Cursos de Minivoleibol

Foto: Fivb.

 Importância da Dúvida                   

No ensaio “A Dúvida” (Relume Dumará), o filósofo tcheco Vilém Flusser diz que “duvidar é um estado de espírito que pode significar o fim de uma fé ou o começo de outra. Em dose moderada, estimula o pensamento. Em dose excessiva, paralisa toda atividade mental”.                   

 
Cuidado! Valeria a pena copiarmos as receitas propostas pela Fivb ou darmos uma paradinha para  pensar? Nesse terreno, creio que pelo menos desde o Congresso de Leipzig (1972), que o Senhor Horst Baacke tem ingerência máxima nos aconselhamentos técnicos e gerais sobre ensino do voleibol. É uma pena que assim seja, pois muitos se curvam aos seus desvarios. Conheci-o em 1975, em Ronneby, Suécia, e assisti suas propostas de treinamento, inclusive um filme com providências táticas para as crianças alemãs. Será que é plausível para os nossos filhos?

Mini Voleibol. Bisbilhotando o site da Fivb por esses dias deparei-me com uma notícia que me chamou a atenção e fez por merecer este texto uma vez que me relembra experiências vividas em várias partes do mundo, especialmente em Congresso na Argentina (1984) e um Simpósio Mundial (1975) na Suécia. Em ambos os casos o assunto era idêntico: o ensino para crianças, isto é, o Mini Voleibol. Como tenho larga experiência no Brasil sobre o assunto, atrevo-me a expressar a minha opinião a respeito da Metodologia a empregar. Antecipo que sou totalmente CONTRA ao que apregoa a Fivb, leia-se H. Baacke, emérito presidente da Comissão de Treinadores, velho conhecido desde 1975, no 1º Simpósio. O texto é um press release que vem da Argentina. Como lá estive em 84, passarei a analisar alguns fatos interessantes para nosso aprendizado no que se refere à Metodologia a empregar na tarefa de ensino para crianças.                    

Argentina. Vejam o resumo e perdoem-me a tradução: “Nova iniciativa começa na Argentina – O evento é o primeiro de muitos na Argentina – San Juan, Argentina, 18 junho de 2010. A primeira Clínica de Voleibol para as crianças na Argentina visitas escolares Volley teve lugar na quinta-feira no Centro de Desenvolvimento de Voleibol em San Juan. O evento foi aberto pelo presidente da Federação Argentina de Voleibol Alejandro Bolgeri e Gabriel Tesoureiro Salvia. O projeto visa aumentar o conhecimento do esporte no país sul-americano que também irá sediar a fase final deste ano da Liga Mundial de Voleibol em poucas semanas. No fim de semana seguinte, com a duração de dois dias, a realização do FIVB Weekend, também em colaboração com a FeVA, reunindo crianças de 4 a 12 anos para jogos alegres de voleibol: 17 clubes atenderam ao chamado, formando 146 equipes e um total de aproximadamente 600 alunos, além de familiares e amigos compondo os 1.200 espectadores”.                              

Os argentinos “descobriram” o mini voleibol a partir de 1981, como se depreende dos anais da Confederación Sudamericana de Voleibol (CSV). Naquele ano o secretário da Comissão Sul-Americana de Treinadores, Miguel Salvemini, participou com outros cinco professores argentinos de uma reunião de quatro dias (30/6 a 3/7) em Roma sob os auspícios da Subcomissão Internacional de Minivoleibol (SCMVB), um ramo da Comissão Internacional de Treinadores (CIT) da FIVB. Os membros eram Gianfranco Briani* e Beniamino Pagano (Itália), Peter Duyff (Holanda), Gerhard Dürrwächter* (Alemanha), Lorne Sawla (Canadá), Jorgen Hyllander* (Suécia), assistidos por Horst Baacke* (alemão), presidente da CIT. A reunião foi presidida pelo professor Briani, presidente da SCMVB. Como saldo desse evento, ficou decidido entre outras coisas o estabelecimento de diferenças entre Curso e Simpósio, e que os Simpósios Internacionais seriam realizados  a cada três anos. Naquela oportunidade foi solicitado à Confederação Sul-Americana um curso internacional de mini voleibol a ser realizado antes de 30 de setembro de 1983. Além disso, como previsto, construíram uma “Cartilha” de procedimentos para as filiadas. Em dezembro de 1981 os argentinos realizaram o I Encontro Nacional de Mini Voleibol na cidade de Córdoba durante quatro dias em que, predominantemente, só constou de competições entre 37 equipes e 185 jogadores. Além de estatísticas do evento, nada mais constou do relatório. Pura e simplesmente os jogos entre crianças. Somente em 1984 (20/23 de setembro), realizaram o I Simpósio Nacional da modalidade em Buenos Aires para professores das diversas Províncias do país.                         

(*) Os quatro presentes ao 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol na Suécia, 1975. Além, é claro, do autor. O leitor poderá conhecer detalhes dos trabalhos realizados em diversos países nos Anais desse Simpósio publicado neste site em “História do Mini Vôlei” (vários).    

Congresso Argentino de Mini Vôlei, 1984. Com duração de quatro dias e contando com grande participação de professores de todo o país, embora predominantemente portenhos. O local escolhido foi o Centro Deportivo Nacional que contribuiu para acomodação dos visitantes, inclusive eu, convidado único enviado pela CBV. Dividir um alojamento com professores de diversas Províncias viria a se tornar num detalhe importante como verão mais adiante no relato, pois me proporcionou um contato mais estreito com professores do interior, com realidades distintas da capital. Um dos professores palestrantes era o técnico italiano Pitera. Ao que me lembre, só ele. Os demais, todos nacionais. Foram abordados diversos temas, até mesmo em consonância com a reunião de Roma. E, orientados pelos seus treinadores, um grupo de crianças constituído de atletas de clubes promovia a demonstração de ensino nas práticas. E aí é que chamo a atenção do leitor para o grande detalhe que poucos se preocupam: “A Passagem da Teoria para a Prática”.                  

Aguardávamos todos, éramos quase uma centena de professores, as aulas práticas com grande interesse. Dois professores se encarregaram de enunciar os exercícios aos jovens alunos e, portanto, já iniciados no esporte. Enquanto um terceiro explanava as reais qualidades e importância de tais e tais exercícios que iam se sucedendo rapidamente. Não me lembro quantas foram as práticas, mas o que me restou na mente é suficiente para convencê-los da inutilidade daqueles procedimentos. E o pior é que quebrou de forma insofismável qualquer esperança de aprendizado dos professores provinciais. Não sei se também à grande maioria de portenhos ali presentes. No alojamento consegui trocar palavras a respeito com três companheiros que, perplexos, diziam: “Como chegaremos a realizar tal façanha com nossos muchachos, tão pequeninos e frágeis? Nada do que vimos poderá ser colocado para nossas crianças”. No que concordei em tudo, pois os professores se aprimoraram tanto na complexidade dos exercícios, que se esqueceram que estavam tratando da metodologia da iniciação desportiva, isto é, como levar um indivíduo a aprender algum movimento e atuar junto com outros companheiros. Eles simplesmente se esmeraram em colocar exercícios os mais complexos possivelmente para impressionar a plateia. Puro exibicionismo de ADESTRAMENTO.                

Influência Desfavorável.  Nisto reside o que já tinha visto no 1º Simpósio, inclusive com diversos treinadores, o japonês Toyoda e o alemão Baacke. Felizmente, lá estava o melhor de todos, o também alemão G. Dürrwächter, a quem me associei na sua doutrina de “Aprender Brincando e Jogando”, título de um de seus livros publicados no Brasil.       

FeVA – Federación del Voleibol Argentino (ex- Federación Argentina de Voleibol). Muito tempo depois, em 2003, a Federação passou por sérios problemas que, inclusive, ocuparam o noticiário internacional, culminando com a intervenção da Fivb. Eis um resumo que consta do site da Federação argentina: “En agosto de 2003 la Federación Internacional de VolleyBall (FIVB) designó, para administrar de manera transitoria el voleibol argentino, a un denominado ‘Grupo de Trabajo’, formado entonces por Juan Ángel Pereyra, Eduardo Fernández, Miguel Marziotti y el Alejandro Bolgeri. A fines del mes de enero en la ciudad de Acapulco, México, el Consejo Directivo de la FIVB reconoció – ad referéndum del congreso de Porto, Portugal, en mayo -, a la Federación del Voleibol Argentino (FeVA) como único ente representativo del voleibol en la Argentina, hecho que fue rubricado por la Confederación Sudamericana de Voleibol reunión de febrero en Sacquarema, Brasil”.                     

História do Mini Vôlei (III)

 Mini Vôlei no Brasil e no Mundo (III)

6. A experiência sueca, por Jorgen Hylander.

Uma apresentação das escolas da Suécia e as maneiras de introdução do voleibol nas suas escolas pela Associação Sueca de Voleibol (SVBA).

Condições gerais. Uma sessão de educação física escolar tipicamente sueca tem 40 minutos de programação. Entretanto, existem alguns problemas, tais como: as crianças tiveram uma aula antes da sessão de ginástica; deslocamento para o ginásio; troca de roupas para as atividades esportivas; a atividade propriamente dita; banho (se possível); troca de roupas; retorno à sala; críticas dos demais professores por possíveis atrasos. Tempo efetivo de atividade: 20 min a 25 min.

Currículo das escolas públicas. O objetivo da educação é o treinamento físico normal para os alunos. Não há currículo detalhado e sim recomendações gerais. O professor planeja as atividades para o ano todo e divide-as em diferentes períodos. Os principais interesses do professor (basquete, vôlei etc.) determinam a escolha das atividades porque o professor é um especialista em seu campo. Partes principais de um currículo: ginástica de aparelhos; esportes de bola (basquete, vôlei, handebol, futebol, badminton e tênis, campo e mesa); pista e campo; cross-country; natação; esportes de inverno.

O primeiro argumento dos professores refere-se às dificuldades de começar o ensino antes da idade da escola secundária. A seguir, um exemplo de uma aula comum de voleibol numa escola sueca: participam de 25 a 30 alunos; existe uma quadra; normalmente uma bola; e o professor realiza o jogo 6×6 (voleibol); o restante é envolvendo atividades de bolas (se houver) na parede.

Problemas gerais nas escolas: os alunos estão em ordem cronológica, portanto, há diferenças de peso, altura, idade biológica, habilidade etc. Como individualizar? Dividir em grupos depois de determinar habilidade, altura, etc. Tudo isso significa pequenos grupos de atividade.

Lições para a escola primária. As primeiras palavras dos alunos são: “Queremos jogar”. Em geral querem o jogo 6×6, que é muito difícil; entenderão o jogo jogando; os jogos consistem em combinações 1×1, 2×2, 3×3, 4×4 e 6×6; inicialmente são ensinados o passe por cima, o saque por baixo e a manchete. Cortada ou bloqueio não são mencionados; resolver o problema da bola adequada, capaz de não provocar lesões às crianças e manter um jogo fluido; uma quadra adequada para fazer o sucesso dos jogos; tempo para as atividades recreativas depois de um dia escolar programado; quadras de voleibol e equipamentos em pátios escolares, ginásios etc.; cooperação entre escolas e clubes.

Formação dos professores. Professores primários são formados em dois anos e meio; professores de Educação Física em dois anos; a SVBA promove anualmente um curso central para professores (treinamento e recreação); os distritos da SVBA promovem cursos duas vezes na semana (eventuais); são realizados torneios entre professores durante o período de aulas (local, regional, distrital) envolvendo cerca de 1.500-2.000 professores; muitos professores fazem seu primeiro contato com o voleibol nesses torneios.

7. A experiência holandesa, por Jaap Tel

Mini vôlei na Holanda e seus problemas. O mini vôlei foi um sucesso no país desde o seu início; existe um campeonato nacional com 120 equipes participantes; desenvolveram-se dois projetos juntos – Trimactions e Mini-voleibol.

O livro “Movimento e Educação do Voleibol” mostra-nos as características do vôlei: dá a possibilidade de desenvolver a força, a resistência e a velocidade; desenvolve a coordenação, os movimentos, o senso de tempo e espaço; desenvolve o sentimento social e o trabalho de equipe. Por que o voleibol não se tornou popular em nosso país? Porque os fundamentos técnicos são difíceis de aprender; ele parece ser estático. O principal objetivo do nosso plano é ensinar a quantas crianças for possível os melhores movimentos usando o mini vôlei desde a idade suficiente para isso. Há dois objetivos secundários: criar possibilidades de jogar o voleibol de um modo recreativo e aumentar o número de jogadores para competição. Para alcançar esses objetivos devemos fazer uma espécie de livro-guia para todos os treinadores e professores. Nosso método é baseado no “método-total”, que pode ser encontrado na publicação acima mencionada. O importante quando se introduz o mini-vôlei é o movimento e fazer jogar o jogo e não os resultados técnicos. Esperamos que este plano traga-nos mais mini-jogadores e, mais tarde, jogadores juvenis. Muito embora já tenhamos 2.000 mini-jogadores, tentaremos alcançar todas as crianças em idade para o mini vôlei.

8. Alguns dados e conclusões sobre o desenvolvimento do mini-vôlei (ainda na Suécia), por Erik Skarback

Bola: peso (gr)/circunferência (cm)

Bola senior 270/66; mini-mikasa 200/83; plástica 150/64; espuma de borracha 110/63.

Número de jogadores 3 e 4.

Dimensões da quadra: 4,5m x 9m (pequena); 4,5m x 12m (profunda); 6m x 9m (larga); 6m x 12m (média); altura da rede 1,80m a 2,10m.

Método de ensino: jogos o tempo todo; primeiro exercícios técnicos (2/3 do tempo) e, depois, jogos (1/3); integração de exercícios (1/2) e jogos (1/2).

Observações:

Bola: a bola de espuma de borracha proporciona longas competições e um jogo intenso. A qualidade do jogo, entretanto, não é boa, porque a bola é muito leve. Ela é boa para a idade de 7-9 anos, especialmente para iniciantes. É boa também para o os iniciantes mais velhos, como preparação para bolas mais pesadas. E, ainda, para crianças que não tenham uma habilidade geral. Por isso ela seria muito útil nas escolas. A bola de plástico é melhor para 7-9 anos. A mini-mikasa é melhor para crianças acima de 10 anos. Crianças mais novas, especialmente meninas, acham-na muito pesada e dura para bater. A bola senior é a melhor bola para crianças acima de 12 anos. Uma coisa interessante, entretanto, é que ambas as bolas (mini-mikasa e senior) provavelmente podem ser usadas por idades mais jovens se as enchermos com menos ar do que o previsto normalmente.

Quadra: 3 x 3 é a melhor forma para o mini vôlei. A quadra “pequena” é utilizada para todas as idades, mas a “larga”, algumas vezes, é melhor para acima de 10 anos. Algumas indicações dão-nos conta que 4 jogadores numa quadra “média” é muito bom depois de um período de treinamento, quando já têm uma rotina suficiente para praticar movimentos táticos.

Rede: neste projeto, cada grupo de 7-9 anos usou redes de 1,80m e, os de 10-12 anos, 2,10m. Muitos treinadores acham a rede demasiado alta. Para jogos demorados e mais intensivos a rede deveria ser mais baixa. Quando o jogo é muito rápido e intenso, a rede deve ser mais baixa e, quando o jogo não é intenso, a rede deve ser mais alta. Entretanto, não podemos esquecer que este projeto diz respeito aos iniciantes na sua primeira fase. Provavelmente seria melhor que a rede ficasse mais alta quando o primeiro estágio fosse ultrapassado e as crianças já estivessem boas para ultrapassar a bola por cima da rede com técnica suficientemente correta. Não podemos ignorar o passo inicial. O jogo deve ser movimentado desde a primeira vez que as crianças tentarem fazê-lo, caso contrário acharão outros jogos mais atraentes. Jogos com bola devem ser intensos e atraentes desde o começo.

Método de ensino: experiências mostraram que 3 e 4 pessoas juntas num exercício cometem uma grande percentagem de erros. Exercícios 2 a 2 funcionam melhor. Crianças de 7-9 anos divertem-se mais no treinamento do que no jogo, enquanto que crianças mais velhas (10-12 anos) gostam mais de jogos do que de treinos.

Qualidade e intensidade são inversamente proporcionais? Uma conclusão dessa afirmativa poderia ser que não podemos exigir muitos passes e boa qualidade na iniciação do voleibol. Isto porque diminui a intensidade do jogo e o sentimento positivo em relação à essa intensidade é muito importante para a criança.

História do Mini Vôlei (II)

Mini Vôlei no Brasil e no Mundo (II)

Tema: Introdução Natural do Vôlei na Escola.

 

3. A experiência alemã, por Gerhard Dürrwachter.

Métodos de preparação, iniciação e aperfeiçoamento do mini vôlei.

É importante combinar o aprendizado tático – através de jogos – com os fundamentos básicos para os iniciantes: jogos de menor importância não motivam como faz um jogo internacional de voleibol e jogos de menor importância proporcionam uma maneira mais prática de ensinarem táticas. través dos jogos os alunos aprendem tática; aprendem a antecipar; aprendem a cooperar na defesa e no ataque; aprendem que o sucesso depende da cooperação e do mais fraco elo da cadeia; aprendem através de “tentativas e erros”, mas é necessário o ensino direto do professor; são motivados para a iniciação; entendem que é necessário aprender os fundamentos básicos através de exercícios; ganham experiências, motivação e intensificam seu interesse.

Estratégia de ensino. Sequência de pequenos jogos, como pegar e arremessar por cima da rede; passar por cima e segurar; voleibol com saques; mini voleibol e voleibol de acordo com as regras internacionais. Notem que é um exemplo real para as escolas; muitos jogos podem ser cansativos; escolher os pequenos jogos de acordo com a capacidade dos alunos. A principal idéia do voleibol real deve ser dada através de simplificações e não interromper o jogo por causa de pequenos erros, porque isto perturba o envolvimento emocional da criança com o jogo. Durante o jogo é melhor usar palavras em códigos ou sinais para esclarecer os erros e não permitir a continuação dos mesmos. Todos os fundamentos básicos devem ser explicados claramente.

Metodologia. Considerações e passos metódicos para os exercícios técnicos: é muito difícil ou impossível ensinar a técnica corretamente através de jogos; exercitar os fundamentos básicos separadamente; é impossível simular o jogo exatamente apenas exercitando os fundamentos.

Exercícios. 1) É possível determinar os objetivos e os métodos do exercício; 2) é possível modificar os objetivos e os métodos de acordo com o desenvolvimento dos alunos; 3) durante o exercício é possível aumentar ou diminuir a intensidade do mesmo; 4) durante o exercício a vontade de aprender é mais forte do que durante o jogo, especialmente se os alunos conhecem a finalidade do exercício; 5) os exercícios permitem um aprendizado mais apurado.

 ————————————————

4. A experiência alemã, por Manfred Utz.

O professor deverá planejar suas aulas de acordo com as habilidades dos alunos. Ele não deve considerar apenas os aspectos físicos, mas também os aspectos sociais e pedagógicos. A pesquisa tem mostrado que há quatro pontos a considerar: o objetivo do aprendizado; o conteúdo; métodos de ensino; controle do progresso do aprendizado.

Objetivo do aprendizado: o aspecto psicomotor inclui as habilidades básicas (força, velocidade de movimentos, resistência e suas combinações), fundamentos técnicos e táticos, a serem desenvolvidos até o grau máximo individual. Incluir o desenvolvimento da coordenação e reflexos, não somente para o jogo, mas para a vida em geral.

Efeitos (longo prazo): há um importante aspecto na cooperação que os elementos sociais do jogo transferem para a vida do indivíduo: aceitação das regras, aprender a comparar seu grau de habilidade em relação aos outros etc. Além disso, satisfazer a necessidade de jogo e encorajar a força de vontade para o sucesso das atividades de grande esforço e, assim, dar-lhes o senso de satisfação.

Aspecto cognitivo: a criança deve ter um conhecimento das regras, técnicas e táticas referentes ao voleibol.

Conteúdo: os movimentos básicos, como correr, parar, cair, rolar e saltar, devem ser desenvolvidos. Igualmente, a habilidade, flexibilidade, elasticidade, reflexo e velocidade de movimentos. Força e resistência não são tão importantes para as crianças.

No aspecto técnico há três elementos básicos a desenvolver: o passe por cima, a manchete e o saque por baixo. O elemento tático a ser desenvolvido é a percepção da quadra no momento de dar e receber o saque. As regras do mini vôlei devem ser ensinadas às crianças.

Método de ensino

Ensino formal e informal: o ensino formal é o melhor método de aprendizado de técnicas enquanto que o ensino informal é a melhor maneira de se aproximar das habilidades básicas como correr, saltar, etc. Escolhi o método formal, porque as crianças alcançam a meta mais rapidamente e o método informal torna isso muito demorado, fazendo com que as crianças percam o interesse pelo jogo.

Jogos com regras adaptadas ao jogo propriamente dito. Apesar de as crianças conhecerem os fundamentos básicos, isto não significa que elas podem jogar. Deverão praticá-los na situação de jogo, através de estágio a estágio.

Controle do progresso do aprendizado: é importante para o professor saber que ele alcançou sucesso através de seus métodos. Deve usar testes para os aspectos psicomotor, cognitivo e social. É importante também para a criança avaliar seu próprio desenvolvimento (aspecto pedagógico) em relação aos demais.

—————————————————–

5. A experiência polonesa, por Czeslaw Wielki.

Em seu método, o professor vê três possibilidades de realizar seus objetivos:atividades obrigatórias, atividades opcionais (atividades obrigatórias a escolher entre as diferentes formas de educação física) e atividades opcionais não-obrigatórias (a escolher entre a educação física e outras atividades culturais). Em todo o complexo da educação física e do esporte educacional distinguimos certos graus ou progressos: atividades motoras de base, atividades com regras simples, atividades específicas aos esportes escolhidos e prática dos esportes (competição).

Observações. Durante nossa experiência de diferentes atividades na escola primária os alunos mostraram interesse espontâneo pela prática do basquete e do handebol. A  despeito da habilidade motora natural entre 7-8 anos as crianças não se interessavam pelo voleibol porque o mesmo exige uma habilidade motora especial para executar o passe, o saque ou a cortada; no início, trabalhamos com crianças de 8 anos. Tínhamos atividades motoras que iam diretamente ao voleibol, prestando atenção na sua habilidade geral e objetivando uma habilidade mais específica; iniciando a prática, induzimo-las a pequenos jogos de maneira a dar-lhes uma habilidade psicomotora geral e específica apenas suficiente para iniciá-las nos elementos de base do voleibol. Posteriormente, passamos a uma formação de base onde desenvolvemos as bases específicas de todos os elementos técnicos do voleibol através de um trabalho mais sistemático, induzindo-as a vencer em “grupo” ou “equipe”, sem considerar, entretanto, a apreciação de uma técnica perfeita. Aos 15-16 anos, orientamo-las à especialização, induzindo-as a jogar baseado nas suas características somáticas; as experiências relacionadas com as atividades esportivo-motoras escolar induziu-nos a sincronizar o desenvolvimento psicossomático das crianças com os estágios de formação afim de jogar com sucesso como os melhores jogadores. Esses estágios são separados a fim de tornar a compreensão mais fácil. Na prática, estão integrados completamente:

Estágio 1 – Preparação preliminar (7-8 anos até 11-12 anos)… convite e iniciação.

Estágio 2 – Formação básica (11-12 anos até 14-15 anos)… aprendizado, aperfeiçoamento, orientação, especialização.

Estágio 3 – Treinamento (depois de 14 anos)… exercícios leves (escolar), exercícios pesados (total).

—————————-

Na última postagem sobre o tema “Introdução natural do vôlei na escola” trarei para vocês os comentários das experiências suecas com Jorgen Hylander e Erik Skarback, e do holandês Jaap Tel. Aguardem.

História do Mini Vôlei (I)

Mini Vôlei no Brasil e no Mundo

Fazendo parte da História do Voleibol, o mini vôlei vem se desenvolvendo pelo mundo, muito embora no Brasil não tenha tido maiores estímulos. Reapresento aos leitores uma cópia dos textos postados no início dos anos 1990 em meu antigo endereço da Internet: http://users.urbi.com.br/pimentel/mini.htm. Trata-se da primeira experiência em tornar público os Anais do 1º Simpósio Mundial de Mini Voleibol realizado na Suécia em 1975 patrocinado pela FIVB. E, de alguma forma, contribuir para a sua difusão no Brasil. Na sequência dessas três postagens trarei o relato de alguns professores renomados que lá estiveram realizando palestras.

PROJETOS (Quem faz)

  • Cursos e palestras para professores
  • Iniciação ao vôlei: princípios e métodos
  • Introdução do voleibol na escola
  • Mini vôlei
  • Festival de mini vôlei
  • A escola na praia
  • Treinamento de duplas de praia
  • Treinamento indoor 

Educação. O apoio à Educação concentra-se em ações que visem à melhoria do ensino no país, canalizadas através de quatro possíveis linhas principais:

  • Aperfeiçoamento de professores
  • Elaboração de materiais didáticos
  • Produção científica
  • Modelos alternativos de escolas

Considera-se, na análise desses projetos, a abrangência e a capacidade multiplicadora das ações propostas no universo da rede de ensino. Essas ações estarão voltadas para projetos de pesquisa ou relacionadas ao ensino de 1° e 2° graus, com evidente empenho a nível superior, mercê da atuação e pesquisas na área universitária. Num passo à frente, iniciativa conjunta com organismos internacionais objetivando estimular o intercâmbio entre pesquisadores de vários países.

Roteiro & Informações. É possível solicitar a confecção de projetos isolados na área de voleibol ou inseridos em programas especiais da sua entidade. Pedidos podem ser encaminhados ao autor em qualquer época do ano. Devem demonstrar o empenho de viabilizar o projeto mediante aporte financeiro ou, ainda, mobilização de esforços institucionais ou comunitários.

———————————————————————-

Anais do 1º Simpósio Mundial de Mini Vôlei, Suécia, 1975.

Tema: Introdução Natural do Vôlei na Escola

1. A experiência francesa, por Raymond Cassignol.

O ritmo e suas implicações filo-psico-sócio-pedagógicas.

Filosofia: Ajudar o indivíduo a ser harmônico e satisfeito consigo mesmo.

Livre amplitude de movimentos, a respiração rítmica com o esforço muscular.

Movimento: qual movimento? Em que direção? Com qual energia? Com qual duração?

O ritmo pode ser regular, irregular, livre e variável. O ritmo deve ser obtido ou desenvolvido.

Aplicação no voleibol: O conhecimento de seus próprios limites permite impulsionar estes limites.

A melhor coisa não é comunicar sua riqueza aos outros, mas alcançá-la por si próprio.

Combinações: espaço movimento direto, movimento em curva; duração vagarosa ou rápida; energia forte ou leve; participação no trabalho dos pés; coordenação de braços e pernas e integração com a bola.

Métodos de preparação, iniciação e aperfeiçoamento do mini vôlei. No filme exibido foi mostrado um novo método para ensinar voleibol, o trumpet method. Três são as razões para se usar este método: muito atraente; quando os meninos ouvem a trombeta eles se movimentam; as crianças executarão os passes de voleibol; é recreação com música. Terão tempo para a ação e para a recreação. Esse método é interessante porque os alunos criam seus próprios movimentos. O voleibol deve ser ensinado na escola ou deve haver escolas especiais para ensinar voleibol? Ambos os sistemas são eficazes: o voleibol é um dos jogos mais educativos entre os jogos coletivos; o voleibol é apresentado como uma coisa séria, não um jogo; ele pode ser descrito como sujeito a uma espécie de escola; num clube pode-se ter mais aulas e a prática do voleibol. Os 5 estágios do método significam o aprendizado total do voleibol: 1° estágio (1×1); 2° estágio (1+1) x (1+1); 3° estágio (3×3) senso de coletividade; 4° estágio (3 + 1); 5° estágio (6×6).

Observações que o método sugere: trabalhar com diferentes materiais ao mesmo tempo; se um aluno está fraco ou atrasado no crescimento ele não é posto de lado; um mínimo de programa comum pode ser aplicado durante 3 anos; cada indivíduo deve estar consciente da sua própria importância, ainda que se encontre fora da equipe como mero observador, árbitro ou reserva; o professor deve ter uma estrutura aberta com a turma; não deve contar somente com um membro da equipe, mas com todos.

2. A experiência italiana, por Gianfranco Briani.

A idéia principal é proporcionar divertimento, ao mesmo tempo em que são dadas as instruções. Depois de serem estabelecidas as principais regras e de estudados os métodos de preparação, os aspectos fisiológicos etc., resta estabelecer a organização do mini-vôlei. Os programas podem ser diferentes de país para país, mas o que se pergunta é: Quem deve organizar o mini-vôlei? Seriam a Federação, os clubes, alguma instituição, ou as escolas? Qual a melhor solução?

A Federação italiana entendeu que o melhor caminho seria através das escolas. Por esta razão, procurou-se adaptar o mini-vôlei ao programa das escolas primárias e, assim, a escola é diretamente responsável pela introdução das suas principais características. Este caminho ocasionou problemas de ensino e, por isso, a Federação deu-lhes as seguintes escolhas: a Federação dá às escolas as regras do mini vôlei, planos de trabalho com exercícios técnicos típicos, diferentes exercícios de força, ritmo, número de repetições, dificuldade etc. Todos adaptados à idade e ao grau das crianças. Ou, então, procurar exercícios e jogos que, por tradição, são sempre incluídos nos programas das escolas e que são conhecidos pelos professores, com a finalidade de engajar todos os alunos de uma mesma classe ao mesmo tempo. Os alunos precisam continuamente de técnicas cada vez maiores. E por certo, os professores deverão acompanhar este nível de exigência. As orientações dadas aos professores das escolas originam-se de publicações, palestras, material a ser empregado etc. Mas estes são aspectos gerais e não exatamente planos para o mini vôlei. As experiências de jogos 2×2 em quadras de 3m x 3m têm tido sucesso, porquanto jogos de duplas (ou mesmo trincas) não requerem alunos extremamente treinados. O maior espaço a ser utilizado contribui para que todos pratiquem ao mesmo tempo. Além disso, as orientações fornecidas são no sentido de que haja continuidade no jogo e, para tal, a simplificação das regras deu excelentes resultados. Certamente, seria melhor ter professores especializados em mini vôlei, mas nada impede que outros professores dêem as primeiras instruções de voleibol às crianças de 9-11 anos, jogando com regras simplificadas, 2×2, 3×3 ou 4×4. Nas escolas italianas o voleibol é um dos quatro esportes obrigatórios, ao lado do atletismo, da ginástica e do basquete, os quais permitem tomar parte nos Jogos da Juventude, uma manifestação nacional que é um verdadeiro campeonato escolar, reservado para alunos da escola secundária (12-14 anos). Como informação adicional, o campeonato da Federação começa com a idade de 14 anos.

Na próxima postagem estarei convidando dois professores alemães –  Gerhard Dürrwachter e Manfred Utz – além do professor polonês, Czeslaw Wielki, que dissertaram sobre o desenvolvimento do mini vôlei em seus países. Devo dizer que todo o meu empenho em relação ao mini deveu-se em grande parte ao conhecer o trabalho do professor G. Dürrwachter e receber dele um segundo livro a respeito da Iniciação e Formação de jogadores. Infelizmente, não consegui traduzi-lo do alemão.

1º Curso de Mini Vôlei no Brasil

Palavras-chave:  História do mini vôlei. Curso de capacitação. Esporte e educação. Iniciação esportiva.

Curso de Capacitação e Atualização. Tomarei como exemplo os cursos que proferi em Recife (PE), em 1974, quando prestando serviço terceirizado ao SESI Nacional em excelente programa de Iniciação Esportiva, que se estendeu de 1972 a 1977 sob o tema “Esporte é Educação”. No primeiro, as aulas se estenderam por longos 45 dias nos meses de janeiro e fevereiro. O outro, no mesmo ano, com 30 dias de duração, agora no mês de julho. Aulas de 60 min, duas vezes na semana para três turmas.

A principal característica recaía na capacitação/atualização de professores e acadêmicos de Educação Física simultaneamente às aulas práticas com crianças. Além delas, ministrava duas aulas teóricas por semana. A grande proposta do SESI era a perenidade das ações. Assim, caberia aos instrutores do curso designar professores locais para a continuidade das aulas. Nesse intuito os candidatos se inscreviam no curso, recebiam gratuitamente uma atualização de seus conhecimentos e concorriam a um emprego. Além, é claro, ao certificado de curso. Na maioria dos casos, recebiam também apostilas da matéria.

Lidando por tanto tempo com o grupo, tendo conhecido seus professores de universidade e principais técnicos de clubes da cidade, frequentado seus treinamentos e participado do curso ministrado pelo japonês Imai (em Recife), não pude deixar de fazer um juízo com relativo grau de confiabilidade acerca das potencialidades dos professores pernambucanos.

A respeito do japonês Imai, chegou ao Rio em agosto/73 trazido por Nuzman, então presidente da federação carioca de voleibol, para realizar cursos básicos para treinadores. Foram estendidos para todo o país em diversas capitais. Participei do primeiro, inclusive compus uma apostila (com fotos), que depois enviei exemplares para Recife, não só para os professores do SESI, como para os demais participantes do evento da federação pernambucana. Anos mais tarde, Imai seria auxiliar de Josenildo (professor e técnico pernambucano) no Banespa, em São Paulo.

Voltemos então ao curso no SESI. Conheça o relato dessa inesquecível experiência que consignei com muito orgulho nas páginas do livro sobre a “História do Voleibol no Brasil” no prelo.

Centro do Ibura, Recife (PE) – Em janeiro de 1974 fui convidado a fazer parte da equipe de professores (terceirizados) no Rio de Janeiro que auxiliavam na promoção dos cursos de iniciação e atualização em diferentes Centros Esportivos da entidade. Mais especialmente, no Nordeste. Nesta primeira e inesquecível experiência tivemos a ajuda e a participação inesperada de um colega de universidade e professor de judô. O destino era o Centro do Ibura, nos arredores do aeroporto de Guararapes, em Recife. Fui presenteado antes mesmo do embarque com um pequeno recorte de revista, rasgado, que informava ao leitor sobre uma forma de aproveitamento de espaço para o ensino do voleibol para iniciantes: “vôlei em campo pequeno”. O recorte não tinha mais do que dois períodos de texto, mas um providencial croqui sobre aquela forma de dispor os campos num ginásio ou espaço equivalente. Na viagem fui refletindo como poderia dispor os alunos e construir uma metodologia pertinente para os professores que fariam o curso de monitores. Em Recife o Centro estava ainda em obras não tendo sido inaugurado. Isto contribuiu para que, junto com o gerente, pudéssemos esquematizar como construir os postes removíveis que imaginara para a confecção das pequenas quadras de jogo. Aproveitamos tubos de PVC e construímos as bases com discos (30cm) de concreto. Os postes não receberiam redes, mas sim cordas: furamo-los a 2,5m de altura, e uma única corda foi perpassada, do primeiro ao último, compondo várias miniquadras, no sentido longitudinal de uma quadra (de tabela à tabela). A marcação improvisada com giz ou carvão deu o toque final às medidas dos campos de jogo. E por fim – metodologia e pedagogia – foram produzidas em curtíssimo espaço de tempo, ou simultaneamente às aulas, de acordo com a imaginação: “Fiz-me criança e dei vazão à criação”. Quando do retorno, descobri na biblioteca do Sesi artigo elucidativo daquele que considerei guru e orientador neste trabalho precursor, o alemão Gerard Dürwächter, com quem me encontrei um ano depois, na Suécia, durante o 1º Simpósio Mundial de Minivoleibol patrocinado pela FIVB. Empolgado pelas aulas e receptividade das crianças, aprofundei as leituras, tendo desenvolvido, então, um curso didático para professores, estabelecendo métodos e caminhos a perseguir na iniciação do vôlei, dando-lhe característica diversa à preconizada pelas universidades e mestres de plantão. Além de ocuparmos mais alunos por classe, as aulas passaram a ser muito mais dinâmicas, alegres e ruidosas, despertando a atenção e atraindo mais adeptos para o esporte. Realizei no mesmo ano, em julho, ainda no Ibura, um segundo curso, com outros professores, consolidando o método. Produzi todo o planejamento e material didático em diapositivos, que permitiram maior criatividade nas aulas e demonstração do método simultaneamente por toda a equipe do Sesi em outros locais. Tornou-se destaque e sucesso absoluto! De quebra, credenciou-me a participar de simpósio mundial no ano seguinte por conta da entidade.