Formação à Distância

Aula na escola sem o professor. Jogos de duplas com participação alegre e ruidosa da classe. Desenho: Beto.

 

Mensagem à Catarina, uma amiga portuguesíssima.       

Todos poderão contemplar nosso primeiro diálogo neste próprio site. Está em Comentários do “Convite aos Internautas”. Foi uma resposta imediata e com uma carga emocional maravilhosa. Como é gratificante estar com alguém que adora o que faz! Imagino quantos professores estão espalhados por este mundo na agradável tarefa de Ensinar e Educar crianças. Creio também que os que me encontram no Procrie percebem emoção com que trato o tema. Até hoje quando falo em Cursos ou Palestras, tenho a voz embargada e corre uma lágrima pela face. Neste momento, estou repleto de emoção e embriaguez de amor por estar ali a falar para crianças e adultos.      

Iniciação e Formação. Nunca estarão sozinhos nesta prazerosa função de Aprender a Ensinar. Chamo a atenção, entretanto, que como existem bons professores, há também boas técnicas de ensino – os Métodos. Como em educação nada é definitivo, devemos todos nos colocar em prontidão para descobrirmos ou criarmos formas mais eficientes e adequadas à época e às circunstâncias em que vivemos.       

Clube e Escola. Vejam, p.ex., como se conduz um professor de Educação Física na escola ao propor a atividade voleibol e compare com um professor/treinador da mesma modalidade em um clube. O que percebem na prática? Estejam certos de que as diferenças no âmbito mundial não diferem em muito, respeitadas algumas peculiaridades. O que digo refere-se às atitudes do professor e a metodologia a empregar. Você poderá ter um resumo nos Anais do 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol realizado na Suécia em 1975. A partir dessas observações dei início às minhas pesquisas pedagógicas e metodológicas realizando dezenas de cursos para milhares de crianças . Através dessas experiências fui compondo propostas não definitivas para aplicação em qualquer área do ensino. É claro que me servi de vários especialistas, como Vigotski, Piaget, Le Boulch, D. Wood, que me auxiliaram a interpretar e analisar mais corretamente o comportamento infantil e, por extensão, dos indivíduos.     

Intuição e Criatividade. Mas também me servi de minhas intuições e da própria liberdade de criar sem medo de errar. Em alguns artigos inicias desse site coloquei depoimentos de crianças e adultos sobre a “arte de criar”. Entre elas, “´Ninguém realiza uma aula como você, pois está plena de amor”; ou outra ainda, “As aulas de Ed. Física aqui na escola tinham que ser assim como essa”. E, finalmente, de um professor/Coordenador da escola: “Como conseguiria dar aulas sequenciais na escola, já que teve um desgaste grande em uma só?” Respondi-lhe: “A resposta a esta indagação mereceria um Curso, mas adianto-lhe que se fosse professor da escola eu conheceria todos os alunos e eles a mim; esta cumplicidade tornaria a tarefa muito mais fácil e proveitosa”.         

Aula de Mini Voleibol no Boavista F. C. Foto: Internet.

 

Trajetória. O fato de não ter ainda pretensões de treinar escalões mais elevados revela que pretende amadurecer no trato com o outro até que adquira plena confiança no que está a ensinar. É perfeitamente natural e todos que conheço assim procederam. É como se fora um estágio antes de galgar espaços adiante. Todavia, houve época em que fiz o trajeto contrário. De treinador das equipes principais de um clube no Rio, fui incumbido de treinar os infantis, o que me proporcionou um ganho extraordinário na pedagogia. Reputo como uma experiência fantástica e única. Percebi que o mais importante era despertar o interesse das crianças naquilo que lhes propunha e, a partir daí, consegui construir um método maravilhoso de ensino: Aprender Brincando e Jogando (do alemão G. Dürrwächter). Clique no  desenho acima e observe por alguns instantes cada detalhe. Tenho certeza de que suas aulas ou treinos mudarão daqui para frente. Poderá se aprofundar e conhecer melhor a metodologia consultando os títulos na Categoria Metodologia e Pedagogia.      

Curso Virtual. Lembro a todos que o ensino de métodos não requer a figura presencial. A criação de um pólo, por exemplo, no Boavista F. C., na cidade do Porto, em Portugal, é bastante viável do ponto de vista pragmático. E não só ali, mas em várias escolas e cidades pelo mundo afora. Aqui está embutida a minha Missão, de atender professores/treinadores em locais que eu jamais sonharia poder estar algum dia. Poderão ver o que lhes digo em “Convite aos Internautas”. A tendência do mundo moderno fez com que se utilizasse com maestria os Cursos a Distância, cuja busca é mundial. As tendências apontam para a utilização de recursos tecnológicos, são de curta duração e inclui até modelos de avaliação. Além disso, se estendem ao longo da vida, não implica a preocupação da obtenção de um diploma, o assunto está diretamente voltado para o interesse do aluno, o que torna o processo como uma educação permanente.      

Curso Presencial. Todavia, exemplos de atividades pedagógicas pressupõem o contato direto, presencial, em que o professor fala, exemplifica e aplica na prática o conteúdo desejado. E mais, desfaz as dúvidas e responde às indagações de seus alunos. Quem sabe possamos realizar juntos tamanha façanha também em Portugal e com a ajuda inestimável do Sovolei. Sonhar não faz mal a ninguém!             

Saudações verdes e amarelas, além é claro das axadrezadas, que muito me tocou.

Curso de Formação

Centro Rexona, Curitiba (PR). Foto gentilmente cedida ao Autor.

A melhor escolha foi feita e frutificou.  

E a seguir, como manter  a continuidade?
 

               

Contributos para a Escola. O trabalho que venho desenvolvendo neste Procrie apresenta sugestões para Prefeituras – Secretarias de Educação e de Esportes e Lazer – e mais do que isto, oportuniza um diálogo entre os mais proeminentes protagonistas, o docente e o aluno. Aos demais agentes educacionais caberia então criarem as condições para esse desenvolvimento. Fala-se muito em dificuldades, problemas, salários etc., mas ao longo de mais de duas centenas de textos mantive uma postura otimista, coerente, de olhar para o futuro, desconsiderando as aparentes dificuldades e relegando-as, e formatando uma nova ótica ao focar o ensino esportivo na escola. Creio que esses escritos são suficientes para iniciarmos um trabalho cujo objetivo a alcançar é a QUALIDADE. Para tanto, aqueles que estiverem engajados deverão adotar uma atitude bastante realista e batalhadora. Toda mudança, sabemos, implica em muito suor, perseverança e acreditar no que se está a produzir. Vejam a seguir um exemplo prático.                            

Lembro que há algum tempo propusera à Secretaria de Educação da cidade do Rio de Janeiro um projeto visando à implantação do minivoleibol nas escolas públicas. O universo de alunos estava representado por número próximo de 700 mil. Naquela oportunidade não foi possível. Sem desistir, em 1995 propus à Secretaria de Esportes e Lazer a realização de um curso para crianças e adolescentes em plena Praia de Copacabana. Comportaria até 300 crianças recrutadas principalmente das escolas públicas do bairro. A gerência administrativa foi atribuída à Fundação Rio-Esportes. Ainda antes de se decidirem, convidei o gestor a presenciar uma aula em mesmo curso que vinha produzindo na Praia de Icaraí, Niterói, também para 300 crianças com duas aulas semanais. Ficou deslumbrado, ainda mais quando se dispôs a conversar com os 20 alunos da APAE que também participavam das atividades. Em suma, mantive dois cursos concomitantes, com duas aulas semanais em cada, com material e equipe de professores diferenciadas. Além disso, todo o equipamento foi fornecido por mim e gerida sua colocação, desmonte e guarda a cada dia. Em dado momento, uma vez que a seleção feminina treinava no Rio – na Escola de Ed. Física do Exército – resolvi dar um realce à iniciativa e convidei o Bernardo a visitar-nos com as atletas. Convite feito, convite aceito. E as fotos reproduzem aqueles momentos inesquecíveis não só para as crianças, como também para o próprio técnico e as estrelas. Vejam por que.                 

Valorização do Professor. Percebam na sequência das fotos o resultado silencioso da pregação e divulgação que venho há tempos realizando. Após visita ao curso de Copacabana, o Bernardo se interessou pela metodologia e adquiriu material análogo comigo para implantar cursos para crianças no Centro Rexona, em Curitiba. Logo a seguir, difundiu-o em parceria com o Governo do Estado por diversas escolas públicas. No Centro Rexona as crianças de diversas idades frequentavam as aulas orientadas simplesmente para o aprendizado do esporte. Caso se interessassem pela atividade competitiva, estariam livres para fazer a escolha em qualquer agremiação. O Rexona só patrocinava a equipe principal feminina para as disputas únicas e exclusivas da Liga Nacional. Aliás, este era um dos grandes problemas da direção técnica, pois não disputando campeonato da cidade (Curitiba), faltava à equipe a necessária confrontação com adversários de nível. Vez por outra, como atenuante, participavam como convidadas dos torneios de outras federações – carioca, paulista, mineira. Na foto que inicia este texto tem-se uma panorâmica do ginásio do Tarumã e percebe-se como foram configuradas inteligentemente as diversas seções de atendimento às atletas compostas por 13 campos de jogo. No primeiro plano 4 mini quadras para alunas menores; a seguir, uma quadra oficial; mais adiante, ocupando toda a área central, 3 quadras com proporções menores (6m-7m) proporcionavam a instrução de moças com mais idade. Ao fundo, pouco visível, uma quadra com dimensões oficiais acolhia o treinamento da equipe principal; e, terminando, outras 4 mini quadras. Todo este material era passível de ser removido a qualquer instante para acolher qualquer evento ou competição oficial. Foram feitos convênios com universidades, secretarias e escolas para Cursos de Formação Continuada aos professores que se interessassem. Tive a honra de realizar uma breve palestra em dois dias que lá estive a convite do Bernardo. Ali encontrei seus dois principais auxiliares – Ricardo Tabach e Hélio Griner, este o treinador da equipe – velhos amigos do Rio de Janeiro (clube Fluminense), que já conheciam meu trabalho e trabalharam em cursos que realizei com o minivoleibol. Houve uma excelente difusão da modalidade, vários professores escolares realizaram estágio no Centro e muitos se surpreenderam pela novidade, pois não conheciam esta alternativa pedagógica de ensino do voleibol.                 

Certamente os objetivos traçados foram atingidos. Entretanto, faço um pequeno reparo quanto ao desenvolvimento das práticas pedagógicas, uma vez que para mim essa busca pela Qualidade do Ensino é obsessiva como poderão observar em todos os meus textos. No nosso próximo encontro comentarei sobre exemplos de prática pedagógica em escolas, clubes e logradouros públicos que vêm de Niterói, “minha praia”. Perceberão como é simples e criativo.              

FOTO 1: Roberto Pimentel, Bené, Bernardinho e Tabach.
FOTO 2: Bernardinho e Tabach envolvidos pelos alunos.
FOTO 3: As estrelas surpresas e encantadas com o que presenciaram.
FOTO 4: Variedade e criatividade nos equipamentos.

          

          

          

          

          

          

FOTO 5: Manchete aprendida com puçás?
FOTO 6: Para que serve um paraquedas?

 

                             

    

                   

E lembro-o de comentar e sugerir sobre a LOGO:        

Intercâmbio com o Mundo

Praia de Icaraí, Niterói. Ao fundo, a cidade do Rio de Janeiro. Existe no mundo melhor lugar para jogar voleibol? (Clique na foto para expandí-la)

Uma`Palavra… Sou colaborador há algum tempo do sítio português sovolei, pois é desejo meu ultrapassar fronteiras e compartilhar o conhecimento e a informação com o mundo. Creio estar conseguindo meu intento logo que a ferramenta genial do Google Analytics assim me permitiu: as visitas se espairam por 28 países. É certo que muito ainda há o que fazer, mas hão de concordar que é um estímulo para lá de satisfatório. Obrigado a todos!

Alcance e Expansão. 2651 visitas a 5.276 páginas; e 30 países.

Tenho procurado identificar-me com o perfil das pessoas que me encontram neste blogue e no sítio sovolei através da explanação de inúmeras vivências. Anteriormente, também num sítio brasileiro, desenvolvi diálogos com professores brasileiros. Alegro-me por estar sendo útil e percebo pelas visitas de várias partes do mundo – Portugal (Lisboa, Porto e 29 outras  cidades, com 127 visitas) –, na Ásia (China, Coreia do Sul, Japão, Israel), Américas (Canadá, EUA, México, Argentina, Chile, Colômbia), Europa (Áustria, Bulgária, Espanha, França, Itália, República Tcheca, Sérvia, Suécia, Suíça), África (Senegal, Moçambique, Angola, Tanzânia) e Oceania (Sydney, Austrália). Além é claro, de 153 cidades brasileiras (2.470 visitas), de Norte a Sul. Continuarei tentando falar-lhes e juntos caminharmos nessa tarefa espetacular de aprender a ensinar.

Contributo

Perceberão nos escritos que tento traduzir mais intimamente o ocorrido comigo, o que me fornece uma grande vantagem, pois, como dizemos, “senti na pele”, isto é, realizei ou tentei fazer algo. Se tive sucesso, o tempo dirá; senão, devo ter aprendido a reconsiderar valores ou atitudes e retornar.  Além disso, sou detalhista e percebo-me como exímio observador. Nesta tarefa que se me afigurava difícil, encontrei todas as facilidades de compreensão nas leituras sobre Psicologia Pedagógica, cujos livros permanecem na minha cabeceira. Os estudos de mestres consagrados me levaram a entender e a explicitar tudo aquilo que descortinava na prática. E, muito mais, abriu-se-me um mundo novo de ideias criativas. De alguma forma espero que os relatos aqui dispostos ajudem-nos ou mesmo venha a se constituir num contributo para vocês.

Blogue. Atualmente, uma das melhores ferramentas de ensino universitário. O mérito de um blogue é que ele vai além das generalidades, dando ideias práticas e exemplos concretos, mas sem fornecer receitas ou um método pronto para usar. Alguns exemplos são fornecidos para algum balizamento inicial para os menos experientes no desporto. Os leitores poderão discutir como um professor pode e deve experimentar em sua própria classe criando várias situações e avaliando suas intervenções em vista das reações de seus alunos. A partir disso, entende-se muito bem o que vem a ser o caráter essencialmente “construtivista”, e o consequente ganho em autonomia para educar. Lembro que não estamos falando tão somente do ensino do voleibol, mas de múltiplas atividades na infância. Aqui tratamos de Metodologia e Pedagogia a empregar e a ser discutida. Fica então a sugestão para uma amplitude de troca de conhecimentos e informações: construam o seu próprio blogue (alguns já o fizeram) e comuniquem-se entre si, pois dessa forma TODOS poderão expor suas ideias e experiências. O ganho é geral.

Importância do Blogue. Um blogue em que os indivíduos que frequentam seus textos, mas não participam com comentários está fadado a não cumprir sua missão precípua, que é de dialogar e compartilhar. Seu alimento e vida é a dúvida, a interpelação. Esta atitude torna as pessoas investigativas e críticas do próprio saber. Ele permite que a informação seja tratada de forma educacional, pois discutem-se ideias, indagam-se questões que antecedem as afirmações do comportamento futuro. Além disso, sabemos todos que a Educação é uma busca incessante, sem fim.

Não Confundir o Ponto de Partida com o Ponto de Chegada. Interesso-me em estabelecer relações entre a natureza de textos pedagógicos e a aprendizagem e, consequentemente, dar embasamento científico à Metodologia da qual sou apologista e divulgador. Daí advém a motivação para ampliar um diálogo permanente com os interessados e cooptar novas ideias e experiências, das quais todos se locupletarão. Percebo que o estilo que imprimo ao blogue tem a ver com a busca conjunta do domínio dos assuntos. Alie-se a isto a própria natureza da mídia – escrita ágil, com poucas palavras, que informa enquanto analisa e faz crítica. É uma escrita que tem o ritmo incessante dos acontecimentos e compatível com a dinâmica da vida atual. No meu caso, isso me ajuda a ficar informado, atualizado e aprender. Muitas vezes recorro aos textos inseridos em outros blogues ou mesmo na imprensa. Constituem-se fonte riquíssima de informações a serem discutidas.

Pretendo conversar também com professores e treinadores portugueses a respeito da Iniciação e Formação em voleibol e o que se espera do desempenho (tática e técnica individual) de novos adeptos. E, o mais importante, como alcançar o alto nível ou chegar muito próximo das decisões a tomar. Como advogamos a mesma causa – “tudo começa lá atrás” – parece que a nossa educação esportiva mostra que um país – o Brasil pode servir de exemplo – aprendeu a gastar, mas não aprendeu  a ensinar e, assim, continua confundindo o ponto de partida com o ponto de chegada. A seu favor muitos argumentam que temos o melhor voleibol do mundo, o mais premiado etc. Contudo, imagino o que poderia ser se tivéssemos mais instrução pedagógica e clareza de propósitos em favor da população. Acrescente-se o descalabro do ensino universitário nas escolas de Educação Física. De qualquer forma, façam suas colocações. A discussão do tema nos levará ao “bom caminho” e a novas ideias que certamente saberão aplicá-las no dia-a-dia.

Idolatria. Advém um outro ponto interessante. Qual ou quem é o melhor treinador? Identificar o “melhor” é algo que possivelmente o inventor do voleibol jamais teria pensado. Nesse aspecto, o mundo moderno necessita tratar sua terrível doença: os “ídolos de barro”. Um segundo aspecto refere-se à homogeneização dos treinamentos em nível mundial manipulado pela toda poderosa FIVB e seus “colaboradores ou discípulos”. Os treinadores preconizam as mesmas coisas – é global – e se há formas diferenciadas de treinamento, pouco diferem na sua estrutura. Assim, o que faz a diferença? Alguns “chutes” já foram dados a respeito: “Depende da safra de jogadores”. Outros, “O detalhe é que faz a diferença”. E mais: “Precisamos de atletas altos; baixinho não tem vez”; “Precisamos treinar mais vezes, jogar mais”, e por aí vai. Parece uma repetição exaustiva do óbvio e o pior é quando um técnico campeoníssimo afirma que o “negócio é treinar e treinar, repetir até a exaustão”. No Brasil este efeito foi surpreendentemente forte a partir do curso proferido pelo então “maior técnico do mundo”, o japonês Matsudaira em 1975, no Rio de Janeiro. Inclusive com direito à exibição de filme produzido pela federação japonesa enaltecendo os feitos dos nobres “samurais” modernos. Para chegar aonde chegou, Matsudaira transformou os atletas de voleibol do seu país em cruzados, desfilando com o seu “circo” pelos quatros cantos do planeta auferindo lucro. E conquistando plateias e adeptos muitas vezes irresponsáveis, uma vez que poucos pensavam o que fazer, mas a tudo copiavam.

Agora a Federação Internacional sugere (ou intervém?) nos países filiados com propostas de ensino (?) para crianças adaptadas dos adultos. Isto é, com a visão de que a criança é um adulto em miniatura. Se um grupo de professores criativos começarem a trabalhar formas de aprendizado que libertem o indivíduo para a sua própria espontaneidade (e não adestramento), tenho plena convicção de que poderemos realizar exercícios de forma inteligente e higienicamente saudáveis, com oferta de QUALIDADE. Certamente contemplarão o aprimoramento de cada indivíduo deixando de encará-los como uma peça da engrenagem em que o operador da máquina torna-se o único responsável. Estaremos tratando de “gente, de pessoas”, e não de números. Proponho o lançamento de um “novo olhar”, não selecionemos os indivíduos para formar atletas competitivos, mas, ao contrário, vamos INCLUIR todos em nossas ações. Isto pressupõe propostas de lazer, cooperação e convívio. Agindo dessa forma proporcionei durante vários anos cursos “em minha praia – Niterói, Rio de Janeiro – para milhares de crianças (8-13 anos) durante 4-5 anos, em regime de duas aulas semanais regulares. E, muito importante, transmitindo todo esse conhecimento prático para dezenas de acadêmicos estagiários.

Voleibol Feminino em Portugal. Há dois anos, participei de um Congresso Internacional Desportivo no Brasil. Inscrevi-me particularmente para ouvir a palestra de ilustre professora portuguesa a respeito da prática em seu país. Lamento dizer que saí decepcionado: 40 minutos foram dispensados às apresentações e à exposição de um vídeo turístico sobre Portugal. Nos dizeres dela, “Não poderia proferir uma palestra sem dar a conhecer a minha terra”. Quando interpelada para dizer-me sobre o desporto feminino, foi evasiva. Afirmou que tudo estava muito bem, com excelente participação das mulheres. É evidente que não acreditei, posto que acompanhara o Congresso Nacional Desportivo Nacional português, com importantes pronunciamentos que reclamavam de providências de todas as instâncias governamentais e Federações. Qual o interesse de esconder a verdade? Apego ao cargo? Total desconhecimento do assunto? Insegurança e falta de criatividade? Ou, ainda, “deixa ficar como está até que ocorra a tão esperada aposentadoria”? Em outro momento voltarei a falar sobre o assunto na busca conjunta de soluções.

Vejo pelo desabafo do Luís Melo publicado no sovolei Zona 7 sob o título “Feminino, um problema de mentalidades”, que tem razão. Impressiona-me é o conformismo para reagir a esse estado de coisas. Todos sabem o que ocorre, mas ninguém experimenta dar o primeiro passo para a busca de soluções. Só a crítica é muito pouco. Aguardar providências do governo está comprovado que não sairão do marasmo a que estão relegados; e esperar que as instituições que comandam o desporto (COP, FPV etc.) é “morrer na praia”. Já tiveram mostras de que nada disso vai modificar o panorama. Vejam as propostas e conclusões do Congresso sobre as Lei de Bases: nada foi adotado e continua a mesma desde 2004. Parece ser natural em Portugal (e no Brasil).

Vimos também no Tempo Técnico, “A nova legislação para a Formação de Treinadores”, apresentada pelos dirigentes do IDP, referente a um Programa Nacional. Pretende ter uma “incidência muito grande (…) e provocar grandes alterações no nível dos Cursos de Formação”. Alguém nutre alguma esperança que desta vez vai ser efetivamente implantada, ou será fruto de mais burocracia? E as suas universidades que formam os professores, mestres e doutores? Ou, de repente, alguma luz iluminou os governantes para o fato óbvio: voltar-se e cuidar de forma científica das novas gerações, deixando de lado o empirismo e as receitas técnicas da FIVB, ou até mesmo universitárias, que até hoje não surtiram qualquer resultado positivo. “Sabe-se muito, fala-se demais, e diz-se pouco”. Transpor os ensinamentos colhidos na teoria para a prática, vai aí muita água. As prateleiras, e agora a Internet, estão repletas de pesquisas de coisa alguma que não surtem o menor resultado Há que se realizar uma grande guinada, navegar por mares nunca dantes navegados, marco da história dos portugueses.

Voleibol na Escola (VIII)

Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

e) a defesa, posições na quadra e usufruindo o regulamento.

Para realizar boas defesas as atletas devem possuir uma boa técnica (individual), que inclui diversos aspectos. Entretanto, algumas se destacam e, por isso, são “aproveitadas” e colocadas em posições consideradas mais prováveis de intervir nos lances. Assim é desde os seus primeiros jogos de minivôlei e será sempre na sua vida esportiva. Essas posições estão em função também dos ataques da equipe adversária. Se há regularidade em lançamentos para uma determinada zona da quadra, se uma jogadora é mais importante e muito acionada, tudo são fatos relevantes que devem ser observados pelas jogadoras e, principalmente, pela treinadora. Se houver necessidade, realizar trocas regulamentares entre suas atletas logo após o saque ou a recepção do saque adversário.

f) líbero: devo “construir” uma?

Se a treinadora aceitar um breve conselho, diria que ao invés de UMA, deveria formar tantas quantas fossem possíveis para a sua equipe. A formação técnica da jogadora para esta função é bastante apurada, além de um sentido de equipe e coletividade invejáveis. Ela é a “formiguinha” que carrega tudo, sem se queixar, sem aparecer, sem firulas, sem qualquer vaidade. É uma verdadeira “guerreira”. Ela se dá pela equipe.

g) se a minha equipe possui uma jogadora que recepciona mal, que devo fazer? 

Ora, que bom! Se SÓ uma delas recepciona mal o saque, isto é bom para você, para ela e para toda as suas companheiras. Para você, professora, por que somente uma delas apresenta momentaneamente este pequeno problema. Isto é motivo para ficar feliz, pois já sanou as dificuldades de todas as outras companheiras. Para ela mesma, por que terá a ajuda e o incentivo, agora, não só da professora, como das suas colegas de equipe. Terá, inclusive, em quem se espelhar e com quem se aconselhar. É uma fase que será rapidamente vencida com tanto apoio. Para as demais jogadoras, pela oportunidade de também elas se solidarizarem com uma colega e amiga que precisa de apoio para que toda equipe se beneficie e se desenvolva harmoniosamente. Este é um dos princípios educacionais perseguidos na educação pelo esporte. Nas sequências de treinamento ou nas aulas, ela poderá ser mais acionada e corrigida pelas próprias colegas. O importante é transmitir-lhe que vai conseguir com o seu próprio esforço e a ajuda delas. Inclusive, caso ela se destaque em outra função, torná-la instrutora desse novo fazer, igualando-a a todas. A professora se encarregará de destacar onde está a principal falha no movimento.

Nos jogos, desde que não comprometa demasiadamente, orientar as jogadoras no sentido de apoiá-la sem excluí-la. Este apoio pode ser através de uma dica, um simples gesto ou pequena mudança de posição, sem a participação ainda da professora. Caso não esteja resolvida a questão, com um pedido de tempo pode-se modificar o panorama e incentivar sua atuação. É importante que sejam  ressaltadas outras qualidades da atleta, seus progressos na qualificação técnica deste fundamento e a sua ajuda em outros procedimentos. O elogio é a chave da motivação! Mais à frente (item 21, “Como motivar uma equipe”), falarei a respeito.

Voleibol na Escola (VII)

Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

c) o levantamento: quem levanta?

No jogo 3 x 3 – minivôlei – argumentamos no sentido de que TODAS exerçam TODAS as funções dentro do jogo, não destacando esta ou aquela situação. O aprendizado deve ser suficientemente genérico para que as crianças tenham uma vivência gratificante e educativa. Ao passar para o jogo 6 x 6, ainda na fase de iniciantes, não vemos por que mudar. Nas posições de rede, a que estiver em melhor posição deverá fazer os levantamentos, independentemente se lhe passaram a bola para o 2º toque: “a segunda é da levantadora”, já era…” Qualquer uma tem que estar em situação de, melhor colocada, realizar bem o levantamento. Entretanto, sabemos que as melhores posições para exercer o levantamento estão nas posições (3) ou (2) – meio ou saída de rede. Em muitas competições as equipes iniciantes elegem a posição (3) como a “obrigatória” para a levantadora.   

d) o ataque, suas facetas e características.

Vamos considerar neste estudo os ataques por cortada realizados dentro da posição correspondente (2, 3 ou 4). Para a professora, de imediato surgem as seguintes indagações:

  • qual a melhor posição para que suas alunas aprendam a executar um golpe de ataque por cortada?
  • como deve ser executada a cortada: com o máximo de potência?
  • quais os principais problemas a enfrentar inicialmente?
  • como minimizar os erros?
  • como se caracteriza uma boa atacante?

Melhor posição – a mais próxima da levantadora, não importa em que lugar da rede; são bolas levantadas à meia-altura (meia-bola, no jargão do vôlei).

Vantagem – Aumenta a precisão do levantamento, facilita a relação com a atacante, que regula melhor o seu “tempo de bola” com o salto. Estimula o ato de pensar antes do gesto (observação, memória e inteligência). Mais à frente, facilita os ataques com salto numa das pernas (bola ou cortada “china”), um movimento similar à “entrada em bandeja” do basquete.

Execução da cortada – A maioria das iniciantes crêem que a cortada deve ser realizada com o máximo de força que se possa empregar. Isto se deve ao seu movimento espetacular e elástico e ao conceito da grande maioria das escolas de treinadores, especialmente os mais modernos. Para quem executa parece uma realização plena o fato de cortar com muita força. Entretanto, isto somente não a torna uma “boa” atacante.

Problemas iniciais – As jovens atletas têm grande dificuldade em coordenar os saltos com o movimento (no ar) para a batida na bola. Decompor estes movimentos (pontos-chave) e utilizar a transferência (transfert) para auxiliar e contribuir na sua execução global.

Exercícios – Utilizar uma forca, onde a bola está “parada”, permitindo à treinadora corrigir todos os detalhes necessários à impulsão, elevação do braço e posterior queda. Bolas lançadas pela treinadora à pouca altura e próximas à rede, com pequenos saltos e velocidade de braço; mais tarde, com mudança de direção nas batidas. Observar e apostar que o movimento do braço da cortada é idêntico ao do saque tênis. O que se fizer num movimento, far-se-á no outro. Se, ao sacar, a atleta estiver lançando a bola ligeiramente para trás, fará a mesma coisa no salto para a cortada: entrada “a mais” do próprio corpo, que deverá ser “compensada” com um extensão exagerada de tronco ou pegada da bola com o braço “encolhido”. Para corrigir, use a forca com a bola no máximo de altura que a atleta possa tocar com a extremidade dos dedos. Realizando os movimentos corretamente, conseguirá “cortar” esta bola no ápice de seu alcance. Usar também exercícios com bolas de tênis, com ou sem salto, utilizando alvos na parede ou no chão (mudança da trajetória). Nos arremessos para o chão, cuidar para que não toquem na rede, que poderá estar mais alta do que o regulamentar. Observar que CADA indivíduo tem uma capacidade de impulsão própria e limites variados.

Minimizando erros – Vejo como principal fonte de erros as distâncias entre as atacantes e a levantadora. Quando puderem estar próximas a tarefa de ambas ficará facilitada. O que se teria que treinar é como fazer estas aproximações das duas cortadoras, coisa que não requer muita imaginação. Criou-se um estereótipo, um clichê, com as três posições de rede que, até hoje, parecem imutáveis. Então, somente a atacante de meio é quem ataca pelo meio da rede e, as demais, das respectivas posições.

Ataque de meio – Tenho inegável apreço pelo ataque de meio de rede. Creio mesmo ser uma das melhores posições, senão a melhor, para ataque, especialmente em se tratando de iniciantes. Qualquer movimentação das atacantes pelo meio da rede provocará sérios problemas para as defensoras adversárias, pouco afeitas ao esquema correspondente de defesa. Para as atacantes, oferecem-se múltiplas ações de ataque, inclusive por “largadas ou “colocadas” (bolas lançadas atrás ou próximas do bloqueio). Não é necessário usar a “força”, mas inteligência e moderação, o que transforma as jogadoras em boas e eficientes atacantes, diferenciando-as das demais. A treinadora tem papel preponderante nesta formação: ela estimula ou inibe essas providências e ações e, como já vimos, a equipe “tende” a copiar a sua treinadora em tudo: passa a ser um reflexo seu. (ver tb item 11 “Final de set, hora de decidir…”)

Professor de Vôlei (I)

1. Iniciação & Formação na Escola

Há algum tempo dei início a um bate-papo sobre a Iniciação e Formação em voleibol em conceituado site nacional. Foi uma excelente experiência em que pude manifestar-me livremente e perceber o interesse de alguns professores sobre o tema. Depois de já bastante consistente em seu bojo tive a satisfação de perceber que foram copiados na íntegra para outros blogues. Agradeci textualmente aos que me deferiram e me afastei temporariamente, coincidindo com a entrada do meu blogue primitivamente alojado em http://robertoapimentel.blogspot.com/, cuja primeira postagem se deu em 21.9.2009, sob o título “Educação com Qualidade”. Transferi-me em seguida para este verdadeiro site da WordPress,com o qual estou muito satisfeito e aguardando ainda os últimos retoques de meu guru cibernético.

Início. Tudo começou com pequenino texto que coloquei naquele site transcrito a seguir. Até 27 de agosto do mesmo ano foram computados 22 comentários. A partir de agora estarei apresentando “os melhores momentos” desse diálogo, realizando uma transposição segura para que mais interessados possam se locupletar e se animarem a compartilhar suas experiências. Todos nos enriquecemos. Participe!

Roberto Pimentel, 14.6.2009 – Tenho propostas e alguma experiência a respeito da iniciação ao voleibol, especialmente no ambiente escolar. Coloco-me neste espaço à disposição de tecermos comentários a respeito e nos enriquecer mutuamente.

Guilherme, 15.6.2009 – Muito se escreve e se fala a respeito, mas observo que os modelos são cópias e muito desmotivantes quando colocados em prática. O jogo em si é pouco explorado no início das aulas e os exercícios de fundamentos são cansativos e pouco motivantes para as crianças. O que você acha disto? A aplicação de pequenos jogos com redução de quadra e sem exigências de técnicas apuradas não seria o melhor caminho?

Milton, 15.6.2009 – Penso que a aprendizagem/iniciação ao voleibol está diretamente relacionada ao ambiente aonde este trabalho vai se desenvolver. Na escola, objetivos, procedimentos e conteúdos têm um determinado perfil; em clubes ou escolas de esportes, creio que muda um pouco o quadro. O voleibol por ser baseado em movimentos construídos apresenta alta complexidade na execução dos gestos técnicos, além de alta complexidade na mecânica do jogo. Para tornarmos esta aprendizagem mais interessante, devemos trabalhar com alguma ludicidade para os alunos, pois se ficarmos só na questão estritamente técnica este processo será maçante e afastará muitos alunos. E devemos propor estruturas simplificadas para práticas que usem elementos do jogo, para gerar prazer e sucesso, motivando o aluno e criando pequenos desafios, adequados ao nível de respostas que ele seja capaz de produzir. Penso que os jogos reduzidos é uma estratégia adequada que reúne muitas das características citadas acima.

Roberto Pimentel, 17.6.2009 – Concordo com o que ambos colocaram. Como resolver a questão? Torna-se quase óbvio que devamos buscar uma nova metodologia que contemple soluções imediatas. Existe um caminho que me parece bastante prático e natural. Inicialmente, é preciso que se criem mecanismos de “Atração e Envolvimento” do aprendiz, seja criança ou adulto. Minhas atuações com ambas as faixas me levaram a conquistas sem precedentes. Dessa forma, as aulas viraram verdadeiras “produções” para conquistar os alunos. Tem dado certo e ainda não entendi porque outros professores não o fazem. Como em princípio as crianças querem é se divertir e brincar satisfaço-as nestes quesitos e ainda acrescento:”Quem não fizer bagunça não ganha picolé!” É uma algazarra formidável. Evidentemente, que tudo sobre controle não ostensivo. Uso muita alternância de tarefas e muito material criativo, como pára-quedas, puçás, dezenas de bolas de tênis, biruta, bolas coloridas (de aniversário) que me permitem realizar as brincadeiras. Outro detalhe é o anúncio de que TODOS conseguem jogar a partir da primeira aula. E não os decepciono. Relativamente aos treinos em colégios ou em clubes, foi um assombro quando realizei durante uma semana as mesmas aulas empregadas na escola no Fluminense, do Rio de Janeiro. Ali se desenvolvia talvez a melhor iniciação comandada pelo saudoso Bené, que produziu atletas formidáveis, como Bernard, Fernandão, Badalhoca e Bernardinho, todos da “geração de prata”. Numa próxima aparição darei minha impressão sobre este estado de coisas no desporto brasileiro. Lembrem-se de que a Iniciação nunca mereceu a atenção que lhe deveria ser dispensada.

Voleibol na Escola (II)

O saque “por baixo”

Desprezado pelos novos professores e treinadores, teve sua época áurea no Brasil até a metade dos anos 50. A partir dos Jogos Pan-americanos de 1955 os atletas brasileiros que lá estiveram trouxeram a novidade do saque “tênis” que se alastrou imediatamente, afastando o “por baixo”. Entre nós, seu principal divulgador foi o Bené, com quem me iniciei em 1958. Rapidamente aprendi sua técnica e, mais importante, seu valor tático. Em 1962, durante a fase de treinamentos com vistas ao Mundial de Moscou, empreguei-o com sucesso retumbante nos treinos coletivos. Ninguém sacava “por baixo”, somente eu, embora dominasse também a técnica do “tênis”. Penso que criei estratégias específicas para cada caso. Os gestos “construídos” quase sempre requerem uma adaptação estrutural. Assim é este tipo de saque. As dificuldades mais comuns se referem à adaptação ao novo movimento – uma posição de base que o favoreça, as noções de distância e altura e a um direcionamento da trajetória da bola. Podemos denominá-los de “pontos-chave” do movimento. Como fazer com que a aluna consiga sucesso no gesto o mais rápido possível?

Solução

a)  Principiantes que ainda não dominam uma técnica rudimentar, isto é, não observam a colocação à frente da perna contrária ao braço que executa o golpe na bola. Isto traduz-se em duas outras consequências: no direcionamento da trajetória da bola e no golpe na bola. Não havendo o necessário equilíbrio do corpo, não haverá técnica, isto é, sobram desperdícios. O fator decisivo está na posição da “perna contrária” (esquerda para os destros). A professora poderá levar suas alunas a colocarem uma das pernas à frente e, por meio de “ensaios e erros”, levá-las a esta descoberta. Permitir-lhes colocar um pé sobre uma linha de referência e “descobrir” qual a melhor forma. Nas suas “cabecinhas” (das alunas) algo lhes dirá que para obter mais sucesso é melhor daquela forma. A satisfação de haver conseguido e os elogios reforçam a memorização dos gestos exitosos, além da observação que uma fará da outra. Verifique também se os exercícios de “passe de peito” utilizados no basquete podem favorecer a observação do emprego do movimento das pernas no “conforto” da execução. Neste tipo de passe há deslocamentos do peso do corpo de uma perna para a outra e, por isso, devem estar uma à frente da outra. Fazê-las descobrir posições cômodas de equilíbrio similares (“transferência”). Se for o caso, leve-as a descobrir como se chuta em futebol.

b) Para aprenderem a direcionar a bola, será conveniente que sejam estimuladas a atingir alvos colocados em diferentes posições (laterais) e, as alunas, numa posição fixa em relação a eles. O mesmo princípio se aplicará no caso das alturas: alvos diferenciados perpendicularmente. Além disso, ensinar-lhes a regra do saque: ele pode ser executado de “qualquer lugar do fundo da quadra”. Seria oportuno que soubessem usá-la em seu benefício e da própria equipe. Alunas mais experientes já utilizam esse recurso.

c) Já que os movimentos são construídos, fazê-las experimentar uma série deles, pois só assim poderão eleger o seu preferido. Cabe à professora estimular esta sadia competição e descoberta, onde todos devem participar como se fora um grande torneio, pois as primeiras colocadas tendem a serem copiadas. E, em se tratando de uma competição – exibição -TODAS, sem exceção, devem participar especialmente as mais hábeis, uma vez que dominam a técnica correta. Este é um recurso que a professora deverá empregar sempre para qualquer gesto, considerando que as crianças aprendem também por imitação.

d) O movimento dos braços – empunhadura da bola e golpe com uma das mãos – é aprendido mais rapidamente sem maiores dificuldades. Observa-se, entretanto, que é mais cômodo e preciso golpear a bola com a mão ligeiramente fechada, com rotação do punho (em pronação).

e) O movimento global – considerar o saque para o iniciante como um primeiro obstáculo a superar no vôlei. E que tal aprendê-lo de uma forma global, isto é, como um movimento único? Se assim considerarmos, recomenda-se iniciá-lo de maneira que a aluna possa realizar um pequeno “giro” do tronco sobre a sua base (pés): ela se situaria, inicialmente, paralela à rede e realizaria um movimento conjunto de braços e tronco lançados, começando da direita para a esquerda (destros), girando até a direção desejada da quadra até o golpe na bola, que poderá ser “preso” (sem soltá-la da outra mão). Este giro substituiria, num primeiro momento, a ação rápida do braço que toca a bola, que muitos acham, erroneamente, tratar-se de um movimento de força.

Exercícios.  1) “Jogo de saques”- competição entre equipes; uma realiza os saques e, a outra só recepciona. Pontuação e revezamentos a critério da professora. 2) “Saques no alvo” – direcionar os saques para alvos colocados em diferentes posições e alturas; aproveitar os já existentes.

Utilização tática. As novatas talvez não tenham a exata compreensão do que seja colocar um saque numa determinada jogadora ou local da quadra. Com o desenvolvimento do saque com salto e cortada (“viagem”) muito difundido entre os atletas de alto nível, o ensino do saque por baixo restringiu-se à iniciação propriamente dita. Hoje, ninguém se atreveria a executá-lo, pois se trata de algo ultrapassado. Nas equipes principiantes federadas generalizou-se o uso do saque tênis, cujo movimento se assemelha ao serviço do esporte que lhe dá nome. Neste pequeno capítulo vamos nos referir à importância do saque e o que representa para uma equipe, não importa de que forma seja realizado. Procurarei destacar os aspectos táticos e sua representação no desenvolvimento e, muitas vezes, no resultado de um jogo, especialmente entre principiantes.

1. Lançar a bola para o outro campo de jogo no momento do saque, observada a respectiva regra, é suficiente para reiniciar o jogo e todos se divertirem. Entretanto, quando se inicia a “competição, as atletas começam a descobrir alguns detalhes que levam ao despertar tático inerente à qualquer disputa: percebem que alguns lances realizados sobre determinadas atletas acarretam erros com mais facilidade e, em consequência, acumulam pontos para a sua própria equipe. E este momento tem início a partir da primeira manifestação de ataque do jogo: o saque. Quando as crianças começam a dominar a sua técnica de execução, começam a dirigi-los sobre alvos pré-determinados, que pode ser uma determinada jogadora ou uma zona especial da quadra que dificulte a sua recepção ou mesmo o passe para o levantamento.

2. “A toda ação corresponde uma reação igual e contrária”, é uma lei física. Aqui no nosso caso também pode ser aplicada. Toda vez que treinamos uma forma de sacar estamos, ao mesmo tempo, nos exercitando na forma de defendê-lo ou passá-lo à levantadora nas melhores condições. Se uma atleta coloca o saque em jogo simplesmente cumprindo a regra, não importa de que forma, a outra equipe tem um antídoto para ele, isto é, já foi segura e exaustivamente treinada a sua recepção. TODAS, com raríssimas exceções, sacam da mesma forma. Então, quando treinam os saques, com certeza treinam também a recepção. Como todas sacam da mesma forma, todas deveriam recepcionar sem maiores dificuldades. Acontece que as treinadoras, elas mesmas, se encarregam de especializar as passadoras, tal como acontece no alto nível. A esse respeito recordo de treinos de seleção brasileira feminina (talvez no início dos anos 90) antecedendo jogos amistosos contra a equipe cubana, reconhecida mundialmente pela força de ataque e de seus saques. Em nenhum instante houve exercícios de recepção com a utilização de tais saques, muito pelo contrário, as ações limitavam-se a colocar a bola em jogo sobre as atletas que não possuiam esta técnica. Dias depois, assisti pela televisão um verdadeiro desastre, como não poderia deixar de ser. Creio que faltou combinar com as adversárias como deveriam sacar.

3. O saque deve criar uma dificuldade para quem o recepciona – após a fase inicial de somente colocar a bola em jogo, deve-se aprender a dirigir o saque para qualquer direção da quadra e obter segurança nesse procedimento. É uma opção tática que a equipe deverá dispor sempre com excelentes resultados. Em cenas de jogos na TV já puderam observar como o Bernardinho orientava as atletas da seleção brasileira quanto à colocação dos saques na quadra adversária. Utilizava um diagrama, dividido e numerado para as seis posições regulamentares de rodízio, indicando para a sacadora a posição ou a jogadora adversária para onde deveria ser dirigida a bola. Quando existe uma jogadora que sabemos não possuir uma boa recepção de saque, inevitavelmente a equipe adversária deve explorar esta situação. Isto acarreta pontos diretos, dificuldades e até mesmo, incapacidade de ataques.

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4. O saque deve provocar um problema para a equipe adversária – além das situações vistas acima, podemos também usá-lo com objetivos táticos que minimizem ou neutralizem as situações de ataque de uma equipe. É o caso, p.ex., de saques curtos, próximos à rede, ou na saída da rede (posição 2, ataque-direito). Em outro momento, até mesmo um saque alto, no fundo da quadra, com queda da bola junto à linha de fundo, dirigido para a posição (1) (defesa-direita) tem o seu valor pelos transtornos que provoca na equipe, uma vez que, geralmente, não estão treinadas, isto é, não têm soluções imediatas para tais situações (passes longos). Notem que no vôlei de praia, estes dois exemplos têm muita valia, particularmente na categoria feminina, até pelo desgaste físico que provoca ao longo da partida.

Conceito. A adversária pode até pegar e passar bem o saque, entretanto, seu desgaste físico (especialmente na praia) para a tarefa é inegável e cumulativo, o que a prejudica em todas as futuras ações, quaisquer que sejam elas. É bem provável que sua intervenção imediata de ataque seja a parte mais prejudicada, produzindo erros sucessivos. “Não está treinada para esta situação”. E o que houve para isso? Simplesmente, com um inofensivo saque por baixo colocamos a bola aonde queremos, com bastante precisão; como as atletas não treinam recepção destes saques – ninguém os executa em treinamento – certamente não saberão recepcioná-los adequadamente em jogo. Até por que as equipes estão arrumadas taticamente para recepções de saques que já conhecem. Dessa forma, compete à aluna esperta aprimorar-se nos saques e, entre eles, o por baixo, que pode lhe dar muitas alegrias na sua vida esportiva por muito tempo. As providências táticas são similares às do ataque sem cortada.