
Saque diferente?
Aproveito a oportunidade e as circunstâncias para inverter a sequência de artigos que compus sobre a utilização do saque em voleibol. Dessa forma, valho-me da excelente reportagem de Celso Paiva no Terra e, através de seus olhos, traço a sequência de comentários sobre o serviço, como é também chamado. Vejam os efeitos que um saque diferente pode causar numa partida: “Quando a seleção marca um ponto neste Mundial Feminino de Vôlei e ao olhar para a quadra e é Fabíola quem vai sacar, pode ter certeza que você verá um bom momento do time brasileiro. O serviço da levantadora tem alavancado a equipe verde e amarela nas partidas e feito com que (…) abram distância ou saiam das suas maiores dificuldades contra as rivais”. E prossegue: “Se engana quem pensa que a levantadora saca viagem (com salto) ou usa força excessiva para passar a bola para o outro lado da quadra. Sem praticamente tirar o pé do chão, a arma de Fabíola está na direção e na curva que ela dá na bola…”. A líbero brasileira Fabi conta que em treinamentos tenta defender os saques da Fabíola uma vez que serve de teste para a sua própria recepção por ser diferente, pois é um saque denominado flutuante em que é difícil acompanhar a trajetória da bola. Indagada, Fabíola afirma desconhecer a razão de tudo. Segundo a Fabi, é um saque que às vezes ‘morre’ na frente, quando as adversárias estão esperando no fundo, mas “o que posso dizer é que antes de bater na bola, eu já sei mais ou menos a direção que eu vou colocar. Na maioria das vezes dá certo”.
Reparem que o interesse da líbero em “conhecer” o saque revela sua perspicácia em querer aprender e dominar a técnica de recepção sem quaisquer surpresas. É óbvio que ambos os fundamentos devem evoluir de forma simultânea, pois a cada nova arma de ataque, uma solução nova na recepção. Quando não é possível, os doutos da FIVB promovem alterações nas Regras a fim de restabelecer o equilíbrio entre as forças.

Evolução do Saque
A partir de então, estaremos conjeturando e contando breves histórias sobre os saques diferentes que fazem a diferença e, contribuir para que a Fabíola venha a conhecer o que realiza com tanta maestria e perícia. Nosso foco principal estará voltado para o tão pouco decantado saque tático. Aliás, ao recordarmos os jogos masculinos, observamos que 95% dos atletas fazem uso somente do saque viagem, aquele com um salto antes da batida na bola. No feminino, ao contrário, ainda são poucas as atletas com força suficiente para tal. Ao que parece, tornou-se um modismo, uma vez que no alto nível seu emprego é maciço, o que revela a conduta dos treinadores modernos. Todavia, poucos observam o resultado ou o aproveitamento de determinado serviço. Assim, quando todos sacam da mesma forma, os recepcionadores criam um antídoto para permanecerem vivos na partida, isto é, são também treinados e familiarizados para um bom passe ao levantador: “a toda ação, uma reação igual e contrária”. A concepção do se denomina saque forçado também contribuiu para esse estado de coisas. Recordo-me que, em 1973, atuando pela equipe do Botafogo, no Rio de Janeiro, o Bebeto de Freitas muitas vezes conclamava seus colegas dizendo “força o saque!” que, traduzido queria significar “crie uma dificuldade para o adversário”. Ora, esta dificuldade era, e é até hoje, nada mais do que sacar no atleta menos eficiente na recepção. Mas com o advento do saque com salto a partir de meados da década de 80 e consequente aprimoramento, tornou-se uma verdadeira cortada, o que condiz muito com o forçar o saque. Assim, para os seus adeptos, forçar evoluiu para lançar com força. Mas em que direção? Creio que poucos sabem, isto é, levantam os olhos para a bola, efetuam a corrida, o salto, e uma pancada com o máximo de força em direção à quadra adversária e o que acontece depois é problema do adversário. Ou do seu próprio treinador, pois a sequência de saques errados é grande, mesmo no alto nível. Querem um exemplo? Relembrem a partida Brasil e Rep. Checa, quando no quarto set o treinador brasileiro recomendou não errar mais saques: as bolas praticamente foram colocadas em jogo, em nítida opção tática de ganhar a partida através do bloqueio, sem dar o ponto no saque (errado).
A partir dos próximos textos recapitularemos o que se passou na História do Voleibol no Brasil a respeito do saque. Aguardem e acompanhem.
Importância da História. As meninas brasileiras enfrentarão as japonesas agora na fase semifinal. As donas da casa sabemos todos, atuam com jogadas em velocidade e levantamentos baixos. Como deveria sacar o Brasil para dificultar o passe das adversárias? Lembro que em 1968, nas Olimpíadas no México, os tchecos anularam as jogadas de ataque dos japoneses simplesmente com saques altos, dirigidos ao fundo da quadra. Vamos aguardar e ver o que acontecerá 42 anos depois.
