, não me cabe julgar comportamentos, até porque me escapam os verdadeiros motivos de tanta celeuma. Talvez um choque de personalidades e muito agito (fofoca) da imprensa. Ao que se sabe, após entrarem em atrito e ficarem três anos sem conversarem, Bernardinho e Ricardinho ensejaram uma aproximação em 2010. O técnico acrescentou o jogador à pré-lista do Mundial da Itália. No entanto a volta do levantador, campeão olímpico em Atenas/2004, acabou vetada. Na ocasião, Bruno (filho do treinador) e Marlon foram os escolhidos.
História do Voleibol no Brasil. Assim que o editor liberar os 100 primeiros livros, enviarei um exemplar para o meu correspondente polaco, sem dúvida. Mas, como deve estar interessado na atualidade, recomendei-lhe o site do Terra, que contém noticiário jornalístico. Quanto à minha obra, a história que escrevi está representada somente no séc. XX, tendo me esforçado para resgatar os fatos mais remotos através de pesquisas e entrevistas com pessoas mais antigas, algumas já falecidas. Criei um invejável acervo, inclusive fotográfico. Na sua apresentação, está adjetivada como enciclopédica e memorialista. Espero não decepcionar os leitores.
Brasil vs. Polônia. Quando falou sobre os fãs poloneses lembrei-me do jogo Brasil (2) x Polônia (3), no Mundial de 1960, aqui na minha cidade (Niterói), juntinho ao Rio de Janeiro. A partida foi a mais longa dos jogos, com duração de pouco mais de 3h, tendo terminado na madrugada. Poderá ver foto da equipe brasileira durante treinos no ginásio em “Mundiais de Voleibol no Brasil, 1960″. (vários artigos: em dúvida, vá ao “SUMARIO”). Mas quatro anos antes, no Congresso do Mundial de Paris, uma decisão foi tomada tratando de interesses entre Brasil e Polônia. Vejam a seguir.
CAMPEONATOS MUNDIAIS NO BRASIL, 1960 – Colocação Geral
Masculino: 1) URSS, 2) Tchecoslováquia, 3) Romênia, 4) Polônia, 5) Brasil, 6) Hungria, 7) Estados Unidos, 8) Japão, 9) França, 10) Venezuela, 11) Argentina, 12) Paraguai, 13) Uruguai, 14) Peru, 15) Índia, 15) México, 15) Rep. Dominicana. (estes três últimos não compareceram, apesar de inscritos)
Feminino: 1) URSS, 2) Japão, 3) Tchecoslováquia, 4) Polônia, 5) Brasil, 6) Estados Unidos, 7) Peru, 8) Argentina, 9) Uruguai, 10) Alemanha Ocidental, 11) Paraguai (não compareceu apesar de inscrito).
Antecedentes. Ainda em Paris, no ano de 1956, na seção de abertura do Congresso Mundial de Voleibol, dezenas de delegações participantes apresentaram suas credenciais e, após as proposições protocolares, iniciaram os debates em torno de vários itens constantes da Ordem do Dia. Desses, o que maior importância suscitava era o que indicaria a colocação dos países nas várias séries de cada categoria. No dia seguinte, o Congresso trataria da próxima sede para os Campeonatos e já se previa um duelo acirrado entre a Polônia, já com prioridade antecipada, e o Brasil, solicitador há um mês. Os observadores acreditavam que a Polônia, além da simpatia óbvia de todo o bloco da Cortina de Ferro, contaria ainda com o apoio de muitos países europeus interessados em não sair do continente. Todavia, havia esperança de que a própria Polônia abrisse mão em favor do Brasil, possibilidade que veio a se concretizar. José Gil Carneiro de Mendonça (delegado brasileiro) participou de dois outros congressos na Europa para consolidar o Brasil como sede do Mundial. O país concorrente – Polônia – aceitou as condições oferecidas pelo Brasil, contribuindo dessa forma para que pudéssemos patrocinar o certame. A quantia de Cr$1.250.000,00 (um milhão e duzentos e cinquenta mil cruzeiros) oferecida para transporte da delegação polonesa foi aceita e, no caso do campeonato ter saldo favorável, o Brasil se comprometeu a aumentar a cota da Polônia. Gil teve também a ajuda do russo Savin, pai do excelente jogador que brilharia no cenário mundial na década de 80. Ficou também acertado que o país não poderia arcar com despesas de hotel para as delegações e que as mesmas seriam alojadas em dependências modestas, no próprio ginásio, caso contrário o Brasil não poderia realizar o evento. Gil conseguiu os votos da URSS, França, Tchecoslováquia e Iugoslávia, países que comandavam a FIVB.
Estaremos todos aguardando a repercussão desse texto em solo polaco e as manifestações carinhosas dos internautas.
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(Acrescido em 6.3.2011)
Liga Mundial. Eis uma boa oportunidade de os poloneses assistirem a seleção brasileira.
O Brasil, que lutará pelo 10º título da competição, está no Grupo A, ao lado de Polônia, Estados Unidos e Porto Rico. A Liga Mundial começa no dia 27 de maio e terá as finais disputadas de 6 a 10 de julho na cidade de Gdansk, na Polônia.
Grupos da Liga Mundial:
Grupo A: Brasil, Polônia, Estados Unidos e Porto Rico
Grupo B: Rússia, Bulgária, Alemanha e Japão
Grupo C: Sérvia, Argentina, Finlândia e Portugal
Grupo D: Cuba, Itália, França, Coreia do Sul

