Voleibol de Praia em Niterói (IV)

Rede da Lilica

O vôlei na praia deve muito também à formação da Rede da Lilica, no final da praia de Icaraí, no trecho cognominado Canto do Rio, junto à praça em que os bondes faziam o seu retorno para o Centro da cidade. Ali havia muita sombra propiciada por imensas amendoeiras e um bar (bar do seu Sá ou do Canto do Rio), com mesas ao ar livre; estava situado entre as duas pistas de rolamento. A Rede era conduzida pelo seu fundador, Fernando Machado, o famoso Picolé, cuja mãe tinha o carinhoso nome de Dona Lilica. O material ficava guardado no posto de gasolina Canto do Rio, entre as ruas Mariz e Barros e Comendador Queirós, de propriedade de Domingos Veiga Fernandes (14.1.1918), um santista que adotou a cidade. O Posto foi construído em 1947 e ali permaneceu até 1972, tendo acabado devido ao alargamento da via. Por ali passaram muitos desportistas e amantes de uma boa diversão. Lembramos do irmão de Picolé, Carlos, que tocava piano, Marques, Hernandez, João (trabalhou na Rádio Nacional), Geraldo (Maluco) Ferreira, Ronaldo Braga, irmão de Roberto, que fundaria a Rede Braga, Asdrúbal Vermelinger, Toninho, Paulo Fernando, Alcinho, Aristarco Salituri (Tato), Herval, Geraldinho, irmão de Jarrão, Wallace Pacheco, Jarrão, Fernando Aguiar.

Na foto, componentes da Rede Lilica em meados da década de 40, vendo-se da esquerda para a direita, em pé: Marinho (médico, que também jogava “Bola Pesada”)… (?), Geraldo Freire Aguiar (irmão de Jarrão), Álvaro (Alvinho, Xerife) e Hernandez (jogava futebol). Agachados, na mesma ordem, Roberto Braga e Antônio (Toninho).

Atualmente poucos são os vestígios daquela época, uma vez que o bairro passou por várias reformas que o descaracterizaram. Ainda resta o “retorno” (rodo) e, agora, dois restaurantes, do outro lado da calçada: o “La Mole” e o tradicional “Bom Canto” ( vendido em ago./2002), únicos na praia.

Possivelmente em meados da década de 60, realizou-se o confronto de vôlei entre a Rede Lilica e a Escola Naval. A equipe da Lilica estava representada por muitos jogadores do Central: Baby, Parente, Eber, Hélcio, Francé, Joninho, além do reforço de Quaresma, Mário Hermes e Nelsinho (do IPC).

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Só recentemente tomei conhecimento da morte de Domingos Veiga Fernandes, o Perigoso, como podem ver em Comentários (28.4.2011). Em sua homenagem, acrescento foto que me cedeu do seu posto de gasolina, onde guardava o material da Rede Lilica. Que o Senhor o receba em sua glória.

Primeiras Décadas

Vôlei nas décadas de 40 e 50 

No final da década de 40, mais precisamente em 1949, destacavam-se no cenário brasileiro algumas equipes estaduais. O voleibol desenvolvia-se lentamente – era praticado duas vezes por semana – em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Nos dois últimos, praticado também nos finais de semana nas praias, incentivado especialmente pelo Jornal dos Sports do saudoso Mário Filho. Neste período, p. ex., houve inscrição de mais de dez equipes. A praia se constituía no verdadeiro celeiro de craques da época.  Também no Nordeste – Bahia e Pernambuco – era grande o esforço entre os praticantes para uma afirmação nacional.

No início da década de 50 percebia-se uma reação contra as arbitragens que puniam incessantemente as bolas mal tocadas na recepção dos saques. A partir dessa constatação procurou-se aprimorar técnica e taticamente a execução dos saques, deixando de se constituir num simples início de jogada. Em 1951, no I Sul-Americano do Rio de Janeiro, teve influência decisiva, quando cerca de 60% dos pontos foram conseguidos através desse fundamento. Em partidas nacionais – mineiros, fluminenses e paulistas – passaram a procurar utilizar variadas formas de sacar e, quase sempre, buscando imprimir força. A maioria dos atletas punha a “bola em jogo”, sem a devida preocupação tática. Não entendiam que aquele fundamento era “a primeira manifestação de ataque” do jogo.

Com a constatação de que muitos não conseguiam ou não tinham capacidade para dominar o “toque de bola” – única forma como era recepcionado o saque – passou-se a direcionar sua trajetória para esses alvos, verdadeira fonte de pontos para os adversários. A ponto de os técnicos terem que esconder tais atletas, suprimindo-os da tarefa de recepção. Daí surgem as expressões de astros consagrados ou atletas intocáveis, ou ainda, mão-de-seda, cujos toques na bola eram perfeitos e admirados. Nos relatos do professor Sílvio Raso, por exemplo, a respeito do Brasileiro de Porto Alegre em 1952, destacamos essa importância do saque: (…) “No jogo com o Distrito Federal, a equipe de Minas Gerais consignou 8, e depois mais 9 pontos, respectivamente, na primeira e segunda partidas, totalizando 17 nos 30 pontos feitos: 56, 6%”. E conclui: “os adversários da equipe mineira defenderam somente 30,8% dos saques executados, constituindo-se num percentual muito baixo”. Confirmava-se, assim, que o voleibol nacional estaria a exigir uma mudança na forma de treinamento da recepção.

Ocorre que a grande maioria dos treinadores não era formada em Educação Física e, por isso, sem o devido preparo científico para a função. Não que os professores fossem mais capacitados, mas por que lhes faltava a visão científica do esporte, apesar de que, até nossos dias, as Universidades estão muito aquém dessa formação. Além disso, os treinamentos eram escassos – quatro horas semanais – após o trabalho ou estudos dos jogadores. Alie-se a isto a pouca quantidade de praticantes e clubes filiados, com parcos recursos. Dessa época de 1951-52, o professor Sílvio destaca o espírito pesquisador e inovador de Adolfo Guilherme em Minas Gerais e de Paulo Azeredo, no Rio de Janeiro.