Saque que Faz Diferença

Saque de Fabíola tem feito o Brasil disparar nas partidas do Mundial. Foto: Fivb/Divulgação.

Saque diferente?       

Aproveito a oportunidade e as circunstâncias para inverter a sequência de artigos que compus sobre a utilização do saque em voleibol. Dessa forma, valho-me da excelente reportagem de Celso Paiva no Terra e, através de seus olhos, traço a sequência de comentários sobre o serviço, como é também chamado. Vejam os efeitos que um saque diferente pode causar numa partida: “Quando a seleção marca um ponto neste Mundial Feminino de Vôlei e ao olhar para a quadra e é Fabíola quem vai sacar, pode ter certeza que você verá um bom momento do time brasileiro. O serviço da levantadora tem alavancado a equipe verde e amarela nas partidas e feito com que (…) abram distância ou saiam das suas maiores dificuldades contra as rivais”. E prossegue: “Se engana quem pensa que a levantadora saca viagem (com salto) ou usa força excessiva para passar a bola para o outro lado da quadra. Sem praticamente tirar o pé do chão, a arma de Fabíola está na direção e na curva que ela dá na bola…”. A líbero brasileira Fabi conta que em treinamentos tenta defender os saques da Fabíola uma vez que serve de teste para a sua própria recepção por ser diferente, pois é um saque denominado flutuante em que é difícil acompanhar a trajetória da bola. Indagada, Fabíola afirma desconhecer a razão de tudo. Segundo a Fabi, é um saque que às vezes ‘morre’ na frente, quando as adversárias estão esperando no fundo, mas “o que posso dizer é que antes de bater na bola, eu já sei mais ou menos a direção que eu vou colocar. Na maioria das vezes dá certo”.    

Reparem que o interesse da líbero em “conhecer” o saque revela sua perspicácia em querer aprender e dominar a técnica de recepção sem quaisquer surpresas. É óbvio que ambos os fundamentos devem evoluir de forma simultânea, pois a cada nova arma de ataque, uma solução nova na recepção. Quando não é possível, os doutos da FIVB promovem alterações nas Regras a fim de restabelecer o equilíbrio entre as forças.         

Jaqueline recepciona o saque observada por Fabi. Foto: Fivb/Divulgação.

Evolução do Saque    

A partir de então, estaremos conjeturando e contando breves histórias sobre os saques diferentes que fazem a diferença e, contribuir para que a Fabíola venha a conhecer o que realiza com tanta maestria e perícia. Nosso foco principal estará voltado para o tão pouco decantado saque tático. Aliás, ao recordarmos os jogos masculinos, observamos que 95% dos atletas fazem uso somente do saque viagem, aquele com um salto antes da batida na bola. No feminino, ao contrário, ainda são poucas as atletas com força suficiente para tal.  Ao que parece, tornou-se um modismo, uma vez que no alto nível seu emprego é maciço, o que revela a conduta dos treinadores modernos. Todavia, poucos observam o resultado ou o aproveitamento de determinado serviço. Assim, quando todos sacam da mesma forma, os recepcionadores criam um antídoto para permanecerem vivos na partida, isto é, são também treinados e familiarizados para um bom passe ao levantador: “a toda ação, uma reação igual e contrária”. A concepção do se denomina saque forçado também contribuiu para esse estado de coisas. Recordo-me que, em 1973, atuando pela equipe do Botafogo, no Rio de Janeiro, o Bebeto de Freitas muitas vezes conclamava seus colegas dizendo “força o saque!” que, traduzido queria significar “crie uma dificuldade para o adversário”. Ora, esta dificuldade era, e é até hoje, nada mais do que sacar no atleta menos eficiente na recepção. Mas com o advento do saque com salto a partir de meados da década de 80 e consequente aprimoramento, tornou-se uma verdadeira cortada, o que condiz muito com o forçar o saque. Assim, para os seus adeptos, forçar evoluiu para lançar com força. Mas em que direção? Creio que poucos sabem, isto é, levantam os olhos para a bola, efetuam a corrida, o salto, e uma pancada com o máximo de força em direção à quadra adversária e o que acontece depois é problema do adversário. Ou do seu próprio treinador, pois a sequência de saques errados é grande, mesmo no alto nível. Querem um exemplo? Relembrem a partida Brasil e Rep. Checa, quando no quarto set o treinador brasileiro recomendou não errar mais saques: as bolas praticamente foram colocadas em jogo, em nítida opção tática de ganhar a partida através do bloqueio, sem dar o ponto no saque (errado).     

A partir dos próximos textos recapitularemos o que se passou na História do Voleibol no Brasil a respeito do saque. Aguardem e acompanhem.   

Importância da História. As meninas brasileiras enfrentarão as japonesas agora na fase semifinal. As donas da casa sabemos todos, atuam com jogadas em velocidade e levantamentos baixos. Como deveria sacar o Brasil para dificultar o passe das adversárias? Lembro que em 1968, nas Olimpíadas no México, os tchecos anularam as jogadas de ataque dos japoneses simplesmente com saques altos, dirigidos ao fundo da quadra. Vamos aguardar e ver o que acontecerá 42 anos depois.

Glossário (V)

 

REDE: Divide a quadra em duas áreas ocupadas pelas equipes contendoras.   

  1. Altura – Medida do solo à extremidade superior; atual: 2,43m (masc) e 2,24m (fem).
  2. Banana – Bola que toca a rede no bordo superior e ultrapassa para a quadra adversária.
  3. Entrada (de) – Posição IV (do atleta); extremidade esquerda de ataque.
  4. Espaço aéreo – Espaço livre.
  5. Espaço livre – Espaço acima da área de jogo livre de osbtáculo (mínimo de 7m).                                                                                                                    
  6. Extremidade (ou ponta) – Lateral extrema da rede; próxima à antena. 
  7. Faixa (lateral) – Delimita extremidade da rede (1976).
  8. Medir (a) – Aferir altura regulamentar.
  9. Meio – Posição intermediária.
  10. Montar (a) – Preparar para o jogo; armar ou esticar entre os postes.
  11. Saída – Posição II (do atleta); extremidade direita de ataque.
  12. Tocado (pela) – Resultado de forte cortada.
  13. Tocar (na) – Contato com a rede é falta; exceto acidentalmente (1994).

 SAQUE: Ação de colocar a bola em jogo pelo jogador defesa-direito posicionado atrás de linha de fundo (zona de saque). Primeira manifestação de ataque. 

  1. Americano (tipo) – Balanceado, executado de lado para a rede (equipe americana, 1955).
  2. Americano (com corrida) – Balanceado, com deslocamento em direção à quadra.
  3. Área (ou zona) – Atrás da linha de fundo; variou de 3m para os atuais 9m.
  4. Ataque ao saque – Proibido com a bola na zona de ataque e acima do bordo superior da rede (1984).
  5. Balanceado (japonês) – Bola tocada com movimento circular do braço; bola “sem peso” ou flutuante. (ver Flutuante)
  6. Bloqueio (de saque) – Proibido a partir de 1984. (ver Ataque ao saque)
  7. Caçar (jogador) – Tático; dirigido ao jogador deficiente na recepção.
  8. Carregado – Preso ou conduzido.
  9. Colocado – Ver Tático.
  10. Com corrida – Com deslocamento atrás da linha de fundo.
  11. Com defeito – Imperícia do executante.
  12. Com efeito – (inglês, spin serve) A bola ganha velocidade graças ao efeito produzido, dobrando-se o pulso no momento do contato (giro sobre o próprio eixo).
  13. Com força – Forte, violento.
  14. Com salto – Execução mediante salto anterior do atleta. (ver Viagem)
  15. Conduzido (preso) – Sem soltar a bola.
  16. De costas – Atleta coloca-se de costas para a quadra adversária antes da execução.
  17. Direito (de saque) – Ganho pela equipe que marcou um ponto.
  18. Tentativas – Facultadas 2 tentativas na execução, a exemplo do tênis.
  19. Flutuante – Ver Balanceado.
  20. Japonês – Ver Balanceado.
  21. Jornada (nas estrelas) – Trajetória muito alta e, com efeito; bola atinge altura de 25m. (ver paraquedas e spin service)
  22. Lateral – Por baixo, com o executor de lado para a quadra.
  23. Paraquedas – Empregado em 1949-50 (tchecos); altura da trajetória da bola de 8m. (ver Spin service e Jornada)
  24. Por baixo – Executado no nível da cintura.
  25. Por cima – Executado acima do nível dos ombros.
  26. Preso – Execução sem soltar a bola. (ver Conduzido)
  27. Queimar – Bola que toca a rede.
  28. Recepção (do) – 1º toque da equipe após execução do saque adversário.
  29. Sacador – Atleta que momentaneamente ocupa a posição I (defesa-direito)
  30. Saque alto – Trajetória da bola é alta.
  31. Sem peso (balanceado) – Pode ser realizado mesmo com o tipo tênis, ou por baixo.
  32. Serviço – Do inglês service; saque.
  33. Spin service – (inglês) Executado pelos americanos na década de 40, precursor do jornada. (ver Pára-quedas e Jornada)
  34. Tático – Colocado; dirigido a uma determinada área ou atleta.
  35. Tênis – Tocar a bola com uma das mãos acima da linha dos ombros.
  36. Tocando a rede – Permissão a partir de 1995.
  37. Viagem (ao fundo do mar) – Jogador lança a bola para o alto e para frente e, com salto, bate nela em direção à quadra adversária.
  38. Zona de – Inicialmente, delimitada em 3m (1948); posteriormente, em 9m (1994).

  (continua)