Vôlei de Praia, Brasil e Portugal

Tema: Formação no Voleibol de Praia 

Autora: Ana Rita Gomes; Publicado no site português www.sovolei.com /A Opinião de Ana Rita Gomes.

Resumo: Raros atletas de alta competição devido à cultura desportiva do país. Passantes estranham os atletas enquanto treinam. Como romper esta blindagem e alavancarmos o desenvolvimento do setor? Que objetivos a alcançar?

Objetivos: Divulgar a modalidade e conquistar adeptos; Representação feminina nos Jogos Olímpicos de Londres.

Voleibol de Praia (VP) e Voleibol Indoor (VI), por Roberto Pimentel.

Convite. Para que haja a necessária renovação em qualquer desporto torna-se imprescindível divulgar entre crianças e adolescentes a modalidade. A fórmula encontrada nos nossos tempos é realizar as competições na forma de espetáculos, tornando visíveis todos os aspectos do jogo e, principalmente, elevando os protagonistas campeões a níveis gloriosos. Faz parte do imaginário do ser humano, especialmente dos jovens. Em Portugal encontro um exemplo bem recente, o Gira Vôlei. Esta fórmula foi explorada por Matsudaira quando planejou a ascensão das seleções nacionais do Japão ainda na década de 60 – um ”plano de 8 anos” – e vem sendo seguida pela FIVB quando estabelece protocolos para realização de eventos. Lembro que ele era um Administrador de Empresa e, como tal, deu asas à imaginação desenvolvendo simultaneamente um planejamento técnico e marqueteiro. Fez com que boa parte da população aderisse ao voleibol numa época em que este esporte era pouco considerado no seu país. Conseguiu resultados culturais surpreendentes. No Brasil, foi seguido por Carlos Arthur Nuzman, que se manteve presidente da CBV por 20 anos e promoveu verdadeira revolução no esporte. O vôlei de praia brasileiro deve tudo à participação fundamental e incisiva do Banco do Brasil que, através do seu Departamento de Marketing elevou o esporte até então desconhecido a um dos mais vistos e aplaudidos em todo o território nacional. Para o Banco está sendo uma das suas maiores jogadas negociais, além de ter atraído o público jovem para sua clientela, antes bastante envelhecida.

Cultura. Ainda apoiado no exemplo japonês, observe-se que a mulher naquele país tinha uma posição secular de segundo plano em relação aos homens. Era-lhe servil e submissa. Lembro de cenas em que chegavam a ser esbofeteadas em pleno treinamento, não importando onde estivessem. Aos olhos estrangeiros soava como agressão e, ao mesmo tempo, espanto, por se sentirem tão resignadas àquela situação. Alguns diziam que seria uma forma de, no futuro, terem reconhecido seu esforço e valor, tornando-se independentes do jugo masculino. Sob este cenário, tornaram-se campeãs olímpicas em 1964, em Tóquio. Este é um exemplo. Sugiro que cada estudioso recue um pouco no tempo, pesquise comportamentos de seus avós e, à luz de novos conhecimentos possa apresentar soluções que favoreçam o desenvolvimento do desporto no seu país. Tenho a certeza de que vão precisar de especialistas na matéria, não comprometidos com o desporto, mas com Ciência e Administração (especialmente Marketing), uma vez que o vôlei – praia e indoor – cada vez mais se torna popular e profissional, o que induz muitos jovens à sua prática como forma de “trabalho”. Daí surge o conflito que é mundial: estudar ou trabalhar? No Brasil, e acredito que também em outros países, a segunda opção vem sendo vitoriosa até certo ponto. Atletas brasileiros e suecos já foram cognominados carinhosamente de “vagabundos” em seus países, uma vez que a atividade – treinos, competições – não lhes deixa tempo para outra coisa. No cenário feminino, as brasileiras de determinadas regiões, especialmente o nordeste, percebem que deu certo para homens e pode dar certo para elas. E tem dado, haja vista a dupla Juliana-Larissa. Mas o caso brasileiro é específico, mesmo porque sempre se jogou voleibol na praia, independentemente do voleibol em ginásio. É um assunto que deixarei para comentar em outra oportunidade.

Formação. A afirmação “Os novos jogadores que surgem no Circuito Mundial são formados no VP e não no VI, como há alguns anos” deve ser compreendida segundo um raciocínio histórico ou temporal. Até alcançar o patamar para frequentar um circuito desta envergadura são necessários muitos anos de prática e um longo aprendizado. Muitos não chegam lá, somente os melhores adaptados, a elite. É um procedimento que ocorre em todos os esportes. Imagino que aprender a jogar voleibol é muito mais fácil se realizado num piso regular e duro como o da quadra indoor. As necessidades de deslocamentos e os saltos são mais facilmente aprendidos, o que torna tudo mais agradável. O piso irregular e fofo de areia é o maior obstáculo a ser vencido por aprendizes. Como dizemos no Rio de Janeiro a respeito de indivíduos não acostumados a caminhar na areia, “tropeçam na areia”, o equivalente à perda total da coordenação motora em qualquer deslocamento. O VP no Brasil se desenvolve concretamente nas praias, uma vez que somos privilegiados neste sentido. Além disso, o clima também favorece e disponibiliza sua prática o ano inteiro. Embora algumas federações estaduais tenham programas para juvenis e sub-21, normalmente as duplas que se formam para estas competições advêm de equipes indoor. As causas desta migração são várias, desde possível não aproveitamento na equipe superior, relacionamento com treinadores, busca de liberdade, espírito aventureiro (muitas viagens) etc. Guindado à modalidade olímpica, o VP ganhou muito em status, tornando-se uma “profissão” para a maioria de seus praticantes. Se não tiver dedicação exclusiva, o atleta não conseguirá ter o mesmo padrão dos campeões e estará fadado ao insucesso. E para manter-se no grupo de elite, muito dinheiro faz-se necessário. Neste sentido, as federações nacionais assistem ou investem de alguma forma nos seus representantes, independente de patrocínios auferidos pelas duplas. Atualmente (julho/2009), desenvolve-se o Circuito Mundial na Noruega com sete duplas brasileiras, sendo quatro femininas e três masculinas. Diante do exposto, dificilmente um atleta, mesmo de ponta, conseguirá sucesso ou manter-se entre os melhores, se não tiver um histórico razoável nas competições de areia. Alguns tentaram como Tande, Giovani, Marcelo Negrão e Nalbert, todos campeões olímpicos no indoor, mas abandonaram em seguida. Eram destroçados nos circuitos nacionais brasileiros.   

Treinador. Pelas regras das competições geridas pela FIVB não é permitida a figura do treinador em quadra. Particularmente, no Brasil, a partir de algum tempo foi permitida a sua presença nos jogos, só podendo comunicar-se com os atletas nos tempos de descanso ou intervalos de cada set. Esta providência parece ter atenuado os desgastes emocionais que as competições inexoravelmente promovem. A ausência de substituições e o ataque sistemático a um dos contendores fazem parte do contexto do jogo, permitindo providências táticas e enriquecendo a disputa, tal como ocorre em outros desportos. Cada vez que uma dupla é formada, ou desfeita, entende-se que há conflitos desta natureza. Mais adiante, ao se providenciar nova composição, certamente este é o item primacial, além, é claro, dos temperamentos envolvidos (fator psicológico). Assim, a normalidade na formação das equipes tende para um indivíduo que preponderantemente estará responsável pelos bloqueios e, outro, pela defesa. Não se testou ainda qualquer coisa diferente até hoje. Isto leva os atletas a treinarem com afinco os fundamentos que lhe são específicos no momento do jogo, sem descurar, evidentemente, da preparação física, indispensável a todos, até mesmo pelo sistema de jogos consecutivos, muitas vezes no mesmo dia. Dessa forma alguns atletas sobrevivem ao tempo e até tornam-se campeões ainda que com pouca estatura, como é o caso no feminino de Jaqueline Silva (levantadora no indoor) e primeira campeã olímpica; Shelda, vice-campeã olímpica, de invejável currículo mundial e até hoje em atividade (com Ana Paula, no Mundial da Noruega). Na tentativa de tornar o jogo mais atraente, com ralis mais disputados, a FIVB houve por bem diminuir a área de jogo: dos 91m2 para os atuais 64m2. Uma providência que também contribuiu para a preservação do estado físico dos atletas. 

Atleta. Por que jogar VP? Qual objetivo? Com quem? Onde? Quanto é necessário investir? Com quem treinar? Por quanto tempo? Se os indivíduos pensassem antes de começar, talvez nem começassem, pois são tantas as dificuldades iniciais! Tenho uma intuição, por isto não científica. Creio que muitos jovens buscam uma afirmação – é próprio da idade – animada pelo clima que se cria em torno dos espetáculos.

VP e a metodologia. Pesquisa científica? Creio que não há. Pelo menos não conheço no Brasil. O meio universitário, que deveria contribuir para tal, e a própria entidade nacional são desacreditadas neste sentido. O empreguismo, as conveniências e outros desmandos contribuem para que as coisas se mantenham como estão. Se mudar periga a posição do servidor no seu emprego. A partir do ano 2000, a Confederação brasileira instituiu um curso para treinadores de praia, com níveis I e II, nos moldes da FIVB. Foi franqueado para professores e acadêmicos de Educação Física e a atletas (ou ex-atletas) de voleibol. Da noite para o dia foram impressos dezenas de exemplares de apostilas para instruir os alunos e convidados treinadores de renomados atletas campeões da especialidade. Nitidamente, no dizer de frequentadores de tal curso, houve uma pura e simples transposição dos dizeres do vôlei indoor para a praia. Alguns poucos treinadores relataram suas experiências, mas toda a metodologia foi “abortada” da quadra. Criticamente, todos estavam interessados no certificado que lhes permitiria participar das competições nacionais no banco da areia com seus pupilos e “fregueses”. Enquanto que, para a entidade nacional, tornou-se mais uma fonte de receita. Tenho minhas convicções – e poucas certezas – a respeito do que poderia vir a ser uma metodologia para o ensino do VP. Obviamente, considerados os dois primeiros aspectos quando se examina o assunto: a iniciação – formação dos atletas – e o treinamento de alto nível, este destinado a indivíduos profissionais. Para aprender algo, tornei-me voluntariamente um treinador de atletas de VP no início da década de 90. Foi um aprendizado salutar, pois a dupla que treinava tinha experiência de outros treinadores. Vivenciei todos aqueles momentos, ávido para conhecer seus efeitos. Aos poucos, e isto é comum no meio, conversávamos e discutíamos para encontrarmos melhores soluções para situações específicas. Percebi durante aqueles 9 meses ininterruptos (6 aulas semanais, 3h 30min/dia) como outros treinadores procediam e, a pouco e pouco, dei início à personalização ao meu modo de  ver e sentir as coisas. Ao presenciar algumas sessões nas praias cariocas constatei que os métodos empregados não fugiam ao roteiro das quadras (ginásios), com ligeiras adaptações quanto à circunstância do piso e o número de jogadores. Mas, em essência, o comportamento geral e o nível de exigências dos treinadores deixavam muito a desejar. Compreendi que, como eram sustentados (pagos) pelos atletas era natural que não fossem confrontados ou aborrecidos por qualquer pequeno detalhe, se é que tinham conhecimento dessas sutis miudezas técnicas.

VP e os jovens. Há algum tempo era preocupante para a diretoria técnica (indoor) da entidade nacional, a permissão concedida a atletas juvenis federados para participarem dos circuitos brasileiros de VP. Alegava que poderia haver um êxodo da quadra para a praia. Nunca houve. Tal como em Portugal, no Brasil muitos atletas que perdem a condição de juvenis pela idade não conseguem vaga nas equipes superiores. A federação criou alguns torneios com idades intermediárias para mantê-los em ação, mas não vingou, pois onerava os clubes, não havia disponibilidade de local para treinamentos, e um custo muito alto para logo a seguir, muitos atletas desistirem também por força de estudos – idade universitária – e primeiro emprego. Os que não querem estudar ou não conseguem empregos, tentam a sorte no novo empreendimento, a praia. Ou simplesmente, desistem do voleibol.

VP master. As praias cariocas permanecem pontilhadas de Redes (como são denominadas as quadras de jogo). Como se tem clima favorável joga-se o ano inteiro, todos os dias. Evidentemente, nos fins de semana há aglomeração, tantos são os candidatos a jogar uma “pelada” (gíria, partida, jogo, relativo a um set). Joga-se por diversão, puro lazer. Em Portugal, pelo que soube, existe um simpático grupo de master, presumo feminino, que se reúne e criam eventos na praia, tem até um site/blog. Achei formidável! Além disso, devo supor que o CPVP – Clube de Praticantes de Voleibol de Praia – também promova a modalidade.

Desporto escolar. Ao lançar o mini voleibol no Brasil, sugeri que o movimento tivesse origem nas escolas, o que custou a acontecer. Todavia, numa delas em minha cidade, consegui que formatassem o que denominaram “Recreio Alegre”. Consistiu em instalar no grande pátio ao ar livre, 13 quadras de minivoleibol e diversas tabelas (cestas) de basquete. Ficam à disposição dos alunos até hoje. Nenhum dos professores interfere nesta recreação voluntária totalmente consagrada e organizada pelos alunos. Eles mesmos constroem as regras do jogo, o rodízio de equipes e os torneios entre classes. Nunca lhes foi transmitido qualquer aprendizado técnico ou tático, no entanto, o professor/treinador das equipes do educandário declarou: “A partir da instalação das pequenas quadras a formação de equipes melhorou consideravelmente, pois os jovens já possuem um histórico do jogo”. Apesar de um deles vir a ser campeão mundial infanto-juvenil há algum tempo, a vitória maior da coordenação pedagógica foi a de oferecer oportunidades de desenvolvimento a TODOS os indivíduos com supervisão discretíssima, à distância, sem interferência ostensiva. Ter contribuído para a formação de um campeão foi um acidente. Numa visão maior, todos os que se locupletaram da atividade são os verdadeiros campeões. Outro aspecto refere-se à diminuição da violência na escola, pois convergem sua energia para o lazer. Recentemente, criaram sistema similar para o desenvolvimento da prática do badminton.  

Ineditismo. Em um outro educandário (4 mil alunos) experimentei uma outra experiência muito especial. É notório que o brasileiro só pensa em futebol, cultivamos a monocultura futebolística há muito tempo. Ao nascer, o filho homem é recebido com uma bola, que já começa a chutar enquanto mama. Na fase escolar oportunizam-se jogos frequentes nas aulas, nos recreios e torneios no fim de semana, estes sob os olhares atentos e vigilantes dos papais. As meninas, no entanto, não conseguem ultrapassar as barreiras discriminatórias que lhes foram impostas pela cultura machista e permanecem alijadas de uma atenção pedagógica eficiente dos docentes, os maiores responsáveis. Com um pouco de criatividade inseri-me junto a um dos professores e a partir de algumas demarches, conseguimos que a direção da escola autorizasse a criação de aulas extra-classe para alunos de 8-10 anos. Nesta primeira investida, 310 alunos aceitaram o convite. O problema, então, foi inverso: não havia espaço e horário para as aulas. Mas observou-se um comportamento inédito no recreio escolar: os meninos que até então só jogavam futebol nas balizas disponíveis, passaram a utilizá-las para jogar voleibol por conta própria. Creio que esta é a opção filosófica mais apropriada. Coaduna e satisfaz a Educação e a Iniciação Desportiva. Além disso, o que é feito para o voleibol pode ser feito para outros desportos. As opções são oferecidas e os alunos fazem as suas escolhas no devido tempo. O que reputo mais importante é que a ação seja planejada e organizada, auferindo e transmitindo crédito às pessoas – crianças e adultos. Para tal, é necessária ter experimentados vivências e muita segurança no “saber fazer”.

Curso de Mini Vôlei (I)

 Bate-papo com o Professor

Ensino. “É dos objetivos que emanam os princípios do ensino.”

Metodologia. “Aprender brincando e jogando”.

TODOS incluídos. Crianças de ambos os sexos, de 8-13 anos de idade; portadores de deficiências ou com necessidades especiais. Resgatando valores tão esquecidos: cooperação, amizade.

Não tema errar. No raciocínio frequentemente nos enganamos e cometemos erros. O pensamento é um substituto da ação concreta e permite a realização de tentativas cujos erros ficam somente na imaginação.

Eis uma ideia que vale ouro. Aproveite os espaços permitindo que mais crianças joguem e se divirtam.

Revista Ciência Hoje. Resumo de artigo do Autor publicado na revista Ciência Hoje das Crianças, ed. SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, n° 109, dez./2002.

Aprenda jogando e brincando. No Brasil, o programa do mini vôlei vem sendo elaborado desde 1974 por Roberto Pimentel, quando realizou o primeiro curso do País, em Recife (PE). O minivôlei já é utilizado em várias escolas, em áreas de lazer e, certamente, as aulas de educação física e os recreios ficarão mais interessantes. Só não vai jogar quem não quiser…

Como fazer. Não pense que jogar mini vôlei é só na escola. Você pode montar um campo em qualquer lugar: na praia, no quintal da sua casa, no clube… Marque o campo de jogo com uma corda ou com um risco no chão. Para medir o tamanho, conte 8 passos para cada lado a partir da rede. A largura do campo é a da rede. Vai precisar de uma corda ou barbante para fazer a rede que separa os dois campos de jogo. Os postes onde ela é amarrada podem ser de madeira ou bambu e devem estar bem presos ao chão. Uma boa dica é aproveitar árvores e postes de luz em lugares onde não passe carro. A altura da rede é a mesma atingida pelo colega mais alto quando ele levanta o braço. A bola pode ser a de vôlei ou outra menor. Cuidado para não enchê-la demais. Se você quiser, combine algumas regras com o grupo antes de começar o jogo.

 Cartilha

Quem consegue?

Jogar a bola bem alta e segurá-la antes que caia no chão?

Segurar a bola com uma das mãos?

Dar volta pela barriga e passar entre as pernas?       

Bater várias vezes com ela no chão usando a mão direita e a esquerda?

Jogar a bola para cima e segurar junto da cabeça?

Jogar a bola alta, deixar bater no chão e dar uma cabeçada nela?

 

 

Brinque com a bola. Que tal agora inventar outras brincadeiras?

Chame um colega… quem consegue….?  1) Um contra um: 1×1, é fácil jogar somente você e um amigo.  2) Cada um passa a bola para o outro lado sobre a rede.  3) Pode jogar com uma ou com as duas mãos.  4) Quem recebe a bola não deixa cair no chão.

Voleibol na Escola (XII, final)

Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

 

22) Surpresas na iniciação

Há pouco presenciei um jogo amistoso de voleibol entre crianças iniciantes de escolas de Niterói. Nesta partida, era um confronto de “mirins”, sendo que uma delas era uma equipe de um clube-escola que disputa o campeonato carioca da categoria. As equipes eram femininas e a surpresa ficou por conta do treinador desta  equipe: não sabia explicar por que perderam para as colegiais, com tantos treinos, vivências e a sua própria experiência. Enquanto as meninas da escola vibravam de alegria a cada ponto conquistado e se divertiam com isso, as outras se mostravam tímidas, não conseguiam se mover na quadra e completamente atônitas diante da manifestação contrária. Mesmo quando conseguiam sucesso nas suas jogadas. Por outro lado, o professor da escola, que apitava o confronto, não dava a mínima para o seu possível resultado, agradecido que já estava por realizar uma festa de congraçamento como aquela. Suas alunas tinham, efetivamente, 2 meses de aulas (2 vezes na semana) e brincavam muito nas redinhas de minivôlei. Agora estavam jogando uma partida numa rede e quadra oficiais. E, do outro lado, as crianças do clube-escola, que treinam insistentemente na semana.

Conclusão – O ponto crítico entre aquelas crianças era o fato de umas estarem se divertindo, alegres e, as outras, completamente estarrecidas, atônitas, a esperar de seu treinador (adestrador) uma palavra para o que fazer diante daquelas situações? De um lado total independência de atos e movimentos, todos espontâneos; do outro, apatia. Só jogar não permite um desenvolvimento técnico eficiente e rápido. Só se exercitar não contribui para um despertar tático. O equilíbrio entre estas situações pode ser a solução para um rápido aprendizado e um desenvolvimento cognitivo do indivíduo e da equipe. Muitas vezes convém rever critérios de avaliação – se os há – no sentido de se analisar o que estamos fazendo e para onde estamos indo? Nosso trabalho é produtivo para aquelas crianças, ou simplesmente para nossa afirmação ou capricho? Devemos nos lembrar sempre que “só se é criança uma vez na vida”. Passados aqueles momentos, só recordações… Mas como toda ação deixa a sua marca, ela se manifestará na vida adulta de alguma forma. Esperamos que sejam eternamente positivas para aquele indivíduo.

23) Aquecimento e bate-bola

Todos sabemos da importância desses dois fatores. A professora ou treinadora poderá levar suas alunas a executar a primeira tarefa – aquecerem-se fisiologicamente – e, em seguida, “entrarem em calor de jogo”. Normalmente, as equipes são levadas a repetir os mesmos movimentos já consagrados pelo uso. Iniciam pelo bate-bola duas-a-duas e, posteriormente, passam às cortadas na rede e, finalmente, aos saques. No caso de principiantes, dado ao nervosismo reinante, é fundamental a presença da professora bem próxima das alunas, estimulando-as e incentivando-as, proporcionando com sua presença um apoio deveras importante para um equilíbrio das emoções. É aconselhável que tenham “decorada” a lição desta fase que antecede a partida. Todas devem saber o que têm que fazer. Se criar movimentos diferenciados, importantes para o aquecimento, tanto melhor, pois impressiona positivamente sua equipe, acrescentando-lhe algo diferenciado sobre suas oponentes. Já se constitui num fator psicológico a seu favor. Quais seriam esses movimentos? A critério da imaginação da professora, algo similar aos mesmos movimentos que as atletas realizarão no próprio jogo, executados de maneira mais lenta e cômoda no início, acelerando-se em seguida e respeitadas certas dificuldades.

Costumo dizer que o bate-bola faz parte do treinamento de qualquer equipe. É um momento importante que deve ser observado inclusive para espionagem. (ver item 18, “Percebendo a equipe adversária”). A partir dessas observações, podemos avaliar o desenvolvimento de nossas próprias atletas em situação de jogo. Seriam verdadeiros testes de verificação. A experiência da professora vai indicar-lhe os caminhos (nos treinos) a percorrer para tranquilizar e harmonizar sua equipe, preparando-a para as partidas. Vemos, então, que existe um componente implícito nesta fase: o estado emocional das jogadoras. Como cuidar dele já abordamos alguns aspectos em outro item. Precisamente antes da partida, NÃO se deveria encher as atletas de instruções de última hora, do tipo “Lembrei-me, agora, que você deve…”, ou  “Não esqueça de…”, ou, mais ainda, “Cuidado com…” e tantas outras importantes recomendações que, certamente, ninguém estará dando bola para o que ouviu, se é que se ouve alguma coisa naqueles instantes. O fato principal é que a professora consiga manter calmo o seu grupo e que o seu apoio seja percebido e copiado por todas, auxiliando-se mutuamente. Trabalhe o EMOCIONAL, pois sempre terá que se valer dele. Inclusive, durante as partidas. Observe, ainda, que decisões devem ser tomadas durante o jogo advindas das observações do aquecimento. Para que as atletas tenham esta consciência e discernimento deverão ser bem preparadas para fazê-lo e não aguardar que a professora lhes diga. Só em último caso. É necessário que aprendam a tomar decisões e, para tanto, devem aprender também a pensar em voleibol. (ver item 11, “Final de set…”)

24) O que representa o jogo para as crianças?

A essência do jogo está no prazer e no fato de proporcionar um espaço imaginário que foge das atribulações cotidianas. Quando brinca, o indivíduo fica transportado de satisfação, sem no entanto perder o sentido da realidade. Dois elementos são constitutivos do jogo: a luta por alguma coisa ou a representação de algo, envolvendo neste caso o faz-de-conta, a imaginação. Pode existir um equilíbrio entre esses dois aspectos.  Esses três conceitos foram elaborados por Piaget ao pesquisar a formação do símbolo. Para ele, o jogo é um dos instrumentos principais para o exercício da inteligência. Desde o nascimento até a adolescência o indivíduo passa por diversas fases quanto à construção do seu universo cognitivo: o jogo sensório-motor, o simbólico e o de regras, sendo que este consiste na atividade do ser socializado. Cada uma dessas fases não inclui a anterior: à medida que a criança amadurece sua inteligência se expande, assimilando e acomodando novas brincadeiras aos esquemas já conhecidos.

Aqui termino esta série de textos sobre a atuação da professora na formação de uma equipe de voleibol na sua escola. A partir de agora estarei atento aos comentários e sugestões. Envie suas dúvidas ou questões para, juntos, procurarmos soluções e trocarmos experiências. Até lá!

Voleibol na Escola (XI)

Iniciação & Formação. Problemas e Soluções

20) A treinadora e a líder

A ideia de liderança chegou ao séc. XXI carregada de poder. Seu papel sempre foi o de assegurar o cumprimento de metas, mesmo à custa de força. O líder era apenas uma imposição unilateral com vistas à realização plena de objetivos pretendidos. Ocorre que os tempos mudaram e todos os objetivos se tornaram obsoletos. Tivemos que nos adequar às exigências de um mundo mais competitivo e o que antes era apenas um bando de subordinados, passou a ser visto como um manancial produtivo. Esta ascensão do bando à categoria de grupo implicou a contrapartida do prazer, ou seja, trazer fragmentos do prazer futuro para o presente.

A treinadora – É essencialmente uma provedora de competências para que  outrem transforme essas competências em ações e produza resultados. A treinadora é aquela pessoa que acompanha o desenvolvimento das lideradas, dando-lhes suporte nos momentos difíceis e estimulando-as a avançar continuamente para a sua própria realização pessoal. Desta forma, a treinadora não leva ninguém a fazer por obrigação, mas induz a fazer porque é necessário fazer para crescer, para desfrutar intimamente a vida. A treinadora é a líder que deixou de ser o centro da equipe e se transferiu para fora dela. Em essência, a distinção entre a líder tradicional e a treinadora é o papel que esta assume quando se compromete a apoiar alguém a atingir determinada meta ou objetivo. Ela não se compromete apenas com os resultados, diferentemente do que ocorre com a líder tradicional.

A prática da aprendizagem – Uma questão que se coloca constantemente para discussão é o papel da professora no processo educacional. Durante muitos anos a professora foi sábia e inquestionável. Ela detinha o poder de decidir sobre destinos e tomava para si a obrigação e o dever de ensinar, exigindo em contrapartida, que a aluna aprendesse. Periodicamente, ela avaliava suas alunas e distribuía notas que premiavam ou puniam de acordo com a sua visão unilateral do processo. Felizmente, as coisas começam a tomar novos rumos e hoje já ninguém estranha mais quando ela sai do pedestal e vai para os braços da galera. Porque ela descobriu que assim a aluna aprende melhor.

Como suas aulas podem ganhar mais qualidade? – Unir o conhecimento acadêmico às modernas tecnologias de gestão do treinamento é a chave para que as professoras e estudantes alcancem resultados positivos na área de QUALIDADE e, por extensão, aumento de PRODUTIVIDADE.

Aulas e treinos – Chegar sempre antes das alunas. Mostrar-se feliz, divertindo-se consigo mesma e com o que a encanta – o processo de dar uma aula ou treino. Ser a mais natural possível. Ter talento para o palco, isto é, ser mais do que uma professora – uma show woman – para quem o auditório é o teatro e você a atriz responsável por oferecer drama além de tecnicismo. Descubra primeiro por que quer que as alunas aprendam o tema e o que quer que saibam, o método resultará mais ou menos por senso comum. Lembre-se que o objetivo primordial deve ser o de gerar dúvida para criar conhecimento real. Perceber que o melhor ensino só pode ser praticado quando há uma relação individual entre uma estudante e uma boa professora; uma situação em que a estudante discute as ideias, pensa sobre as coisas e fala sobre elas. É impossível aprender muito apenas sentada ou mesmo, resolvendo problemas propostos.

Para acertar nas aulas – A aula deve ser uma vitrine com a função de despertar o impulso de divertir-se na criança através da exposição atraente e tecnicamente correta dos exercícios e jogos. Mais do que tudo, a apresentação da professora e o visual da aula são responsáveis por transmitir conceitos. A boa aula aposta no equilíbrio e na programação e a criatividade é apenas o tempero na aula bem executada. Mas, lembre-se, uma aula pode estar esteticamente bonita e conter erros técnicos.

Os limites – As crianças e mesmo as adolescentes têm um limite que não deve ser ultrapassado sob pena de graves consequências posteriores. Não adianta forçar, ou melhor, seria até criminoso fazê-lo, devido às sequelas que podem advir deste comportamento. As professoras e treinadoras não devem tratar suas alunas ou atletas como mero objeto ou instrumento do seu querer, mas como um indivíduo em formação, cuidando e zelando para que nada lhe falte ou aconteça, sem os paparicos excessivos, mas com todo carinho, atenção e respeito.

O que você tem que saber antes de iniciar o seu planejamento. Eis cinco princípios para se construir uma boa programação:

Planejamento – antecipar as principais necessidades de informações e material. Suas alunas significam muito para você e o seu trabalho. Pense em tudo o que elas podem trazer de oportunidade para a sua aula.

Admita a sua incompetência – Além de planejar cuidadosamente as suas aulas, você deve manter-se receptiva para permitir mudanças futuras. É impossível não ter que mudar o seu pensamento! Afinal, as alunas mudam!

Comece já! – Não postergue a implantação de um planejamento por querer chegar à estrutura final da primeira vez. A maioria das professoras nem chega a implantar porque não aperfeiçoou suficientemente o programa. Esqueça a perfeição. Implante, tente e você vai estar à frente das demais.

Você não é a mãe, é a madrinha – Envolva o maior número possível de pessoas no projeto, principalmente a sua equipe. É delas que virá a maioria das informações. Elas serão o fator chave do sucesso do programa. Se elas não quiserem, nada vai acontecer.

Planejamento dá retorno – Meça tudo desde o início, principalmente o antes; aos poucos o resultado vai aparecendo e você vai valorizar o investimento. Nada dá mais retorno que investir no relacionamento e em conhecer as alunas.  

  • E os custos que um programa certamente envolve?
  • Os principais custos de implantação – tudo que está envolvido na coleta de dados e custos do processo – você terá que resolver com criatividade e um bom relacionamento. “Mas o maior custo mesmo é demorar para implementar”.

21) Como motivar uma equipe?

Quando estimulamos uma pessoa a realizar determinada tarefa ou a perseguir um objetivo – “Vamos lá! Você vai conseguir!” – na verdade estamos criando uma situação de prazer provocado pela percepção do afeto que age diretamente sobre a inteligência como um todo. Da mesma forma, quando apresentamos uma imagem real de sofrimento futuro, criamos uma situação de desprazer de tal intensidade que impele a pessoa a reagir contra o destino. Assim de uma ou de outra forma, estamos provocando uma reação compatível. E isso é motivar.

Motivar é cumpliciar-se – É tornar-se parceira no sonho quando a coisa é para ser sonhada; é tornar-se parceira na luta quando a coisa é para ser lutada. Os sonhos são fins que idealizamos atingir mesmo antes de conhecer o percurso ou de estarmos competentes para realizá-lo. Porém são válidos por que são referenciais registrados na mente, normalmente com forte carga emocional. Assim, quando criamos um sonho para alguém, estamos plantando uma referência emocional na sua mente.

Elogio e aprendizagem – Dizendo que a pessoa é bonita, inteligente, simpática, estamos transmitindo uma mensagem emocionalmente positiva, eficaz. Esse tipo de mensagem ativa o sistema límbico que identifica como mensagem prazerosa e a registra, incorporando-a à imagem anteriormente definida. Daí a importância fundamental do elogio na aprendizagem. Uma criança permanentemente estimulada com elogios tem muito mais chance de êxito na escola do que as que são constantemente criticadas. O elogio estimula, ajuda a compor uma auto-imagem positiva. A crítica, ao contrário, desestimula, projeta uma auto-imagem negativa.

Auto-imagem – Pode-se afirmar que o primeiro passo a ser dado por quem deseja reformular sua própria imagem interpessoal é valorizar a sua auto-imagem, fornecendo à mente informações positivas a seu respeito. Tudo o que informamos à nossa mente ela registra como verdadeiro. Assim, jamais emita uma opinião desfavorável a seu próprio respeito. Nunca admita, mesmo que intimamente, que é incompetente, incapaz, feia, antipática, fracassada. Não se veja jamais como uma derrotada, veja-se sempre como uma vencedora, cheia de glórias, prêmios e reconhecimentos. Repita para você mesma quantas vezes puder: eu sou inteligente, eu sou criativa, eu sou uma vencedora. Tenha certeza de que a sua mente vai entender isso como real e vai incorporar tais informações à sua imagem e modificar sua relação com o mundo externo. Antes de enfrentar qualquer desafio, imagine-se vitoriosa ao final. Projete uma imagem de sucesso e a sua mente cuidará de encaminhá-la para tal destino. Seja clara e precisa ao informar à sua mente a imagem que pretende ter. Jamais passe imagens fragmentadas ou indecisas. Sua mente registra a informação do jeito que esta chega até ela. Portanto, seja absolutamente clara. Quanto mais precisar as informações, mais definida será a sua imagem e, por conseguinte, mais definido será o caminho. Durante sua atuação, especialmente na área de motivação e sucesso, tenha sempre a preocupação fundamental de fortalecer a auto-imagem das suas alunas, antes mesmo de entrar na matéria propriamente dita. Os resultados são realmente surpreendentes.

Educar para a Vida

Encontro com universitários

Certa feita recebi em minha residência um grupo de acadêmicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tinham a missão curricular de entrevistar-me a respeito do meu trabalho relativo à Iniciação/Formação ao voleibol. Eram em número de seis, sendo cinco moças. Trouxeram uma planilha em que já constavam as questões a serem formuladas e, com certeza, posteriormente fariam uma análise resumida do pensamento do entrevistado. Após minha apresentação curricular rápida, coloquei-me à disposição. Seguiu-se, então, uma conversa bastante interessante, uma vez que além de satisfazer às indagações, sempre lhes cobrava algum raciocínio, ora através de uma sentença não concluída, ora com uma outra pergunta do tipo: “Neste caso, como acham que deveria proceder? Por que acham que este seria o melhor caminho”?

Enquanto isso observava a participação de cada um deles. Notei que uma das moças se mantinha alheia e silenciosa a tudo. Indaguei-lhe em certo momento: E você, ainda não me perguntou nada e não emitiu qualquer comentário? Disse-me ela, em tom quase áspero: “Estou aqui obrigada, nunca gostei de voleibol”! E mais não disse. Retornei aos demais e respeitei sua colocação. Não me cabia considerar ou influir no seu pensamento.

Satisfeitas as considerações impostas pelo questionário, ofereci-lhes pequeno lanche e, divaguei sobre minhas ideias, projetos e experiências com crianças. De forma espontânea, tenho certeza de que me emociono, reconheço o embargo na voz e, dizem-me, meus olhos brilham intensamente todas as vezes que discorro sobre o ensino/aprendizagem. Possivelmente este fato contagiou a todos, porém a surpresa geral foi a aluna desinteressada. Após minha fala, pouco antes de encerrar a visita, pediu a palavra e falou com todas as letras: “Professor, disse-lhe antes que não gosto de voleibol; agora, após sua explanação tão entusiasta, passei a ver de outra forma. Acho que vou me esforçar para aprender”. Minha surpresa foi substituída por um sentimento de dever cumprido, isto é, ganhei mais do que dei.

Mas a história não acabou ali. Duas semanas após, compareci à mesma Universidade para realizar uma aula demonstração do método. Era uma turma grande, rapazes e moças muito animados. Tudo transcorreu conforme o planejado, exceto por um detalhe. Ao final da apresentação, fui novamente surpreendido pela moça (ex)desinteressada que, esbaforida, confessou-me alegremente: “Professor, adorei a aula, foi a primeira vez que joguei vôlei e nunca me diverti tanto”!

Aulas na UERJ. Em 1981 foi a vez da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Convidado pelo titular da cadeira de voleibol, Professor Paulo E. H. Matta, proferi aulas (12h) no Curso de Técnica sobre o ensino para crianças. O objetivo de minha ida foi servir de contraponto ao ensino estabelecido e, dessa forma, suscitar o pensamento crítico dos professores. Recordo-me que em minha apresentação afirmei: “Se conseguir que pelo menos um de vocês tenha dúvida quanto à metodologia a empregar em suas próximas aulas terei recompensada minha vinda a esta Universidade”.

Infelizmente, não tive o concurso do equipamento que sempre me acompanha nesses eventos. Improvisei a única aula prática no último dia de aula, tendo conseguido dosar com eficácia teoria e prática com rara felicidade. O efeito não se fez esperar. Após o encerramento fui abordado por uma das professoras que, de forma objetiva, colocou: “Professor, disse no primeiro dia que mexeria na nossa cabeça; com certeza já não sei como realizarei minha aula amanhã na escola”! Senti uma sensação de dever cumprido e recompensado.

Prática em clube. Veja esta outra experiência com a equipe América (adultos). Em dado momento criei um exercício complexo que envolvia os 12 jogadores simultaneamente. Consistia na circulação da bola pelas duas quadras simulando as fases mais simples do jogo (exceto o saque): recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa. A bola passava de mão em mão e, após a respectiva ação, o protagonista dirigia-se na direção em que a bola foi passada, deslocava-se e ocupava temporariamente a nova posição, e assim sucessivamente. Iniciamos a tarefa simplesmente com a bola lançada (e segura), até que todos memorizassem as ações combinadas; a seguir, com a bola no ar. O exercício foi repetido em quatro ocasiões (2 semanas), inclusive como forma de entrada em calor e despertar da atenção. Na quinta apresentação, inesperadamente durante a sua execução, solicitei que invertessem o sentido do percurso da bola sem qualquer instrução minha. Após breve intervalo para diálogo, logo recomeçaram a prática com total eficiência. Em outro treino, também de surpresa, introduzimos uma segunda e, depois terceira bola, tudo absorvido de forma extremamente natural, apesar da intensidade imprimida. Para todos tornou-se uma experiência gratificante que muito contribuiu para a aprendizagem, refletida nos semblantes e no prazer de estar ali em coletividade, experimentando intensa atividade mental. Alguns declararam que não se achavam competentes para realizar a tarefa, mas com o incentivo dos colegas conseguiram e, por isso, experimentaram um sentido de realização própria: “Se consegui isto, posso conseguir muito mais”! Como foi bom para mim contribuir silenciosamente para o crescimento daqueles rapazes.