
Sob extenso título “Caracterização e representação dos treinadores acerca da formação de treinadores de Voleibol em Portugal” (*) acabo de tirar valiosas informações a respeito do que ocorre no dia a dia nos ginásios portugueses. Trata-se de um excelente trabalho que me proporcionou uma visão de como pensam e agem os principais agentes desse vasto cenário. E de que forma influenciam gerações de jovens atletas. E mais, desnuda o acesso à sua formação, tanto no sistema desportivo (a Federação Portuguesa de Voleibol) , como pelo ensino superior, tratando que compartilhem o conhecimento. O texto pode ser visto no site da ANTV – Associação Nacional de Treinadores de Voleibol (www.antvoleibol.org/index) ao qual tive a curiosidade de ler e recolher os comentários a seguir, uma vez que há muito me interesso pelo voleibol em Portugal e venho dedicando vários textos no sentido de evoluírem na sua formação, especialmente dos treinadores. Aliás, como bem podem ver no texto final do Resumo da pesquisa, “O trabalho com treinadores experientes e a própria experiência são os fatores mais valorizados”. A par de tudo isto, veremos sem surpresa alguma que no Brasil não é diferente, apesar de termos posição privilegiada no ranking internacional da Fivb.
Metodologia, instrumento e procedimentos estatísticos
Da amostra deste estudo fizeram parte 231 treinadores que exerceram a sua atividade durante as épocas de 2003 e 2005. Os 231 questionários recolhidos correspondem a 47,7 % dos treinadores de Portugal (continente e ilhas dos Açores e Madeira), provenientes de um universo de 484 treinadores ativos (fonte da FPV, 2004). Os treinadores são formados ou equiparados pelos cursos de treinadores da Federação Portuguesa de Voleibol, os quais permitem o exercício da atividade no país.
Resumo. “Os resultados evidenciam que o treinador é prioritariamente jovem, com formação específica, passado alargado na modalidade como atleta e poucos anos de experiência como treinador, auferindo um vencimento, que se revela entre o escasso e o regular. Na formação contínua registram uma preferência por cursos breves e consideram a parte prática insuficiente”.
Nos objetivos do estudo destacam-se três pontos: 1º) a caracterização biográfica do treinador; 2º) a formação de treinadores em relação às condições de acesso, formação específica, estratégias de formação e entidade responsável; 3º) suas necessidades de formação e identificação dos fatores mais relevantes no exercício da função. Estarei me atendo a este último ponto: formação, necessidades e fatores relevantes.
Percepção dos treinadores sobre a formação obrigatória: a prática
A duração da componente prática é considerada insuficiente reforçando a ideia que os treinadores consideram-na pouco valorizada nos cursos de Formação, apesar da importância atribuída à vivência prática de situações de aprendizagem nos cursos da espécie, uma vez que permitem uma melhor compreensão e assimilação dos conteúdos abordados. Em crítica, alguns treinadores experientes consideram que o conteúdo, não raramente, é apresentado de forma excessivamente teórica e descontextualizado. Todavia, convém referir que não são os conteúdos que devem ser questionados, na medida em que a evolução do desporto requer cada vez mais uma abordagem científica, mas sim a sua contextualização, isto é, a relação entre o texto e a situação em que ele ocorre.
Comentário: Neste momento os autores talvez levem o leitor a confundir evolução, conhecimento e ensino. A abordagem científica em questão deverá se referir tão somente à forma de ensinar – metodologia – onde se inclui igualmente a pedagogia. Certamente a universidade portuguesa forma professores mais bem preparados em termos de informações do que, p.ex., no Brasil. Contudo, não conseguem transmitir aos seus aprendizes o conhecimento inerente à prática do voleibol com a mesma eficiência. Onde está a solução numa matéria tão simples? Cremos que devamos nos reportar aos artigos que postamos a respeito da “Arte de Ensinar”. Possivelmente no Brasil poderíamos dizer que a diferença está “no jeitinho brasileiro de ser”! Em suma, nem as universidades e tão pouco os cursos oficiais de treinadores oferecidos pela FPV conseguem alterar o quadro de estagnação a que estão submetidos em termos de prática de ensino do voleibol. Até porque, parece-me à distância, agentes educacionais titulares de universidade compõem também o quadro técnico da Federação. Treinadores com mais tempo dedicado ao voleibol estão preocupados primeiro em manter o seu salário e isto requer muito esforço e dedicação. Em muitos casos, queixam-se da má formação dos atletas a partir dos escalões inferiores. E quem são esses treinadores das equipes em formação? Que conhecimentos e vivência têm? Aliás, a indagação mais contundente seria: “Quem sabe ensinar”? Provavelmente a FPV gasta fortunas com treinadores estrangeiros na direção de suas seleções, em cursos com franceses e italianos, e em que isto acrescenta ao voleibol português? Promovem o êxodo dos melhores atletas para países da CEV e se esquecem de FORMAR verdadeiros atletas desde a base. Melhor seria que fechassem tudo e recomeçassem do zero.
Necessidades dos novos treinadores
1. Reconhecem ter muita necessidade nos aspectos específicos da modalidade como a técnica e a tática. Contudo, diferentemente do que afirmam alguns autores, o domínio do conteúdo da modalidade não é condição suficiente para o sucesso, porquanto por melhor gestor que seja, e por mais conhecimento que possua, só terá sucesso se souber ensinar e, Ensinar é uma Arte.
2. Demonstram necessidade de formação nos aspectos relacionados com a metodologia e controle (desenvolvimento) de treino dos seus atletas. A maior importância demonstrada pelos treinadores incide no trabalho com treinadores experientes, logo seguida da valorização da sua própria experiência.
3. Os treinadores esperavam que a formação específica se efetuasse no seio do sistema desportivo. Em estudos com treinadores de diversas modalidades defende-se que a formação inicial deve ser específica e realizada em cursos teórico-práticos com preletores especialistas atribuindo pouca importância à necessidade de um passado desportivo. Evidenciam a importância conferida pelos treinadores referenciados, à assistência de jogos ao vivo, discussões com outros treinadores e observações de jogadores em competição, conjuntamente com a reflexão sobre a sua própria experiência, nomeadamente o seu processo de formação permanente.
Eis aqui, então, o valor do Procrie, um blogue em que é possível a qualquer indivíduo realizar reflexões e comentários relativos ao aprimoramento do ensino. Vejam que para “furar” este verdadeiro bloqueio estou me imiscuindo em escritos da Associação Nacional dos Treinadores de Voleibol de Portugal. Querem mais?
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