
Curiosidades e Histórias
Curiosidades
- Mesmo como país-sede, participamos da fase classificatória. Nesta fase, a equipe masculina atuou em Santos (SP). No total, foram dezessete seleções inscritas no masculino e onze no feminino. A Índia (masculino) não compareceu, bem como a seleção feminina do Paraguai.
- Alguns atletas brasileiros, potencialmente em condições de serem titulares, solicitaram dispensa da seleção; a expectativa deles sempre foi em torno de poder viajar para o exterior. Dizia-se à época que se jogava sempre com um olhar na “busca pelo passaporte”. E, como veremos, este clima perdurou por muitas gerações. Muitos atletas e principalmente dirigentes não retornavam no mesmo avião, permanecendo de férias pela Europa. O fim deste procedimento deu-se somente a partir de 1975, com Nuzman na presidência da CBV.
- Os atletas não eram dispensados de suas funções nas empresas ou entidades em que trabalhavam. Aqueles que podiam, acertavam com seus empregadores com pedidos de férias ou folgas. Outros continuaram trabalhando, mesmo durante os jogos, como Lúcio, professor de Educação Física da Associação Comercial dos Empregados do Comércio, no Rio.
- Os “alojamentos” destinados às delegações – no ginásio do Caio Martins – eram precários, incômodos, não oferecendo qualquer conforto. Outra dependência destinada à acomodação era o antigo Hotel Casino Icaraí, que atualmente abriga a Reitoria da Universidade Federal Fluminense e o velho Hotel Roma, na praia de Icaraí. Os dirigentes, delegados e presidente da FIVB, todos se hospedaram em hotéis do Rio de Janeiro. Também a equipe masculina da URSS, que necessitava, certamente por motivos políticos, da conquista do campeonato.
- A cidade de Niterói só tinha três ginásios precários para a realização de treinos das equipes: Icaraí Praia Club (IPC), Faculdade de Direito e o SEDA – Sociedade Esportiva da Diretoria de Armamento da Marinha. Além desses, o do 3° Regimento de Infantaria, em São Gonçalo, município vizinho a Niterói. A travessia entre o Rio e Niterói era realizada somente por meio de barcas ou lanchas, em meia hora. Para azar dos dirigentes, até uma greve dos marítimos foi desencadeada no período dos jogos, no dia 8/11, à zero hora. A Marinha colocou um “Aviso” (tipo de lancha) para o deslocamento das delegações. As seleções da Polônia e da Rússia, que encerraram o jogo naquela madrugada, ficaram em hotéis reservados com antecedência pela CBV.
- A bola utilizada nos jogos era de fabricação nacional – Drible –, de couro e com 18 gomos.
- A equipe americana veio por conta própria, financiada por um dos atletas – Gene Selznick (camisa 2) – em seu próprio avião. Divertiam-se e algumas vezes dormiam em hotel de Copacabana, no Rio de Janeiro, pois os alojamentos em Niterói tinham horário para fechar.
- A URSS, sempre comandada pela prestigiosa Aleksandra Tchoudina (5 medalhas olímpicas no atletismo até 1956), foi campeã mundial feminina de voleibol em Paris e agora no Brasil.
- O Japão, que se adaptara às regras internacionais do vôlei em 1955 (atuavam com 9 jogadores), começa a brigar pelos primeiros lugares nos mundiais e olimpíadas que se sucederam. Suas atuações se destacavam pela graça e agilidade na defesa, bem diferente do jogo de força dos europeus e, principalmente, pelo saque “flutuante”, uma novidade na época. Inclusive, a equipe feminina foi visivelmente prejudicada pela arbitragem brasileira no jogo final contra as russas. Na fase classificatória realizada em Santos (SP), venceram as polonesas – campeãs europeias e uma das equipes candidatas ao título – por contundente 3×0, sendo um set de 15×0.
- O mundial marcou a despedida do técnico francês Marcel Maturré, autor dos primeiros livros sobre voleibol que apareceram no Brasil.
Histórias
- Um oportuno observador assistiu, ao longe, a conversa que dirigentes russos tiveram com os responsáveis pela equipe da Tchecoslováquia, no ginásio do Caio Martins, na manhã do jogo decisivo. Num dado momento, em plena quadra, o técnico tcheco esbraveja e chuta a bola que tinha nas mãos com raiva e indignação. Os russos venceram os tchecos por 3×2 nesta mesma noite, no Maracanãzinho. Os atletas dos países socialistas eram quase todos militares, mantidos pelo Estado. Inclusive, por modalidade de esporte, servindo nas mesmas unidades, portanto, com tempo integral e sem preocupações de treinamento. Suas carreiras estavam vinculadas aos resultados que viessem a obter nas competições internacionais. “Ganhou, era promovido. Perdeu, ganhava o gulak siberiano” (hic! Campo de concentração para prisioneiros políticos da União Soviética).
- Alguns atletas brasileiros pediram dispensa da seleção, alegando motivos particulares. Contudo, era voz corrente que não se exporiam a vexames e não “ganhariam a viagem” para o exterior.
- Antes da final dos jogos, juizes (auxiliares e mesários) brasileiros decidiram fazer uma greve: não receberam ingressos grátis para seus amigos e familiares. Foram requisitados árbitros estrangeiros para atuar.
- O cerimonial que antecede os jogos previa a execução de parte dos hinos nacionais. No jogo URSS x EUA houve um fato curioso. Momentos antes, Hilda Lassen (atleta do Fluminense F.C.), que colaborava como intérprete, sentou-se sobre o disco de vinil que continha o hino soviético. Savin, representante soviético, foi chamado imediatamente e alguém descobriu alguns componentes de uma banda. Savin assobiou os acordes do hino para que tentassem reproduzi-lo. E conseguiram.
