Voleibol de Praia em Niterói (IV)

Rede da Lilica

O vôlei na praia deve muito também à formação da Rede da Lilica, no final da praia de Icaraí, no trecho cognominado Canto do Rio, junto à praça em que os bondes faziam o seu retorno para o Centro da cidade. Ali havia muita sombra propiciada por imensas amendoeiras e um bar (bar do seu Sá ou do Canto do Rio), com mesas ao ar livre; estava situado entre as duas pistas de rolamento. A Rede era conduzida pelo seu fundador, Fernando Machado, o famoso Picolé, cuja mãe tinha o carinhoso nome de Dona Lilica. O material ficava guardado no posto de gasolina Canto do Rio, entre as ruas Mariz e Barros e Comendador Queirós, de propriedade de Domingos Veiga Fernandes (14.1.1918), um santista que adotou a cidade. O Posto foi construído em 1947 e ali permaneceu até 1972, tendo acabado devido ao alargamento da via. Por ali passaram muitos desportistas e amantes de uma boa diversão. Lembramos do irmão de Picolé, Carlos, que tocava piano, Marques, Hernandez, João (trabalhou na Rádio Nacional), Geraldo (Maluco) Ferreira, Ronaldo Braga, irmão de Roberto, que fundaria a Rede Braga, Asdrúbal Vermelinger, Toninho, Paulo Fernando, Alcinho, Aristarco Salituri (Tato), Herval, Geraldinho, irmão de Jarrão, Wallace Pacheco, Jarrão, Fernando Aguiar.

Na foto, componentes da Rede Lilica em meados da década de 40, vendo-se da esquerda para a direita, em pé: Marinho (médico, que também jogava “Bola Pesada”)… (?), Geraldo Freire Aguiar (irmão de Jarrão), Álvaro (Alvinho, Xerife) e Hernandez (jogava futebol). Agachados, na mesma ordem, Roberto Braga e Antônio (Toninho).

Atualmente poucos são os vestígios daquela época, uma vez que o bairro passou por várias reformas que o descaracterizaram. Ainda resta o “retorno” (rodo) e, agora, dois restaurantes, do outro lado da calçada: o “La Mole” e o tradicional “Bom Canto” ( vendido em ago./2002), únicos na praia.

Possivelmente em meados da década de 60, realizou-se o confronto de vôlei entre a Rede Lilica e a Escola Naval. A equipe da Lilica estava representada por muitos jogadores do Central: Baby, Parente, Eber, Hélcio, Francé, Joninho, além do reforço de Quaresma, Mário Hermes e Nelsinho (do IPC).

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Só recentemente tomei conhecimento da morte de Domingos Veiga Fernandes, o Perigoso, como podem ver em Comentários (28.4.2011). Em sua homenagem, acrescento foto que me cedeu do seu posto de gasolina, onde guardava o material da Rede Lilica. Que o Senhor o receba em sua glória.

Voleibol de Praia em Niterói (I)

Rede do Canto do Rio, com Calado, Alfredinho, Mangolão, Newdon, Ferreira, Gonçalves, Calixto, Kiko, em dia de festa.

As Redes (ou campos de jogo)

Rede do Canto do Rio

Grupo de entusiastas, na sua maioria atletas de basquete do Clube Canto do Rio que, aos domingos, recreava-se na praia, em frente à Praça Getúlio Vargas, entre as ruas Miguel de Frias e Álvares de Azevedo, em frente ao cinema Icaraí. Ao lado, vemo-los todos animados uma semana antes do carnaval de 1949 com o famoso Banho à Fantasia. Em sua maioria, atletas de basquete do clube.

Rede Paz e Harmonia

Ao lado da Rede do Canto do Rio, e em frente ao Cinema Icaraí, a Rede Paz e Harmonia, fundada pelo Aníbal possivelmente no final da década de 50, atraía a rapaziada de outros bairros, como Fonseca e Barreto. Ali atuavam e divertiam-se muitos atletas que jogavam somente em clubes de Niterói. Cremos que em torno de 1966, seu Mira, que também participava da rede, resolveu fundar a própria rede, sendo acompanhado por vários adeptos.

Na foto acima, vemos o animado grupo de atletas frequentadores da rede no início da década de 60. Em pé, da esquerda para a direita, Jayme, Sérgio, Homero, Toninho, Mário, Jader, Ricardo, Hudson e Deroca. Agachados, Mário (Banana), Aldrovando, Silésio, Aníbal,…(?), Silênio e, de chapéu, Luís.

Rede do Mira. Miroslav Blakic, ou Mira, um iugoslavo baixinho, forte e troncudo, especialista em mecanismos, consertos e vendas de relógios. Foi responsável pelo grande relógio colocado por muito tempo na Praça Araribóia, no Centro de Niterói. Seu pequeno escritório localizava-se na Rua da Conceição, no edifício Gold Star.  Originariamente, a maior parte dos componentes da Rede são oriundos da Rede do Aníbal, em frente ao Cinema Icaraí. Mais adiante, talvez em 1966, com a desistência do líder de manter a Rede, Mira, um dos que ali atuava, fundou a sua própria Rede, agora próximo à Rua Presidente Backer. Com ele vieram muitos dos adeptos, tais como Jayme, os irmãos Nelson e Neir, Toledo, Oswaldo, Nilo, Sam, Ronaldo Braga e muitos outros. Mantiveram-se durante algum tempo até que, com o crescimento do número de adeptos, Ronaldo Brafa passou a armar sua Rede também aos domingos (só o fazia sábados à tarde). Assim, ganharam todos, pois criaram condições de mais pessoas se divertirem jogando voleibol na praia. Na década de 60, um grupo de aficionados reuniu-se em torno do seu Mira. Em pé, da esquerda para a direita: Baby, Vicente,…(?), Hebert, Jayme, Ronaldo Braga, Renato,… (?), Sam e Paulo (da Ótica Fluminense). Agachados: Oswaldo,…(?), seu Mira, Silvares, Helinho e Edinho.

Voleibol de Praia em Niterói (II)

Rede Braga em manhã de domingo concorrido na década de 60.

As Redes (ou campo de jogo)

Década de 60

O início da década teve intenso incremento na atividade na praia de Icaraí, em Niterói, graças à realização dos Campeonatos Mundiais masculino e feminino, Jogos Universitários Brasileiros, Campeonatos Brasileiros (Rio), Jogos Luso-Brasileiros e inúmeros torneios de quadra e praia. Em 1966, recomeçam os campeonatos entre clubes de Niterói, o que despertou ainda mais o vôlei de praia. Surgem vários torneios, todos de jogos 6 x 6, e a Rede Braga passa a ser referência para o vôlei na praia. Isto se estendeu até o início do novo século, mesmo com o advento da nova modalidade – o jogo de duplas.

Rede Braga

Passado algum tempo, com o despertar de alguns torneios avulsos na cidade – Jogos de Verão, de Inverno, aniversários da cidade, amistosos com equipes do Rio e de São Paulo – e mesmo sem haver um campeonato, a Rede começou a atrair os melhores atletas. Era o despertar da Rede Braga, constituída por Ronaldo Braga e seu irmão, Roberto, composta de jovens que disputavam aqueles torneios e campeonatos, inclusive no Rio de Janeiro. A competição sadia despertava os novos valores que se iniciavam no esporte. Muitos deles, ainda juvenis, foram atuar em clubes do Rio, principalmente no Botafogo, tornaram-se campeões e até atuaram na seleção brasileira – Almir, Waldomiro, Sílvio. Todos, oriundos das peladas de praia. Ronaldo de Paula Braga (1935-1999) foi vítima de um câncer ósseo. Entretanto, sua Rede permanece próxima à Rua Presidente Backer, no meio da praia, já não mais frequentada pelos remanescentes. Inclusive, contribuiu para isso o falecimento de um dos seus integrantes – Paulo Roberto – em morte trágica.

Rede dos Cobras (gíria da época, significando a excelência na atividade)

A Rede foi fundada por um senhor baixinho – Ernani Van Erven – um torcedor apaixonado pelo Clube Gragoatá. Ele dava nome ao espaço, isto é, a Rede foi batizada inicialmente como “Rede do Seu Hernani”. Sua localização estava bem próxima à calçada e em frente ao Icaraí Praia Clube (IPC), onde era guardadas a rede, bolas e marcações do campo. No vaivém das desavenças entre dirigentes do esporte em Niterói e o consequente êxodo dos bons atletas para clubes cariocas, a praia passou a ser o verdadeiro palco e atração incontestável de sua técnica refinada. Assim, víamos e participávamos de memoráveis contendas nessa Rede a partir de 1959-60, onde atuavam vários jogadores da seleção brasileira – Quaresma, Borboleta, Murilo, Afonsinho, Maurício – inclusive Álvaro Cayra (paulista), quando dos treinamentos visando ao Campeonato Mundial de 60 – era o capitão da equipe. Aliás, não acostumado à areia fofa, tropeçava e constantemente perdia o “tempo de bola” para as cortadas.  A calçada ficava repleta de curiosos e adeptos do vôlei, pois as partidas atraíam pela sua plasticidade e exuberância dos lances. Gostoso também era a cervejinha após as partidas no Bar São Luís, ou “Bar do Mercadinho” como o chamávamos, ao lado do IPC, debaixo de frondosas amendoeiras. Por estas e outras, foi apelidada pelos passantes como a Rede dos Cobras, isto é, dos “melhores” jogadores de voleibol.

Voleibol em Nichteroy (III)

A equipe do Colégio Bittencourt Silva, tendo como destaque Maria Lília (1ª à esquerda, em pé), que atuaria mais tarde no Fluminense.

Voleibol na Década de 40 – 3ª Parte

1948. Neste ano foi realizado o III Campeonato Brasileiro em São Paulo (SP). Participaram: DF, RJ, SP, MG, RS, SC, PR, PE, BA e AL. Os campeões masculinos foram os paulistas, com mineiros na vice-liderança. No feminino a equipe campeã foi a do DF (cariocas), ficando as mineiras em segundo lugar.   

Mário Mota foi conduzido à presidência da Federação Fluminense de Desportos a partir desse ano.   

O “Torneio Aberto” promovido pelo Departamento Autônomo de Voleibol – DAV contou com sete clubes no masculino – Canto do Rio, Flexas, CRI, IPC, Cruzeiro, Arará e Fonseca – e quatro no feminino – Praia das Flexas, Tatuí, IPC e CRI. O Torneio foi realizado em duplas eliminatórias, com jogos em campos neutros, e teve como expoentes Nadir, pelo IPC, e Helena, pelo Praia das Flechas (que passou a ter Maria Lília, ainda com 15 anos). Entretanto, o campeoníssimo do voleibol feminino niteroiense foi o C. R. Icaraí (invictas). Assim, o clube tornou-se tetracampeão de voleibol feminino (1945-48), atuando com Adayr (cap.), Yeda, Nilsa, Netty, Zombinha e Martha.   

Noticiário de “O Estado”, de Niterói, em 15.1.1948: “As estrelas mineiras virão após o carnaval – Transferida a temporada das bicampeãs do Brasil – Na quadra do Clube de Regatas Icaraí os jogos – Melhor de três, com o selecionado do Estado do Rio.   

Atletas. No feminino, Minas Gerais contará com Celeste, Emília, Zuleica, Nilda, Irene e Virgínia. Enquanto isto o Estado do Rio terá Zombinha, Siça, Nilza, Adayr, Celma, Norma e Neli. No masculino, a equipe mineira está escalada com Gil, Cancinho, Maurício, Vicente, Herbert e Batista. Compondo a representação do Estado do Rio estarão os atletas Nato, Ornani, Nelsinho, Salvador, Gomide e Roberto Braga.   

O primeiro jogo, marcado inicialmente para a quadra do CRI, por motivo de chuva, foi levado para o ginásio da Faculdade de Direito. As mineiras venceram por 2×0. No dia seguinte, na segunda partida, as fluminenses quebraram a invencibilidade das mineiras (2×1). A seguir, no dia 29, na negra, espetacular vitória das fluminenses, também por 2×1, quebrando a invencibilidade das campeãs brasileiras. Nos jogos masculinos, melhor para os mineiros, dirigidos por Adolfo Guilherme.   

Notas.  1) O Campeonato deste ano, em Niterói, contou com a estréia do Fluminense e a volta do Clube Central e do Gragoatá.  2) Jogos amistosos e torneios foram realizados também com equipes do Rio de Janeiro, como o Torneio Aberto da ACM e o Torneio de Verão, promovido pelo DAV.   

1949. O Campeonato Brasileiro Extra  foi realizado no mês de agosto, em São Paulo; o Estado do Rio perdeu para as cariocas.  Osvaldo Gonçalves de Souza foi eleito para o Departamento Autônomo de Voleibol.   

Em maio, um quadrangular entre Icaraí (tetracampeão niteroiense), Pinheiros (vice-campeão paulista), Minas Tênis Clube (tricampeão mineiro) e Botafogo (tricampeão carioca), foi vencido pelo CRI sem perder um único set. Nelson Santos e Zoulo Rabello funcionaram como árbitros. Pelo Icaraí atuaram Netty, Nilza, Siça, Yeda, Adayr e Zombinha. O CRI sagrou-se também tetracampeão niteroiense e vice-campeão nos Jogos da Primavera. Além disso, ganhou a taça “João Lyra Filho”, em Belo Horizonte, conforme noticiou “O Estado de Minas” em 19 de julho:   

(…) A princípio, ficou determinado que a Federação Paulista de Voleibol realizaria um torneio quadrangular, que seria uma espécie de eliminatória para a formação das seleções feminina e masculina que em outubro defenderão o Brasil no I Campeonato Sul-Americano, cuja sede será São Paulo. Pretendia a entidade voleibolística trazer à nossa capital as seleções de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Distrito Federal. Agora, entretanto, com o resultado do torneio pela taça “João Lyra Filho”, fica a Federação na obrigação moral de convidar as representantes do Estado do Rio. As garotas e os rapazes de Niterói jogam muito. As primeiras souberam triunfar categoricamente, sem perder um set, nos jogos disputados entre os melhores clubes do Brasil. Forçosamente há de haver notáveis voleibolistas. E si um dos motivos dos jogos de voleibol será a escolha dos representantes brasileiros para o continental é preciso que os niteroienses venham. Além de tudo, essa competição terá o caráter de Campeonato Brasileiro Extra, para o que já foi oficializado pela C.B.D.

Nota. O 1º Campeonato Sul-Americano veio a ser realizado na cidade do Rio de Janeiro somente em 1951.  

Cenário Mundial. Campeonato Mundial, Praga (Tchecoslováquia).   

Neste ano realizou-se o 1° Campeonato Mundial de vôlei masculino, em Praga. A seleção da URSS foi a vencedora, seguida dos anfitriões e Bulgária. O Brasil não compareceu e não foram realizados jogos femininos. Praticamente o cenário era dominado pelos países do Leste Europeu – URSS, Tchecoslováquia, Polônia, Bulgária, Iugoslávia. Como atuavam, não encontramos meios disponíveis de saber e, como veremos a partir da década de 50, somente os protagonistas tinham conhecimento das formas, técnicas e histórias. Também por isto, este trabalho está calcado em vários depoimentos desses atletas ou técnicos que há muito se dedicam ao voleibol.

Voleibol em Nictheroy (II)

Os campeões: em pé, da esquerda para a direita, Hamilton, Ney, Gastão Rodrigues e Reynaldo (Tonelada). Agachados, na mesma ordem, Conrado Van Erven, Oscarzinho e Paulo Fernando.

 Década de 40 – Parte 2   

1946 –   Neste ano deu-se a estréia do Clube Tatuí no campeonato niteroiense, tendo se sagrado campeão da 2ª Divisão. O Clube de Regatas Icaraí foi o campeão da 1ª Divisão e bicampeão da Divisão Feminina, embora perdendo a invencibilidade. O campeonato feminino foi disputado entre seis equipes: IPC, CRI, Tatuí Clube (estreia), Canto do Rio, Barroso e Praia das Flechas.  

O CRI (feminino) partiria para o tri em 1947 e para o tetra em 1948, chegando ao decacampeonato em 1954. Nesse ínterim, venceriam também os IX Jogos Abertos de Cambuquira e o Torneio dos Campeões, no Rio de Janeiro.  

Interessante notar o regulamento da competição, transcrito em periódico da época:  

INSTRUÇÕES  

Em primeiro lugar, isto é, às 20:30 horas. Dez minutos após o término do primeiro jogo, deverá estar na quadra a 1a divisão. Dez minutos após o término da 1a divisão deverá entrar na quadra a segunda.  

Quando não houver o jogo da Divisão Feminina, o da 1ª iniciar-se-á às 21 horas em ponto. Se não houver o jogo feminino nem o da 1ª Divisão, o da segunda terá início às 21,45 horas.  

O Clube que deixar de comparecer à hora local designadas para um jogo:  

Penalidade: Perda do ponto e multa de Cr$ 20,00 por quadro que não comparecer.  

d) O Barroso F. Clube não disputará o returno do Campeonato. O Praia das Flexas Clube continuará apresentando a 1ª e a Divisão Feminina.  

DELIBERAÇÕES DO DAV – Departamento de Arbitragem de Voleibol:  1) Pedir aos srs. juízes para marcar falta técnica toda vez que um jogador chutar a bola;  2) Designar os juízes do Praia das Flexas Clube para dirigirem o encontro Tatuí e Regatas.  3) Constava dos Regulamentos do Voleibol que, mesmo sem o comparecimento da equipe escalada para a arbitragem, o jogo deveria ser realizado. Para isso, os capitães das equipes – em comum acordo – solicitariam que um dos presentes ao jogo fizesse uso do apito. Isto perdurou durante muito tempo, até a década de 60 e a consequente profissionalização do Quadro de Arbitragem.  

II Campeonato Brasileiro de Voleibol, Belo Horizonte (MG). O Campeonato foi realizado no período de 22 a 28 de junho de 1946. A equipe feminina de Minas tornou-se bicampeã, tendo vencido também no masculino. Entre os participantes, Pernambuco (só no masculino), Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. O Estado do Rio, através da FFD, participou desse evento com uma delegação assim constituída:  

Chefe – Prof. Osvaldo Gonçalves de Souza, diretor do Departamento Autônomo de Voleibol da FFD.  

Técnico (masc.) – Aguinaldo Mendonça, do IPC; Técnico (fem.) – Afonso Caminha, do CRI; Acompanhante – Sra. Myrtila V. E. Caminha; Auxiliar – Sr. José Izidro Leite.  

Jogadores – Nelson Abreu (Nelsinho), Sílvio Batalha, Bernardo Wohrle, Newton Gomide, Jampérsio Rodrigues, Eduardo Frederico, Klaus Wohrle e Roberto Braga.  

Jogadoras – Úrsula Hanning, Lígia Limoeiro Patituci, Norma Teles Pires, Zuleika Bastos, Cora e Iraci Serejo, Nilza Rocha Lemos, Maria Auxiliadora Varela (Zombinha), Adayr Falcão e Nilza Bruno Figueiredo.  

 1947 – Além dos campeonatos da cidade, vários torneios e jogos amistosos foram realizados por nossas equipes. Em dezembro, participação das seleções masculina e feminina no torneio do Cinquentenário de Belo Horizonte. Destaques para as volistas Norma, de Uberlândia e Zombinha, de Niterói. O próximo Campeonato Brasileiro seria realizado em São Paulo, em 1948.  

  

Equipe do Tatuí, bicampeã niteroiense em 1946-47. Em pé, da esquerda para a direita, Hildebran, Gomide, Roberto Braga, Ney, Milton e Altayr; agachados e na mesma ordem, Cid, Jorge Natto, Sylvio e Pedro. Acervo: Ney Jopper; foto de Walter Cotta.

Voleibol em Nictheroy (I)

Seleção de craques no Campeonato Brasileiro de 44

 Década de 40 – 1ª Parte     

No início da década de 40 alguns clubes do Rio de Janeiro e a Associação Cristã de Moços (ACM), incentivavam e organizavam torneios de voleibol. Em Niterói, o Icaraí Praia Clube (IPC) e o Clube de Regatas Icaraí CRI) eram os representantes maiores e também participavam daqueles torneios, sendo que este último foi campeão em 1943.     

      

Cronologia     

1941 – O CRI participa do campeonato estadual: 2º lugar com o segundo time, 3º com o primeiro time (ambos masculinos) e 4º com o terceiro time (feminino). No intuito de estimular novos atletas foram promovidos torneios internos. Chegaram a contar com sete times e, entre eles, jogadores de expressão, como Albérico Lins de Araújo e Armando Logulo. Esses torneios internos deram origem aos “Jogos de Bandeiras”, competições exclusivamente entre associados do clube. Permaneceram até o início da década de 60. Era uma prática também adotada em clubes do Rio de Janeiro.     

1943 – Têm início os primeiros jogos entre cariocas e paulistas, aos quais se misturavam os niteroienses. O Fluminense F. C. recebeu a visita do São Paulo F. C., representado por uma equipe de atletas do Paulistano. Neste mesmo ano o tricolor carioca viaja pela primeira vez a São Paulo para uma partida amistosa contra o Pinheiros, inclusive em quadra aberta. Só mais tarde o clube paulista viria a construir seus ginásios. Nesta mesma época o Fluminense realizou sua primeira excursão internacional: primeiramente, a caminho do Uruguai e Argentina, atuou em Porto Alegre contra a Sogipa; no Uruguai contra o Cumparsita (campeão) e, finalmente, contra o River Plate, argentino. A partir dessa excursão o niteroiense Bernard (Berne) se transferiria para o tricolor. O CRI foi campeão em torneio da ACM, no Rio de Janeiro.     

1944 – O primeiro Campeonato Brasileiro foi realizado no Rio de Janeiro, sagrando-se campeões a equipe masculina de São Paulo e feminina de Minas Gerais. Em torneio intercolegial o Colégio Andrews, estreante em torneios, conseguiu derrotar o CRI em final surpreendente. Um dos destaques do colégio era o jovem atleta Gil Carneiro e, no CRI, um dos melhores jogadores da época, Bernard (Berne) Wohrle. Outro destaque, no Rio, foi Paulo do Vabo Ferraz, um campeão em várias modalidades (natação, atletismo e tênis), que atuava no Grêmio dos Tabajaras e o primeiro atleta com características de levantador e cortador, único na época e raríssimo ainda hoje, a partir da especialização de funções táticas.     

O jornal Diário da Manhã, de Niterói, relatava fatos do cotidiano esportivo realçando o trabalho e empenho de pessoas e clubes em prol do voleibol:     

Os heróis do voleibol em 1944 – Sagraram-se campeões o IPC e o Clube Central nas 1ª e 2ª divisões, respectivamente. O Clube Central foi campeão da divisão feminina e a Taça Eficiência foi conquistada pelo IPC.     

A classificação final – Com o último jogo realizado na quadra do Icaraí Praia Clube entre o grêmio local e o Clube Central, ficou encerrado o certame niteroiense de voleibol, sagrando-se campeão invicto do voleibol da cidade, em 1944, o Icaraí Praia Clube (1ª divisão). Com a vitória do Clube Central sobre o IPC na 2ª divisão, sagrou-se aquele campeão. Com este triunfo vem o clube do Dr. Clovis Santiago finalizar com chave de ouro a temporada de 1944, pois além de levantar o campeonato da 2ª divisão, conquistou com extraordinário brilho o título de campeão da Divisão Feminina que, a nosso ver, foi a equipe melhor ajustada do certame. Ficaram assim colocadas as diversas associações:     

1ª Divisão Masculina – Campeão o Icaraí Praia Clube, seguido do Canto do Rio F. C., Clube de Regatas Icaraí, Clube Central e E. C. Fluminense.  2ª Divisão Masculina Campeão o Clube Central, seguido de Icaraí Praia Clube, Canto do Rio F. C., Clube de Regatas Icaraí e E. C. Fluminense.    

Observação: O primeiro lugar da 2ª divisão foi disputado em melhor de três, saindo vencedor o Clube Central em conseqüência do que conquistou um (1) ponto mais, na Taça Eficiência.    

1ª Divisão Feminina – Campeão o Clube Central. Seguido do Clube de Regatas Icaraí, Icaraí Praia Clube e Canto do Rio F. C.    

Taça Eficiência, Mário Hermes da Fonseca – A taça eficiência com a denominação de Mário Hermes da Fonseca em homenagem a este trabalhador incansável de nosso voleibol foi conquistada pelo Icaraí Praia Clube com 21 pontos.     

1945 – No ano do seu cinquentenário o CRI sagrou-se Campeão Fluminense no Torneio Início de Voleibol Feminino da Federação Fluminense de Desportos (FFD), entidade de que havia sido fundador. Faziam parte da equipe: Junília Reis, Maria Auxiliadora Varela Fernandes (Zombinha), Araci e Guaraciaba Gomes Horta, Ilka e Iná Liberal Saeger, Adayr Mata Falcão, Maria Célia Rosa e as irmãs Alice, Cora, Iracema e Iraci Serejo. As duas últimas partidas foram disputadas no Hotel Quitandinha (Petrópolis) nos dias 4 e 5 de agosto contra o Praia das Flechas Clube, também de Niterói. Neste ano o voleibol estava em declínio, tendo sido considerado mesmo como morto: “Para soerguer este elegante esporte, o diretor do D. A. V. (Departamento Autônomo de Voleibol) despendeu grandes energias, alem de prejuízos materiais. No Torneio Início sabemos que o referido diretor teve grandes despesas afim de abrilhantá-lo; no Torneio Quadrangular aconteceu o mesmo; os clubes não têm enviado os seus juízes é ele quem paga um ou dois juízes que sempre o acompanha”.    

Os Campeões – “Como nos outros anos, o IPC conquistou mais uma vez o título de campeão invicto da primeira divisão. Não se contentando com o brilhante título arrebatou do Canto do Rio o campeonato da segunda divisão masculina. Cumprindo uma performance sem precedentes na história de seu voleibol, o Clube de Regatas Icaraí levantou de maneira espetacular o campeonato feminino de 1945 sem ter perdido para qualquer adversário. Deve-se esse feito ao Sr. Afonso Caminha, digno diretor de esportes do clube, esse triunfo, pois alem de dirigir tecnicamente suas amadoras, muito contribuiu para a perfeita realização do campeonato de voleibol de 1945. No ano passado foi vice-campeão feminino, tendo declarado após a derrota frente ao Central que levantaria o campeonato de 45, e levantou. Parabéns Sr. Afonso Caminha”.     

A equipe campeã do Clube de Regatas Icaraí

 Colocação – Ficaram assim colocados os clubes no presente campeonato:     

Primeira Divisão – Campeão o IPC, seguido do Clube Central, Canto do Rio, Clube de Regatas Icaraí, Barroso F. C., Juventus Clube e Praia das Flexas.     

Segunda Divisão – Campeão o IPC, seguido do Canto do Rio, Clube de Regatas Icaraí, Barroso F. C., Clube Central e Juventus Clube.     

Divisão Feminina – Campeão o C. R. Icaraí, seguido do Praia das Flexas, IPC, Canto do Rio e Clube Central.     

 Notas do Voleibol: Convocação das seleções fluminenses, masculina e feminina – Treinos marcados.     

Amanhã, quarta-feira, treinará mais uma vez, a seleção masculina que representará o Estado do Rio no campeonato brasileiro de voleibol em Belo Horizonte. Para o mesmo que será na quadra do IPC, às 20 horas, estão convocados os seguintes amadores:     

IPC: Berne, Fritz, Klauss, Nelsinho e José Fernandes   – CRI: Ivo e Jampérsio   – Tatuí: Ornani, Nato, Silvio, Gomide e Pedro     

Os treinos da seleção masculina estão a cargo do técnico Aguinaldo Mendonça, veterano no voleibol e antigo defensor do Icaraí Praia Clube. A seleção feminina está sendo orientada pelo Sr. Afonso Caminha, dedicado diretor de Esportes do Clube de Regatas e experimentado preparador da equipe feminina que levantou o Campeonato Niteroiense de Voleibol de 1945. O Departamento Autônomo de Voleibol, da F. F. D. convoca por nosso intermédio, para o treino que será realizado quinta-feira, às 20 horas, na quadra do Clube de Regatas Icaraí, as seguintes amadoras:     

Tatuí: Tereza e Zuleika   – Praia das Flexas: Norminda e Nilza   –  IPC: Ula e Lígia   – CRI: Adayr, Cora e Araci     

Nictheroy, Celeiro de Craques

 

Nictheroy, Celeiro de Craques

Quando escrevi este texto recordei-me do jantar de confraternização que os mais antigos – os velhinhos – do voleibol tradicionalmente realizam na primeira segunda-feira de dezembro, no Rio de Janeiro. Foi o último do século XX. São mais de cem companheiros e, agora, também as “meninas” que participaram de muitas jornadas lado a lado, torcendo, treinando e competindo. É uma grande noite para matar as saudades, carinho e amizade. Todos têm a mesma sensação: “valeu a pena” e, se pudéssemos, estaríamos nas quadras de novo, com o mesmo entusiasmo com que se praticava o voleibol. Neste dia não existem diferenças, melhores ou piores, todos são iguais. Até pequenas rixas de outrora são reparadas pelo próprio tempo e pelo ambiente de camaradagem reinante. É sensacional estar ali com todos! Nesta festa repetiu-se o que muitos já nos disseram e não se cansam de proclamar; “Niterói sempre foi um celeiro de craques do vôlei”. E, dizem-me, porque sou niteroiense e aqui resido. E por que uma pequena cidade-dormitório teria esta propriedade ou competência? Seria por causa da “vista do Rio”?

Pode ser que isto tenha ocorrido a partir do Mundial de Paris, em 1956 quando a cidade cedeu quatro atletas à seleção: Quaresma, Borboleta, Márcio e Maurício. O Rio também quatro, São Paulo e Minas Gerais dois outros, cada. Isto explica ao leitor, a quem peço desculpas e paciência, o motivo que me levou a escrever um pouco mais sobre o voleibol da minha terrinha. Contudo, dada a proximidade e ao intenso intercâmbio entre os dois municípios, podemos considerar um só voleibol, pois a cidade é “dormitório” do Rio. Acrescente-se a meu favor o favorecimento a um maior número de informações especialmente das décadas de 30 a 50.

Informação geopolítica

Ainda hoje, muitos brasileiros confundem a geografia política do estado do Rio de Janeiro e aqui vai um esclarecimento para os não muito íntimos do assunto. Politicamente, a cidade de Brasília é a capital federal e sede do governo, portanto, o Distrito Federal (DF) desde abril de 1960. Antes de sua transferência, o Distrito Federal estava localizado na cidade do Rio de Janeiro, capital do país. Entre os vários estados da Federação, existia o estado do Rio de Janeiro (RJ), cuja capital era a cidade de Niterói, localizada de um dos lados (norte) da Baía de Guanabara. Por estar muito próxima a um grande centro, a cidade foi por muito tempo “cidade dormitório”, pois as oportunidades de trabalho e cultura eram atraentes. Isto explica, também, porque muitos jovens atravessavam a baía para atuarem em clubes cariocas. Em 1960, com a mudança da capital para Brasília, foi criado o Estado da Guanabara e, anos mais tarde, no governo militar de Ernesto Geisel (1974-78), procedeu-se à fusão (1975) com o antigo Estado do Rio (capital, Niterói), tornando-se o atual Estado do Rio de Janeiro (RJ). A capital passou a ser, então, a cidade do Rio de Janeiro. Niterói deixou de ser capital e é atualmente uma próspera cidade, ainda com ar provinciano, de boa qualidade de vida e, mais importante, seus moradores têm a vista mais linda desse mundo: a cidade do Rio de Janeiro vista do outro lado da baía. Faz parte do que se chama “Grande Rio”, junto com outros municípios, como Duque de Caxias, São Gonçalo, Nilópolis, Nova Iguaçu. Embora as lanchas façam ainda a travessia da baía, foi construída uma ponte (inaugurada em 1974) para infernizar e acabar com o nosso sossego.

Federação Fluminense de Desportos

Em meados de 45, existia no antigo Estado do Rio de Janeiro a Federação Fluminense de Desportos. Um de seus presidentes mais destacados foi Ramos de Freitas. Entretanto, suas ações estavam voltadas quase que integralmente para o futebol. Havia necessidade de se organizar o voleibol, que se encontrava em nível bastante avançado. Foi criado, então, o Departamento Niteroiense de Voleibol (DNV), por volta de 1947. Os campeonatos tinham jogos somente nas categorias adultas – masculina e feminina –, sendo que no caso dos rapazes em duas divisões. Neste caso, o regulamento vedava ao atleta que atuasse três vezes na 1ª Divisão que jogasse também na 2ª Divisão. Disputavam esses campeonatos: no feminino – Clube de Regatas Icaraí, Icaraí Praia Clube, Clube Central, Praia das Flexas Clube, Grupo de Regatas Gragoatá e Canto do Rio F. C.; no masculino – CRI, IPC, Central Praia das Flexas, Gragoatá, Canto do Rio, além do Fluminense de Natação e Regatas e o Clube dos Tatuís, sem sede, constituído por um grupo avulso de desportistas. Registre-se que ainda não existiam os torneios entre juvenis.

Departamento Autônomo de Voleibol

Em 1951, algumas altercações levaram à criação do Departamento Autônomo de Voleibol, completamente desvinculado da Federação, coincidindo com o retorno de Bruno Maluí a Niterói. Mais lutas e interesses contrariados, mais afastamentos. Foi criada a Liga de Voleibol, com Mário Hermes da Fonseca colocado na sua presidência.

Organização – A entidade que dirigia e organizava os campeonatos era o Departamento Autônomo de Voleibol (DAV), depois transformado em Departamento Niteroiense de Voleibol, subordinado à Federação Fluminense de Esportes. Alguns anos mais tarde (1954) criou-se um cisma entre o Departamento e a Federação. A maioria dos clubes apoiou o Departamento e organizaram-se à revelia dela. Os torneios e campeonatos se seguiam. Quando da formação de uma seleção, os atletas agrupavam-se no Clube de Regatas Icaraí e no Fluminense Atlético. Quando da disputa de campeonatos brasileiros, o Icaraí, no feminino e o Fluminense no masculino, representaram o Estado, como ocorreu no Campeonato Brasileiro de 1954. O Icaraí (com Zombinha) tendo como técnico Afonso Caminha, e o Fluminense, com Quaresma, Augusto, Jovauro, Jorge, tinha como técnico Bené, que atuava também como levantador. Foi uma fase de grandes jogos tanto no masculino quanto no feminino. E, diga-se de passagem, não se jogava em ginásios, mas em quadras abertas de cimento, caso não chovesse.

A seguir, a Liga não suportou a pressão dos dirigentes da Federação e dos demais clubes, que tiveram muitos atletas transferidos para clubes do Rio de Janeiro. Houve um significativo êxodo que inundou os clubes cariocas, desde o Vila Isabel, passando pelo América, Fluminense, Botafogo e Flamengo. A cidade de Niterói ficou completamente “deserta”, exceto aos domingos, nas peladas ou rachas de praia, onde se via excelente voleibol de 6×6.