XV Mundial de Voleibol Feminino – Semifinal

Atleta JAPONESA Saori é o grande destaque da seleção japonesa no Mundial.
Kimura Saori é o grande destaque da seleção japonesa no Mundial. Foto: Fivb/Divulgação.

O Saque como Arma Principal  

Mais uma vez sirvo-me da oportuna reportagem de Celso Paiva, do Terra, que direto de Tóquio nos informa agora sobre as próximas (sábado) adversárias, as japonesas.”Se a Seleção Brasileira tem conseguido fazer a diferença dentro deste Mundial Feminino de Vôlei por conta da variedade de opções (uma hora com Natália, uma hora com Sheilla, outra com Jaqueline), o mesmo não se pode dizer das adversárias de José Roberto Guimarães na semifinal, no próximo sábado. A equipe do Japão chega pela primeira vez, nos últimos 18 anos, entre as quatro melhores principalmente por conta da ponteira Kimura Saori. Apelidada de “milagre” Saori ou de “infinito” Saori, a jogadora é conhecida pela sua rápida mobilidade e por ocupar várias posições diferentes se assim for exigida. Com 1,85m, ela é uma das mais altas do baixinho time japonês… (…) O Japão melhorou muito, principalmente nos ataques de fundo e no bloqueio, com a Ebata e a Saori, que estão fazendo a diferença. Cada uma tem feito em média 20 pontos. A jogadora japonesa é a segunda maior neste quesito no campeonato, com 187 pontos, perdendo apenas para a turca Darnel Neslihan. Nas estatísticas do torneio, a ponteira ocupa ainda o título de melhor atacante das donas da casa até aqui na competição. Mas a arma principal da camisa 12 vem sendo o saque. Melhor no ranking do torneio neste fundamento, Saori já conseguiu 18 aces no Mundial e errou apenas 11 dos seus 154 tentados ao longo do torneio. Se a tática que o Brasil vem utilizando nos seus jogos é a de anular as peças chave de cada adversária fica a dica para o jogo contra as japonesas: olho na camisa 12″.

 

Boa Recepção

Soube que uma emissora de TV brasileira estará transmitindo a partida neste sábado (amanhã) a partir das 7horas, horário de Brasília. Convoco a todos os interessados para assistirem, pois será uma oportunidade única de contemplar e analisar o embate entre duas escolas de voleibol. A par de tudo o leitor poderá “descobrir” o valor do saque numa partida tão equilibrada. A partir daí esperamos todos tirar boas lições para o futuro.

Não percam!

Primeiras Décadas

Vôlei nas décadas de 40 e 50 

No final da década de 40, mais precisamente em 1949, destacavam-se no cenário brasileiro algumas equipes estaduais. O voleibol desenvolvia-se lentamente – era praticado duas vezes por semana – em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Nos dois últimos, praticado também nos finais de semana nas praias, incentivado especialmente pelo Jornal dos Sports do saudoso Mário Filho. Neste período, p. ex., houve inscrição de mais de dez equipes. A praia se constituía no verdadeiro celeiro de craques da época.  Também no Nordeste – Bahia e Pernambuco – era grande o esforço entre os praticantes para uma afirmação nacional.

No início da década de 50 percebia-se uma reação contra as arbitragens que puniam incessantemente as bolas mal tocadas na recepção dos saques. A partir dessa constatação procurou-se aprimorar técnica e taticamente a execução dos saques, deixando de se constituir num simples início de jogada. Em 1951, no I Sul-Americano do Rio de Janeiro, teve influência decisiva, quando cerca de 60% dos pontos foram conseguidos através desse fundamento. Em partidas nacionais – mineiros, fluminenses e paulistas – passaram a procurar utilizar variadas formas de sacar e, quase sempre, buscando imprimir força. A maioria dos atletas punha a “bola em jogo”, sem a devida preocupação tática. Não entendiam que aquele fundamento era “a primeira manifestação de ataque” do jogo.

Com a constatação de que muitos não conseguiam ou não tinham capacidade para dominar o “toque de bola” – única forma como era recepcionado o saque – passou-se a direcionar sua trajetória para esses alvos, verdadeira fonte de pontos para os adversários. A ponto de os técnicos terem que esconder tais atletas, suprimindo-os da tarefa de recepção. Daí surgem as expressões de astros consagrados ou atletas intocáveis, ou ainda, mão-de-seda, cujos toques na bola eram perfeitos e admirados. Nos relatos do professor Sílvio Raso, por exemplo, a respeito do Brasileiro de Porto Alegre em 1952, destacamos essa importância do saque: (…) “No jogo com o Distrito Federal, a equipe de Minas Gerais consignou 8, e depois mais 9 pontos, respectivamente, na primeira e segunda partidas, totalizando 17 nos 30 pontos feitos: 56, 6%”. E conclui: “os adversários da equipe mineira defenderam somente 30,8% dos saques executados, constituindo-se num percentual muito baixo”. Confirmava-se, assim, que o voleibol nacional estaria a exigir uma mudança na forma de treinamento da recepção.

Ocorre que a grande maioria dos treinadores não era formada em Educação Física e, por isso, sem o devido preparo científico para a função. Não que os professores fossem mais capacitados, mas por que lhes faltava a visão científica do esporte, apesar de que, até nossos dias, as Universidades estão muito aquém dessa formação. Além disso, os treinamentos eram escassos – quatro horas semanais – após o trabalho ou estudos dos jogadores. Alie-se a isto a pouca quantidade de praticantes e clubes filiados, com parcos recursos. Dessa época de 1951-52, o professor Sílvio destaca o espírito pesquisador e inovador de Adolfo Guilherme em Minas Gerais e de Paulo Azeredo, no Rio de Janeiro.