Bom Exemplo

Esporte e Educação, como conciliar?

Quando uma atitude honesta de um atleta entra para o noticiário mundial. Pena que seja rara, uma exceção. Seria por isto que virou manchete?

A Honestidade – Elogiado corredor que se negou a vencer líder, que parou por engano.

(Com informações da Folha, data?)

O atleta espanhol Ivan Fernández Anaya, de 24 anos, não venceu a prova de cross country de Burlada, em Navarra, no último dia 2, mas até hoje está sendo cumprimentado, elogiado, aclamado por sua atitude de honestidade durante o evento. O atleta queniano, Abel Mutai, medalha de ouro nos 3000m com obstáculos em Londres, estava prestes a ganhar a corrida. Mas parou no lugar errado, achando que tinha alcançado a linha de chegada. Ivan Fernández Anaya, o segundo colocado, se aproximou e, em vez de ultrapassá-lo, alertou o líder sobre o equívoco e o conduziu para confirmar sua vitória. Em outras palavras, Ivan negou-se a conquistar a prova. Ele estava a 10 metros da bandeira da chegada e não quis aproveitar a oportunidade para acelerar e vencer. Gesticulando, para que o queniano compreendesse a situação e quase empurrando-o levou-o até o fim, Ivan Fernandez deixou o colega vencer a prova como iria acontecer se ele não tivesse se enganado sobre o percurso. Ivan, que é considerado um atleta de muito futuro (campeão da Espanha nos 5.000 metros, na categoria há dois anos) ao terminar a prova, disse: “Ainda que tivesse me dito que ganharia uma vaga na seleção espanhola para disputar o Campeonato Europeu, eu não teria me aproveitado. Acho que é melhor o que eu fiz do que se tivesse vencido nessas circunstâncias. E isso é muito importante, porque hoje, como estão as coisas em toda sociedade, no futebol, na sociedade, na política, onde parece que vale tudo, um gesto de honestidade vai muito bem.

Tantos dias depois do ocorrido, a história continua sendo exaltada no noticiário e nas redes sociais. Neste sábado, em seu blog, Fernández comentou a repercussão de sua atitude, que continua sendo elogiada duas semanas depois. “Hoje está sendo um dia especial para mim — ou melhor, muito especial — nunca pude pensar que meu gesto com Mutai chegaria aonde está chegando. Estou em uma autêntica nuvem, são muitos os comentários, entrevistas, reportagens sobre o sucedido. Queria agradecê-los por tudo o que vocês fizeram por mim”, escreveu. O que chamou a atenção de todos foi algo que deveria ser básico no ser humano, mas tem sido exceção: a honestidade. “Eu não merecia ganhá-lo. Fiz o que tinha que fazer”, afirmou Fernández em declaração reproduzida pelo jornal ‘El País’, da Espanha.

Como é bom ser gente!

Este gesto fez-me recordar uma história curta que minha esposa, à época Assistente Social da APAE, me relatou. Em um evento de jogos entre diversas instituições desenrolava-se uma prova de atletismo, uma corrida talvez de 50 metros. À certa altura, o atleta que naquele momento estava em primeiro lugar, olhando para trás percebeu que um dos seus companheiros levara um tombo e, imediatamente, voltou-se e prestou auxílio para que ele se reergue-se e continuasse a prova. A partir dali correram juntos até a linha de chegada, certamente muito mais tarde que os outros contendores. Todavia, o seu gesto repercutiu no coração de todos os presentes e é aplaudido até hoje, pois deixou-nos uma lição que agora se repete com o jovem espanhol Ivan Fernández Anaya.

Formação no Barcelona

Desenho: Beto Pimentel.

Ensinar Voleibol ou Futebol?

Como alguns indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Aconteceram no Rio de Janeiro e em São Paulo, conferências sobre a Copa do Mundo de Futebol (2014) e as Olimpíadas (2016). Uma das emissoras brasileiras de Tv entre outras noticias, reportou rapidamente sobre as Formação – a escolinha – bem sucedida do Barcelona na Espanha. Agora mesmo, atuando com um time reserva – todos jovens promessas – a equipe venceu por 4 x 0 seu adversário na Liga dos Campeões. Soube que ela é dirigida pelo antigo craque holandês, Johan Cruyff, que atuou em décadas passadas pelo time catalão. Vejo na internet que o holandês criou uma instituição – Institute for Studies Desporto – no endereço http://www.cruyffinstitute.org/ . Sua missão é treinar atletas, ex-atletas e profissionais de esportes: “Nossos programas permitem que os alunos combinem suas carreiras desportivas e estudos e adaptar-se a todas as situações, transformando sua paixão por esportes em sua profissão, e construir um futuro produtivo para servir o bem comum do esporte e da sociedade. Educação é o nosso foco principal em um ambiente em mudança, quer contribuir para o esporte e a educação a longo prazo. Procuramos comungar e compreender as necessidades da realidade do esporte, de pessoas e organizações”. Ali foram formados diversos atletas como Messi, Xavi, inclusive os que constituem a base da seleção espanhola de futebol, campeã mundial.

Antes de tomar conhecimento desses fatos, há algum tempo, busquei formatar na AABB-Rio o Projeto de um Centro de Referência em Iniciação Esportiva (Procrie) no qual crianças e jovens treinariam sob esta nova metodologia sem a mínima preocupação de competições federadas. Assim estariam se exercitando no que Daniel Coyle denominou no livro O código do talento de Treinamento Profundo. Eu, ainda aprendiz, chamava de Treinamento de Qualidade que após a leitura e várias releituras considero a mesma coisa. Como diziam nossos avós, “fazer, mas fazer certo”, ou ainda, “treinar, treinar, treinar, mas corretamente”!

Desenho: Beto Pimentel.

A visão e metas do Procrie coincidem com as do Instituto Cruyff, uma vez que também nós estamos voltados para a Educação. O detalhe está na qualidade dos treinamentos e a não preocupação da competição federada. Esta, concebida como está, induz ao treinamento por adestramento, o que torna quase impossível qualquer reversão no ensino a posteriori. Os críticos, antes de conhecerem o método, já se arvoram a contestá-lo, baseado na premissa de que ao evitar a competição, o atleta não consegue desenvolver-se no controle emocional que a mesma proporciona. Esquecem-se de que há diversos meios de manipularmos tais situações e, além, se surgirem após um treinamento profundo, não terão consequências tão danosas, podendo ser superadas muito rapidamente com as condições técnicas já auferidas. É o exemplo referido no início desse texto (Barcelona, 4×0). E, hoje, pouco antes da partida decisiva do campeonato mundial de futebol entre Barcelona e Santos, me faz recordar que o clube brasileiro recebeu proposta nossa há algum tempo para desenvolvermos um Centro de Referência. Não recebemos qualquer manifestação!

Depois de implantado o programa de voleibol para atender inicialmente 260 crianças entre 8-13 anos de idade, sempre voltado para os aspectos educacionais do indivíduo, a pretensão seria ampliar a oferta de serviços e oferecer à criançada dois outros cursos no mesmo local: desenho e um coral. Mais à frente, ampliar para leitura, oratória e outros desportos, como o basquete e handebol. Teríamos ofertas para participação de professores, mestres e demais interessados nas pesquisas e no desenvolvimento das atividades. Estágios e residências pedagógicas para acadêmicos e professores de outras partes. Este blogue estaria cobrindo e informando sobre as atividades, recolhendo e codificando as ações com auxílio de especialistas. Os dirigentes da AABB concordaram com nossa explanação e esbarramos tão somente nem um aspecto simples: apoio financeiro para dar início aos trabalhos. Assim, a parte prática ficou no papel e, enquanto isto estamos a desenvolver aspectos teóricos pelo Procrie. Neste momento, passados dois anos, lutamos para obter recursos para a efetivação dos Cursos Presenciais, como vimos anunciando em alguns textos. Estaríamos oferecendo instrução para que os jovens aprendam a estudar, conjugado com todo o processo. Uma hora por dia de estudos bem dirigidos é capaz de formar pessoas bem formadas. Práticas culturais oferecidas concomitantes aos ensaios desportivos permitiriam um desenvolvimento pleno e sadio. Formados neste ambiente, criam-se condições para os jovens decidirem por suas escolhas de vida mais à frente. Eis um esboço do Programa de esporte escolar, englobando a competição e os conteúdos de ensino a serem discutidos com os docentes: 1) Teoria e prática: sugestões acerca da prática pedagógica; 2) Princípios pedagógicos que orientam uma prática de QUALIDADE; 3) Esboço de proposta escola/esporte. Vejam como é possível desenvolver um trabalho profundo a partir do texto a seguir.

Doyle observou que existe um padrão, uma regularidade na percepção do próprio talento por seu detentor que a torna característica do processo de aquisição de habilidade. Daí vem uma importante questão: qual a natureza desse processo capaz de gerar duas realidades tão díspares? Como esses indivíduos que parecem ser iguais a nós de repente se tornam talentosos?

Na sequência, o conceito de chunking. O que será isto?

Aprender a Ensinar

Educação do movimento 

Fazendo parte de meus estudos e diálogos com grandes mestres, apresento um ensaio extraído da obra de Le Boulch, Psicocinética: educação do movimento.

Seria interessante que a despeito de todas as imperfeições de um primeiro passo, esse fosse dado na direção certa no sentido da criação de um sistema de psicologia pedagógica objetivo e preciso. Convido-o a considerar o trabalho que juntos vamos realizar como um manual provisório a ser substituído por outro que você mesmo tornará mais aperfeiçoado. Não se esqueça que são diversos os fatores que nos impedem de num primeiro instante construirmos um modelo aplicável às suas circunstâncias. Como dizem, “cada caso é um caso”, além das culturas regionais desse imenso país. “Receita-de-bolo” não faz parte de meu cardápio.

Esporte, lazer…  O essencial é situar o movimento, isto é, definir a ocasião a partir da qual ele foi realizado em função da situação vivida pelo organismo. O objetivo de uma atividade pode ser o de distrair-se, manter-se em forma, realizar uma tarefa prática da vida doméstica ou profissional, trocar e estabelecer relações com outras pessoas. De acordo com estes centros de interesses, a atitude a ser adotada para um educador deve ser diferente e bem ajustada à real intencionalidade. Neste particular você será o elemento chave do sucesso! Veja que não toquei no assunto “excelência de desempenho esportivo” ou “descoberta de talentos” e outras baboseiras mais. Refiro-me tão somente ao esporte como uma forma de lazer. A partir dessa conceituação, o meu, o seu e de tantas crianças estará garantido, tenha esta certeza!  

Objetivo. Propor uma forma de aprendizagem que concilie o caráter expressivo (pessoal) do movimento e seu aspecto transitivo (prática). O primeiro nos remete à pessoa e não a um objetivo externo (a ela) que se queira alcançar. Ela precisa saber o que concretamente pretende realizar com o seu corpo, até por que estará se desenvolvendo em presença do olhar de outrem, o que nos remete a uma “expressão para outrem”. Embora os movimentos possam ser compreendidos em relação à sua eficiência prática, eles traduzem também certo modo de ser da pessoa e são reveladores de suas emoções e sentimentos. Desse modo ele assume uma relação de significante a significado. A mecanização do corpo garante uma eficácia gestual relativa, em detrimento da expressividade. Assim, dizemos que no jogo o indivíduo revela muito mais do que seus gestos indicam, a própria maneira de ser, sua personalidade. 

Valor educacional do esporte. A partir desse entendimento, podemos nos situar quanto ao que queremos propor ao grupo de pessoas e à sua comunidade, cuidando para que a eficácia dos movimentos esportivos seja conseguida de forma harmoniosa com as características psicológicas de cada indivíduo. Algumas observações práticas levarão o professor a avaliar com cautela cada indivíduo do seu grupo e harmonizar suas intenções e conciliar seus interesses. Assim se desenvolve o processo de INCLUSÃO: TODOS, absolutamente todos que queiram praticar disporão de oportunidade para fazê-lo, inclusive apoiado pelos demais colegas.

Ao longo de nosso bate-papo verá que é muito fácil chegar lá. Estarei acompanhando-o sempre!

1º Curso de Mini Vôlei no Brasil

Palavras-chave:  História do mini vôlei. Curso de capacitação. Esporte e educação. Iniciação esportiva.

Curso de Capacitação e Atualização. Tomarei como exemplo os cursos que proferi em Recife (PE), em 1974, quando prestando serviço terceirizado ao SESI Nacional em excelente programa de Iniciação Esportiva, que se estendeu de 1972 a 1977 sob o tema “Esporte é Educação”. No primeiro, as aulas se estenderam por longos 45 dias nos meses de janeiro e fevereiro. O outro, no mesmo ano, com 30 dias de duração, agora no mês de julho. Aulas de 60 min, duas vezes na semana para três turmas.

A principal característica recaía na capacitação/atualização de professores e acadêmicos de Educação Física simultaneamente às aulas práticas com crianças. Além delas, ministrava duas aulas teóricas por semana. A grande proposta do SESI era a perenidade das ações. Assim, caberia aos instrutores do curso designar professores locais para a continuidade das aulas. Nesse intuito os candidatos se inscreviam no curso, recebiam gratuitamente uma atualização de seus conhecimentos e concorriam a um emprego. Além, é claro, ao certificado de curso. Na maioria dos casos, recebiam também apostilas da matéria.

Lidando por tanto tempo com o grupo, tendo conhecido seus professores de universidade e principais técnicos de clubes da cidade, frequentado seus treinamentos e participado do curso ministrado pelo japonês Imai (em Recife), não pude deixar de fazer um juízo com relativo grau de confiabilidade acerca das potencialidades dos professores pernambucanos.

A respeito do japonês Imai, chegou ao Rio em agosto/73 trazido por Nuzman, então presidente da federação carioca de voleibol, para realizar cursos básicos para treinadores. Foram estendidos para todo o país em diversas capitais. Participei do primeiro, inclusive compus uma apostila (com fotos), que depois enviei exemplares para Recife, não só para os professores do SESI, como para os demais participantes do evento da federação pernambucana. Anos mais tarde, Imai seria auxiliar de Josenildo (professor e técnico pernambucano) no Banespa, em São Paulo.

Voltemos então ao curso no SESI. Conheça o relato dessa inesquecível experiência que consignei com muito orgulho nas páginas do livro sobre a “História do Voleibol no Brasil” no prelo.

Centro do Ibura, Recife (PE) – Em janeiro de 1974 fui convidado a fazer parte da equipe de professores (terceirizados) no Rio de Janeiro que auxiliavam na promoção dos cursos de iniciação e atualização em diferentes Centros Esportivos da entidade. Mais especialmente, no Nordeste. Nesta primeira e inesquecível experiência tivemos a ajuda e a participação inesperada de um colega de universidade e professor de judô. O destino era o Centro do Ibura, nos arredores do aeroporto de Guararapes, em Recife. Fui presenteado antes mesmo do embarque com um pequeno recorte de revista, rasgado, que informava ao leitor sobre uma forma de aproveitamento de espaço para o ensino do voleibol para iniciantes: “vôlei em campo pequeno”. O recorte não tinha mais do que dois períodos de texto, mas um providencial croqui sobre aquela forma de dispor os campos num ginásio ou espaço equivalente. Na viagem fui refletindo como poderia dispor os alunos e construir uma metodologia pertinente para os professores que fariam o curso de monitores. Em Recife o Centro estava ainda em obras não tendo sido inaugurado. Isto contribuiu para que, junto com o gerente, pudéssemos esquematizar como construir os postes removíveis que imaginara para a confecção das pequenas quadras de jogo. Aproveitamos tubos de PVC e construímos as bases com discos (30cm) de concreto. Os postes não receberiam redes, mas sim cordas: furamo-los a 2,5m de altura, e uma única corda foi perpassada, do primeiro ao último, compondo várias miniquadras, no sentido longitudinal de uma quadra (de tabela à tabela). A marcação improvisada com giz ou carvão deu o toque final às medidas dos campos de jogo. E por fim – metodologia e pedagogia – foram produzidas em curtíssimo espaço de tempo, ou simultaneamente às aulas, de acordo com a imaginação: “Fiz-me criança e dei vazão à criação”. Quando do retorno, descobri na biblioteca do Sesi artigo elucidativo daquele que considerei guru e orientador neste trabalho precursor, o alemão Gerard Dürwächter, com quem me encontrei um ano depois, na Suécia, durante o 1º Simpósio Mundial de Minivoleibol patrocinado pela FIVB. Empolgado pelas aulas e receptividade das crianças, aprofundei as leituras, tendo desenvolvido, então, um curso didático para professores, estabelecendo métodos e caminhos a perseguir na iniciação do vôlei, dando-lhe característica diversa à preconizada pelas universidades e mestres de plantão. Além de ocuparmos mais alunos por classe, as aulas passaram a ser muito mais dinâmicas, alegres e ruidosas, despertando a atenção e atraindo mais adeptos para o esporte. Realizei no mesmo ano, em julho, ainda no Ibura, um segundo curso, com outros professores, consolidando o método. Produzi todo o planejamento e material didático em diapositivos, que permitiram maior criatividade nas aulas e demonstração do método simultaneamente por toda a equipe do Sesi em outros locais. Tornou-se destaque e sucesso absoluto! De quebra, credenciou-me a participar de simpósio mundial no ano seguinte por conta da entidade.