Paideia?
As contribuições trazidas pela Pedagogia Freinet para a educação se traduzem pela filosofia, pela educação e pela prática. Suas técnicas pedagógicas trouxeram sentido às aulas tornando esta uma atividade prazerosa e significativa para os alunos. O papel do professor dentro dessa proposta se alicerça na junção da prática para a vivência, criando relações para que sejam desenvolvidos a cooperação e o respeito. (Dra. Luciana Faleiros Cauhi Salomão)

A Formação da criança
Todos nós professores conhecemos muito bem o que seja uma aula de futebol em milhares de escolas do Brasil. Não é preciso ir longe para presenciar dois aspectos: o primeiro, aquele em que o mestre fornece a bola e os alunos decidem o resto; o outro, quase sempre em um clube de formação, com aulas pagas pelos responsáveis, com crianças submetidas a um verdadeiro adestramento, com táticas e regras insubstituíveis, impostas à força. Não muito distante em termos de ação pedagógica (ou a sua falta), tentem frequentar igualmente uma aula de voleibol – meninos ou meninas -, e vejam a possibilidade de tirar algum ensinamento positivo desse martírio a que são submetidas as crianças.
Por que é assim? Seria descaso dos docentes ou total desinformação metodológica e pedagógica dos mesmos? Não teriam uma formação científica adequada para contemplar tais quesitos? Que ex-atletas o façam até entendo, pois muitos deles não tiveram estudo suficiente, mas os professores de Educação Física? Seriam os cursos universitários tão deficientes?
Diz-se que ensinar é uma arte, e arte não se ensina. Ainda assim esforço-me uma vez mais nesse sentido, dando início à coleta de informações que podem abrir o horizonte dos professores e contribuir para que se desenvolvam na sua missão da melhor maneira possível. Comecemos pelas crianças ainda em idade maternal e, a pouco e pouco, acompanhemo-las por toda a sua vida. Imagino que ao término, perceberão por que alguns atletas de alto nível, especialmente os de voleibol, têm imensas dificuldades no seu trabalho e, chegado a um ponto, não mais se desenvolvem e convivem com suas deficiências. Como teriam sido eles tratados desde sua infância em termos de Educação do Movimento? Para responder a esta questão, acompanhem-me nos retalhos e fragmentos que colhi em Le Boulch, lembrando que deverão ser discutidos, e não aceitos. Boas leituras!
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Pedagogia Freinet – Fragmentos de uma descrição da pedagogia Freinet e de suas concepções sobre a utilização do movimento na formação a partir do enfoque de uma pedagogia do “ser global” que é a criança.
A criança a quem é permitido expressar-se livremente se expressa tanto ou até mais fisicamente do que pela palavra. E explica: “Quando uma experiência é bem-sucedida no decorrer do tatear, ela cria como que um apelo à potencialidade e o indivíduo experimenta a necessidade de repetir esse ato bem-sucedido até que ele possa fazer parte do automatismo”. A atmosfera da alegria das sessões certamente contribui para a criação. Assim, quando a ocasião se apresenta, quando a forma e o ritmo da evolução se prestam a isso, começo a cantar uma música ou cantiga conhecida ou não.
Todos nós temos um ritmo interno (temperamento), a criança também. Em primeiro lugar é preciso levá-la a conscientizar-se de seu ritmo e, a seguir, evoluir livremente. Exatamente como na sala de aula, onde deixamos que ela se exprima livremente para que tome consciência de suas possibilidades de linguagem, apresentando a seguir do texto de um autor.
É importante respeitar o ritmo de cada criança – Cada criança tem um ritmo próprio que é preciso respeitar, não somente por sua originalidade, mas também em virtude da maturação dos centros nervosos que se realiza e que não é idêntica, nem no mesmo grau, em todas as crianças.
O cerne do problema
A parte que cabe ao mestre – “O que importa é o trabalho de tatear efetuado pela criança, muito mais do que a resultante desse trabalho – a aquisição de habilidades motoras. Portanto, é um grave erro pedagógico querer acelerar os processos de aprendizagem por meio de uma ação intempestiva e invasora. O papel do educador é o de suscitar, de favorecer as tentativas, os erros e o ajustamento, e não o de substituir o mecanismo particularmente educativo desse processo adaptativo por suas técnicas”. Tocamos aqui no cerne do problema: a parte que cabe ao mestre. É preciso propor, não impor, porém é preciso propor à criança no momento oportuno, no momento em que ela estiver sensibilizada, pronta para receber; aí está a parte do mestre. Parte delicada, sem dúvida.
Pedimos que faça uma breve reflexão e relembre como foram os seus tempos escolares, especialmente no que trata a Educação Física. À luz do que está escrito acima, e além do que aprendeu durante sua vida, escreva pequeno comentário com suas impressões. Ficaremos muito felizes por tamanha contribuição e um incentivo a continuarmos por este caminho. Desde já, muitos obrigados!
Ensinar é Contar Histórias
Na escola de meus filhos, um cenário corriqueiro promovido por professores. Eu, à espera do término da aula, aguardo em silêncio, mas impossível de não observar múltiplos erros pedagógicos. De um lado, o de basquete para alunos de 10 a 15 anos; na quadra ao lado, o voleibol feminino, na mesma faixa etária.
- Basquete – Uma aula de talvez 60 min, estava reduzida pela exposição inicial do professor, que custou 20 min, um terço dela; nos exercícios em movimento com passes de bola em duplas compostas de alunos com idade e complexão física distintas.
- Voleibol – Alunas colocadas a jogar livremente, mas com olhar de ver do professor a toda e qualquer intervenção – não para aplaudir, mas acentuar o erro. Então, coisa normal em principiantes, a todo instante a mesma correção do gesto de toque na bola: “dobre as pernas, … dobre as pernas,…”. Aquilo me impulsionou a ajudá-lo, e surpresa, submeteu-se de bom grado. Então disse-lhe: “quando o professor repete inúmeras vezes o mesmo erro, é sinal que as alunas ainda não entenderam o porquê disso ou daquilo correto, isto é, a boa técnica de execução daquela habilidade. Hão de convir que pela voz do professor não conseguirão aprender. Resta então, suprimir a atividade e trocá-la por outra conceitual.
- Pedi a ele que oferecesse bolas de basquete e que fizesse uma breve competição numa das tabelas de basquete, livremente. Ficamos distantes alguns metros, a perceber o que, e como as alunas enfrentavam aquele desafio. Ora, ao competir, desapegam-se de “como fazer” os movimentos corretos, mas simplesmente por intuição e tempestivamente. Nesses instantes, no afã de vencer o jogo, começam a se auto observar quando erram, para não fazê-lo novamente. Dessa forma, começam a agir de forma a pensar o que fazer para se corrigir e não errar.
- Enquanto assim procediam, dizia para ele: “o que você está vendo”? A primeira resposta foi “um grupo de alunas tentando encestar as bolas”.
- Então, abri-lhe os olhos e a mente… a) não olhe para as bolas para ver se acertaram na cesta, mas sim se estão dobrando as pernas, uma vez que para lançar bolas pesadas não basta o impulso dos braços. Elas descobrirão isso por elas mesmas, é intuitivo”.
- Mas, no voleibol não precisa tanto! Ora, por que então estava você dizendo “dobrem as pernas”? Todavia, o mais importante é que os registros (*) em seu cérebro se consolidarão pela repetição e, melhor do que isso, asseguram na memória motora para uso em outras oportunidades, pois jamais esquecerão o “conceito do movimento” e como resgatá-lo em outras circunstâncias. Com isso, aprimoram sua técnica atual e futura com novos insights, que jamais esquecerão! Este, o fator da criatividade, como o cérebro flexível concebe novas ideias. Nessas oportunidades você se pergunta: “como consegui fazer isso se nunca treinei”?
- Algum tempo depois, fora do ambiente escolar, confessou-me… “Você fez por mim a melhor coisa; não ensinar exercícios para isso ou aquilo, você foi direto ao ponto, ou seja, Ensinou-me a Pensar!
- De onde advém…,”Como ensinar crianças pequenas a pensar” ?

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(*) – Atualmente, com o desenvolvimento da novel Neurociência, denominada rota mielínica.
Jogo infantil Labirinto. Descubra o que venha a ser o conceito que cada atividade exprime silenciosamente. A partir daí, se a criança tiver alguma dificuldade nunca dê a solução para contorná-la. Apele para Vygotsky, e sua ZDP, ou Robert Bjork, sobre o conceito de ponto ideal de desenvolvimento. Como atingi-lo?
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