Primeiro Grande Passo

Alunos do Ensino Fundamental assistem e participam das aulas no Colégio Batista, Rio de Janeiro.

O Professor e a Escola  

Um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência. (Henry B. Adams)   

O que acontece no cotidiano das escolas, mesmo a mais bem apetrechada, com poucas dificuldades? Como são formados e que preparo tiveram os professores de Educação Física? Como se desenvolvem as aulas de Educação Física? Seriam negligenciadas pela maioria dos educandários no Brasil? E as famosas “escolinhas”?  

Quer me parecer que as respostas a essas indagações podem ser investigadas a partir da figura principal: o professor.  

As “escolinhas” referenciam um determinado desporto com poucos alunos. Trata-se de uma atividade extracurricular e com pouca imaginação, e pouco rentável, embora se atribua a ela uma remuneração à escola e ao professor. Mas por que este mesmo professor não desenvolve um trabalho qualitativo com as suas classes? Por que a maioria não deseja aprender ou praticar? Será que o professor conhece uma pedagogia em que possa transformar um aluno reticente no aprendizado em um entusiasta desta ou daquela atividade? Qual o interesse do professor? O fato é generalizado em todo o Brasil: professores mal preparados em Pedagogia nunca conseguirão atuar no seu mister com um mínimo de qualidade. O detalhe é que não conhecem e pouco se interessam por tais estudos e as universidades em que são formados menos ainda. Estarão fadados ao insucesso e, com isso, arrastando legiões de alunos para o inconformismo com a atividade física, uma vez que o professor não conseguiu despertar o seu interesse. Quer uma prova? Indague a uma amiga como foi sua atividade física na época da escola. Invariavelmente, todas terão a mesma resposta: “Foi frustrante”! Aqui se aplica a influência negativa de que nos lembra Henry B. Adams, “um professor afeta a eternidade, ele nunca sabe em que ponto cessa sua influência.”  

Psicologia do Trabalho do Mestre  

(Com base nos livros Psicologia Pedagógica, Vigotski, L.S.; e O Código do Talento, Daniel Coyle)

A pesquisa que deveria estar sempre presente no cotidiano escolar deveria ter como objeto o desenvolvimento da criança, particularmente o seu desenvolvimento mental, que se realiza em função da aprendizagem, da atividade. E, pelo que se sabe atualmente, o pensamento é uma das funções mais importantes nessa fase da idade escolar. Como a criança estabelece a causa, a relação e a dependência entre as representações? Como investigar a relação entre os processos de desenvolvimento e aprendizagem?  

Memória e Treinamento. Várias teorias foram defendidas por psicólogos eminentes para responder a tantas indagações no século passado. Entretanto, surgiu agora uma outra teoria já explicitada resumidamente no artigo “O Circuito do Ensino” (9.2.2011) sobre o treinamento profundo, ou um treinamento com qualidade.  Neste momento entra em cena o sueco Anders Ericsson, nascido em 1947 num subúrbio de Estocolmo. Ao longo dos anos sua curiosidade levou-o a pesquisas na área de psicologia em meados dos anos 1970, no Royal Institute of Technology. Nessa época o mundo estava mudando. Em universidades na Inglaterra e nos Estados Unidos, uma revolução cognitiva estava em curso, liderada por psicólogos, especialistas em inteligência artificial e neurocientistas. Todos os dados convergiam para o que Ericsson procurava: um território inexplorado. O que era o talento? O que tornava indivíduos de sucesso diferentes do resto de nós? De onde vinha a excelência? Ericsson conseguiu demonstrar que a memória de curto prazo, ao contrário dos dogmas mais sagrados da psicologia, não é uma faculdade inata, fixa e limitada. A memória pode ser aumentada pelo treinamento. Se a memória de curto prazo não era limitada, o que tinha limite?  

Medindo a prática. Assim, concluiu que todas as habilidades humanas conhecidas eram uma forma de memória. Por que não seriam todas suscetíveis ao mesmo tipo de treinamento?  No entanto, se as pessoas são capazes de transformar o mecanismo que intervém no desempenho por meio do treinamento, então “se trata de um espaço inteiramente novo”, concluiu. “É um sistema biológico, não um computador; pode construir a si mesmo”, acrescentou. E assim Ericsson iniciou sua odisseia de trinta anos pelo reino do talento. Lembrando que ele era psicólogo, não neurologista, e a imagem de ressonância magnética com tensor de difusão ainda não tinha sido inventada. Em vez disso, ele estudou o processo do talento de um ângulo igualmente vital: mediu a prática. Ou melhor, mediu o tempo e as características dessa prática.  

Nos próximos artigos sobre o assunto comentaremos o trabalho de Coyle a respeito da habilidade de ensinar excepcionalmente bem, um talento como qualquer outro. Aguardem!

Lesões e Receitas de Treinamento no Voleibol

Duas manchetes despertaram-me a atenção recentemente logo após ter realizado uma intervenção no blog do Arlindo Lopes Corrêa a respeito de lesões no voleibol. Vejam as notícias em ordem cronológica de postagem:

Com 2,01 m, cubano de 15 anos vira “estrela” na Liga Mundial (24.7.2009)
“O vôlei ganhou um menino prodígio. Com apenas 15 anos e 2,01 m de altura, o cubano Wilfredo Léon Venero é um dos destaques da Liga Mundial, e no momento lidera a estatística de melhor pontuador da fase final da competição. (…) Sempre jogou em categorias superiores a sua idade e com 14 anos estreou na seleção adulta”. (Terra)

Marcel Gil: o gigante português (7.11.2009)
Existirem jogadores brasileiros de voleibol com mais de 2 metros não é surpresa nenhuma. Agora, que um dos dois atletas mais altos do Campeonato Nacional seja português, aí sim é surpreendente. Marcel Gil, de 19 anos, ostenta esse protagonismo na competição e com 2,05 m só há mais um jogador: o brasileiro Gilson França, do V. Guimarães. (www.sovolei.com)

Acompanhem alguns trechos de nosso diálogo:

Blog do Arlindo: Durante alguns anos Nalbert foi, nas quadras, talvez a peça mais importante da vitoriosa seleção brasileira de voleibol. Aos 28 anos, porém, sofreu lesão dos tendões e operou os dois ombros, resultado da fadiga causada pelo ritmo de jogos/treinamento a que estão submetidos os atletas de hoje. Nossa seleção perdeu prematuramente um de seus principais astros de todos os tempos. Nalbert tentou voltar ao voleibol indoor, Bernardinho incentivou-o, mas não deu para manter o nível qualitativo habitual de seu jogo e o jeito foi resignar-se ao voleibol de praia.

Roberto Pimentel: Há muito, em conversa com professor e técnico influente no voleibol de alto nível, indaguei sobre a prevenção de lesões ocorridas em atletas de nossas seleções principais, pois também me preocupava que não houvesse um estudo sobre o assunto. A impressão que me foi passada foi: 1) as mazelas seriam varridas para debaixo do tapete, não deveriam aparecer; 2) a moderada atividade física realizada em salas de musculação seria suficiente para prevenir lesões; 3) os atletas já chegavam à seleção lesionados, atribuindo-se velada culpa ao procedimento nos clubes de origem; 4) não havia tempo para sua recuperação.
Ao longo da história de nossas seleções tivemos conhecimento dessa prática. Com certeza, os técnicos, ou eram pressionados, ou aplicavam o dito popular, “ruim com ele, pior sem ele”. Foi assim nas Olimpíadas de 1964, quando viajaram somente 10 atletas, sendo que pelo menos um deles lesionado e durante os jogos, ficaram reduzidos a 6 atletas. O fato se repetiria vinte anos depois nas Olimpíadas de Los Angeles. Os interesses falavam muito mais alto do que o zelo pela saúde. Algum tempo depois, um jovem atleta (Shanke?) da seleção brasileira saiu da quadra em pleno jogo e foi levado diretamente para cirurgia de mão com problemas de circulação sanguínea. Afastou-se do voleibol.

Medicina esportiva

Encontrei algumas referências sobre estudos de lesões no voleibol, a partir de trabalhos acadêmicos (não sistemáticos) na internet. Percebo que a chegada do fisioterapeuta às quadras e à praia é recente e, ainda, pouco sedimentada a ponto de influir na metodologia do treinamento. Os técnicos, com a responsabilidade de “fazer ganhar” suas equipes, têm prevalência nas decisões e pouco (ou nenhum) conhecimento sobre como prevenir lesões. No vôlei de praia quem assume toda responsabilidade é o próprio atleta, pois é o patrão. Mas existe um perigo ainda maior. Atenta à orientação que deva ser proporcionada a crianças e adolescentes na prática de atividades físicas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou desde 2003 o Grupo de Trabalho em Pediatria e Medicina Desportiva. Esse grupo conta com a participação das Sociedades de Cardiologia e Traumato-Ortopedia e já produziram dois manuais abordando tópicos diversos para uma boa anamnese e exame posterior detalhado do indivíduo. Foi editado pelo SBP em parceria com o Ministério do Esporte o “Desafio de Chande”, uma versão para crianças daqueles manuais. Finalmente, o tema tem sido discutido em eventos científicos. Falta maior divulgação e, espera-se, que os responsáveis pelos treinamentos/aulas leiam e façam bom uso.

Receitas de treinamento

Muitos julgam que treinar muitas horas por dia é o melhor meio de superação dos adversários. Um dos seus aspectos negativos é a intensidade dos treinamentos. Esta concepção herdamos a partir de 1982, com a competição travada entre Bradesco (Rio) e Pirelli (S. Paulo). Era uma febre de treinamentos e viagens, com os atletas à disposição da seleção aproximadamente 9 meses. Sem isto, dizia-se, seria impossível superar as equipes de ponta no cenário mundial, representadas pela URSS e EUA, esta última campeã olímpica em 84, beneficiada como o Brasil, pelo boicote dos países socialistas ao evento. Como nesse país nada se inventa e tudo é copiado, a mídia se encarregou de difundir esse cenário, que se tornou crença, de que quanto mais treinar, melhor. Puro sofisma. Os “neoprofissionais” de plantão nunca aventaram para o detalhe que reputo mais importante em qualquer treinamento: a QUALIDADE. Além, é claro, do “ócio criativo”, isto é, os intervalos convenientes para reposição de ingredientes indispensáveis à saúde – física e mental – do indivíduo.

A este respeito, vejam o comentário de uma professora de Educação Física ao ler um trabalho pedagógico de minha autoria em que relato algumas experiências no treinamento do voleibol: “Uma citação (na obra) me faz lembrar um trecho de Aristóteles que o Bernardinho colocou no livro dele: Nós somos aquilo que fazemos repetidas vezes; a excelência, portanto não é um feito, mas um hábito!” Podemos, então, deduzir que o Bernardo Rezende (Bernardinho) é ferrenho defensor da REPETIÇÃO. Como se trata de técnico vitorioso, consagrado, pode-se concluir que a sua metodologia é a mais adequada e, portanto, deveria ser adotada. Mas, seria esta realmente a melhor forma de se atingir a EXCELÊNCIA?

O que acham?