
Como ensinar?
A definição de “ensino” é problemática.
— Será que certas tentativas de ensinar fracassam porque as técnicas de ensino são fracas?
— Como avaliar a qualidade dos estilos de ensino utilizados por professores e treinadores?
— Que critério usaremos para caracterizar o sucesso?
— Devemos exigir que as crianças, depois de ensinadas, demonstrem ser capazes de transferir ou generalizar para outra situação aquilo que lhes foi ensinado a fim de podermos dizer que elas “realmente” aprenderam uma lição?
Estas indagações nos fazem defrontar com duas outras questões:
— Como definir a instrução eficaz?
— Como e quando as crianças generalizam o que lhes é ensinado, aplicando-o a outros problemas?
— As crianças são ilógicas ou “processadores limitados de informação”?
Se as crianças são mais limitadas que os mais velhos em sua capacidade de prestar atenção, memorizar e regular a própria aprendizagem, a resolução de problemas e o pensamento, pode ser que elas frequentemente fracassem naquelas tarefas em que os mais velhos obtêm êxito, não por falta de lógica, mas por não possuir a experiência e a perícia pertinentes.
Estágios de desenvolvimento cognitivo
Deve-se propor situações de aprendizagem compatíveis com o estágio actual de desenvolvimento cognitivo do aluno. Para Piaget, aprender é atuar sobre o objeto da aprendizagem para compreende-lo e modifica-lo. Daí surge o outro conceito chave – a aprendizagem ativa – como aprender é uma contínua adaptação ao meio externo, aprende-se quando se entra em conflito cognitivo, ou seja, quando somos defrontados com uma situação que não sabemos resolver. O organismo se desequilibra frente ao novo, mas como todo organismo vivo, procura o equilíbrio.
Para encontrar o equilíbrio, lançamos mão de um complexo processo de adaptação. Adaptação é o processo pelo qual o sujeito adquire um equilíbrio entre assimilação e acomodação. A assimilação refere-se à introdução de conhecimentos sobre o meio e a incorporação ao conjunto de conhecimentos já existentes. Através da incorporação, a estrutura de conhecimento existente se modifica de modo a acomodar-se a novos elementos — tal modificação é denominada acomodação.
Equilíbrio é o processo de organização das estruturas cognitivas num sistema coerente, interdependente, que possibilita ao indivíduo a adaptação à realidade. É a partir deste entendimento que as situações de aprendizagem baseiam-se em jogos e desafios, nos quais o sujeito é defrontado com um problema novo para resolver.
Como proceder?
As tentativas de ensinar crianças a resolver problemas de tipo piagetiano produziram efeitos positivos; outras não. Não é simples saber se esses resultados confirmam, ou não, a noção de um estágio pré-operatório do desenvolvimento. Você teria procedido a alguma avaliação a esse respeito em suas aulas? Vejamos dois exemplos práticos.
1. Num dos maiores educandários de Niterói os alunos têm à sua disposição vários campos de mini voleibol para se recrearem; toda a prática é regulada somente por eles, inclusive os torneios e regulamentos, não havendo qualquer participação de docentes. Infelizmente, não se procedeu a um acompanhamento da atividade, mas ao longo dos anos foram registrados alguns resultados significativos, tanto no desenvolvimento emocional dos praticantes, quanto no aprendizado técnico-tático específico. Entretanto, um outro caminho se nos afigura, pois é possível ajudá-las a aprender e a compreender situações que, sozinhas, elas não conseguem dominar; poder-se-ia fazer isso ajudando-as a aumentar sua limitada perícia e tentando ensiná-las a controlar as próprias atividades intelectuais (a chamada zona de desenvolvimento proximal de Vygotsky). Se isso for possível, poderemos reclamar para o ensino uma importância muito maior no desenvolvimento, e para as crianças pequenas um potencial muito maior de aprendizagem pela instrução.
2. Consagrado treinador do Rio relatou-me acerca de seu treinamento de bloqueio. Trata-se de uma equipe masculina juvenil. A orientação era para que os atacantes efetuassem as cortadas sempre numa mesma direção. Os bloqueadores, por sua vez, deveriam se deslocar rapidamente e efetuar a ação. E assim transcorreu o treinamento. Alguém que observava indagou: “Por que os atacantes cortam sempre no bloqueio, por acaso não lhes ensinaram a desviar (fugir) dos bloqueadores”? Ao que lhe responderam: “Trata-se de um treinamento de bloqueio e não de ataque; por isto há que se determinar a direção dos ataques sempre na mesma direção”. O que acham? Parece haver dificuldades de se medir a eficácia desses exercícios, até pela inconveniência de os atacantes dispensarem a ação de fuga dos bloqueadores. Entretanto, antes de chegar a uma conclusão, peço que releia linhas acima o “conceito de aprendizagem ativa”, pois há variáveis importantes a considerar.
